quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Obrigação que temos de socorrer as almas do purgatório


Rezemos pelas almas do Purgatório, especialmente em nossas orações pelo Santo Rosário
Mortuo non prohibeas gratiam – “Não impeças que a liberalidade se estenda aos mortos” (Eclo 7, 37)
Sumário. A caridade cristã não só nos aconselha, mas até nos obriga a socorrermos as almas do purgatório; porquanto são nossos próximos e se acham em grandíssima necessidade. Tanto mais que entre elas podem penar também as almas de nossos pais, parentes e amigos; e, não podendo valer-se por si próprias, recomendam-se a nós por socorro. Que crueldade, pois, não nos apressarmos a socorrê-las, ainda que à custa de algum sacrifício!… Receemos ser tratados depois como nós agora tratamos os outros.
I. A caridade cristã não só nos dá o conselho, mas nos impõe a obrigação de rezarmos pelas almas do purgatório. Sim, porque, conforme ensina Santo Tomás, a caridade estende-se não só aos vivos, senão também a todos os que morreram na amizade de Deus; e, além disso, ela pede que socorramos especialmente aqueles próximos que mais precisem do nosso auxílio. Ora, quem dentre os nossos próximos está em tão grande necessidade de socorro, como essas santas prisioneiras? As infelizes ardem continuamente naquele fogo, que as atormenta muito mais do que qualquer fogo terrestre, e fá-las sofrer juntamente toda a espécie de suplícios cruciantes.
Mais. Em cada uma de suas faculdades padecem penas indizíveis. Aflige-as a vista pavorosa dos pecados, pelos quais amarguraram o seu Deus, a quem tanto amam, e atraíram sobre si mesmas as dores acerbas que estão sofrendo. Aflige-as a lembrança dos grandes benefícios recebidos de Deus, quando estavam na terra; e especialmente a lembrança daquelas misericórdias e graças especiais que lhes podiam adquirir mais merecimentos no paraíso, ao passo que só ganharam mais tormento no purgatório, porque não corresponderam às graças com a devida gratidão. Aflige-as finalmente e sobretudo o estarem longe de seu esposo, isto é, de Deus, sem sequer saberem quando terão a consolação de O irem ver.
O que, porém, mais nos deve excitar a aliviarmos essas santas almas é o pensamento de que entre elas penam talvez as almas de nossos pais, irmãos ou outros parentes e amigos e benfeitores; que não se podendo valer a si próprias, porque se acham em estado de satisfação pelas suas faltas, socorrem-se a nós por alívio e dizem-nos com Jó: Miseremini mei, miseremini mei, saltem vos amici mei (1) — “Compadecei-vos de mim, compadecei-vos de mim, ao menos vós que sois meus amigos”.
II. Examinemos o nosso procedimento para com as almas dos defuntos e particularmente para com as almas dos nossos parentes, amigos e benfeitores. Quero crer, meu irmão, que não és do número daqueles que, tendo adquirido uma herança, não se importam com o cumprimento das últimas vontades dos testadores, e por qualquer pretexto fútil se descuidam dos legados pios.
Mas atende bem que não sejas do número daqueles outros que, tendo pago a seus defuntos um pequeno tributo de lágrimas e satisfeito aquilo a que o obrigava a justiça mais rigorosa, depois se esquecem por completo daquelas almas santas e as tratam como se lhes fossem estranhas. Se for este o caso, ah, lembra-te que talvez em breve estejas também nessa prisão, ardendo nas chamas. Então o Senhor permitiria com justiça que teus supérstites te tratem da mesma maneira como tu trataste os teus antepassados: Eadem mensura, qua mensi fueritis, remetietur vobis (2) — “Com a mesma medida com que tiverdes medido, se vos há de medir a vós”.
“Ó meu Senhor Jesus Cristo, Rei da glória, livrai as almas de todos os fiéis defuntos das penas do purgatório. Livrai-as das goelas do demônio, a fim de que não sejam absorvidas pelo abismo e não venham a cair no inferno. Conduza-as o Arcanjo São Miguel àquela pátria bem-aventurada prometida a Abraão e a seus descendentes.”
“Ó Deus, que folgais em perdoar os pecadores e salvar os homens, suplicamos vossa clemência, pela intercessão da Bem-aventurada Maria sempre Virgem e de todos os Santos, concedei que os confrades de nossa congregação, parentes e benfeitores, que deixaram este mundo, cheguem à morada da eterna felicidade. — Dai, Senhor, o descanso eterno a essas almas benditas e a todas as que penam na prisão do purgatório; fazei brilhar para elas a luz perpétua e que elas possam em breve descansar na paz dos justos. Amém.”(3)
Referências:
(1) Jó 19, 21
(2) Lc 6, 38
(3) Orationes Eccl.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 233-235)

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