sábado, 29 de setembro de 2012

A maquiagem e a modéstia



O ato de adornar-se faz parte da vida da mulher há milênios, em todas as culturas. Hoje não poderia ser diferente. A maquiagem faz parte do adorno feminino e é algo que sendo feito com cuidado e bom gosto faz bem.

É agradável perceber quando uma pessoa teve o cuidado de se colocar bela. Faz bem aos olhos quando vemos que alguém teve a delicadeza de combinar um acessório, ou de usar uma sombra de determinada cor de modo a combinar com o seu visual e a ocasião. Contanto que seja feito o uso moderado, pode ficar bonito.

Santo Tomás em sua Suma Teológica discorreu sobre a questão do adorno feminino, da maquiagem e roupas, enfim, da construção do visual da mulher através do uso das vestes, acessórios e cosméticos. Respondendo às duras palavras de São Cipriano de Cartago[1] (que criticava acerbamente o adorno feminino), o Doutor Angélico diz: 
“se a mulher casada se enfeita para agradar ao marido, pode fazê-lo sem pecado. Mas as que não têm marido nem os querem ter e vivem em celibato, não podem, sem pecado, querer agradar aos olhos dos homens para lhes excitar a concupiscência, porque isso seria incentivá-los a pecar. Se, pois, se enfeitarem com essa intenção de provocar os outros à concupiscência, pecam mortalmente. Se o fizerem, porém, por leviandade, ou mesmo por um desejo vaidoso de aparecer, nem sempre será pecado mortal, mas às vezes venial. Diga-se o mesmo, aliás, a respeito dos homens[2].” 
O Doutor Angélico diz também[3]
“tais pinturas nem sempre envolvem um pecado mortal, mas só quando são feitas por uma questão de prazer sensual ou no desprezo de Deus”. 
Vemos então que a maquiagem é uma forma de adorno que denota cuidado com a aparência para agradar: no caso das casadas, para agradar ao marido, no caso das solteiras, para atrair um marido. Só é pecado quando é feita para obter um prazer sensual (para excitar a luxúria) e para se opor ao Criador (um desses casos seria o da mulher que não quer se casar, mas que vive de forma impudica e se enfeita para atrair os homens, mesmo sabendo que não terá nada sério com eles. Isso nada mais é que prostituição, seja esta mulher paga por isso ou não).

É claro que sendo um dever da mulher que é filha de Deus ser modesta, a maquiagem também deve ser da mesma forma, ou seja, não pode ser usada para mostrar sensualidade e sim para cobrir defeitos, corrigir imperfeições e realçar pontos bonitos, para ser mostrar bela e não para transformar o rosto em algo que ele não é.

Segundo Santo Tomás: 
“É preciso, no entanto, observar que uma coisa é falsificar uma beleza que não se tem, e outra coisa é esconder uma desfiguração decorrente de alguma causa, como a doença ou o gosto. Para isso é legal, pois, segundo o Apóstolo (I Coríntios 12,23), “como nós pensamos ser os membros menos honrosos do corpo, sobre estes nós colocamos muito mais honra.”
Ou seja, uma coisa é usar uma maquiagem mais pesada (uma dose a mais de base e corretivo) para esconder deformidades outra coisa é usar maquiagem para iludir, para fingir uma beleza que não se tem (seria o caso talvez de mudar a linha da sobrancelha, sendo esta sem defeito algum. Uma falsidade, portanto algo impróprio).

O importante aqui é a moderação: a maquiagem não pode ser feita com o intuito de seduzir, nem o de fazer parecer possuir uma beleza que não possui, nem o de tentar a qualquer custo parecer muito mais jovem do que se é. Vemos que em casos como este último a pessoa torna-se ridícula, pois todos percebem a postura afetada das senhoras que se colocam na sociedade como se fossem jovens, muitas vezes até mesmo carregando nas tintas e ficando com cara de palhaça. É duro, mas é a realidade. É muito melhor – e digno – não usar nenhuma pintura do que usar uma que não fique bem, seja pelo seu tipo, seja pela sua idade.

O adorno deve ser feito sempre respeitando a idade e a posição da pessoa na sociedade, bem como a ocasião. Senão veremos – como, aliás, vemos bastante hoje em dia – as pessoas se vestindo na vã tentativa de parecer o que não são: é o caso de adultos usando roupas e enfeites próprios de adolescentes, coisa muito comum atualmente, infelizmente.

Santo Tomás comentando as palavras de São Paulo:
“Então o Apóstolo diz: “Mulheres… no ornato do vestuário, ataviem-se com modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos penteados, ouro, pérolas, vestidos de luxo”: de onde nós somos dados para entender que as mulheres não são proibidas de se adornar sobriamente e moderadamente, mas sim de fazê-lo excessivamente, descaradamente, e imodestamente.”
Mais uma vez vemos a defesa que o grande Santo Tomás faz do enfeite feminino, não proibindo, apenas deduzindo que este deve ser feito de maneira moderada.

Nesta famosa passagem bíblica São Paulo não está proibindo o ornato feminino e sim lembrando de que é mais importante o atavio interior do que o exterior. Seu conselho é para fazer lembrar qual é o foco principal da vida do Cristão: Deus. Se algo tira a pessoa deste foco, então este algo é mau, deve ser evitado. É o que acontece com os adornos que excitam a concupiscência: estes se tornam pecado, como já explicado anteriormente. Hoje em dia vemos bastante a exposição de mulheres em poses sensuais, ornadas de forma a gerar luxúria nos homens, coisa que é obviamente contrária à vida cristã.

Há que se ter cuidado ao copiar certas pinturas e posturas apresentadas pelas celebridades e modelos apresentados na mídia em geral, pois várias delas são claramente feitas para parecer sexy, ou seja, transformam a mulher em objeto sexual: olhos muito pintados, batons de cores berrantes e muito brilhosas, produtos que incham os lábios para aumentar o poder de fascinação sedutora, “caras e bocas”, tudo isso é indigno da mulher, é feio e próprio das prostitutas. Infelizmente tais maquiagens – algumas delas copiadas das “damas da noite” – estão espalhadas por toda a parte como se fossem as coisas mais lindas do mundo e nós mulheres terminamos sendo vítimas da moda e nos arrependendo mais tarde. Ainda hoje eu me lembro da pintura da moda nos anos 80: cores fortíssimas, blush estilo punk, tudo carregado, fazendo a mulher parecer uma palhaça. Quem aí com mais de trinta anos não se lembra da viúva Porcina, daquela novela famigerada, Roque Santeiro? A maquiagem dela era um horror, feita para mostrar como ela era uma mulher ridícula, uma perua, mas não é que entrou na moda e todo mundo queria usar? Bom, eu não usei, pois era apenas uma criança, mas nada garante que não teria usado se fosse mais velha… Pois é, como caímos no ridículo!

Diz Santo Agostinho:
“Não se deve usar nada com paixão, pois esta não só ofende, perversamente, o costume daqueles entre os quais se vive, como também, ultrapassando-lhes, muitas vezes, os limites, manifesta, com rompantes escandalosos, um descaramento antes escondido sob o véu de costumes públicos.” [4]
É importante não buscar se arrumar por paixão, por gosto em parecer sensual e em querer ser vista como sexy, em querer aparecer mais do que todo mundo, pois isso é vaidade e descaramento, e quando feito com a desculpa de que “todo mundo faz” é simplesmente um descaramento escondido sob o véu dos costumes públicos, como diz Santo Agostinho.

A maquiagem faz parte do decoro que se deve ter em sociedade. É uma prática que denota o respeito ao próximo, está intimamente ligada à caridade. O decoro inclui a limpeza, a arrumação da pessoa para se apresentar em público: roupa passada, cabelo penteado, unhas limpas e feitas (cortadas, polidas, sem cutículas aparentes), sapatos engraxados, corpo asseado. É uma tentativa de ser agradável ao próximo.

Não quero dizer com isso que as mulheres casadas e casadoiras são obrigadas a usar maquiagem, mas sim que devem buscar se apresentar de forma agradável e isso é claro anda junto com a modéstia. Mas as que quiserem usar maquiagem devem fazê-lo de forma a parecerem belas e dignas, sem exageros, sempre com moderação. Lembrem-se daquela regrinha básica: menos é mais!


Notas:
[1] "Neste lugar, o temor que devo a Deus e o amor da claridade que me une a todos, me obriga a avisar não só às virgens e às viúvas, mas às casadas também, e a todas as mulheres, que de modo algum convém nem é lícito adulterar a obra de Deus, acrescentando a cor vermelha, o negro, o ruge, ou qualquer outra coisa que altere ou corrompa as figuras naturais. Diz Deus: "Façamos o homem a nossa imagem e semelhança".
[2] As mesmas regras valem para o coquetismo tanto dos homens como das mulheres. A observação deve ser inserida no dossiê daqueles que acusam Santo Tomás de Misoginia (Suma Teológica – questão 169- artigo 2. Ed. Loyola).
[3] Suma Teológica II-CLXIX-II.
[4] Citado por Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica – questão 169 – artigo 2. Ed. Loyola.


Créditos ao excelente blog: http://a-grande-guerra.blogspot.com.br/

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