terça-feira, 14 de maio de 2013

A mediação de Maria apóia-se na sua divina maternidade



A principal missão de Maria quando veio à terra era a de levantar as almas caídas da divina graça e reconciliá-las com Deus. “Apascenta teus cabritos” (Ct 1,7) — disse- lhe, pois, ao criá-la, o Senhor. Como se sabe, os cabritos são uma conhecida figura dos pecadores, que no vale do juízo serão postos à esquerda, enquanto que as ovelhas figuram os eleitos, cujos lugares serão à direita. Ora, esses cabritos, diz Guilherme de Paris, vos são confiados, ó grande Mãe de Deus. Deveis convertê-los em ovelhas; os que por suas culpas mereceriam ser repelidos para a es­querda, graças à vossa intercessão, sejam colocados à direita. O Senhor revelou a S. Catarina de Sena que sua intenção, ao criar essa sua dileta filha, era a de conquistar por sua doçura os corações dos homens, sobretudo dos pecadores, e atraí-los a si. Note-se, porém, aqui a bela reflexão de Guilherme de Paris sobre a citada passagem dos Cânticos: “Diz o Senhor: Apascenta teus cabritos”. Deus, portanto, encomenda a Maria os cabritos dela. Sim, Maria não salva todos os pecadores, mas tão somente os que a servem e invocam. Quanto aos que vivem no pe­cado, nem a honram com algum especial obséquio, nem se lhe encomendam para sair do pecado, esses não são cabri­tos de Maria. No dia do Juízo serão miseravelmente rele­gados à esquerda com os condenados”.

Oh! quantos pecadores obstinados atrai todos os dias para Deus “esse ímã dos corações”, Maria! assim ela mesma se chama, dizendo a S. Brígida: Semelhante ao ímã que atrai o ferro, a mim atraio os corações mais empeder­nidos para reconciliá-los com Deus. E tal prodígios verifica-se não raras vezes, mas todos os dias. Por mim posso atestar muitos casos observados em nossas mis­sões. Pecadores houve que se conservaram duros como pedra perante todos os sermões. Mas arrependeram-se, voltaram a Deus, quando se lhes falou da misericórdia de Maria. Conta S. Gregório que o unicórnio é de tanta feroci­dade que nenhum caçador consegue prendê-lo. Entre­tanto, à voz de uma virgem que lhe grite, rende-se, chega- se e sem resistência deixa-se prender.

Sim, quantos pecadores fogem de Deus, mais ferozes que as mesmas feras, mas à voz desta grande Virgem Maria se rendem, e dela se deixam mansamente prender para Deus!

Na opinião de S. João Crisóstomo, Maria foi feita Mãe de Deus também para que, por sua poderosa interces­são e doce misericórdia, se salvem os infelizes que por sua má vida não se poderiam salvar, segundo a justiça divina. Sim, Eádmero garante que Maria, mais por amor dos pecadores que dos justos, foi exaltada a ser Mãe de Deus. Pois o próprio Jesus Cristo protestou que viera chamar não os justos, mas os pecadores. Canta-se, por este mo­tivo, o verso: 

Os pecadores não desprezais; 
Pois sem eles veríeis jamais 
Ser vosso Filho, Filho de Deus. 

Guilherme de Paris ousa dizer: Ó Maria, tendes obri­gação de ajudar os pecadores, pois todos os vossos dons e as graças todas, toda a vossa grandeza, contida na digni­dade da Mãe de Deus, tudo, enfim, — se me é lícito dizê-lo — deveis aos pecadores. Por amor deles dignou-se o Se­nhor fazer-vos sua Mãe. Ora, se Maria se tornou Mãe de Deus em atenção aos pecadores, como posso eu desespe­rar do perdão dos meus pecados, por enormes que sejam? Assim argumenta Eádmero. 

Na Missa da vigília da Assunção faz-nos a Igreja saber “que a Mãe de Deus foi transferida deste mundo para interceder por nós junto a Deus, no céu, com plena con­fiança de ser atendida”. Dá S. Justino a Maria o título de árbitra de nossa sorte. O árbitro é mediador entre duas partes em contenda, que lhe entregam a decisão sobre suas exigências. Com isso quer dizer o Santo: Como Jesus é medianeiro junto ao Eterno Pai, assim Maria é nossa me­dianeira junto a Jesus; a ela entrega o Filho todas as razões que tem contra nós como Juiz. S. André de Creta chama-a penhor e caução de nossas pazes com Deus. Isto significa: Quer Deus reconciliar-se com os pecadores, perdoando- lhes; para que não duvidem desse seu desejo, deu-lhes Maria como um penhor. Por isso saúda-a assim o Santo: Salve, ó reconciliação de Deus com os homens!

(Glórias de Maria – Santo Afonso Maria de Ligório)

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