sábado, 5 de dezembro de 2015

Não se perdoa a todos igualmente - Por Santo Afonso de Ligório

Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja.

"Omnia in mensura et numero et pondere disposuisti - Dispuseste todas as coisas com medida e conta e peso." (Sab 11,21)

A misericórdia de Deus é infinita; mas apesar desta misericórdia, quantos não se condenam todos os dias! Deus cura ao que tem boa vontade. Perdoa os pecados, mas não pode perdoar a vontade de pecar. A medida dos pecados que Deus quer perdoar, não é igual para todos. A um perdoa Deus cem pecados, a outro mil; aquele outro, porém, será condenado ao inferno depois do segundo pecado.
Quantos não há que o Senhor condenou logo depois da primeira queda! Refere São Gregório que um menino de cinco anos foi lançado ao inferno quando dizia uma blasfêmia. A Santíssima Virgem revelou a serva de Deus Benedita de Florença, que o primeiro pecado foi a condenação de uma menina de doze anos. A mesma desgraça aconteceu a um menino de oito anos, que morreu e foi condenado logo depois do primeiro pecado. Lemos no Evangelho de São Matheus, que o Senhor, achando estéril uma figueira, cujos frutos procurava colher pela primeira vez, a amaldiçoou imediatamente, e que a árvore secou.

Por acaso algum temerário se atreva a perguntar a Deus, porque quer perdoar três pecados e não quatro? Neste ponto é preciso adorar aos juízos divinos e dizer com o apóstolo: Quam incomprehensibilia sunt iudicia eius, et investigabiles viae eius! - Quão incompreensíveis são os seus juízos e imperscrutáveis os seus caminhos! Replica o pecador obstinado: Tantas vezes ofendi a Deus, e cada vez Deus me perdoou; por isso confio que me perdoará mais este pecado. Respondo-lhe todavia: Porque não te castigou Deus até agora, segue-se que será sempre assim? Encher-se-á a medida então virá o castigo. Ne dicas, peccavi, et quid accidit mihi triste? Não digas, avisa o Senhor, tenho cometido tantos pecados e Deus nunca me castigou. Altissimus enim est patiens redditor - O Altíssimo é um juiz paciente. Quer dizer que virá um dia em que pagarás tudo. e quanto maior tiver sido a misericórdia, tanto maior será o castigo.

Afirma São Crizostomo que há mais para receiar, quando Deus atura um pecador obstinado, do que quando o castiga sem detença. Com efeito, observa São Gregório, aqueles que Deus espera com mais paciência, são castigados depois com tanto mais rigor, se permanecem na sua ingratidão. Muitas vezes acontece, acrescenta o santo, que os que foram tolerados por mais longo tempo, morrem de improviso, sem terem tempo de se converter. Quanto mais Deus houver te favorecido com as suas luzes, tanto maior será a tua obcecação e a tua obstinação no pecado.

É bem terrível a ameaça que o Senhor dirige aos que são surdos aos seus convites: "Recusaste obedecer a minha voz, pois bem, eu também me rirei quando morrerdes.- Quia vocavi, et renuistis..Ego quoque in interituvestro ridebo."Notem-se bem estas duas palavras: ego quoque - eu também; significam que, assim como pecador zombou de Deus, confessando-se, prometendo e traindo sempre, assim o Senhor zombará dele na hora da morte. Além disso diz o sábio: "O imprudente que recai na sua loucura, é como um cão que torna outra vez ao que tinha vomitado." O que Deniz o Cartucho explica dizendo: "Assim como sente náusea e horror em presença de um cão que devora o que tinha vomitado, assim Deus detesta ao que volta a seus pecados, que na confissão tinha abominado."

Meu Deus, eis-me aqui a vossos pés, eu sou esse animal nojento que de novo se pôs a comer os frutos que primeiro detestara. Não mereço misericórdia, Redentor meu; mas o sangue que derramaste por mim, me anima e obriga a esperar. Quantas vezes Vos ofendi, e quantas vezes me perdoaste! Prometera não Vos ofender mais, e depois voltei ao que tinha vomitado, e Vós tornaste a perdoar-me. Esperarei porventura até que me mandeis ao inferno? Ou que me entregueis ao poder de meu pecado, desgraça maior ainda do que o próprio inferno? Não, meu Deus, quero emendar-me e para Vos ser fiel, quero depositar em Vos toda a minha confiança, nas tentações quero sempre imediatamente recorrer a Vós.

No passado fiei-me em minhas promessas e resoluções, e descurei recomendar-me a Vós nas tentações. Dai veio minha ruína. De hoje em diante sereis Vós a minha esperança e a minha força, e assim, poderei tudo: - Tudo posso naquele que me fortalece. Concedei-me pois, ó meu Jesus, pelos vossos merecimentos, a graça de me recomendar sempre a Vós e de implorar o vosso auxílio em todas as minhas necessidades. Amo-Vos, ó soberano Bem, digno de ser amado sobre todos os bens. Só a Vós quero amar, mas para isso deveis me ajudar. Vós também deveis auxiliar-me com a vossa intercessão, ó minha Mãe Maria. Guardai-me debaixo de vosso manto, e fazei que chame por vós em todas as tentações. O vosso nome será a minha defesa.
Fonte
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano – Santo Afonso de Ligório.

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