domingo, 29 de março de 2015

O DOM DE LINGUAS, OS PADRES DA IGREJA E OS SANTOS

A virgem Santíssima e o dom das línguas

Questão IV: Se a Virgem recebeu o dom de línguas, chamado por alguns “glossolalia”.
a) “Afirmativamente, porque recebeu este dom com os apóstolos no dia de Pentecostes, e, como disse Santo Alberto Magno: A Virgem estava com eles quando apareceram as línguas repartidas como de fogo, logo recebeu o dom das línguas com eles” (Mariale, q. CXVII); b) Ademais, ainda que não tivesse de ir pregar o Evangelho as diversas nações e gentes, todavia, no principio da Igreja nascente se concedia com freqüência este dom aos fiéis, ainda a aqueles a quem não se havia conferido o ministério de pregar e propagar o Evangelho como consta (At, XIX, 6); c) E assim convinha, porque acudindo Maria muitos fiéis de diversas nações, já por piedade filial, e que buscavam de instruções, devia conhecer seus idiomas para entendê-los e instruí-los plenamente nas coisas da fé. d) Finalmente,Suarez julga provável que ainda antes de Pentecostes, Maria já tivesse usado desta graça, caso a necessidade ou a ocasião tivesse exigido, como quando Cristo foi adorado pelos magos, é de crer que Maria entendeu a sua linguagem, como é também crível que, quando foi ao Egito, entendia e falava a língua dos egípcios. (In 3, disp. XX) – (ALASTRUEY, Gregório. Tratado de la Virgen Santíssima. Madrid: BAC, 1945, p. 350-351)

Padres da Igreja e o dom das línguas
No séculos II, Santo Irineu (c.115-200) se refere a uma fala extática não-idiomática, do tipo que os pentecostais praticam hoje. Descreve e condena as ações de um certo Marcos que “profetizava”, sob influência “demoníaca”. Marcos compartilhava o seu “dom” e outros também “profetizavam”. Seduzia mulheres e lhes prometia o carisma. Quando a recebiam, falavam algo sem sentido:
“Então ela, de maneira vã, imobilizada e exaltada por estas palavras e grandemente excitada… seu coração começa a bater violentamente, alcança o requisito, cai em audácia e futilidade, tanto quanto pronuncia algo sem sentido, assim como lhe ocorre”. (Contra Heresias I, XIII, 3)Irineu também se refere ao dom de línguas dos apóstolos e da época em que vivia. Cita II Cor. 2:6, explicando que “os perfeitos” falam em “todos os tipos” as línguas:
“… nós também ouvimos muitos irmãos na Igreja,… e que através do Espírito, falam todos os tipos de línguas, e trazem à luz para o benefício geral as coisas escondidas dos homens, e declaram os mistérios de Deus…”. (Contra Heresias V,VI,1)
Ao informar que falam todos os tipos de língua, Irineu parece se referir a línguas que admitem classificação.
O curioso é que o movimento de herético de Montano (c.150-200) envolveu um êxtase religioso, com elocuções não-idiomáticas, semelhantes à pseudo-glossolalia pentecostal.
De acordo com descrições registradas por Eusébio (c.265-?), Montano entrou em uma espécie de delírio e balbuciava “coisas estranhas”. Ele “encheu” duas mulheres com o “falso espírito”, e elas falaram “extensa, irracional e estranhamente”:
“ficou fora de si e [começou] a estar repentinamente em uma sorte de frenesi e êxtase, ele delirava e começava a balbuciar e pronunciar coisas estranhas, profetizando de um modo contrário ao costume constante da igreja (…) E ele, excitado ao lado de duas mulheres, encheu-as com o falso espírito, tanto que elas falaram extensa, irracional e estranhamente, como a pessoa já mencionada.” (História da Igreja V,XVI:8,9 )
Depreende-se deste texto que o fenômeno lingüístico montanista envolvia:
(a) uma forte expressão emocional, deduzida das menções de “êxtase”, “frenesi” e delírio;
(b) o texto indica uma linguagem não-idiomática, de “balbucios”, e um falar “estranho”, “irracional”. Tomadas em conjunto, estas características assemelham-se à glossolalia pentecostal. A comparação torna-se tão evidente, ao ponto de o montanismo ser apelidado de “protótipo dos pentecostais”.
Sabe-se que a “glossolalia” montanista se tratava de uma reminiscência dos excessos frígios. Sob esta ótica, a glossolalia pentecostal perdeu o apoio da igreja do segundo século e se alinhou com uma religião não-cristã da mesma época.
Orígenes (c.195-254) em sua época, se opôs a um certo Celso, que clamava ser divino, e falava línguas incompreensíveis:
“A estas promessas, são acrescentadas palavras estranhas, fanáticas e completamente ininteligíveis, das quais nenhuma pessoa racional poderia encontrar o significado, porque elas são tão obscuras, que não têm um significado em seu todo.” (Contra Celso, VII:9)
Uma linguagem ininteligível soa “estranha”, “obscura” e “fanática” para Orígenes. Assim como para Irineu e mais tarde foi para Eusébio. Para Orígenes, as palavras “completamente ininteligíveis”, eram mais o subproduto de uma distorção religiosa.
Arquelau, bispo de Carcar no fim do segundo século comenta sobre o dom de línguas no Pentecostes. O contexto indica uma identificação como idiomas naturais. Para Arquelau, Mane era incapaz de conhecer a língua dos gregos porque não possuía o dom de línguas do Espírito, que o capacitaria a entendê-las:
“Ó seu bárbaro persa, você nunca foi capaz de conhecer a língua dos gregos, dos egípcios, ou dos romanos, ou de qualquer nação, (…). Pelo que diz a Escritura? Que cada homem ouvia os apóstolos falarem em sua própria língua através do Espírito, o Parácleto”.(Disputa com Mane, XXXVI)
Na Didaquê Siríaca comenta-se o evento do Pentecostes. Os discípulos estavam preocupados sobre como iriam pregar ao mundo, se eles não conheciam os idiomas. Então, receberam o dom de falar idiomas estrangeiros e foram para os países onde esses idiomas eram falados:
“de acordo com a língua que cada um deles tinha diferentemente recebido, para que a pessoa se preparasse para ir ao país no qual a língua era falada e ouvida”. (Didaquê Síriaca, seção introdutória).
No século IV, Cirilo de Alexandria (c.315-387), Doutor da Igreja em seus Sermões Catequéticos (sermão XVII: 16), interpreta o dom de línguas do Pentecostes como idiomas estrangeiros. Isto indica que, pelo começo do quarto século, a glossolalia apostólica também era tida como um idioma comum. Cita por nome alguns idiomas falados pelos apóstolos:
“O galileu Pedro ou André falavam persa ou medo. João e o resto dos apóstolos falavam todas as línguas para aquela porção de gentios (…) Mas o Santo Espírito os ensinou muitas línguas naquela ocasião, línguas que em toda a vida deles nunca conheceram” (Sermões Catequéticos (sermão XVII: 16)
Para Gregório Nazianzeno (c.330-390), Doutor da Igreja, o dom de línguas em Atos também se referia a idiomas estrangeiros:
“Eles falaram com línguas estranhas, e não aquelas de sua terra nativa; e a maravilha era grande, uma língua falada por aqueles que não as aprenderam”. Gregório ainda argumenta que o dom foi de falarem línguas estrangeiras e não dos ouvintes as entenderem. Segundo ele, se fosse assim, o milagre não seria dos que “falam” em línguas, mas “dos que ouvem”.(Do Pentecostes, oração XLI:16)
Ambrósio (330-397), também Doutor da Igreja, embora não discuta a natureza do dom de línguas, ressalta que cada pessoa recebe dons espirituais diferentes. Para ele,
“todos os dons divinos não podem existir em todos os homens, cada um recebe de acordo com a sua capacidade ao deseja ou merece” (Do Espírito Santo II, XVIII, 149)
Se Ambrósio também quer dizer com isto que o falar em línguas não se manifesta em todos os cristãos, a citação pode se confrontar e divergir completamente com a posição pentecostal de que todos devem ter “o” dom de línguas.
São João Crisóstomo (Doutor da Igreja) (347-406), é o primeiro a interpretar detidamente a glossolalia em I Coríntios. Em sua conhecida retórica de orador, questiona a ausência do dom de línguas: “Por que então eles aconteceram, e agora não mais?”
São João Crisóstomo detalha sua explicação. Ele vê o dom de línguas do N.T. como um fenômeno reverso ao da Torre de Babel. Os discípulos receberam o dom porque deveriam
“ir afora para todos os lugares (…) e o dom era chamado de dom de línguas porque ele poderia falar de uma vez diversas línguas”.
Comentando I Co. 14:10, aplica a passagem à diversidade de idiomas:
“i.e., muitas línguas, muitas vozes de citianos, tracianos, romanos, persas (…) inumeráveis outras nações.”E sobre I Co. 14:14, São João Crisóstomo sublinha que aquele que fala em línguas não as entende, porque não conhece o idioma em que fala:
“Pois se um homem fala somente em persa ou outra língua estrangeira, e não entende o que ele diz, então é claro que ele será para si, dali em diante, um bárbaro (…) Pois existiam (…) muitos que tinham também o dom da oração, junto com a língua; e eles oravam e a língua falava, orando tanto em persa ou linguagem latina, mas o entendimento deles não sabia o que era falado”.98 (Homilias na Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo XXXV).
Para Agostinho (Doutor da Igreja) (354-430), o dom de línguas concedido aos apóstolos no Pentecostes se tratava da capacidade sobrenatural de falar línguas estrangeiras. Demonstra que, no período apostólico, o Espírito operava…
“sensíveis milagres… para serem credenciais da fé rudimentar” (Contra os Donatistas: Sobre o Batismo, III:16).
Agostinho reforça o dom de línguas como idiomas naturais. Eram línguas que os discípulos“ não tinham aprendido”. E, na pregação posterior,
o… “evangelho corria através de todas as línguas”.100 (Epístola de São João, Homilia VI:10)
“Nos primeiros tempos, o Espírito Santo descia sobre os fiéis e estes falavam em línguas, sem as ter aprendido conforme o Espírito lhes dava a falar. Foram sinais oportuno para esse tempo… o sinal dado passou depois” (Comentário da Primeira Carta de São João, Tratado IV, 10).Algo a se notar nos Padres da Igreja é a completa ausência do dom de línguas do tipo pentecostal. Percebe-se que na Igreja do tempo dos Padres, o dom de línguas não esboçava qualquer centralidade, ou mesmo relevância como possui hoje em dia para a heresia pentecostal. Caso o dom de línguas como se difunde hoje, fosse fundamental na doutrina apostólica como evidência do batismo do Espírito Santo, teria certamente teria feito parte dos credos e da tradição dos Padres da Igreja.
Logo, num prisma negativo, pseudo-glossolalia pentecostal considerados neste artigo não encontram suporte nos Pais da Igreja:
(1) A glossolalia não-idiomática :
(a) não foi considerada como dom do Espírito;
(b) foi rejeitada pela igreja da época;
(c) revelou origens e feições não-cristãs. Tida como principal manifestação lingüística do pentecostalismo, a glossolalia não-idiomática encontra reprovação no conjunto dos Pais da Igreja.
Nos Pais da Igreja a glossolalia:
(a) não é indicadora da plenitude do Espírito Santo;
(b) não é indicadora indireta da própria salvação do crente; ou
(c) não é um elemento distintivo dos verdadeiros crentes.
Em relação à glossolalia como o dom, os Pais da Igreja têm o falar em línguas como:
(a) não-obrigatório para o cristão;
(b) o dom de línguas na patrística é apenas “um” entre outros.
A doutrina do dom das línguas em Santo Tomás de Aquino
Santo Tomás de Aquino, ao comentar o Capítulo XIV da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, escreveu:
“Quanto ao dom de línguas, devemos saber que como na Igreja primitiva eram poucos os consagrados para pregar ao mundo a Fé em Cristo, a fim de que mais facilmente e a muitos se anunciasse a palavra de Deus, o Senhor lhes deu o dom de línguas” (S. Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pag 178.)
Vê-se, portanto, que o dom de línguas foi dado aos primeiros cristãos para que anunciassem a religião verdadeira com mais facilidade. Os Coríntios, por sua vez, desvirtuaram o verdadeiro sentido do dom de línguas:
“Porém, os coríntios, que eram de indiscreta curiosidade, prefeririam esse dom ao dom de profecia. E aqui, por ‘falar em línguas’ o Apóstolo entende que em língua desconhecida e não explicada: como se alguém falasse em língua teutônica a um galês, sem explicá-la; esse tal fala em línguas. E também é falar em línguas o falar de visões tão somente, sem explicá-las, de modo que toda locução não entendia, não explicada, qualquer quer seja, é propriamente falar em língua” (S. Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 178-179.).
Temos aqui uma consideração importante. Para São Tomás, o “falar em línguas” pode ser entendido de duas formas:
a) falar em uma língua desconhecida, mas existente, como no caso de Pentecostes, no qual pessoas de várias línguas compreendiam o que os apóstolos pregavam.
b) a pregação ou oração sobre visões ou símbolos.
E o doutor angélico confirma isso mais adiante:
“ suponhamos que eu vá até vós falando em línguas’ (I Co 14, 6). O qual pode entender-se de duas maneiras, isto é, ou em línguas desconhecidas, ou a letra com qualquer símbolos desconhecidos” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 183.)
Haja vista que a primeira forma de falar em línguas é suficientemente clara – ou seja, que é um milagre pelo qual uma pessoa, que tem por ofício pregar às almas, fala numa língua existente sem nunca a ter estudado – consideremos a segunda forma de manifestação desse dom, segundo São Tomás. Neste caso, falar em línguas é uma simples predicação numa linguagem pouco clara, como, por exemplo, falar sobre símbolos, visões, em parábolas, etc:
“(…) se se fala em línguas, ou seja, sobre visões, sonhos (…)” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 208.).
E ainda:
[lhes falarei] “ ‘Em línguas estranhas’, isto é, lhes falarei obscura e em forma de parábolas”(Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 200).
“(…) em línguas, isto é, por figuras e com lábios (…)” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 200.)
Para São Tomás, quem assim procede, isto é, usa de símbolos nas práticas espirituais, tem o mérito próprio da prática de um ato de piedade. Caso o indivíduo compreenda racionalmente o que diz, lucra, além do mérito, o fruto intelectual da ação.
Quem reza o Pai-Nosso, por exemplo, mesmo sem compreender perfeitamente o valor de suas petições, tem o mérito próprio da boa ação de rezar. Por outro lado, quem reza o Pai-Nosso com o conhecimento de seu significado mais profundo, lucra, além do mérito, a consolação intelectual da compreensão de uma verdade espiritual. Por esse motivo, São Paulo exorta aos que “falam em línguas” – ou seja, que usam símbolos nos atos de piedade – para que peçam também o dom de “interpretar as línguas”, quer dizer, de compreender o que diz por meio simbólico, afim de que possa ganhar, além do mérito, a compreensão racional do ato.
No que se refere ao uso público do dom de línguas, o Apóstolo determina que ele nunca deve ser usado sem que haja intérprete, ou seja, sem que haja quem explique os símbolos para os que não os compreendem.
Comentado o versículo 27, no qual São Paulo exorta que não falem em línguas mais que dois ou três durante o culto público, diz São Tomas:
“É de notar-se que este costume até agora (…) se conserva na Igreja. Por que as leituras, epístolas e evangelhos temos em lugar das línguas, e por isso na Missa falam dois (…) as coisas que pertencem ao dom de línguas, isto é, a Epístola e o Evangelho” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 208.)Para São Tomás, a leitura da Epístola e do santo Evangelho, na Missa, são a forma de “falar em línguas” que a Igreja conservou dos tempos apostólicos! Nada mais contrário ao delírio pentecostal carismático!
Ora, no que diz respeito a “interpretação das línguas”, na Missa, depois da Epístola e do Evangelho, o padre faz o sermão, pelo qual explica os símbolos dos textos sagrados que foram lidos. O sermão é, pois, a ‘interpretação das línguas’ (Epístola e Evangelho) que foram faladas na Missa.Fica, portanto, bastante claro o verdadeiro significado do dom de línguas, que nada mais é do que:
1 – o milagre de pregar o Evangelho numa língua sem a ter estudado ou
2 – o simples fato de usar uma linguagem simbólica na vida espiritual, seja na oração particular, seja na oração pública, sendo que nesta última é necessário alguém que “interprete as línguas”, ou seja, que explique o significado dos símbolos ao povo, função dos ministros da Igreja.
Santo Antônio e o dom das línguas
“ E todos estiveram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em diversas línguas, segundo o Espírito Santo lhe dava a falar”. Falavam todas as línguas; ou também falavam sua língua hebréia, e todos os entendiam, como se falassem na língua de cada um dos ouvintes”
(PÁDUA, Santo Antônio de. Sermones, Tomo I. Domingo de Pentecostes (I). Buenos Aires:El mensajero de san Antonio, 1995, p. 333.)
“Sobre todas memorável ficou a pregação, que o santo franciscano fez no dia da Ressurreição. Tinham afluído, como vimos, a Roma gentes das diversas regiões e nacionalidades da terra, como latinos, gregos, alemães, franceses, ingleses e de outras línguas. Pregou também Santo Antônio, segundo a vontade do sumo Pontífice, naquela grande solenidade; e este seu sermão foi um digno remate e coroa aos seus triunfos oratórios. Inflamado pelo Espírito Santo, anunciou a palavra de Deus de um modo tão eficaz, devoto e penetrante, e com tal suavidade, clareza e inteligência, que todos os presentes, apesar da diversidade das línguas, lhe entenderam as palavras, tão clara e distintamente, como se houvesse pregado na língua de cada um” (MARTINS (S.J), Manuel Narciso. Vida de Santo Antônio. Bahia: Duas Américas, 1932, p. 74


São Francisco Xavier e o dom das línguas
O livro Milagros y prodígios de San Francisco Javier, que foi escrito pela historiadora de arte Maria Gabriela Torres Olleta, constitui o sexto e, de momento, último volume da colecção “Biblioteca Javeriana” publicada desde 2004 pela Cátedra San Francisco Javier, Universidade de Navarra, como preparação para o ano jubilar de 2006. O livro conta que quando São Francisco Xavier falava em sua língua própria, no Oriente, cada um que o ouvia o entendia em sua língua materna. O dom das línguas (pp. 45-47), cuja enorme importância se justifica pela atividade missionária de Xavier entre muitos povos e muitas nações diferentes, foi um outro aspecto muito fomentado pela hagiografia de S. Francisco Xavier, tendo sido, por isso, igualmente incluído na bula de canonização.(OLLETA, Maria Gabriela Torres. Milagros y prodígios de San Francisco Javier. Biblioteca Javeriana, 2006, p. 45-47)
São Francisco Solano e o dom das línguas
“São Francisco Solano, cuja festa comemoramos no dia 14, santo genuinamente franciscano, aprendeu milagrosamente em 15 dias o dialeto de uma tribo indígena. Adquiriu também o dom das línguas, falando em castelhano a índios de tribos diferentes, sendo entendido como se estivesse expressando-se no dialeto de cada um. Uma vez, por exemplo, estando em San Miguel del Estero durante as cerimônias da Quinta-Feira Santa, veio uma terrível notícia: milhares de índios de diversas tribos, armados para a guerra, avançavam para atacar a cidade. A balbúrdia foi geral. Só Frei Francisco, calmo, saiu ao encontro dos selvagens. Estes, que o respeitavam, pararam para o ouvir. E cada um o entendeu em sua própria língua. Ficaram tão emocionados, que um número enorme deles pediu o batismo. No dia seguinte, viu-se essa coisa portentosa: ao lado dos espanhóis, esses índios convertidos participavam da procissão da Sexta-feira Santa, flagelando-se por causa de seus pecados.” (Cf. Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo III, p. 184; Les Petits Bollandistes, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo IX, pp. 8 e ss; Enriqueta Vila, Santos de America, coleção Panoramas de la Historia Universal, Ediciones Moreton, S.A., Bilbao, 1968, pp. 93 e ss. )


O dom das línguas e o Papa Bento XVI

“Diferentemente do que tinha acontecido com a torre de Babel (cf. Jo 11, 1-9), quando os homens, intencionados a construir com as suas mãos um caminho para o céu, tinham acabado por destruir a sua própria capacidade de se compreenderem reciprocamente. No Pentecostes o Espírito, com o dom das línguas, mostra que a sua presença une e transforma a confusão em comunhão. O orgulho e o egoísmo do homem geram sempre divisões, erguem muros de indiferença, de ódio e de violência.O Espírito Santo, ao contrário, torna os corações capazes de compreender as línguas de todos, porque restabelece a ponte da comunicação autêntica entre a Terra e o Céu.” Disponível em:
O dom das línguas e a teologia

F. Prat em “La Théologie de Saint Paul” (Beauchêsne éditeur, Paris 1913) diz:
“Trata-se de falar à multidão, Pedro fala em nome de todos e, não podendo falar senão uma língua por vez, é natural que ele falasse na sua língua própria. Se houve milagre, foi nos ouvintes que ele se realizou e não em Pedro. [Pois cada um entendeu o que Pedro dizia na sua própria língua] (F. Prat, La Theologie de Saint Paul, p. 175).

quarta-feira, 25 de março de 2015

A PARÁBOLA DO JOIO E A CONDUTA DE DEUS PARA COM OS PECADORES

pecadColligite primum zizania, et alligate ea in fasciculos ad comburendum — “Colhei primeiro o joio, e atai-o em feixes para o queimar” (Matth. 13, 30).
Sumário. O joio que cresce no meio do bom trigo é figura dos pecadores, que pela benignidade divina vivem juntamente com os justos no campo da Igreja Católica. Mais ai daqueles, se continuarem obstinados no pecado e deixarem passar o tempo de misericórdia! Chegará o dia da colheita, isso é, do juízo, e então os anjos separarão os maus dos bons, para levarem a estes ao paraíso e lançarem aqueles no fogo do inferno, onde serão atormentados por toda a eternidade.
I. “O reino dos céus”, diz Jesus Cristo no Evangelho deste dia, “é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas, quando dormiam os homens, veio o seu inimigo e sobressemeou o joio no meio do trigo, e foi-se. Tendo, porém, crescido a erva e dado fruto, então apareceu também o joio. E chegando-se os servos do pai de família, disseram-lhe: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde, pois, lhe veio o joio? Disse-lhes ele: Um homem inimigo fez isso. E os servos disseram-lhe: Queres que vamos e o apanhemos? Ele disse: Não! Não seja que apanhando o joio arranqueis juntamente com ele o trigo. Deixai crescer um e outro até a ceifa, e no tempo direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio, e ataio em molhos para o fogo; mas o trigo recolhei-o no meu celeiro.”
Nesta parábola vê-se de um lado a paciência do Senhor para com os pecadores, e por outro o seu rigor para com os obstinados. Diz Santo Tomás que todas as criaturas, por natural instinto, quereriam castigar o pecador e assim vingar as injúrias feitas ao Criador. Visimus et colligimus ea? — “Queres que vamos e o apanhemos?” Deus, porém, pela sua misericórdia, as impede. E assim faz, não só pelo amor dos justos, aos quais não quer tirar a ocasião para praticarem a virtude, suportando os maus; senão também, e muito mais, pela sua longanimidade para com os próprios pecadores, a quem quer dar tempo para se converterem: Propterea expectat deus, ut misereatur vestri (1) — “Por isso o Senhor espera, para ter misericórdia de vós”.
Mais ai deles se continuarem obstinados em seu pecado e deixarem passar o tempo da divina misericórdia. Chegará o dia da colheita, isso é, assim como Jesus mesmo explica, o fim do mundo e o juízo universal. Então ordenará aos ceifeiros, a saber, aos anjos, que separem os maus dos justos a fim de fazerem estes entrar no eterno gozo do paraíso e lançarem aqueles no fogo do inferno, onde serão atormentados por toda a eternidade.
II. Eis aí, cristão, aonde irão parar aqueles pecadores que se obstinam em seus pecados e que abusam do tempo de penitência, que Deu lhes concede, para se tornarem mais soberbos (2) — irão queimar para sempre, alma e corpo, no fogo do inferno, sem esperança de saírem em tempo algum: Et mittent eos in caminum ignis (3) — “E lança-los-ão na fornalha de fogo”. Com razão; porquanto não merece mais a misericórdia divina aquele que, enormemente ingrato, se prevalece da mesma misericórdia para ofender o Senhor mais gravemente. O que ofende a justiça, diz Afonso Tostato, pode recorrer à misericórdia, mas a quem poderá recorrer o que ofende a própria misericórdia?
Ó meu amabilíssimo Jesus! Eis-me aqui; eu fui um daqueles que continuaram a ofender-Vos, porque éreis bom para mim. Esperai, Senhor; não me abandoneis agora, já que pela vossa graça espero nunca mais dar-Vos motivo para que me abandoneis. Peza-me, ó Bondade infinita, ter-Vos ofendido, e ter abusado tanto de vossa paciência. Agradeço-Vos por me terdes esperado até agora. De hoje em diante não Vos quero mais trair, como no passado tenho feito.
Vós, ó Senhor, me aturastes tão longo tempo, a fim de me verdes um dia cativo amante da vossa bondade. † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas; e estimo a vossa graça mais que todos os reinos do mundo; antes quero perder mil vezes a vida que perder a vossa afeição. Vós, porém, ó Redentor meu, dai-me a santa perseverança. Pelo sangue que por mim derramastes, Vos rogo: “guardai-me, ó Senhor, com vosso auxílio contínuo, para que, esperando só na graça celeste, seja sempre munido com a vossa proteção.”(4) † Doce Coração de Maria, sêde a minha salvação.
1. Is. 30, 18.
2. Iob 24, 23
3. Matth. 13, 42.
4. Or. Dom. curr.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Santo Afonso

sábado, 21 de março de 2015

O pecador abandonado por Deus

pecador-1Curavimus Babylonem, et non est sanata; derelinquamus eam — “Medicamos a Babilônia, e ela não sarou; deixemo-la” (Jer. 51, 9).
Sumário. Não há maior castigo do que Deus fingir que não vê a iniquidade. Permite que os pecadores prosperem e amontoem pecados sobre pecados. É sinal de que Deus os reserva para os entregar à sua justiça na vida eterna, onde terão tantos infernos a padecer, quantos foram os pecados cometidos. Desgraçados dos pecadores que prosperam nesta vida. Tal misericórdia é mais terrível do qualquer castigo.
I. Deus espera o pecador, a fim de que se corrija. Quando vê, porém, que o tempo que lhe é dado para chorar os pecados, só serve para os multiplicar, esse mesmo tempo será chamado a depor contra ele (1): isso é, o tempo concedido e as misericórdias recebidas servirão para fazer castigar o pecador com mais rigor e para o entregar mais cedo ao abandono. Curavimus Babyloniam, et non est sanata; derelinquamus eam — “Medicamos a Babilônia, e ela não sarou; deixemo-la”. — E como é que Deus o abandona? Ou lhe envia a morte e o faz morrer no pecado, ou o priva das graças abundantes e só lhe deixa a graça suficiente, com que o pecador se poderia salvar, mas não se salvará. O espírito obcecado, o coração endurecido, o mau hábito contraído, tornar-lhe-ão a salvação moralmente impossível, e assim ficará, senão absolutamente, ao menos moralmente abandonado.
Auferam sepem eius, et erit in direptionem (2) — “Arrancar-lhe-ei a sebe e ficará exposta a ser roubada”. Que castigo! Quando o dono de uma vinha arranca a sebe e deixa entrar nela a todos os homens e animais, que significa isto? Significa que a abandona. Pois, é o que faz Deus quando abandona uma alma: tira-lhe a sebe do temor de Deus, dos remorsos da consciência e deixa-a nas trevas. Então entram na alma todos os monstros dos vícios. E o pecador, entregue a esta escuridão, desprezará tudo, graça de Deus, paraíso, exortações, censuras, e até escarnecerá da sua própria condenação. Impius, cum in profundum venerit peccatorum, contemnet (3) — “O ímpio, depois de haver chegado ao profundo dos pecados, desprezará tudo”.Numa palavra, Deus deixá-lo-á nesta vida sem castigo; mas esta condescendência será para ele o maior dos castigos: Misereamur impio, et non discet iustitiam (4) — “Compadeçamo-nos do ímpio, e ele não aprenderá a justiça”. — Ah! Senhor, assim Vos direi com São Bernardo, não quero semelhante misericórdia, porque é mais terrível do que qualquer castigo.
II. Desgraçados dos pecadores que prosperam nesta vida! É sinal de que Deus os reserva para os entregar como vítimas à sua justiça na vida eterna. Pergunta o profeta Jeremias:Quare via impiorum prosperatur? (5) — “Porque é prosperado o caminho dos ímpios?” E responde: Congregas eos quasi gregem ad victimam — “Ajunta-os como rebanho para o matadouro”. Não há maior castigo do que deixar Deus ao pecador amontoar pecados sobre pecados. Fora melhor para o desgraçado que o Senhor o tivesse feito morrer em seguida ao primeiro pecado; porque, morrendo mais tarde, terá tantos infernos a padecer, quantos foram os pecados cometidos.
Meu Deus, no miserável estado em que me acho, reconheço que mereci ser privado da vossa graça e da vossa luz; mas vendo as luzes que agora me concedeis e ouvindo que me chamais à penitência, estou certo que não me abandonastes ainda. Já que não me haveis abandonado, Senhor, multiplicai as vossas misericórdias sobre a minha alma, aumentai a luz e aumentai em mim o desejo de Vos servir e amar. Transformai-me, ó Deus onipotente, e de traidor e rebelde, como tenho sido, fazei de mim um verdadeiro amante da vossa bondade, a fim de que chegue um dia ao céu a louvar eternamente as vossas misericórdias. Vós quereis perdoar-me e eu nada mais desejo senão o perdão e o vosso amor.
Arrependo-me, ó Bondade infinita, de Vos ter causado tantos desgostos. Amo-Vos, soberano Bem, porque mo ordenais; amo-Vos, porque sois digno de todo o amor. Suplico-Vos, meu Redentor, pelos méritos do vosso Sangue, que Vos façais amar por um pecador, que tanto tendes amado e que tantos anos sofrestes com paciência. Tudo espero da vossa misericórdia. Espero amar-vos sempre no futuro, até à morte e por toda a eternidade: Misericordias Domini in aeternum cantabo (6). Eternamente louvarei a vossa bondade, ó Jesus meu. Eternamente louvarei também a vossa misericórdia, ó Maria, que tantas graças me haveis alcançado; reconheço que as devo todas à vossa intercessão. Continuai a assistir-me, ó Senhora minha, e obtende-me a santa perseverança. (II 78.)
1. Thren. 1, 15.
2. Is. 5, 5.
3. Prov. 18, 3.
4. Is. 26, 10.
5. Ier. 12, 1.
6. Ps. 88, 2.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Santo Afonso

Recuperou a vista

boscoEm Vinovo, aldeia pouco distante de Turim, na Itália, uma moça chamada Maria Stardero teve a desgraça de perder totalmente a vista.
Desejando recuperá-la, fez uma visita a S. João Bosco, que então construía, com as esmolas do povo de Turim, a magnífica igreja de Maria Auxiliadora. A môça, depois de ter rezado diante de uma imagem de Nossa Senhora, falou com S. João Bosco, que lhe perguntou:
- Faz muito tempo que perdeu a vista?
- Sim, muito; faz um ano que não vejo nada.
- Tens consultado os médicos?
- Ah! padre, já não sabem o que receitar-me.
- Distingues os objetos grandes ou pequenos?
- Não; como disse, não vejo nem pouco nem muito.
- Mas não vês a luz desta janela?- Não, senhor; nada.
- Queres recuperar a vista?
- Sr. padre, sou pobre e preciso dela para ganhar a vida.
- Servir-te-ás da vista para proveito de tua alma e não para ofender a Deus?
- Prometo-o sinceramente.
- Confia, pois, em Nossa Senhora e S. José. – E, em tom solene, D. Bosco acrescentou: – Para a glória de Deus, da SS. Virgem e de S. José, dize: que é que tenho na mão?
A moça abre os olhos, que antes não viam nada, e diz:
- Uma medalha de Nossa Senhora.
- E isto, que é?
- Um ancião com a vara florida; é S. José.
Estava operando o milagre. Pode-se imaginar a alegria da moça e de seus pobres pais!…
Tesouro de Exemplos – Pe. Francisco Alves

sexta-feira, 13 de março de 2015

Aceitar humilhações por Amor à Deus, é ser verdadeiramente Humilde


"De todas as virtudes é a humildade o fundamento e a guarda, lê-se com razão nos sermões sobre a Salve Rainha. Sem humildade, não há virtude que possa existir numa alma. Possua embora todas as virtudes, fugiriam todas ao lhe fugir a humildade. Pelo contrário, Deus tão amante é da humildade, que se apressa em correr onde a vê, escreve S. Francisco de Sales a S. Joana de Chantal." Santo Afonso Maria de Ligório¹





Segue um trecho extraído do Livro preciosíssimo do Venerável Tomas de Kempis: "Imitação de Cristo" sobre as virtudes da humildade²:

1.” Filho, conserva-te firme e espera em Mim. Que são as palavras dos homens senão palavras? Fendem o ar, mas não ferem a pedra. Se és culpado, pensa em te emendar prontamente. Se de nada te acusa a consciência, pensa que te deve ser agradável sofrer por amor de Deus. Bem pouco é sofreres algumas vezes meras palavras, já que não estás ainda preparado para grandes provas.

E porque se afligirá o teu coração com coisas tão pequenas, senão porque és ainda carnal e demasiado sensível ao juízo dos homens? Tens medo de ser desprezado: por isso não queres ser repreendido das tuas faltas e procuras desculpas para as encobrir.

2. Mas, examina-te melhor e reconhecerás que vive ainda em ti o mundo e o desejo vão de agradar aos homens. De facto, quando foges às censuras e humilhações, fica bem claro que não és verdadeiramente humilde, que não estás de todo morto para o mundo e que nem o mundo está crucificado para ti. Mas ouve a Minha palavra e não farás caso de quanto os homens disserem. Ainda que levantassem contra ti quanto de pior maldade pode imaginar, que mal te faria isso, se tudo deixasses passar como a palha que o vento leva? Acaso, perderias com isso um só cabelo?

3. Quem não tem vida interior, nem a Deus diante dos olhos, facilmente se deixa impressionar por qualquer palavra de censura. Mas, aquele que confia em Mim e não se apega ao próprio juízo, não terá nada que temer dos homens. Eu sou o Juiz que conhece todos os segredos do coração; sei como as coisas se passaram, conheço quem faz a injúria e quem a recebe. Foi com Minha permissão que foi dita aquela palavra e que aquilo aconteceu, para que ficassem patentes os pensamentos de muitos corações. Eu julgarei o réu e o inocente, mas quis primeiro pôr à provas um e outro, com juízo secreto.

4. O testemunho dos homens engana muitas vezes; o Meu Juízo é verdadeiro; subsistirá e não será revogado. Ordinariamente ele está oculto, e a poucos ele se torna manifesto nas suas particularidades; contudo, nunca erra nem pode errar, ainda que pareça falso aos olhos dos insensatos.

A Mim, pois, se deve remeter o juízo de tudo e ninguém se há-de firmar no próprio parecer. O justo não será confundido, suceda-lha o que suceder por permissão de Deus. Permanecerá impassível, mesmo perante as injustiças que contra ele se levantarem. Mas também não se desvanecerá, se por outros for com razão defendido, porque ele sabe que sondo os corações e os rins e que não julgo pelo exterior ou pelas aparências humanas. Com efeito, muitas vezes é culpado aos Meus olhos o que, no juízo dos homens, parece louvável.”

Fontes:
[1] LIGÓRIO, Afonso Maria de. Glórias de Maria: com indicações de leituras e orações para dois meses marianos. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1989, p. 410-415.

[2] Imitação de Cristo, Livro III, cap. XLVI, Livraria Apostolado da Imprensa, 6ª Edição- Braga, 1989.

Fonte:

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