quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Catecismo Ilustrado - Parte 15 - 9º artigo: Creio na Santa Igreja Católica - Constituição da Igreja



Catecismo Ilustrado - Parte 15

O Símbolo dos Apóstolos

9º artigo: Creio na Santa Igreja Católica - Constituição da Igreja

Constituição da Igreja

1. A Igreja é a sociedade dos fiéis que professam a religião de Nosso Senhor Jesus Cristo sob a direção do Papa e dos Bispos.

2. Entende-se por fiéis, aqueles que, estando batizados, creem tudo o que a Igreja ensina, submetendo-se aos pastores legítimos.

3. O Papa é o vigário de Jesus Cristo, o sucessor de São Pedro, o chefe visível e o doutor de toda a Igreja, e pai comum dos pastores e dos fiéis.

4. O primeiro papa foi São Pedro, que Jesus Cristo nomeou chefe da Igreja universal.

5. O Papa é sucessor de São Pedro porque é Bispo de Roma, e foi em Roma que São Pedro estabeleceu a sua residência e sofreu o martírio.

6. Os pastores legítimos da Igreja são, com o Papa, os bispos, que Jesus Cristo encarregou de instruir e governar a sua Igreja.

7. Os bispos são sucessores dos Apóstolos, encarregados de governar as dioceses, sob a autoridade do Papa.

8. Os Párocos são padres que os Bispos escolhem para estarem à frente das paróquias.

9. Os membros da Igreja são os indivíduos batizados e que acreditam o que a Igreja ensina, estando sujeitos ao nosso Santo Padre o Papa, e ao seu Bispo.

10. Não fazem parte da Igreja os infiéis, os hereges, os cismáticos, os apóstatas e os excomungados.

11. Um infiel é o indivíduo não batizado e que não crê em Jesus Cristo.

12. Um herege é o indivíduo batizado que recusa obstinadamente crer uma ou mais verdades reveladas por Deus, e que a Igreja ensina como artigo de Fé.

13. Um cismático é o indivíduo batizado que se separa da Igreja negando-se a reconhecer os pastores legítimos, e a obedecer-lhes.

14. Um apóstata é o indivíduo batizado que renega a Fé de Jesus Cristo depois de a ter professado.

15. Um excomungado é o indivíduo batizado que a Igreja eliminou do seu seio por causa dos seus crimes.

16. Os pecadores são membros da Igreja, mas são membros mortos.

17. É uma grande desgraça não pertencer à Igreja, porque não podem ser salvos aqueles que voluntariamente e por sua culpa estão fora do grêmio da Igreja.

Caracteres da verdadeira Igreja

18. Há uma só Igreja verdadeira, porque uma só foi fundada por Jesus Cristo. São quatro os caracteres ou sinais para a reconhecer: é una, santa, católica e apostólica.

19. A verdadeira Igreja romana, que tem por chefe o Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro.

20. A Igreja romana é una, porque todos os seus membros creem as mesmas verdades e obedecem ao mesmo chefe visível, que é o Papa.

21. É santa, porque nos oferece todos os meios para nos santificarmos, e sempre tem formado santos.

22. É católica ou universal, porque está espalhada por toda a terra e sempre tem subsistido desde Jesus Cristo.
23. É apostólica, porque foi fundada pelos Apóstolos, é governada pelos seus sucessores, e crê e ensina a sua doutrina.

Explicação da gravura

24. Ao alto, Jesus Cristo institui São Pedro chefe visível da Igreja. Entregando-lhe o báculo pastoral, dá-lhe a missão de apascentar os seus cordeiros e as suas ovelhas, isto é, de governar os pastores e os fiéis de que se compõe a Igreja e que constituem o rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

25. Em baixo vê-se: 1º o Papa, vestido de hábitos brancos e tendo na cabeça uma tiara; 2º de ambos os lados do Papa vêem-se os cardeais; 3º em frente do papa um Arcebispo com o pálio; um Bispo com a mitra e o báculo, e numerosos prelados, religiosos e religiosas; 4º mais acima e à direita, um padre ministrando a sagrada comunhão, um outro pregando o Evangelho aos fiéis, e um missionário que de crucifixo na mão anuncia Jesus Cristo aos infiéis.

26. A Igreja durará até ao fim do mundo, e triunfará de todas as perseguições, segundo a promessa de seu divino fundador, Jesus Cristo.

Vive em paz quem não procura agradar aos homens nem teme desagradar-lhes



Filho, não te aflijas se alguém fizer de ti mau conceito ou disser coisas que não gostas de ouvir. Pior ainda deves julgar de ti mesmo, e avaliar-te o mais imperfeito de todos. Se praticares a vida interior, pouco te importarás de palavras que voam. 

É grande prudência calar-se nas horas da tribulação, volver-se interiormente a mim, e não se perturbar com os juízos humanos. Não faças depender a tua paz da boca dos homens; porque, quer julguem bem, quer mal de ti, não serás por isso homem diferente. 

Onde está a verdadeira paz e a glória verdadeira? Porventura não está em mim? Quem não procura agradar aos homens, nem teme desagradar-lhes, esse gozará grande paz. É do amor desordenado e do vão temor que nascem o desassossego do coração e a distracção dos sentidos. 

in Imitação de Cristo, Livro II, Capítulo 28

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O respeito humano

“Meu Deus, eu Vos agradeço por ser filha da Vossa Igreja”

(Santa Teresa)

Distinta e rica dama desejava adotar uma filha de Maria cujo procedimento lhe agradava sobremaneira. Mas estabeleceu como condição que se retirasse da associação mariana e depusesse a medalha da Mãe de Deus. Firme e resoluta, embora gentil e cortês, respondeu a donzela que a esta exigência não satisfaria por nenhum preço: preferia ser filha de Maria, a se tornar rica e notável.

A dama encontrou nesta franqueza e firmeza tanta satisfação que tomou consigo a jovem e – o que é mais notável – adotou-a para sua própria santificação.

O bom exemplo da moça reconduziu-a à piedade e à virtude. Se esta filha de Maria, no seu covarderespeito humano, tivesse satisfeito à exigência da rica dama, mui provavelmente, não voltaria esta para Deus, mas cairia na indiferença religiosa.

Eu desejaria animar-te, jovem cristã, a imitares a firmeza desta filha de Maria, e a jamais te tornares infiel a Deus e aos teus deveres, por causa do respeito humano. 


1º – Contentar a Deus há de ser sempre tua principal preocupação.

“Teme a Deus e observa os Seus mandamentos, porque nisto está o homem todo” (Ecl. 12,13).

Lembra-te de que Deus é Teu soberano Senhor, a quem tudo deves agradecer e de quem dependes em qualquer circunstância; reflete que, dentre poucos anos, deverás comparecer perante Ele, que será Teu reto Juiz, a fim de lhe prestar contas de toda a tua vida, e que da Sua sentença dependerá a tua eternidade.

Pondera, ainda mais, que os homens são criaturas frágeis, as quais hoje possuem a vida e amanhã desaparecerão no túmulo, e que, da grandeza e fausto do homem mais rico, mais honrado e mais célebre, nada mais restará, senão um punhado de terra e pó.

Padre Clemente Hoffbauer, a um senhor importante, que se ufanava da sua distinta posição, quis um dia fazer-lhe ver o que é o homem. Curvando-se para o chão, tomou um pouco de pó na mão e mostrou-lho com as seguintes palavras: “Vede, isto é o homem, uma mão cheia de pó!”. 

Mas, que é um punhado de pó confrontado com toda a Terra, com suas planícies, colinas e montanhas? Como é incrivelmente minúsculo, comparado com os inumeráveis e incomensuráveis corpos celestes que há milhares de anos percorrem a sua orbita! Como é, infinitamente pequeno e insignificante, em face de Deus, infinitamente grande e onipotente, que, com simples ato da sua vontade, tudo chamou à existência e lha conserva de contínuo!

A este Deus infinitamente grande e soberano deves temer e, portanto, não ofender; mas o homem fraco e mesquinho, punhado de pó, não temas. Nunca sejas infiel ao teu dever, por causa de um tímido olhar humano, nem, por seu insípido escárnio, jamais pratiques ato algum pecaminoso.

2º – Guarda-te do respeito humano!

No dia do teu Batismo e Crisma te colocaste solenemente sob o estandarte de Jesus Cristo. Ao receber este Sacramento, prometeste firmemente, que sempre e em todas as circunstâncias, havias de te conservar fiel a Jesus Cristo e a sua Santa Igreja.

A bandeira de um rei da terra é muitas vezes defendida com grande coragem. Muitos soldados preferem sacrificar a própria vida, entre ferimentos e dores atrozes, a entregar ao inimigo a bandeira do seu rei. Não deveria com igual, e mesmo com maior amor e entusiasmo, defender a bandeira, isto é, os santos interesses de Jesus Cristo? É um Rei que não sofre comparação com príncipe nenhum, por melhor e mais amável que este seja. São Seus interesses tão dignos e elevados, tão justos e bons, tão santos e necessários, como os de nenhum outro rei; pertencem e se estendem a todos os homens, abrangem o tempo e a eternidade.

Não estarias, portanto, disposta a oferecer até a última gota de teu sangue pelo teu Divino Salvador e Seus santos interesses, se necessário fosse? Intrepidez e firmeza é o que de ti espera o Senhor.

Se na vida lhe permaneceres unida, sem respeito humano, Ele te recompensará por toda a eternidade como Sua fiel discípula; mas se te envergonhares, covardemente, dos seus interesses e te mostrares infiel a Ele então, como juiz te lançará no cárcere e te punirá severamente, o que declara, em verdade, com solene energia:

“Aquele que me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos Céus; e o que me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante de meu Pai, que está nos Céus”(Mat. 10,32).

Como católica, não tens realmente nenhum motivo de te envergonhar da tua Igreja. Ainda não ouviste de certo, que uma jovem sadia e viçosa, se envergonhasse de sua próspera saúde, pelo fato de ter encontrado outra jovem desbaratada por alguma enfermidade contumaz.

Nunca viste um homem, com os membros íntegros e perfeitos, corar de vergonha por ver outro que só podia mover-se com o auxílio de muletas.

Ainda não tiveste ocasião de observar que alguém considerasse como desonra pertencer a uma família ilustre e distinta, em que a virtude e a probidade são hereditárias. – Em suma: ninguém, que se tenha por sensato e racional, se envergonha jamais de uma boa ação.

… Não tens, realmente nenhum motivo para te envergonhares da Santa Igreja que, no decurso de tantos séculos, manifestou uma admirável força divina; de todas as perseguições, até mesmo das mais violentas, saiu sempre vitoriosa; sempre rejuvenescida; sempre novamente robustecida; enquanto tudo, em derredor caía em ruínas, até mesmo os tronos e os reinos dos mais poderosos soberanos.

Não tens, realmente, nenhum motivo de te envergonhares de tua Santa Igreja que, em todos, os contou entre seus filhos, grande número de homens os mais nobres, melhores e mais sábios, grandes heróis da virtude e benfeitores da Humanidade. Existe, por ventura, em todo o mundo, um instituto tão grande e admirável como a Igreja Católica, um instituto do qual promane igual torrente de bênção? Não seria, pois, rematada loucura envergonhar-se dela?

Nem mesmo da Igreja Medieval nos devemos envergonhar. Escritores não católicos, mas imparciais, garantem que a Idade Média, muito longe de haver sido “tenebrosa” - como, malévola e caluniosamente, ousaram outros afirmar - foi, pelo contrário… uma época brilhante.

De fato, uma Idade em que se fundaram inúmeros hospitais, orfanatos e outras instituições de beneficência; uma Idade em que se edificaram magníficas catedrais, igrejas, ornadas de esplêndidas obras de arte; uma Idade em que se fundaram tantas escolas superiores, dotadas com as mais ricas instituições, poderia porventura ser tenebrosa, como pretendem a maldade e a mentira apresentá-la?

Na Idade Média, a Igreja era o sol espiritual que sobre os homens irradiava cultura e civilização, educação e costumes cristãos. Não tens, portanto, em tempo algum, motivo de te envergonhares da tua santa Religião.

Muito ao contrário, se lançares a tua vista para a nossa Igreja Católica, deves sentir-se possuída de um elevado sentimento de amável gratidão, pois a História de todos os tempos e de todos os povos jamais viu uma instituição tão grandiosa, tão magnífica e tão benfazeja como esta. Faze, pois, que te animem sempre aqueles grandes sentimentos de Santa Teresa, a qual ainda no seu leito de morte dizia:
“Meu Deus, eu Vos agradeço por ser filha da Vossa Igreja”.

Não consintas jamais que te arraste o covarde respeito humano; nunca deixes de cumprir da maneira mais fiel os teus deveres para com a Igreja e trabalhar pelos seus interesses com zelo e sabedoria. Não permitas que o mesquinho respeito humano te impeça de assistir a Santa Missa assiduamente, de comparecer frequentemente à Santa Comunhão…

A esta intrepidez, na prática da tua santa Religião, procura aliar uma grande pureza de costumes, fiel cumprimento das tuas obrigações…

“Teme a Deus e observa os seus mandamentos, porque nisto está o homem todo“. 
 
 
(Excertos do livro: A donzela cristã , do Pe. Matias de Bermscheid)

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Catecismo Ilustrado - Parte 19 - Duodécimo artigo: Creio na vida eterna


Catecismo Ilustrado - Parte 19

O Símbolo dos Apóstolos

Duodécimo artigo: Creio na vida eterna

1. Devemos ver neste artigo que depois desta vida há-de haver outra vida que há-de durar para sempre, os bons com a glória eterna no Céu, e os maus com as penas eternas no Inferno.

2. Sabemos que há-de haver outra vida depois desta, porque Deus no-lo revelou, e que uma outra vida é necessária para o prêmio dos bons e o castigo dos maus.

O Céu

3. O Céu ou paraíso é um lugar de delícias, no qual os Anjos e os Santos gozam duma felicidade eterna e perfeita pela vista e posse de Deus.

4. Os que vão para o Céu são aqueles que, tendo morrido em estado de Graça, satisfizeram inteiramente a justiça de Deus.

5. Nem todos os bem-aventurados gozarão do mesmo prêmio; todos verão a Deus, mas a felicitado será em proporção dos seus merecimentos.

6. Sabemos que os santos veem Deus no Céu, pelas palavras de Nosso Senhor dizendo: “Bem-aventurados os de coração puro, porque verão a Deus.”

7. A felicidade dos Céus é tão grande, que não podemos compreendê-la na Terra, onde nada pode dar-nos uma ideia do que é o Céu. São Paulo diz: “Os olhos do homem não viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais veio ao coração do homem o que Deus tem preparado para aqueles que O amam.”

8. A felicidade eterna consiste, dizem os santos Padres, na ausência do todo o mal e na posse de todo o bem. No que diz respeito ao mal, lemos no Apocalipse (XXI,4) de São João: “Os bem-aventurados não terão fome nem sede jamais, nem cairá sobre eles o sol nem ardor algum. Deus enxugar-lhes-á todas as lágrimas dos seus olhos, e não haverá mais morte, nem mais choro, nem mais gritos, nem mais dor, porque as primeiras coisas são passadas.” No que diz respeito aos bens, a glória dos escolhidos será imensa, possuirão ao mesmo tempo todos os gozos, todas as delícias, porque possuirão a Deus, fonte da infinita felicidade.

9. Atualmente, os santos estão no Céu só em alma; os seus corpos entrarão ali senão depois da Ressurreição e do Juízo Final.

10. Os bem-aventurados hão-de contemplar Deus eternamente, e esse dom, o mais excelente e admirável de todos, torná-los-á participantes da natureza mesmo de Deus e dar-lhes-á a posse completa e definitiva da verdadeira felicidade.

Explicação da gravura

11. Esta gravura representa o Céu. Ao centro estão as três Pessoas divinas assentadas num triângulo sobre um trono de glória, cercado pelos anjos. Muitos deles tocam instrumentos diversos, outros queimam incenso em turíbulos. A Virgem Santíssima, sua Rainha, está à frente deles, à direita de Jesus Cristo seu filho e num trono inferior ao trono de Deus mas superior a tudo o que não é Deus.

12. No segundo plano, figuram, à direita, São João Baptista, Moisés, David, Abraão e outros santos do Antigo Testamento; à esquerda, São José, São Pedro e os outros Apóstolos, um Evangelista com um livro, e muitos santos do Novo Testamento.

13. No terceiro plano veem-se outros santos, entre os quais alguns mártires, com Santo Estevão; santos Pontífices, um santo Rei, virgens santas e mártires, como Santa Cecília e Santa Catarina e santas mulheres, como Santa Maria Madalena.

14. Santo Estevão segura na mão uma pedra, porque sofreu o martírio do apedrejamento.

15. Santa Cecília tem uma harpa, porque cantava louvores a Deus ao som dos instrumentos musicais.

16. Santa Catarina tem aos pés uma roda quebrada, porque a condenaram à morte por meio de uma roda armada de instrumentos cortantes, mas a roda quebrou-se, mal a puseram em movimento.


17. Santa Maria Madalena segura um vaso, porque derramou um dia sobre a cabeça de Nosso Senhor um vaso cheio de precioso perfume.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

São Bernardo aconselha: Em caso de dificuldade invoca Maria


E o nome da Virgem era Maria (Lc. 1, 27). Falemos um pouco deste nome que significa, segundo se diz, Estrela do Mar, e que convém maravilhosamente à Virgem Mãe. .... Ela é verdadeiramente esta esplêndida estrela que devia se levantar sobre a imensidade do mar, toda brilhante por seus méritos, radiante por seus exemplos.

Ó tu, quem quer que sejas, que te sentes longe da terra firme, arrastado pelas ondas deste mundo, no meio das borrascas e tempestades, se não queres soçobrar, não tires os olhos da luz desta estrela.

Se o vento das tentações se levanta, se o escolho das tribulações se interpõe em teu caminho, olha a estrela, invoca Maria.

Se és balouçado pelas vagas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, olha a estrela, invoca Maria.

Se a cólera, a avareza, os desejos impuros sacodem a frágil embarcação de tua alma, levanta os olhos para Maria.

Se, perturbado pela lembrança da enormidade de teus crimes, confuso à vista das torpezas de tua consciência, aterrorizado pelo medo do Juízo, começas a te deixar arrastar pelo turbilhão da tristeza, a despenhar no abismo do desespero, pensa em Maria.

Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria.

Que seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dEla, não negligencies os exemplos de sua vida.

Seguindo-A, não te transviarás; rezando a Ela, não desesperarás; pensando nEla, evitarás todo erro.

Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nada terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás; se Ela te é favorável, alcançarás o fim.

E assim verificarás, por tua própria experiência, com quanta razão foi dito: "E o nome da Virgem era Maria."

São Bernardo de Claraval in 'Louvores da Virgem Maria', Super missus, 2ª homilia

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Catecismo Ilustrado - Parte 18 - Undécimo artigo: Creio na Ressurreição da carne



Catecismo Ilustrado - Parte 18

O Símbolo dos Apóstolos

Undécimo artigo: Creio na Ressurreição da carne

1. Este artigo ensina-nos que, no Fim do Mundo, todos os homens hão-de ressucitar tomando cada um o mesmo corpo que dantes tinha

2. Isso é possível pela omnipotência divina, à qual nada é impossível.

3. Dizemos “Ressurreição da carne” e não do homem todo, para denotar que a alma não morre, mas só o corpo, e por isso deve ressurgir somente a carne.

4. Os corpos hão-de ressucitar para terem parte no prémio ou na pena, já que tiveram parte no bem e no mal durante a vida.

5. Todos os homens ressuscitarão, tanto os bons como os maus, mas com esta diferença: que os escolhidos terão os dotes dos corpos gloriosos, e não assim os condenados.

6. Os dotes dos corpos gloriosos são: a impassibilidade, que é a isenção de toda a dor e miséria; a claridade, que é o resplendor da alma redundando o corpo; a agilidade, que é a isenção do peso que hoje subjuga o corpo; a subtileza que designa a perfeita submissão do corpo ao comando da alma.

7. Os corpos dos condenados não terão esses dotes e serão susceptíveis de toda a espécie de sofrimentos.

8. A Ressurreição será no Fim do Mundo, antes do Juízo Final. Ouvida a sentença do Juízo Final, os ressuscitados hão-de ficar no mesmo lugar onde Deus os puser, os bons na bem-aventurança eterna em companhia de Jesus Cristo e dos Anjos: os condenados, no inferno para sempre em companhia dos demônios.

9. Milagre de Jesus ressuscitando Lázaro, no Evangelho de São João: "Tendo, pois, ouvido que Lázaro estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava. Depois disto, disse aos seus discípulos: "Voltemos para a Judéia". Os discípulos disseram-Lhe: "Mestre, ainda há pouco os judeus Te quiseram apedrejar, e Tu vais novamente para lá?" Jesus respondeu: "Não são doze as horas do dia? Aquele que caminhar de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo; porém, o que andar de noite tropeça, porque lhe falta a luz." Assim falou, e depois disse-lhes: "Nosso amigo, Lázaro, dorme; mas vou despertá-lo". Os seus discípulos disseram-Lhe: "Senhor, se ele dorme, também se há de levantar." Mas Jesus falava da sua morte; e eles julgavam que falava do repouso do sono. Jesus disse-lhes então claramente: "Lázaro morreu, e Eu, por vossa causa, estou contente por não ter estado lá, para que acrediteis; mas vamos ter com ele." Tomé, chamado Dídimo, disse então aos outros discípulos: "Vamos nós também, para morrer com ele". Chegou Jesus e encontrou-o já há quatro dias no sepulcro. Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios (três kilómetros). Muitos judeus tinham ido ter com Marta e Maria, para as consolarem pela morte de seu irmão. Marta, pois, logo que ouviu que vinha Jesus, saiu-Lhe ao encontro; e Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: "Senhor, se estivesses cá, meu irmão não teria morrido. Mas também sei agora que tudo que pedires a Deus, Deus To concederá." Jesus disse-lhe: "Teu irmão há de ressuscitar."Marta disse-Lhe: "Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia." Jesus disse-lhe: "Eu sou a Ressurreição e a Vida.; aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá eternamente. Crês nisto?" Ela respondeu: "Sim, Senhor, eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que vieste a este mundo." Dito isto, retirou-se e foi chamar em segredo sua irmã Maria, dizendo: "O Mestre está cá e chama-te". Ela, logo que ouviu isto, levantou-se rapidamente e foi ter com Ele. Jesus ainda não tinha entrado na aldeia, mas estava ainda naquele lugar onde Marta tinha ido ao seu encontro. Então, os judeus que estavam com ela em casa e a consolavam, vendo que Maria tinha se levantado tão depressa e tinha saído, seguiram-na, julgando que ia chorar ao sepulcro. Maria, porém, tendo chegado onde Jesus estava, logo que o viu, lançou- se aos seus pés e disse-Lhe: "Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido." Jesus, vendo-a chorar, a ela e aos judeus que tinham ido com ela, comoveu-Se profundamente e emocionou-Se; depois perguntou: "Onde o pusestes?" Eles responderam: "Senhor, vem ver." Jesus chorou. Os judeus, por isso, disseram: "Vede como Ele o amava". Porém, alguns deles disseram: "Este, que abriu os olhos ao que era cego de nascença, não podia fazer que este não morresse?" Jesus, pois, novamente emocionado no seu interior, foi ao sepulcro. Era este uma gruta com uma pedra colocada à entrada. Jesus disse: "Tirai a pedra". Marta, irmã do defunto, disse-Lhe: "Senhor, ele já cheira mal, porque está aí há quatro dias." Jesus disse-lhe: "Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?" Tiraram, pois, a pedra. Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse: "Pai, dou-Te graças por me teres ouvido. Eu bem sabia que me ouves sempre, mas falei assim por causa do povo que está em volta de Mim, para que acreditem que Tu me enviaste." Tendo dito estas palavras, bradou em voz forte: "Lázaro, sai para fora!" E saiu o que estivera morto, ligado de pés e mãos, com as ataduras, e o seu rosto envolto num sudário. Jesus disse-lhes: "Desligai-o e deixai-o ir". Então, muitos dos judeus que tinham ido visitar Maria e Marta, vendo o que Jesus fizera, acreditaram n'Ele.” (S. João XI, 1-46) 

terça-feira, 22 de agosto de 2017

O DEMÔNIO MUDO

Discípulo. — Padre, o senhor há pouco falou no "demônio mudo"; o quê vem a ser esse demônio mudo?

Mestre — É o demônio da impureza ou desonestidade. O próprio Jesus chama-o assim no Santo Evangelho.

D. — Mas o que é essa impureza ou desonestidade?
M. — São todos os pecados proibidos pelo sexto e nono mandamentos, isto é, as más ações, os maus olhares, os maus desejos e as infidelidades e malícias no matrimônio.

D. — Então a impureza é um pecado muito grave?
M. — É um pecado gravíssimo e abominável diante de Deus e dos homens. Abaixa os que o cometem às condições dos brutos, é causa de muitos pecados e provoca os maiores e terríveis castigos nesta e na outra vida. A Sagrada Escritura chama os pecados de impureza pelos nomes mais baixos: "crime péssimo, coisa detestável, horrível infâmia sem nome". São Paulo então, diz claramente: "Neque molles, neque fornicarii, neque adulteri... regnum Dei possidebunt". "Vida desonesta, morte impenitente". Isto quer dizer que nem os moles, que pecam sozinhos; nem os devassos; nem os adúlteros, que são infiéis no matrimônio, possuirão o reino de Deus!

D. — Pobres de nós! Devemos então estar sempre alerta.
— Certamente! Os santos Padres são todos da mesma opinião quando dizem que a impureza é o pecado que atrai maior número de almas para o inferno.

D. — Devéras?



M. — É isso mesmo! Santo Agostinho afirma que, assim como a soberba populou o inferno de anjos, a desonestidade enche-o de homens; e Santo Afonso acrescenta que todos os cristãos que são condenados, o são por causa da desonestidade, ou pelo menos, nunca sem ela.
D. — E qual será o motivo disso?

M. — Os motivos são especialmente dois:
1.° As desonestidades são pecados fáceis de cometer.
2.° Uma vez cometidos tais pecados, é difícil emendar-se.
D. — Por quê são pecados bastante fáceis de cometer? 
— Porque não devemos crer que os pecados de desonestidade consistem unicamente nas fornicações, nos adultérios e outros tantos pecados nefandos; esses são excessos. Para se pecar mortalmente contra a pureza bastam os olhares lascivos, as leituras obscenas, as canções impudicas, os gestos e as conversas maliciosas, os namoros licenciosos, e até os pensamentos e complacências íntimos e os desejos impuros quando consentimos neles livremente.

D. — E por quê são os mais difíceis para corrigir?
M. — Porque, infelizmente, um pecado chama outro, até que, pouco a pouco formase uma cadeia que depois não conseguimos mais romper. Neste caso também, ai daquele que começa!

D. — Será possível! mas a confissão não serve de nada? Não consegue romper a cadeia?
M. — A confissão é sempre um meio poderosíssimo, quando bem feita; é aqui no entanto que está o engano; aqui está toda a força do demônio mudo; ele fecha a boca como já vimos, e não permite que se confessem bem esses pecados.

D. — Oh! Mas se se confessarem bem todas as vezes não prosseguiriam no caminho da desonestidade, não é mesmo, Padre? A confissão seria mais forte do que eles.
M. — Justamente. O demônio mudo gosta das trevas, a confissão traz a luz, e a luz afugenta os pecados.

D. — Então, a misericórdia de Deus abandona o pecador desonesto?
M. — Não é Deus que abandona o desonesto, mas o desonesto que abandona a Deus, não se importando mais com Ele, ou pior ainda, desprezando-O como vimos no capítulo precedente. Portanto a desonestidade é chamada a mãe da impenitência final e os Santos dizem: "Vida desonesta, morte impenitente".

D. — E por que é a mãe da impenitência final?
M. — Porque na hora da morte, geralmente esse pecado não se confessa. Os pecadores não estão dispostos a confessar e a apagar o pecado com o devido arrependimento.

D. — Mesmo em ponto de morte?
M. — Sim, até em ponto de morte! E resignam-se a perder a Paraíso e ir para o inferno.

Lutero era um frade agostiniano: por um amor impuro deixou o convento, rebelou-se contra a Igreja, fundou o protestantismo e entregou-se a uma vida escandalosa. Uma noite estava ele no terraço de um hotel ao lado de Catarina Bora sua companheira de pecado. A temperatura era suave, o céu estava lindo e milhares de estrelas brilhavam no firmamento. Catarina, cansada talvez daquela vida de remorso, voltou-se de repente para Lutero e lhe disse:

— "Olha Martinho, como é lindo o céu!"
Aquelas palavras, Martinho exclamou com um suspiro profundo:
— Sim, Catarina, o céu é lindo, mas não é mais para nós!

O infeliz sentia que ia perder o Paraíso, mas se confessava incapaz de ressurgir e morria pouco depois naquele mesmo hotel, dando mostras do mais terrível desespero. "Vida desonesta, morte impenitente".

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Teodoro Beza, sucessor de Calvino e chefe da reforma protestante, atingido por uma enfermidade mortal, foi visitado por São Francisco de Sales. Este com o seu zelo ardente tentou todos os meios possíveis para induzi-lo a abjurar o erro, voltar para o seio da Igreja Católica, e preparar-se para uma morte cristã. "Impossível" repetia, suspirando, o doente de quando em quando "impossível". Por fim, como o Santo insistia para saber o porquê daquela palavra "impossível", Teodoro com esforço, apoiou-se num cotovelo, puxou uma cortina que fechava uma alcova, e, mostrando uma mulher ali escondida: Eis aí, exclamou, a razão da impossibilidade de me converter e de me salvar! Preferiu a morte e o inferno, mas não deixou o pecado. Aqui também: "Vida desonesta, morte impenitente."

* * *

Na cidade de Spoleto, vivia uma jovem dissoluta, cuja existência era unicamente dedicada à vaidade e aos bailes. Aconselhada mais de uma vez a corrigir-se desprezava com soberba os avisos e fazia pouco caso deles. Sua própria mãe, orgulhosa da beleza e do brio da filha, sentia imenso prazer em vela cortejada por um bom número de amantes, e deixava as coisas correrem na esperança de encontrar um bom partido; de mais a mais acreditava que, passado o ardor da mocidade, ela acabaria sossegando.

Oh, mães cegas e imprudentes, que não só não se preocupam, mas ainda traem suas filhas, quando não são elas próprias que as arrastam à desonra e à ruína!

E o que aconteceu?

A infeliz moça caiu gravemente enferma. Pessoas sérias e respeitáveis da vizinhança aconselharam-na a chamar o sacerdote, a receber os sacramentos, preparar-se para a morte, enfim. Mas a pobre teimava:

— "Qual, repetia, é impossível, que eu tão moça e bela, morra; eu não devo, não devo morrer!"

Por fim, veio o Sacerdote; este por sua vez suplicava-lhe que tivesse juízo, que rezasse a Maria Santíssima porque a morte poderia surpreendê-la.

Qual morte, qual nada! Eu devo é viver! Eu não posso, não quero morrer!

Como a insistência aumentasse, por fim, percebendo que as forças começavam a faltar-lhe, com um esforço supremo, exclamou com ira:
— "Pois bem, se assim, se é que eu vou mesmo morrer, vem tu, Satanás, e toma a minha alma ti!" E, cobrindo o rosto com o lençol, entregou no demônio a alma desesperada.

"Vida desonesta, morte impenitente".

Ouça mais este exemplo, que o encherá de pavor:
Um cavalheiro vivia com uma moça de maus costumes. Aos que o aconselhavam abandoná-la ele respondia sempre com um desdenhoso "não posso". Mas a morte chegou para desuní-los.

O infeliz cavalheiro adoeceu gravemente, e, como estava nas últimas, chamaram um sacerdote para prepará-lo para dar o passo terrível. Tão caridoso e paciente foi o padre que o enfermo, humildemente, respondeu:
— Com prazer! Apesar de ter levado uma vida má, desejo ter uma boa morte com uma santa confissão.

— O senhor quererá receber também os Sacramentos como um bom cristão?

— É com prazer que os receberei, se vos dignardes de mos administrar.

— Mas isto não será possível se o senhor não despedir primeiro aquela moça.

— Ah, isso, Padre, eu não posso fazer.

— E por que não pode? Pode e deve fazê-lo, meu caro senhor, se quiser salvar-se.

— Mas eu repito não posso!

— Mas o senhor não vê que, com a morte, tão próxima, será obrigado a deixá-la por força?

— Não posso, Padre, não posso!

— Mas assim, eu não o absolvo, não lhe administro os Sacramentos e o senhor perderá o paraíso, será precipitado no inferno!

— Não posso!

— Será possível que eu não posso obter do senhor outra palavra? Pense na sua honra, na sua estima se morrer excomungado.

— Não posso, repetiu o infeliz pela última vez. E, agarrando a moça por um braço, puxou-a para si apertando-a com força ao peito, e assim, nos braços daquela mulher indigna, expirou.

D. — São tremendos, mas justos os castigos de Deus. Será possível, Padre, que não se pode mesmo abandonar o pecado?

M. — Na maioria dos casos, não se quer abandoná-lo, eis tudo! Santo Agostinho conta que um certo homen, não ouvia nem os conselhos nem as súplicas dos que procuravam convencê-lo a abandonar uma casa que freqüentava com grande escândalo. Não quis saber de nada, dizendo que absolutamente não podia. Aconteceu que um dia, naquela mesma casa lhe deram uma carga de pauladas das mais respeitáveis.

Acredite que ele abandonou no mesmo instante a casa: a impossibilidade toda desapareceu.

"Quod non fecit Dominus" acrescenta o Santo "fecit baculus": aquilo que Deus e o amor da alma não conseguiram, conseguiu-o a bengala.

CONFESSAI-VOS BEM - Pe. LUIZ CHIAVARINO

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

A Santíssima Eucaristia, nossa força contra nossos inimigos


Parasti in conspectu meo mensam adversus eos, qui tribulant me – "Preparaste uma mesa diante de mim, contra aqueles que me angustiavam" (Ps. 22, 5).

Sumário. Meu irmão, se te achas languido no bem, fraco no combate espiritual, põe a culpa sobre ti mesmo, porque não recebes a divina Eucaristia, ou a recebes sem as devidas disposições. Todos os Santos testemunham, e a experiência o confirma, que este divino Sacramento apaga o fogo das paixões, dá força e coragem para vencer o mundo com as suas vaidades, e debela todas as forças dos inimigos infernais. Numa palavra, os demônios, vendo uma alma incorporada no seu divino Chefe pela santa comunhão, ficam atemorizados e sem forças contra ela.

I. É com razão que a Santíssima Eucaristia foi simbolizada pelo pão milagroso que o Anjo preparou para Elias; pois, assim como o Profeta se sentiu de tal modo fortalecido, que pode subtrair-se à fúria de Jesabel e chegar ao monte do Senhor, assim os cristãos fortalecidos por este pão divino terão força para vencer todos os formidáveis inimigos que lhes estorvam o caminho da perfeição.

Diz São Cyrillo de Alexandria, e confirma-o Santo Tomás, que, "quando Jesus Cristo está dentro de nós, mitiga o ardor da nossa concupiscência, acalma as inclinações desregradas da carne, e robustece a piedade". Este Sacramento, qual fonte de água, apaga o fogo das paixões que nos consomem; por isso, quem se sentir abrasado pelo fogo de alguma paixão, aproxime-se da Mesa sagrada e logo a paixão será morta ou amortecida. – Pelo que dizia São Bernardo: "Meus irmãos, se alguém não sente tão frequente nem tão violentamente os movimentos da ira, da inveja, da incontinência, agradeça-o ao Santíssimo Sacramento, que operou nele tão salutar mudança."

Mais admirável ainda é a força que este alimento divino nos comunica para vencermos o mundo com as suas vaidades. D´onde credes que tiraram os primeiros cristãos aquela força heróica pela qual arrostavam a perda de todos os bens e mesmo a vida, entre os tormentos mais cruéis? Da recepção freqüente da santíssima Eucaristia: Erant perseverantes in communicatione fractionis panis – "Eles perseveravam na comunhão do partir do pão". Foi ali também que todos os santos acharam a força para se porem acima de todo o respeito humano.

Pelo seu entranhado amor a Jesus sacramentado, São Wenceslau, rei da Bohemia, não se contentava com a comunhão freqüente nem com as visitas repetidas do Santíssimo Sacramento, também durante as noites e no mais rigoroso do inverno; mas com as suas próprias mãos colhia o trigo e as uvas, preparava as hóstias e o vinho para uso no sacrifício da missa, desafiando desta maneira o mundo, que não podia com os seus dictérios desviá-lo daquela boa obra que ao pé dos altares ele resolvera praticar.

II. A santíssima Eucaristia mostra sobretudo o seu poder irresistível em combater por nós e conosco o inferno e em repelir todos os assaltos do demônio. O Doutor Angélico diz que os demônios, quando, pela santíssima Eucaristia, nos vêem unidos e, por assim dizer, incorporados a Jesus, nosso Chefe e Mestre, eles tremem, fogem e deixam de nos molestar, ou se ainda voltam ao assalto, as tentações pouca força têm para nos vencer: Repellit omnem daemonum impugnationem.

Acrescenta São João Chisóstomo que, vendo-nos tintos com o sangue de Jesus Cristo na santa comunhão, os demônios põem-se em fuga e os anjos acodem para nos fazer companhia. De tal modo que nos levantamos da sagrada Mesa como leões, animados de um ardor santo, e longe de temermos os espíritos infernais, somos para eles terríveis e formidáveis: Tamquam leones ignem spirantes ab illa mensa surgamus, diabolô formidabiles. – Daí provém essa profunda paz interior, essa forte inclinação para o bem, essa prontidão na prática das virtudes, essa facilidade em andarmos no caminho da perfeição.

Portanto, meu irmão, se por desgraça te sentes languido no bem, fraco no combate espiritual, acusa-te a ti próprio dizendo com Davi: "Fui ferido como feno, e o meu coração se secou, porque me esqueci de comer o meu pão" (1), que é a santíssima Eucaristia; e ao mesmo tempo toma a resolução de seres mais diligente no futuro.

"Eis aqui a que ponto chegou a vossa excessiva caridade, ó meu amantíssimo Jesus! Vós me preparastes uma divina mesa com a vossa carne e preciosíssimo sangue, para Vos dardes todo a mim. Quem pode impelir-Vos a tais transportes de amor? Foi unicamente o vosso amorosíssimo Coração. Ó Coração adorável do meu Jesus, fornalha ardentíssima do divino amor, recebei na vossa sacratíssima chama a minha alma, para que, nesta escola de caridade, aprenda eu a pagar com amor ao meu Deus que me deu provas tão admiráveis de seu amor."(2) – Fazei-o pelo amor de vossa e minha querida Mãe, Maria. (*IV 294.)

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1. Ps. 101, 5.
2. Indulg. de 100 dias.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 290- 292.)


Visto em: http://www.saopiov.org/2013/11/a-santissima-eucaristia-nossa-forca.html. 

sábado, 19 de agosto de 2017

DAS HUMILHAÇÕES E DESPREZOS QUE JESUS CRISTO SOFREU




Vidimus eum… despectum et novissimum virorum– “Vimo-lo… feito um objeto de desprezo e o último dos homens” (Is. 53, 3).
Sumário. Quem pudera jamais imaginar que, tendo o Filho de Deus vindo à terra a fazer-se homem por amor dos homens, viesse a ser tratado por eles com tamanhos insultos e injúrias, como se fosse o último e o mais vil de todos? No entanto, assim aconteceu. Jesus foi traído por Judas, negado por Pedro, abandonado por seus discípulos, tratado de louco, açoitado qual escravo, e, afinal, proposto ao homicida Barrabás, foi condenado a morrer crucificado. Ah! Se este exemplo de Jesus Cristo não cura o nosso orgulho, não há remédio que o possa curar.
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Diz Bellarmino que os desprezos causam mais pena às almas grandes do que as dores do corpo. Com efeito, se estas afligem a carne, aqueles afligem a alma, cuja pena é tanto maior quanto ela é mais nobre que o corpo. Mas quem teria jamais imaginado que o personagem mais digno do céu e da terra, o Filho de Deus, vindo ao mundo a fazer-se homem por amor dos homens, houvesse de ser tratado por estes com tamanhos desprezos e injúrias, como se fosse o último e o mais vil dos mortais? No entanto, assim aconteceu, pelo que Isaías disse: Vimo-lo desprezado e feito o último dos homens.
E que qualidade de afrontas não sofreu o Redentor em todo o tempo de sua vida, e especialmente em sua Paixão? Viu-se exposto a afrontas da parte de seus próprios discípulos. Um deles o traiu e vendeu por trinta dinheiros. Outro negou-o muitas vezes, mostrando assim que se envergonhava de o ter conhecido. Os outros discípulos, vendo-o preso e amarrado, fugiram todos e o abandonaram: Tunc discipuli eius, relinquentes eum, omnes fugerunt (1). Se Jesus Cristo foi tratado assim pelos seus próprios discípulos, faze-te uma idéia de como havia de ser tratado pelos seus inimigos mais encarniçados!
Ai, meu Senhor! No Sinédrio de Caifás vejo-Vos amarrado como um malfeitor; esbofeteado como homem insolente, declarado réu de morte como usurpador sacrílego da dignidade divina; e como homem já condenado ao suplício, vejo-Vos entregue à discrição de um canalha que Vos maltrata com pontapés, escarros e empurrões. Na casa de Herodes, Vos vejo, ó meu Jesus, feito alvo dos escárnios daquele rei impuro e de toda a sua corte; vejo-Vos coberto de um manto branco, tratado como ignorante e louco, e levado assim pelas ruas de Jerusalém. – No pretório de Pilatos, Vos vejo açoitado com milhares de golpes, qual servo rebelde, coroado de espinhos qual rei de teatro; posposto ao homicida Barrabás, e, finalmente, condenado a morrer crucificado. Por isso, vejo-Vos, por último, no Calvário, crucificado entre dois ladrões, praguejado, amofinado, insultado e feito o mais vil dos homens, homem de dores e opróbrios. Ai meu pobre Senhor!
As injúrias e os desprezos que Jesus Cristo quis sofrer no tempo de sua Paixão, foram tantos e tão grandes, que, no dizer de Santo Anselmo, não podia ser mais humilhado, do que realmente o foi. E o devoto Taulero diz que é opinião de São Jerônimo, que as penas sofridas por nosso Senhor, especialmente na noite que precedia a sua morte, só serão plenamente conhecidas no dia do juízo.
Mas para que tantos desprezos? É São Pedro quem no-lo diz: Jesus Cristo quis desta forma mostrar-nos quanto nos ama e ensinar-nos pelo seu exemplo a sofrermos resignadamente os desprezos e as injúrias: Christus passus est pro nobis, vobis relinquens exemplum, ut sequamini vestigia eius (2). Eis porque Santo Agostinho, falando das ignomínias padecidas pelo Senhor, conclui: “Se esta medicina não cura o nosso orgulho, não sei que outro remédio o possa curar!”
Ah, meu Jesus! Vendo um Deus tão desprezado por meu amor, não poderei eu sofrer o mais pequeno desprezo por vosso amor? Eu, pecador e orgulhoso? E d’onde, meu divino Mestre, me pode vir este orgulho? Pelos merecimentos das afrontas que tendes suportado por mim, dai-me a graça de sofrer, com paciência e com alegria, as afrontas e as injúrias. Proponho com vosso auxílio, d’aqui em diante, não me entregar mais ao ressentimento e receber com alegria todos os opróbrios de que eu possa ser alvo.  Mereceria outros desprezos, porque desprezei a vossa divina Majestade e mereci os desprezos do inferno. E Vós, meu amado Redentor, me fizestes verdadeiramente doces e amáveis as afrontas, quando aceitastes tantas afrontas por meu amor. Proponho além disso, para Vos agradar, fazer todo o bem que eu puder àquele que me desprezar, ao menos dizer bem dele e orar por ele. Desde já Vos peço que acumuleis todas as vossas graças sobre os de quem tenha recebido alguma injúria. Amo-Vos, bondade infinita, e quero amar-Vos sempre com todas as minhas forças. – Ó minha aflita Mãe, Maria, alcançai-me a santa perseverança.
  1. Marc. 14, 50.
    2. 1 Petr. 2, 21.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II – Santo Afonso
Fonte:

SEJA UM BENFEITOR!