sexta-feira, 24 de novembro de 2017

A parábola do joio e a conduta de Deus para com os pecadores


Colligite primum zizania, et alligate ea in fasciculos ad comburendum– “Colhei primeiro o joio, e atai-o em feixes para o queimar” (Mt 13, 30)
Sumário. O joio que cresce no meio do bom trigo é figura dos pecadores, que pela benignidade divina vivem juntamente com os justos no campo da Igreja Católica. Mais ai daqueles, se continuarem obstinados no pecado e deixarem passar o tempo de misericórdia! Chegará o dia da colheita, isso é, do juízo, e então os anjos separarão os maus dos bons, para levarem a estes ao paraíso e lançarem aqueles no fogo do inferno, onde serão atormentados por toda a eternidade.
I. “O reino dos céus”, diz Jesus Cristo no Evangelho deste dia, “é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas, quando dormiam os homens, veio o seu inimigo e sobressemeou o joio no meio do trigo, e foi-se. Tendo, porém, crescido a erva e dado fruto, então apareceu também o joio. E chegando-se os servos do pai de família, disseram-lhe: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde, pois, lhe veio o joio? Disse-lhes ele: Um homem inimigo fez isso. E os servos disseram-lhe: Queres que vamos e o apanhemos? Ele disse: Não! Não seja que apanhando o joio arranqueis juntamente com ele o trigo. Deixai crescer um e outro até a ceifa, e no tempo direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio, e ataio em molhos para o fogo; mas o trigo recolhei-o no meu celeiro.”
Nesta parábola vê-se de um lado a paciência do Senhor para com os pecadores, e por outro o seu rigor para com os obstinados. Diz Santo Tomás que todas as criaturas, por natural instinto, quereriam castigar o pecador e assim vingar as injúrias feitas ao Criador.
Visimus et colligimus ea? — “Queres que vamos e o apanhemos?”
Deus, porém, pela sua misericórdia, as impede. E assim faz, não só pelo amor dos justos, aos quais não quer tirar a ocasião para praticarem a virtude, suportando os maus; senão também, e muito mais, pela sua longanimidade para com os próprios pecadores, a quem quer dar tempo para se converterem:
Propterea expectat deus, ut misereatur vestri (1) — “Por isso o Senhor espera, para ter misericórdia de vós”.
Mais ai deles se continuarem obstinados em seu pecado e deixarem passar o tempo da divina misericórdia. Chegará o dia da colheita, isso é, assim como Jesus mesmo explica, o fim do mundo e o juízo universal. Então ordenará aos ceifeiros, a saber, aos anjos, que separem os maus dos justos a fim de fazerem estes entrar no eterno gozo do paraíso e lançarem aqueles no fogo do inferno, onde serão atormentados por toda a eternidade.
II. Eis aí, cristão, aonde irão parar aqueles pecadores que se obstinam em seus pecados e que abusam do tempo de penitência, que Deu lhes concede, para se tornarem mais soberbos (2) — irão queimar para sempre, alma e corpo, no fogo do inferno, sem esperança de saírem em tempo algum:
Et mittent eos in caminum ignis (3) — “E lança-los-ão na fornalha de fogo”
Com razão; porquanto não merece mais a misericórdia divina aquele que, enormemente ingrato, se prevalece da mesma misericórdia para ofender o Senhor mais gravemente. O que ofende a justiça, diz Afonso Tostato, pode recorrer à misericórdia, mas a quem poderá recorrer o que ofende a própria misericórdia?
Ó meu amabilíssimo Jesus! Eis-me aqui; eu fui um daqueles que continuaram a ofender-Vos, porque éreis bom para mim. Esperai, Senhor; não me abandoneis agora, já que pela vossa graça espero nunca mais dar-Vos motivo para que me abandoneis. Peza-me, ó Bondade infinita, ter-Vos ofendido, e ter abusado tanto de vossa paciência. Agradeço-Vos por me terdes esperado até agora. De hoje em diante não Vos quero mais trair, como no passado tenho feito.
Vós, ó Senhor, me aturastes tão longo tempo, a fim de me verdes um dia cativo amante da vossa bondade. † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas; e estimo a vossa graça mais que todos os reinos do mundo; antes quero perder mil vezes a vida que perder a vossa afeição. Vós, porém, ó Redentor meu, dai-me a santa perseverança. Pelo sangue que por mim derramastes, Vos rogo: “guardai-me, ó Senhor, com vosso auxílio contínuo, para que, esperando só na graça celeste, seja sempre munido com a vossa proteção.”(4) † Doce Coração de Maria, sede a minha salvação.
Referências:
(1) Is 30, 18
(2) Jó 24, 23
(3) Mt 13, 42
(4) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 208-210)

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