domingo, 2 de junho de 2013

Particular clemência de Maria para com os pecadores



“Consentis, Senhor, que façamos descer fogo do céu e os consuma?” — assim perguntaram ao Mestre João e Tiago, quando os samaritanos se recusaram a receber Jesus Cristo e sua doutrina. Respondeu-lhes então o Salvador: Não sabeis de que espírito sois? (Lc 9, 55). Queria dizer: Sou de um espírito todo de clemência e doçura; para salvar e não para castigar os pecadores, vim do céu e vós quereis vê-los perdidos? Falais em fogo e castigo? Calai-vos e nisso não me faleis mais, porque não é esse meu espírito! Ora, sendo o espírito de Maria completamente semelhante ao de seu Filho, não podemos pôr em dúvida seu natural compassivo. De fato, é chamada Mãe de Misericórdia e foi a própria misericórdia de Deus que tão compassiva e clemente a fez para todos. Assim o revelou a própria Virgem a S. Brígida. Por isso representa-a S. João revestida do sol: Apareceu um grande sinal no céu; uma mulher vestida do sol (Ap 12, 1). Comentando o trecho, diz S. Bernardo à Virgem: Senhora, revestistes o Sol (Verbo Divino) da carne humana, mas ele vos revestiu também de seu poder e de sua misericórdia.



Nossa Rainha — continua o Santo — é sumamente compassiva e benigna; quando algum pecador se encomenda à sua misericórdia, ela não se põe a examinar-lhe os méritos, para ver se é digno de ser ouvido ou não, mas a todos atende e socorre. Eis a razão, conforme observa Hildeberto, por que de Maria se diz que é bela como a lua (Ct 6, 9). Assim como a lua ilumina e beneficia os objetos mais inferiores sobre a terra, também ilumina Maria e socorre os pecadores mais indignos. Embora a lua receba do sol toda a sua luz, leva menos tempo que ele para descrever seu curso. É-lhe suficiente um mês, ao passo que o sol gasta um ano a perfazer o seu giro. Isso motiva então as palavras de Eádmero ao afirmar que nossa salvação será mais rápida, se chamarmos por Maria, do que se chamarmos por Jesus. Pelo que Hugo de S. Vítor nos adverte que se os nossos pecados nos fazem ter medo de nos chegarmos para Deus, cuja Majestade infinita ultrajamos não devemos recear de recorrer a Maria; pois nada nela existe que inspire terror. É verdade que é santa, Imaculada, Rainha do mundo e Mãe de Deus. Mas é uma criatura e filha de Adão, como nós.

Em suma, conclui S. Bernardo, tudo o que pertence a Maria é cheio de graça e de piedade, porque, como Mãe de misericórdia, se fez tudo para todos; por sua imensa caridade tornou-se devedora dos justos e dos pecadores; para todos está aberto seu coração, para que possam receber de sua misericórdia. Se por um lado está o demônio sempre procurando a quem dar a morte, como no-lo atesta S. Pedro (l Pd 5, 8), de outro lado está buscando Maria almas a quem possa dar a vida e salvar, segundo afirma Bernardino de Busti.

Devemos, pois, saber que a eficácia e a expansão do patrocínio de Maria vão além das nossas noções, diz S. Germano. Por que, outrora, tão grande era o rigor de Deus para com os pecadores, quando agora, na Lei Nova, usa de tanta misericórdia com eles? Fá-lo por amor de Maria e em vista de seus merecimentos. Assim pergunta e assim responde Pelbarto. Há muito tempo teria já cessado de existir o mundo, assevera Fábio Fulgêncio, se não o tivesse Maria sustentado com suas preces. Podemos, entretanto, ir seguramente a Deus e dele esperar todos os bens, diz Arnoldo de Chartres, agora que temos o Filho como nosso medianeiro, junto ao Pai, e a Mãe como nossa medianeira junto ao Filho. Como poderia o Pai deixar desatendido ao Filho, quando este lhe mostra as chagas recebidas por amor aos pecadores? E como poderia o Filho desatender à Mãe, mostrando-lhe esta os seios que o sustentaram? Enérgicas e belas são as palavras de S. Pedro Crisólogo: A excelsa Virgem hospedou a Deus em seu ventre; em paga de tal hospitalidade dele exige a paz para o mundo, a salvação para os perdidos, a vida para os mortos.

Oh! exclama o Abade de Ceies, quantos que, dignos do inferno segundo a justiça divina, são salvos pela compaixão de Maria! Sim, porque ela é o tesouro de Deus, e a tesoureira de todas as graças; em suas mãos está por isso a nossa salvação. Por conseguinte recorramos sempre a essa grande Mãe de Misericórdia, firmes na esperança de nos salvarmos por sua intercessão. Pois não lhe chama Bernardino de Busti nossa salvação, nossa vida, nossa esperança, nosso conselho, nosso refúgio e nosso auxílio? Realmente, diz S. Antonino, é Maria aquele trono de graça ao qual nos cumpre confiadamente recorrer para obter a divina misericórdia e todos os auxílios que nos são necessários, conforme a exortação de S. Paulo: “Marchemos, pois, cheios de confiança para o trono de graça, a fim de obtermos misericórdia e alcançarmos a graça no socorro oportuno” (Hb 4, 16). Pelo que S. Catarina de Sena chamava a Maria de distribuidora da divina misericórdia.

Concluamos por conseguinte com a elegante e terna exclamação de S. Boaventura:  Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria! Ó Maria, sois clemente para com os miseráveis, compassiva para com os que vos invocam, doce para com os que vos amam; sois clemente para com os penitentes, compassiva para com os justos, doce para com os perfeitos. Mostrai vossa clemência, em nos livrando dos castigos; vossa piedade, em nos dispensando as graças; vossa doçura, em nos dando a quem vos procura.

Exemplo

Na vida do Padre Antônio Colleli lemos o seguinte fato: Certa mulher mantinha relações ilícitas com dois senhores. Aconteceu que os ciúmes levaram um deles a matar seu rival. Disso sabendo, veio a pecadora confessar-se, profundamente assustada, e revelou que o assassinado lhe aparecera carregado de correntes, negro e rodeado de chamas, tendo na mão uma espada. Brandindo-a, tentara matá-la e ela horrorizada lhe perguntara: Por que me queres matar? Que te fiz eu? Cheio de cólera, lhe respondera o condenado: Como? Ainda mo perguntas, mulher criminosa? Es a culpada de ter eu perdido a Deus e o paraíso! A infeliz invocou então o nome de Maria e a horrível figura desapareceu.

Oração
Ó Mãe misericordiosa, sois tão clemente e tendes imenso desejo de proteger os miseráveis e atender-lhes os pedidos! Venho, por isso, a vós neste dia, eu que sou o mais indigno de todos os homens e imploro vosso auxílio. Atendei aos meus rogos! Peçam-vos outros, se quiserem, saúde do corpo, prosperidade e grandeza 'da terra. Quanto a mim, venho pedir-vos, Senhora, justamente aquilo que desejais de mim, aquilo que é mais conforme e mais grato ao vosso Santíssimo Coração. Sois tão humilde, impetrai-me, pois, a humildade e o amor dos desprezos. Fostes tão paciente nos trabalhos desta vida, impetrai-me a paciência na adversidade; fostes tão cheia de amor de Deus, impetrai-me o dom do santo e puro amor; fostes toda a caridade para com o próximo, impetrai-me a caridade para com todos, particularmente para com o inimigo; fostes totalmente unida á divina vontade, impetrai-me a total conformidade a todas as disposições de Deus a meu respeito. Sois, em suma, a mais santa de todas as criaturas, ó Maria, tornai-me santo. Amor não vos falta; podeis tudo e que reis alcançar-me todas as graças. A única coisa que me pode impedir de receber vossos favores é, ou a negligência em recorrer a vós, ou a falta de confiança em vossa intercessão. Impetrai-me, pois, vós mesma a constância em invocar-vos e a confiança em vosso poder. De vós espero essas duas graças supremas; de vós as imploro e conto recebê-las confiadamente, ó Maria, minha Mãe, minha esperança, meu amor, minha vida, meu refúgio, minha força e minha consolação. Amém.

(Glórias de Maria – Santo Afonso Maria de Ligório)

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