terça-feira, 30 de setembro de 2014

Ela é fortalecida pela fé

Confiança

Ela é fortalecida pela fé



Levemos mais longe este estudo.

Que força soberana fortifica a esperança a ponto de torná-la inabalável aos assaltos da adversidade?... A fé!

A alma confiante guarda na memória as promessas do Pai celeste; medita-as profundamente. Sabe que Deus não pode faltar à palavra, e daí a sua imperturbável certeza. Se o perigo a ameaça, a envolve, a domina mesmo, ela conserva sempre a serenidade. Apesar da iminência do risco, repete a palavra do Salmista: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação... que posso recear? O Senhor protege minha vida... quem me fará tremer?...”

Existem entre a fé e a confiança relações estreitas, laços íntimos de parentesco. Empregando a expressão de um teólogo moderno, deve-se achar na fé “a causa e a raiz” da confiança. Ora, quanto mais se afunda a raiz na terra, mais seiva nutriente dela tira; mais vigorosa crescerá a haste; mais opulenta será a floração. Assim, a nossa confiança desenvolve-se na medida em que se aprofunda em nós a fé.

Os Livros Santos reconhecem a relação que une essas duas virtudes. Não são designadas pelo mesmo vocábulo “fides”, uma e outra, sob a pena dos escritores sagrados?


(Livro da Confiança, Padre Thomas de Saint-Laurent)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Da Triunfal entrada de Maria Santíssima no Céu

-Trecho do livro Glórias de Maria - Santo Afonso Maria de Ligório.

(...)Vieram depois dar-lhe a boa-vinda, e saudá-la como sua Rainha, todos os santos que então estavam no paraíso.
Vieram primeiro as santas virgens. "As filhas a viram e elas apregoaram-na pela mais bem-aventurada" (Ct 6, 8). Nós, disseram elas, ó belíssima Senhora, somos também rainhas deste reino, mas vós sois a Rainha nossa. Fostes a primeira a dar-nos o grande exemplo de consagrar a nossa virgindade a Deus. Por isso vos louvamos e damos graças.
 
Depois vieram os santos mártires saudá-la como sua Rainha, porque com sua grande constância, nas dores da Paixão de seu Filho, lhes ensinara e também alcançara com seus merecimentos a fortaleza para testemunhar a Fé com a vida.
Veio também São Tiago, o único dos apóstolos que então se achava no paraíso, agradecer-lhe da parte de todos os outros apóstolos aquele conforto e auxílio que lhes dera estando na terra.
Vieram depois os profetas saudá-la, e estes lhe diziam: Ah! Senhora, vós sois aquela, que pelas nossas profecias foi figurada.
 
Vieram os santos patriacas e lhe diziam: Ó Maria, vós então fostes a nossa esperança, tanto e por tão longo tempo por nós suspirada.
 
Mas entre eles, com afeto maior vieram dar-lhe agradecimentos os nossos primeiros pais Adão e EvaAh, Filha amada, lhe diziam, Vós reparastes o dano feito por nós ao gênero humano; vós alcançastes ao mundo aquela bênção que perdemos por nossa culpa; por vós somos salvos. Para sempre sejais por isso bendita!
 
Vem depois beijar-lhe os pés São Simeão e recordou-lhe com júbilo aquele dia em que tinha recebido das suas mãos o Menino Jesus.
Vieram São Zacarias e Santa Isabel e novamente lhe agradeceram aquela amorosa visita, que com tanta humildade e caridade lhes fizera em sua casa, e pela qual receberam tantos tesouros.

Veio São João Batista, com maior amor, dar-lhes graças por tê-lo santificado por meio da sua voz.
Mas que deveriam dizer-lhe, quando vieram saudá-la seus caros pais, Joaquim e Ana? Oh! Deus, com que ternura a deveriam abençoar dizendo: Filha dileta, que fortuna foi a nossa de ter tal filha! Eis que agora és a nossa Rainha, porque és Mãe do nosso Deus. Como tal nós te saudamos e veneramos. 
 
Mas quem nos dirá do afeto com que veio saudá-la seu caro esposo São José? Quem nos poderá descrever o júbilo que experimentou o santo patriarca vendo a sua esposa chegada ao céu com tanto triunfo e aclamada Rainha de todo o paraíso? Com que ternura devia lhe dizer então: Ah! Senhora e esposa minha! Quando poderei chegar a agradecer quanto devo ao nosso Seus, por ter-me dado por esposa a vós, que sois a sua verdadeira Mãe? Por vós eu mereci na terra assistir à infância do Verbo Encarnado, tê-lo tantas vezes nos braços e dele receber graças especiais. Sejam sempre benditos os momentos que gastei na vida a servir a Jesus e a vós, minha santa esposa! Eis o nosso Jesus, consolemo-nos que já não o vimos agora deitado numa manjedoura sobre palhas, como nós o vimos nascido em Belém; já não vive pobre e desprezado, como outrora viveu conosco em Nazaré; já não está pregado num patíbulo infame, no qual morreu pela salvação do mundo em Jerusalém. Mas agora está sentado à direita do Pai, qual Rei e Senhor do céu e da terra. E eis que nós, Rainha minha, não nos separaremos mais dos seus santos pés, a louvá-lo e amá-lo eternamente.
 
Finalmente vieram saudá-la todos os anjos. A todos a excelsa Rainha agradece a assistência que lhe haviam prestado na terra. Primeiramente lhe recebe os agradecimentos o arcanjo São Gabriel, o feliz mensageiro de sua ventura, ao anunciar-lhe sua escolha para Mãe de Deus.
Depois, de joelhos, a humilde e santa Virgem adora a majestade divina e abisma-se no conhecimento do seu nada. Agradece a Deus todas as graças que por mera bondade lhe havia concedido, especialmente de a ter feito Mãe do Verbo Eterno. Imagine e compreenda agora, quem o puder, com que amor a Santíssima Trindade a abençoou! Quem nos descreverá o afável e afetuoso acolhimento que fez o Pai Eterno à sua Filha, o Filho à sua Mãe, o Espírito Santo à sua Esposa! O Pai a coroa, participando-lhe o seu poder, o Filho a sabedoria, o Espírito Santo o amor. As três Pessoas divinas, colocando-lhe o trono à direita de Jesus, a declaram Rainha universal do céu e da terra. Aos anjos também ordenam, e a todas as criaturas, que a reconheçam por sua Rainha e como tal a sirvam e lhe obedeçam.

Fonte:

domingo, 28 de setembro de 2014

Os Menores e os Maiores Bens do Céu - Santo Afonso de Ligório‏



MENORES BENS DO CÉU


“No céu não há doença alguma, nem pobreza, nem adversidade de espécie alguma. Lá não haverá mudança de dias e noites, de frio e calor; lá existirá uma primavera eterna e a todos os respeitos deliciosa. Não haverá perseguição e inveja, já que aí todos amar-se-ão ternamente; cada um se alegrará tanto com a felicidade do outro como a própria. Lá não haverá mais temores, pois a alma confirmada em graça não poderá mais perder a Deus. “Eia que faço novas todas as coisas”. Tudo é novo, tudo nos alegra e satisfaz. Os olhos regozijar-se-ão com a vista desta cidade de incomparável beleza. Que admiração não se apoderaria de nós, se víssemos uma cidade calçada de cristal, com palácios de pura prata forrados de ouro e ornados da maneira mais aprazível com jarros das mais esquisitas flores! Oh! Quanto não fica acima disso a Jerusalém Celeste. Que encanto ver os habitantes do céu vestidos com pompa real, pois lá haverá tantos reis quantos os moradores, segundo Santo Agostinho. Que delícia ver a Santíssima Virgem, mais bela que todo o céu. Que prazer então ver o Cordeiro de Deus, Jesus, o esposo das almas. Santa Teresa teve uma vez a dita de ver uma mão do Salvador glorificado, sendo tão grande sua beleza que a santa entrou em êxtase. Perfumes esquisitos e fragrâncias paradisíacas nos deleitarão nos céus. Deliciarão nossos ouvidos harmonias sobrenaturais. Um anjo fez São Francisco ouvir uma só melodia celeste, sentindo-se o santo desfalecer de gozo. Que será então quando se ouvir cantar os coros dos anjos e santos? Que será então ouvir a Santíssima Virgem louvar a Deus? A voz de Maria no céu assemelha-se a do rouxinol, que sobrepuja à de todos os outros pássaros, nota São Francisco de Sales. Numa palavra: o paraíso é o complexo de todas as alegrias imagináveis.”


MAIORES BENS DO CÉU


“Tudo o que a alma vir em Deus causar-lhe-á grande alegria: compreenderá quão justos foram seus juízos, quão sábia a diretiva de sua Providência, que visava tudo unicamente a honra de Deus e a salvação das almas; conhecerá tudo o que lhe diz respeito, verá o amor imenso de Deus para consigo, tornando-se homem por sua causa e sacrificando-se na Cruz; perceberá o excesso de bondade, o mistério da Cruz, que levou o próprio Deus a fazer-se escravo e a deixar-se condenar como um malfeitor à morte da Cruz; desvendará a imensidade do amor recôndito no mistério da eucaristia, onde Deus torna-se o sustento de suas criaturas debaixo das espécies sacramentais; ser-lhe-ão apresentadas todas as graças e favores com que foi cumulada e que até então ignorava; ser-lhe-á desvendada a grandeza da misericórdia com que foi tratada pelo Senhor, já esperando sua conversão, já perdoando sua ingratidão; ser-lhe-á patenteado o número das vezes que o Senhor a chamou e a esclareceu e sua liberalidade em prestar-lhe apoio; convencer-se-á de que as adversidades, doenças, perdas de bens e parentes, em vez de duras penas foram amorosas admoestações do Senhor para induzi-la a amá-Lo perfeitamente. Numa palavra, tudo o que os seus olhos virem a induzirá ao conhecimento da Bondade infinita de Deus e de sua infinita amabilidade”

Tirado do Livro "Escola da Perfeição Cristã" de Santo Afonso de Ligório.

sábado, 27 de setembro de 2014

Padre Pio converte um maçom


Tradução: Carlos Wolkartt

O confessionário foi o lugar habitual dos sucessivos milagres realizados por Padre Pio. O frade chegava a passar mais de quinze horas por dia confessando, e assim provocava verdadeiras transformações interiores. Uma das conversões espetaculares foi a do famoso advogado genovês Cesare Festa, grão-dignitário da maçonaria italiana e primo do doutor Giorgio Festa. Este havia comentado em seu informe médico:

“Depois de vários exames e ao ver a evolução ao longo do tempo das feridas de Padre Pio, não há outra explicação senão a de que nos encontramos ante um caso sobrenatural”.

Com seu primo Cesare, ateu e anticlerical, mantinha uma discussão interminável, até que um dia, finalmente, disse:
 
– Cesare, anda, vá a São Giovanni Rotondo e lá farás verificações que acabarão com todas as tuas objeções. Depois disso, vamos continuar falando.

Cesare decidiu ir, com o propósito de desmascarar e denunciar o que acreditava com convicção ser uma fraude.

Padre Pio não lhe conhecia nem sabia de sua existência. Quando o viu entrando na sacristia junto a outros peregrinos, agarrou-lhe bruscamente:

– Quem é este entre nós? Um maçom.

– Pois sim, estás certo, eu sou.

– Que papel desempenhas na maçonaria?

– Lutar contra a Igreja.

Padre Pio, sem nada mais dizer, apontou-lhe o confessionário, e ante a estupefação de todos os presentes, o advogado maçom se ajoelhou, abriu seu coração, e com a ajuda do padre capuchino examinou toda a sua vida passada. Quando se levantou, era outro homem; havia paz em seu coração! Permaneceu três dias no convento até retornar a Gênova. Sua conversão foi noticiada na primeira página dos jornais. Cesare Festa foi a Lourdes e voltou a São Giovanni Rotondo para receber das mãos de Padre Pio o escapulário da Ordem Terceira Franciscana.

Em pouquíssimos meses: de maçom a franciscano. Foi recebido pelo Papa Bento XV, quem lhe confiou esta missão:

– Tenho grande estima ao Padre Pio, apesar de alguns informes desfavoráveis que me foram enviados. É um homem de Deus. Compromete-se a dar-lo a conhecer, porque não é apreciado por todos como ele merece.

A Grande Loja italiana se reuniu para expulsar o advogado renegado. Cesare Festa decidiu assistir e dar a conhecer seu testemunho. No mesmo dia recebeu uma carta animadora de Padre Pio:

“Não te envergonhes de Cristo e de Sua doutrina; é momento de lutar corajosamente. O Espírito Santo te dará a fortaleza necessária”.

São Padre Pio, rogai por nós!

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Fé Católica no Brasil



Fotos da década de 40 ou 50? Não, são deste mesmo ano! Quer saber mais?
Veja onde ainda há a verdadeira Fé Católica no Brasil: Clique aqui.

Fonte:

Fora da Igreja Católica não há salvação


Entre os que atacam a Igreja a propósito deste dito levam a dianteira os protestantes. Ora, este princípio, de que eles se servem para acusar a Igreja, não é senão uma conseqüência lógica e necessária da doutrina dos seus principais mestres; pelo que estão em contradição consigo mesmo. Com que direito nos podem eles argüir com o que eles próprios devem admitir e o que explicitamente professam os formulários de fé dos primeiros tempos do protestantismo? Eis o que, por exemplo, lemos na confissão helvética: “Não há salvação fora da Igreja, assim como a não houve fora da arca; quem quiser ter a vida, é preciso não se separar da verdadeira Igreja de Jesus Cristo”. Não são menos explícitas as confissões da Saxônia, da Bélgica e da Escócia. Fora da Igreja, diz também o catecismo calvinista do século XVII, não há senão condenação; e todos os que se separarem da comunhão dos fiéis para formarem uma seita à parte, não podem esperar salvar-se enquanto assim estiverem separados”. E é o que afirma o próprio Calvino nas suas Instituições, dizendo: Fora do seio da Igreja não se pode esperar a remissão dos pecados nem a salvação”.
* * *
 

“Mas pelo menos”, dirão, “não se pode a Igreja livrar da nota de intolerante e de cruel, em ela declarar que fora da Igreja não há salvação. Que de homens, pois, destinados à condenação eterna, só por não pertencerem à Igreja romana!”
 
Já nós, ainda que de passagem, respondemos a esta acusação. Bom será, porém, dar-lhe mais algum desenvolvimento; e assim se verá, como aquele velho de que fala Rousseau, de nenhum modo é digno de piedade.
 
Se, com efeito, a verdadeira religião, a religião de Jesus Cristo é obrigatória para todos os homens, e, se esta religião, a única, é professada e ensinada só pela Igreja católica, apostólica, romana, força é reconhecer que fora desta Igreja não há salvação, e que ninguém pode alcançar o céu sem a ela de algum modo pertencer. Não é, portanto, a Igreja que há de ser acusada por falar assim; se algum fosse digno de censura, seria o seu divino Fundador, que tornou a sua religião indispensável para todos.
 
O que, pois, sobremaneira importa é precisar bem o sentido desta máxima. “Há, observa o cardeal Deschamps, nestas palavras, assim como em todas as de uma lei penal, uma palavra, que sempre se há de subentender, e é a palavra voluntariamente; porque sempre a lei penal supõe culpabilidade; e a culpabilidade supõe sempre duas condições: o fato e a intenção. E, por isso, a pergunta: ‘crê a Igreja na condenação dos que, sendo nascidos e educados lá onde a não puderam conhecer, se acham em ignorância invencível a respeito da lei de Jesus Cristo, mas praticaram fielmente tudo o que eles viram ser bom’, é necessário responder: ‘Não crê’”.
 
“Pode-se, pois, pertencer à alma, ainda que se não pertença ao corpo da Igreja, diz o mesmo cardeal. Não é evidente que pertence à alma da Igreja um homem que está de boa fé e que entraria nela se a conhecesse? Não estão realmente nesta disposição todos os que têm um desejo sincero e geral de aderirem à verdade e de fazerem a vontade de Deus? É esta uma questão semelhante a do batismo de desejo, do qual, como diz São Tomás de Aquino, se acha implícita e suficientemente contido na vontade geral de empregar todos os meios de salvação concedidos aos homens pela Providência divina. Os que, por conseguinte, estão pela sua parte dispostos a, conhecendo a Igreja, fazerem parte dela, já por isso mesmo são aos olhos de Deus considerados como filhos dela, e certamente receberão dele as luzes necessárias à sua salvação”.
 
“Morreu Jesus Cristo por todos os homens; e as graças liberalizadas em atenção a esta vítima, que a justiça eterna previu desde o princípio haver de ser imolada no correr dos tempos, occisus ab origine mundi, redundaram em benefício de todos, sem exceção alguma.Nenhum homem, portanto, ficou excluído dos benefícios da redenção, a não ser por culpa sua e pela sua resistência à graça; e cada um será julgado segundo a que houver recebido. Haverá porventura doutrina mais terna e juntamente mais terrível; mais terna para com os pobres ignorantes, que não têm culpa, na sua ignorância, e mais terrível para com os ingratos, que, para se esquivarem à luz, que os inunda, vão buscar as trevas de sofismas contra a justiça de Deus?”
 
Este é também o sentir unânime da Tradição, que ensina como coisa certa, dar Deus a todos os homens as graças suficientes para se salvarem, e que ninguém se condena a não ser por um ato livre da alma que, ingrata, recusa os dons divinos. “Deus não recusa a sua graça a quem da sua parte faz tudo o que de si depende”, diz um muito conhecido axioma teológico, a que já nos referimos1.
 
Para que melhor se compreenda o sentido desta máxima, distingamos, como fazem os teólogos, o corpo e a alma na Igreja. O corpo ou parte visível da Igreja é o conjunto dos membros, unidos entre si pelo assentimento às mesmas verdades, pela participação dos mesmos sacramentos, e pela obediência aos mesmos pastores, daqueles que pelo batismo se inscreveram oficialmente entre os seus súditos. A alma ou a parte invisível é a graça santificante, princípio da vida sobrenatural, que torna o homem agradável aos olhos de Deus.
 
Para de todo se pertencer, tanto de direito como de fato, ao corpo da Igreja, é primeiramente preciso entrar nela pelo batismo; e mais, é necessário, depois do uso da razão, prestar o seu assentimento, voluntário e feito com conhecimento de causa, por meio de um ato de fé católica; nem, enfim, deve fazer-se expulsar dela pela excomunhão, nem sair-se dela, abraçando algum erro.
 
Para se pertencer à alma da Igreja ou para se salvar, basta estar em estado de graça, quer se faça, ou não, parte do corpo da Igreja; ou, por outra, podem, segundo a doutrina católica, os hereges, os cismáticos e até os gentios possuir a graça santificante e merecer o céu. Mas, está claro, se alguém conhecesse a necessidade de fazer parte da Igreja, era impossível pertencer à alma da Igreja, e conservar a graça santificante, sem também pertencer ao corpo dela, pois faltaria voluntariamente a uma obrigação, que ele reconhece como grave2.
 
Ninguém, pois, se perde senão por culpa sua, menosprezando a lei, a qual, porém, não obriga senão depois de conhecida ou promulgada, pois não obriga em consciência a quem a desconhece. E, por isso é que o Senhor só depois de haver dito aos apóstolos: “Ide por toda a terra e ensinai o Evangelho a toda a gente”, é que acrescentou: “Quem não crer será condenado”. Supõe, pois, conhecer-se a verdade, quando se incorre em condenação por causa da incredulidade.
 
 
Desçamos, porém, para maior clareza desta matéria, a alguns casos particulares.
 
1. Quanto ás crianças, nascidas de pais cismáticos, hereges ou infiéis, se elas receberam o batismo, recebem também com ele a graça santificante, que subsiste enquanto não caírem em falta grave. Pertencem estas à alma da Igreja, e certamente se salvam se morrerem neste estado. Supõe este caso que a criança, chegada ao uso da razão, persiste numa ignorância invencível acerca da verdadeira religião, ou por se achar na impossibilidade de se informar dela, ou por lhe não prestar atenção, visto não ter dúvida sobre a verdade da que professa.
 
Suponhamos agora que esta criança, depois homem, veio por mal seu a perder a graça santificante, caindo em pecado grave; poder-se-á ainda reconciliar com Deus. E, para este fim, se a seita a que pertencer guardar o sacramento da penitência, tem a obrigação de confessar-se, isto é, de empregar o meio por ele reconhecido como necessário; mais, para alcançar o perdão deste pecado precisa ter uma contrição perfeita. A razão é clara; pois que por uma parte este homem iria contra a sua consciência, se não acudisse a este meio, e por outra a contrição perfeita é absolutamente necessária, pois esta confissão é por si mesma ineficaz.
 
2. Quanto às crianças, que morrem sem terem recebido o batismo (e o mesmo se diga dos adultos que nunca tiveram o uso da razão), já acima dissemos, o que acerca da sua sorte se há de pensar: gozarão uma felicidade natural, cuja fruição seria a reservada a todos nós, se não tivéssemos sido elevados à ordem sobrenatural; e ficarão unicamente privadas do grau de felicidade correspondente à visão beatífica de Deus, visões indébitas a qualquer pura criatura3
 
3. Vejamos agora o que se há de pensar acerca dos adultos não batizados ou infiéis, que fizeram uso da razão, como são os judeus, os maometanos e os pagãos. Eis, em resumo, qual é sobre este ponto a doutrina da Igreja: não ficam excluídos, por causa da sua infidelidade, senão quando ela é voluntária; e quando àqueles, cuja infidelidade provém de uma ignorância invencível, se eles se vierem a perder, não será por terem ignorado o que lhes era impossível conhecer, mas por faltas graves por eles próprios cometidas.
 
Se se governarem pela lei natural em seus corações gravada, se aceitarem as tradições primitivas, posto que muitas vezes deturpadas, acerca de Deus e da sua providência, da promessa de um Redentor, assim como das recompensas e castigos reservados aos homens numa outra vida, pertencem à alma da Igreja e podem salvar-se.
 
Para eles o batismo pela água, que é necessário a todos os que conhecem a necessidade dele, e estão em condições de o receberem, fica sendo substituído pelo batismo de sangue ou pelo de desejo. Este batismo de desejo supre também o batismo da água para os que, conhecendo a necessidade deste e não podendo, por qualquer causa recebê-lo, têm um desejo explícito dele, acompanhado da contrição perfeita dos pecados graves atuais. Quanto ao desejo implícito do batismo ou ato perfeito de amor a Deus, é certo ter ele bastado nos primeiros tempos da Igreja para os pagãos, que ainda não tinham ouvido a pregação do Evangelho. Não considera a Igreja, de fato, como necessário à salvação, o batismo da água senão depois do Evangelho ter sido promulgado, segundo expressamente declara o Concílio de Trento. Ora, esta pregação do Evangelho só se fez e não podia fazer-se senão progressivamente. Se, pois, existiam meios de salvação distintos do batismo, para os infiéis daqueles tempos, pois que ainda o Evangelho lhes não tinha sido pregado, também hão de existir para os infiéis dos séculos seguintes, que, sem culpa sua, se achavam em circunstâncias iguais4.
 
Não ficam, portanto, segundo a doutrina da Igreja, excluídos da salvação os gentios, os hereges e os cismáticos, que não abraçaram a verdadeira fé, a não ser os que não conheceram a verdade revelada porque não a quiseram conhecer, ou os que, tendo-a bastantemente conhecido, se recusaram a abraça-la. Só, de fato, estão obrigados a entrar na Igreja Católica os que a reconhecem como o único meio necessário para alcançarem a sua salvação. É, portanto, sob todos os respeitos muito racional e lógica a fórmula: “Fora da Igreja não há salvação”: e, se a acusam por este lado, é porque ou estão de má fé ou estão iludidos; iludidos, por lhe não conhecerem o sentido adequado e preciso; de má fé, por se recusarem a reconhecê-lo.
 
É verdade, observemos ainda, que, se a salvação é possível fora do corpo da Igreja, não deixa, no entanto, de ser mais difícil. A inteligência não possui, neste caso, a verdade íntegra nem o magistério infalível; e a vontade carece também de um grande número de auxílios, como são, os sacramentos, o culto externo, etc. Têm, pois, muitíssima razão os ministros do Evangelho, que, possuídos de um zelo ardente e de um amor generoso para com seus próximos, se não poupam a trabalhos e nem mesmo aos perigos da vida para a toda a parte levarem o conhecimento de Jesus Cristo e para dilatarem as fronteiras da Igreja por Ele fundada. Além de que, se a sorte dos que morrem só com a culpa original não é para causar dó, é, contudo, mil vezes mais invejável a sorte e felicidade dos escolhidos para o céu, a qual consiste na visão e fruição de Deus por todo sempre.
 
(Pe. W. Devivier, S.J., Curso de Apologética Cristã. Editora Melhoramentos, São Paulo, 3a. edição, 1925)
  1. 1. É coisa certíssima que “O Senhor não quer que alguém se perca, mas sim que todos recorram à penitência” (II Ped. III-9). “Quer o nosso Deus e Salvador que todos os homens se salvem e que alcancem o conhecimento da verdade (I Tim. II-4). Não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, que se entregou pela redenção de todos” (I Tim. 5, 6). “Jesus Cristo deu a vida por todos” (II Cor. V-15). “Jesus Cristo é a vítima propiciatória por nossos pecados, e também pelos de todo o mundo”. (I Jo. II-2). “Deus não faz acepção de pessoas. Quem, pois, pecou sem a lei, perecerá sem a lei”. (II Ped. II-12). “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rom. V-20).
  2. 2. Costumam os teólogos dividir a infidelidade em negativa e positiva. A infidelidade negativa não é um pecado; encontra-se na gente, que não crê na Revelação, porque a ignoram, sem que tenham culpa nesta ignorância. A infidelidade positiva é um pecado, porque há, nos que a têm, um suficiente conhecimento da Revelação, que eles abandonam. Condenam-se estes por se recusarem a obedecer a uma ordem expressa e formal de Deus. O homem, que nasce e se educou na infidelidade ou no cisma, está obrigado a esclarecer-se e a procurar a verdadeira religião, no caso de ter dúvida séria acerca da religião, que professa; e, se o não fizer, deixa de estar na boa fé e ofende a Deus gravemente. Não há dúvida que entre os cristãos, separados da Igreja, há um grande número, que estão de boa fé, e nem sequer tem consciência do cisma ou da heresia, de que são vítimas. Newman, apesar do seu talento e da integridade da sua vida, afirma ter vivido muitos anos no anglicanismo sem lhe ocorrer dúvida alguma sobre a sua religião; e com muitos outros passará a mesma coisa.
  3. 3. Uma boa parte dos teólogos, e, certamente a mais numerosa, para não dizer a mais autorizada, aponta como punição resultante do pecado original a privação somente da felicidade sobrenatural (a vista de Deus), felicidade a que a natureza humana, como tal, não tem direito. São Tomás afirma que as crianças que morrem sem batismo, não só não sofrem as penas dos sentidos, mas nem sequer a tristeza pela pena do dano, isto é, pela perda da visão beatífica... É, pois, de crer que estas crianças gozem uma felicidade natural mais ou menos perfeita.
  4. 4. Vem aqui a propósito as judiciosas palavras do abade A. Pirenne, na sua obra Etudes philosophiques, etc. Suponhamos que o pagão (e o mesmo se diga dos hereges e dos cismáticos) morre, amando a Deus em si mesmo e sobre todas as coisas; está com isso salvo, porque com a caridade (sobrenatural) tem tudo; a caridade por si justifica. E, note-se, um grau ínfimode caridade é quanto basta, porque a essência duma virtude não consiste na sua intensidade: uma gota de água é água, como é um oceano; nem a quantidade de uma coisa influi na sua natureza. E assim a caridade subsiste, não obstante o apego ao pecado venial, e subsiste sem haver devoção alguma sensível. Estais, pois, salvo, contanto que, ao deixar esta vida ameis a Deus por si mesmo e sobre todas as coisas, que possam levar ao pecado mortal; estais salvo, sejam quais forem as circunstâncias em que vos possais encontrar. Ou sejais pagão ou herege ou pecador, se, no momento supremo, receberdes de Deus o dom da caridade, por menor que seja e compatível até com o pecado venial, tereis feito o bastante para vos salvardes; porque a caridade torna a contrição perfeita; e a caridade e a contrição perfeita encerram, ao menos implicitamente o desejo do batismo e da confissão. “Se se quiser saber o modo como a caridade se comunica aos infiéis, explica-o Leibnitz, que o tomou dos católicos, Deus dará o necessário a todos os que fazem o que humanamente depende deles, ainda quando fosse necessário fazer um milagre”. “Se houvesse de perecer uma alma inocente, diz São Tomás, proveria Deus, mandando até um anjo para lhe revelar as verdades divinas”.

    Fonte:
    http://acruzadafinal.blogspot.com.br/

Padre Pio nos explica a Santíssima Trindade



Em abril de 1920, Padre Pio recebe em seu confessionário uma jovem de 25 anos, que lhe diz: “Padre, o motivo de minha presença não é a confissão, mas o esclarecimento de algumas dúvidas que me atormentam. Perturba-me, sobretudo, o mistério da Santíssima Trindade”.

O padre, com palavras sensíveis, começou a dissipar as dúvidas: “Filha, quem pode compreender e explicar os mistérios de Deus? Chamam-se mistérios justamente porque não podem ser compreendidos por nossa pequena inteligência. Podemos formar alguma ideia com exemplos. Alguma vez já viste a preparação da massa para fazer o pão? O que faz o padeiro? Toma a farinha, o fermento e a água. São três elementos distintos: a farinha não é o fermento nem a água; o fermento não é a farinha nem a água; e a água não é a farinha nem o fermento. Misturam-se os três elementos e se forma uma só substância. Portanto, três elementos distintos formam, juntos, uma só substância. Com essa massa, se faz três pães que têm a mesma substância, mas possuem formas distintas um do outro. Isto é, três pães distintos um do outro, porém uma única substância.

Assim se diz de Deus: Ele é Uno na natureza, Trino nas pessoas iguais e distintas uma da outra. O Pai não é o Filho nem o Espírito Santo; o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. São três pessoas iguais, porém distintas. Contudo, é um só Deus, porque única e idêntica é a natureza de Deus”.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Que o homem não seja curioso escrutador do sacramento, mas humilde imitador de Cristo, sujeitando sua razão à Santa Fé

Voz do Amado 
1. Foge do desejo curioso e inútil de investigar este profundíssimo mistério, se não te queres afogar num abismo de dúvidas. Quem quer perscrutar a majestade será oprimido por sua glória (Prov 25,27). Mais pode Deus fazer, que o homem compreender. Contudo é permitida uma piedosa e humilde investigação da verdade, que sempre está inclinada a ser instruída e segue a sã doutrina dos Santos Padres. 
2. Bem-aventurada a simplicidade, que deixa os caminhos dificultosos das discussões, para andar no caminho plano e firme dos mandamentos de Deus! Muitos perderam a devoção, porque quiseram investigar coisas muito altas. O que se exige de ti é fé e inocência, não sublime inteligência, nem profundo conhecimento dos mistérios de Deus. Se não entendes, nem compreendes as coisas que estão abaixo de ti, como alcançarás as que estão acima? Sujeita-te a Deus e submete teu juízo à fé, e se te dará a luz da ciência, conforme te for útil e necessário. 
3. Alguns são gravemente tentados acerca da fé nesse Sacramento; mas isso não se deve imputar a eles, senão ao inimigo. Não te importes, nem disputes com teus próprios pensamentos, nem respondas às dúvidas que o demônio te sugere, mas crê nas palavras de Deus, crê nos seus santos e profetas, e fugirá de ti o malvado inimigo. Muitas vezes é de grande proveito ao servo de Deus passar por tais provações, porque o demônio não tenta aos infiéis e pecadores, que já tem seguros: aos fiéis devotos, porém, ele tenta e molesta de vários modos. 
4. Persevera, pois, na fé, firme e simples, e chega-te ao Sacramento com profunda reverência. E quanto ao que não podes compreender, encomenda-o tranqüilamente a Deus onipotente. Deus não te engana; mas se engana quem demasiadamente confia em si mesmo. Deus anda com os simples, revela-se aos humildes, dá inteligência aos pequenos, abre o sentido às almas puras e esconde sua graça aos curiosos e soberbos. A razão humana é fraca e pode enganar-se, mas a fé verdadeira não se pode enganar. 
5. Toda razão e pesquisa natural deve seguir a fé, não precedê-la, nem enfraquecê-la, porque a fé e o amor aqui dominam e operam ocultamente nesse santíssimo e diviníssimo Sacramento. “Deus eterno, imenso e infinitamente poderoso faz coisas grandes e incompreensíveis no céu e na terra” (Jó 5,9), e ninguém pode penetrar as maravilhas de suas obras. Se fossem tais as obras de Deus, que facilmente as compreendesse a razão humana, não deveriam ser chamadas maravilhosas, nem inefáveis. 
Imitação de Cristo – Tomás de Kempis
Fonte:

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Da acusação dos pecados, da absolvição e penitência

artgate_fondazione_cariplo_-_molteni_giuseppe_la_confessione1Discípulo — Padre, em quê consiste a confissão?
Mestre — A confissão, diz o catecismo, consiste na acusação distinta dos pecados feita ao Confessor para receber a absolvição e a penitência.
D. — O quê significa a palavra distinta?
M. — Quer dizer que acusar os pecados em geral não é o suficiente, como por exemplo: eu pequei contra a lei de Deus e da Igreja… pequei por blasfêmia, por furto, por impureza, etc… Devemos acusá-los distintamente, como violações, mais ou menos graves, deste ou daquele mandamento, manifestando o número deles, e além disso as circunstâncias que lhes mudam a espécie.
D. — Padre, deve-se também dizer o nome das pessoas companheiras de pecado?
M.— Não, a confissão deve ser prudente; não devo dar a conhecer os pecados dos outros; não se diga o nome do cúmplice, porque nunca é lícito desonrar alguém.
D. — Nesse caso como é que se pode manifestar certos pecados e as circunstâncias que lhes mudam a espécie?
M. — No caso disso não ser possível sem indicar as pessoas com quem se pecou, deve-se manifestar não o nome, mas a qualidade, ou o grau de qualidade, ou o grau de parentesco que se tem com as mesmas. Diga-se por exemplo: irmão, irmã, primo, um parente próximo, uma pessoa religiosa, etc… E se o Confessor fizer perguntas, o penitente deve responder com toda a sinceridade, pois que ele interroga justamente para suprir a algum esquecimento da parte do penitente, para conhecer melhor a espécie, o número, e as circunstâncias dos pecados. Todavia, a regra é sempre a mesma: que nunca seja revelado o nome do cúmplice do pecado.
D. — O quê diz dessas mulheres que confessam as culpas do marido e dos filhos?
M. — Digo que fazem muito mal!
D. — Eu ouvi contar que um homem, indo confessar-se logo depois da mulher recitou o Confiteor e depois se calou. Como o Confessor o incitava a dizer os seus pecados, respondeu:
— O senhor já os conhece Padre; a minha mulher já os disse todos: ouvi-os distintamente!
M. — Essa mulher merecia a lição dada a esta outra.
Um dia, uma dessas mulherzinhas que são o tormento dos maridos, apareceu no confessionário e foi logo dizendo: — Padre eu sou uma infeliz: tenho um marido bestial. Ele berra, impreca, blasfema, profana os dias santificados, freqüenta botequins!
— E a senhora ajuntou o Confessor.
— Eu sou uma pobre mártir, mas ele, meu marido, goza, come, bebe, passeia e, se alguma vez eu falo, ele logo levanta as mãos contra mim.
— Mas a senhora, como se comporta?
— Eu? eu não faço nada: o mau exemplo da família é ele; é a ruína da casa, o meu desespero.
— Basta! Já entendi; continue a suportar o seu purgatório aqui na terra e, enquanto isso reze por penitência três Ave Marias pelos seus pecados; mas reze também três vezes o Rosário inteiro, ou seja três vezes os quinze mistérios, pelos pecados de seu marido.
— Pelos pecados de meu marido? Se ele os cometeu, que reze a penitencia!
— Ele os cometeu, mas quem os confessou foi a senhora e a penitencia se dá á pessoa que se confessa! — E, fechando a portinhola, foi-se embora, deixando-a a pensar que não se deve confessar os pecados de outrem.
D. — O que quer dizer “confissão integral?”
M. — Quer dizer que devemos confessar todos os pecados mortais de que nos lembramos depois de um exame diligente, e também os que não tínhamos confessado, ou confessado mal nas confissões passadas.
D. — Qual a ordem que se deve observar para a acusação?
M. — Seria bom confessar antes de tudo os pecados; depois expor as dúvidas, as penas e temores, tudo aquilo, enfim, que perturba a consciência. Seria ainda aconselhável confessar primeiramente os pecados mais graves, os que se cometem com maior freqüência e que constituem a paixão predominante. O empenho que demonstrarmos nessa luta contra o defeito predominante, além de ser um tormento que nos traz proveito, ajudará o Confessor a nos curar melhor.
D. — Em quê consiste a sinceridade?
M. — A sinceridade consiste em manifestar singelamente tudo o que interessa à própria alma, sem esconder nada por temor ou por vergonha, sem diminuir o número das faltas, sem calar as circunstâncias que revelam toda a nossa miséria, mesmo em se tratando somente de culpas veniais e imperfeições.
Não é preciso, porém, cair no exagero e fazer como alguns homens e rapazes que, chegando-se para o Confessor desencadeiam uma chuva de blasfêmias e palavrões grosseiros e por mais que o Confessor procure refreá-los continuam imperturbáveis a repetí-los todos sem exceção.
Nem se deve proceder como certas mulheres que repetem as imprecações que costumam lançar contra o marido, as crianças ou os animais.
Também não devemos imitar aquela moça simples demais que, tendo-se acusado de ter cantado uma canção, e, tendo o confessor perguntado que canção era, se pôs a cantá-la em voz alta no confessionário, estando a Igreja repleta de gente!
D. — Oh, que simplória! Porém é preferível exagerar para mais do que para menos, não é Padre?
M. — Isso é que não! Não devemos agravar propositadamente a nossa culpabilidade, nem acusando culpas não cometidas, nem assegurando as que são duvidosas.
D. — Eu não me importo de parecer mais culpado do que realmente sou, contanto que esteja certo de estar fazendo uma boa confissão.
M. — Isso é zelo exagerado, meu caro, e que não merece aprovação. Será que você age dessa forma com o médico, quando se trata de tomar remédios ou de se submeter a uma operação?…
Vamos sempre para a frente com a sinceridade tão recomendada por Jesus Cristo!
D. — Finalmente, Padre, o quê significa: a confissão deve ser humilde?
M. Significa que à integridade e à sinceridade na acusação devemos acrescentar a humildade. Humilhar-nos o mais possível deve até ser o nosso principal empenho, porque quanto mais alguém se acusa, mais Deus o escusa.
Por isso mesmo a confissão é chamada a sacramento da humildade, o patíbulo do amor próprio.
D. — E o quê devemos fazer para nos humilharmos sempre mais?
M. — Não nos devemos limitar a expor só o que é pecado; tratemos de especificar as causas secretas das faltas costumeiras, as intenções e desejos ocultos que nos passam pela cabeça e a negligência em afugentá-los; as pequenas afeições ou agarramentos, que, mesmo se não consentimos neles plenamente, nos causam pesar quando somos obrigados a deixálos.
Digamos, em suma, bem claramente o que mais custa à nossa soberba e nos causa maior humilhação, mesmo que os nossos lábios se ruborizem, mesmo que os suores e calafrios nos percorram o corpo. A medida que expelirmos o veneno sentiremos alívio enorme: o sangue de Jesus Cristo, espargido sobre as nossas chagas assim descobertas poderá curá-las mais rapidamente e com mais perfeição.
Um dos mais célebres oradores franceses, Henrique João Batista Lacordaire, dominicano, nos dá um exemplo de confissão profundamente humilde. O eloqüente pregador dirigia-se lá pelos fins do outono de 1852, para Tolosa para fundar ali uma nova casa para a sua ordem. Passando por Dijon, entrou na sacristia da Igrejinha da Visitação, cujo capelão era o jovem abade de Bougaud. Este voltava do altar onde tinha celebrado, e, assim que acabou de despir os paramentos, o Padre Lacordaire chegou-se para ele e disse:
— “Quer ter a bondade de me ouvir em confissão?”
— Eu, conta Bougaud, reconheci logo o célebre pregador mas, antes que eu pudesse oferecer-lhe um genuflexório, ele já se tinha ajoelhado no chão, aos meus pés e me disse:
“Peço-lhe que ouça não só a minha confissão semanal, mas a confissão de todas as culpas da minha vida desde a infância”. Depois, começou, e eu não faltarei ao segredo da confissão dizendo que ele me contou a história de toda a sua vida; fez a acusação de todas as faltas que cometeu em criança, quando moço, como sacerdote e como religioso, com uma humildade, um arrependimento, um ardor, realmente singulares.
Ao fim dessa confissão extraordinária, logo depois da absolvição, beijou-me os pés repetidas vezes, e acrescentou:”
— Agora peço-lhe ainda uma graça, que o senhor com certeza não me negará.
— O quê poderia eu negar-lhe? respondi. E enquanto eu esperava que desse explicações, tirou debaixo da túnica um açoite formado por sólidas tiras de couro e me disse:
— A graça que eu lhe peço agora, é de me dar cem açoitaduras de disciplina.
— Jamais! disse eu perplexo.
— O senhor recusa-me então essa caridade? Aquele olhar, o acento daquelas palavras, eu jamais o esquecerei; aceitei pois a contra-gosto o encargo.
O Padre Lacordaire era muito sensível; logo no décimo quinto ou vigésimo golpe começou a gemer profunda mas docemente, e continuou assim até o fim. Eu queria parar, mas ele não o permitiu e eu tive que continuar no meu sangrento ofício.
Quando acabei, ele se levantou, abraçou-me e, desobrigando-me do segredo da confissão, me deu licença de lhe lembrar todos os próprios pecados e de os contar a quem quer que fosse.
Não posso descrever em que estado eu me achava. Quem não é capaz de se sentir comovido até o mais profundo das entranhas, não é digno de assistir a cenas como esta.
É assim, meu caro, que os grandes homens sabem humilhar-se: saibamos aproveitar tais exemplos!
D. — Oh, Padre, quantas coisas admiráveis! Se todos os que freqüentam a confissão fizesse assim, ficaríamos logo santos.
M. — Mesmo que não ficássemos santos evitaria mos pelo menos a rotina estereotipada que não traz proveito algum e não opera a transformação que esse sacramento deveria efetuar.
D. — Padre, o senhor disse que é bom acusar também os pecados da vida passada: de quê modo podemos fazê-lo?
M. — A acusação não deve ser geral, como é costume de muitos. Devemos procurar especificar as culpas de modo que possamos, provar-lhes verdadeiramente a matéria e a dor.
Digamos, por exemplo: confesso ainda iodos os pecados da minha vida passada, principalmente os que cometi contra a obediência, a caridade, a pureza e os deveres do meu estado ou então de todos os maus exemplos e escândalos dados durante a minha vida.
D. — E os que têm pecados que absolutamente não ousam confessar?
M. — Que digam logo ao Confessor: “Padre, eu cometi pecados que não ouso confessar”, que se entreguem à sua caridade e prudência e respondam com toda a sinceridade e confiança às perguntas que ele fizer.
D. — E se alguém se vir atrapalhado por causa de más confissões feitas no passado?
M. — Esse vá logo dizendo: Padre, tenho atrapalhações na consciência, preciso da sua caridade; ajude-me porque há algum tempo ou há muito tempo que me confesso mal. O Confessor saberá esclarecê-lo e livrá-lo; a paz e a consolação lhe inundarão a alma, que ficará surpreendida por ter podido comprar a sua felicidade, por tão baixo, preço.
D. — Agradecido, Padre; diga-me ainda: o quê é a absolvição?
M. — A absolvição é a sentença pela qual o sacerdote, em nome de Jesus, remete os pecados. É o ponto culminante do Sacramento, a panacéia infalível, o remédio divino que penetra nas almas, cicatrizando-lhes as feridas, curando-lhes desde a raiz as mais graves enfermidades; ressuscita-as, quando mortas pela culpa; dá-lhes força e vigor para que possam viver bem e lhes abre as portas do Paraíso.
Ao recebermos a santa absolvição, façamos de conta que estamos abraçados aos pés de Jesus e que Pie nos lava com o seu sangue.
Oh, quantos prodígios operou e opera continuamente essa fórmula sagrada que Jesus, pela boca do sacerdote, pronuncia sobre nós! De quantas manchas já limpou as almas.
Quantas, já envelhecidas no vício, foram por fim restabelecidas e salvas. É pois com a confiança ilimitada, que a devemos receber, como um remédio inteligente de efeito infalível; e choremos de consolação todas as vezes que a recebemos.
Um condenado à morte tinha tido a boa sorte de ter sido preparado para o passo terrível por um sacerdote zeloso e cheio de caridade. Quando subiu ao patíbulo, pouco antes que o laço fatal o enforcasse, e o Confessor que o assistia renovou a absolvição de todas as culpas, ele desatou em copioso pranto. Perguntaram-lhe a razão: “Eu não choro, disse, pela sorte que me toca, nunca chorei na minha vida; nem quando a justiça me alcançou, nem quando leram a minha sentença de morte: se agora choro é pensando que Deus me perdoou!”
A comoção foi geral: grande parte dos milhares de espectadores enxugaram as lágrimas.
Nós também deveríamos chorar assim, depois de cada absolvição, ao pensarmos que Deus nos perdoou.
D. — E se no momento da absolvição não pensamos nisso, ou não nos sentimos comovidos?
M. — Não nos devemos perturbar com isso. Os sacramentos operam ex opere operato, ou seja, por si próprios. Mesmo se não ouvíssemos nem sequer o som das palavras da absolvição, o seu efeito seria o mesmo.
D. — Padre, a absolvição cancela sempre os pecados?
M. Sim, cancela-os todos e sempre, quando a confissão é bem feita, isto é, quando dissemos todos os pecados de que nos lembramos, quando sentimos pesar, e quando fizemos firme propósito de fugir até das ocasiões; em caso contrário não cancela nada, mesmo que fosse repetida cem vezes.
D. — Então procedem mal, os que, não tendo boas disposições, vão à procura de um Confessor indulgente de quem possam arrancar a absolvição.
M. — Malíssimo! Coitados, cavam a própria cova, obrigando Deus a condená-los.
D. — Mesmo quando conseguem enganar o confessor, não podem enganar a Deus que lê nos corações, não é mesmo, Padre?
“Sempre confessados, sempre perdoados, No fundo do inferno, fomos sepultados”.
M. — Justamente! Eles terão a mesma sorte daquele querelante que, tendo-se arruinado com querelas reduzido à extrema miséria, magro, esquelético, maltrapilho, deixou aos seus herdeiros os seus retratos com este escrito: Sempre briguei, sempre ganhei:
Eis aqui como fiquei.
E eles deverão exclamar: Sempre confessados e sempre perdoados. o fundo do inferno seremos sepultados.
D. — Quando e como se deve fazer a penitência dada pelo confessor?
M. — É bom fazê-lo o mais depressa possível, e mesmo logo depois de deixarmos o confessionário; e deve ser feita com pontualidade e precisão.
No tempo que ainda se impunham penitências rigorosas, dois homens de bem, culpados talvez pelas mesmas faltas, deviam fazer a pé, por penitência, uma peregrinação a um santuário distante.
Andam durante duas horas em boa marcha, mas depois um deles diz:
— Ande mais devagar, amigo: eu não posso mais! Doem-me os pés! Saiba que o confessor ordenou como penitência, que eu pusesse grãos de bico no sapato.
— Ora, a mim também deu a mesma ordem.
— E você não os pôs?
— Pus, sim.
— E os seus pés não doem?
— Nem um pouco! Eu até sinto alívio com isso! — Mas como?!
— Eu os pus cozidos.
D. — O homem era bem esperto!
M. — Esperto sim, ou pelo menos, nada tolo… Mas no entanto, você compreende que ele não estava cumprindo a penitência com precisão, pois a intenção do confessor era outra.
Confessai-vos Bem – Pe. Luiz Chiavarino
Fonte:

SEJA UM BENFEITOR!