sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Da amorosa presença de Cristo no Santíssimo Sacramento do altar



Confira as importantes advertências de Santo Afonso para bem aproveitar esta obra!

CONSIDERAÇÃO XXXV

Venite ad me omnes qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos. – “Vinde a mim todos os que vos achais sobrecarregados e atribulados, que eu vos aliviarei” (Mt 11, 28)

PONTO I

Ao partir deste mundo, depois de ter completado a obra da nossa redenção, o nosso amantíssimo Salvador não quis deixar-nos sós neste vale de lágrimas.
“Nenhuma língua pode exprimir — dizia São Pedro de Alcântara — a grandeza do amor que Jesus tem às almas; por isso, ao deixar esta vida, o divino Esposo, receando que sua ausência fosse ocasião de olvido, deu-lhes como recordação este Sacramento santíssimo, no qual ele mesmo permanece; e não quis que entre ele e nós houvesse outro penhor para manter viva a memória”
Esta preciosa dádiva de Nosso Senhor Jesus Cristo merece todo o amor de nosso coração e por esse motivo dispôs que nestes últimos tempos fosse instituída a festa do seu Sagrado Coração, segundo revelou à sua serva Irmã Margarida Alacoque, a fim de que lhe rendêssemos homenagem por sua presença amorosa sobre o altar, e reparássemos, ao mesmo tempo, os desprezos e as injúrias que neste Sacramento tem recebido e recebe ainda da parte dos hereges e dos maus cristãos.
Permanece Jesus no Santíssimo Sacramento: primeiro, para que todos lhe falemos sem dificuldadesegundo, para conceder-nos audiência; e terceiro, para dispensar-nos suas graças.
Fica presente em tantos altares diferentes para estar no alcance de todos os que o desejam encontrar. Na noite em que o Redentor se despediu de seus discípulos para morrer, estes, cheios de tristeza, choravam, porque deviam separar-se de seu querido Mestre. Jesus, porém, os consolou, dizendo-lhes e a todos nós:
“Meus filhos, vou morrer por vós para provar o amor que vos tenho; porém, mesmo depois de minha morte não quero privar-vos da minha presença. Enquanto estiverdes neste mundo, estarei convosco no Santíssimo Sacramento do Altar. Deixo-vos meu corpo, minha alma, divindade, em suma, a mim mesmo. Não me separarei de vós”.
Ficai certos de que eu mesmo estarei convosco até à consumação dos séculos (Mt 28,20).
“Queria o Esposo — diz São Pedro de Alcântara — deixar companhia à esposa, para que em tamanha ausência não ficasse só, e por isso lhe deixou este Sacramento, no qual ele mesmo reside e era a melhor companhia que podia dar-lhe”
Os gentios, que imaginaram tantos deuses, não engendraram nenhum tão amoroso como o nosso Deus, que está tão perto de nós e com tanto amor nos assiste.
“Não há outra nação tão grande que tenha os seus deuses tão perto dela, como o nosso Deus está presente a todos nós” (Dt 4,7)
A Santa Igreja, com razão, aplica esta passagem do Deuteronômio à festa do Santíssimo Sacramento.
Jesus Cristo, portanto, vive nos altares como encerrado em prisões de amor. Os sacerdotes o fazem sair do sacrário para expô-lo aos fiéis ou para a santa comunhão e depois o encerram novamente. E o Senhor se compraz em permanecer ali de dia e de noite… E para que fim, meu Redentor, resolvestes ficar em tantas igrejas, mesmo que os homens fechem as portas do templo e vos deixem só? Bastava que habitásseis ali conosco durante as horas do dia?… Mas, não! O Senhor quer morar no sacrário mesmo nas trevas da noite, não obstante a ausência de todos, esperando paciente que ao raiar do arrebol já o encontre quem deseja estar a seu lado. A esposa andava a procurar o seu Amado e perguntava a todos os que pelo caminho vinham: Vistes, porventura, aquele que ama a minha alma? (Ct 3,3). Como não o encontrasse, levantava a voz, dizendo: “Onde estás, meu esposo?… Dize-me, ó amado de minha alma, onde é que apascentas… onde é que repousas ao meio-dia (Ct 1,6). A esposa não o encontrava porque ainda não existia o Santíssimo Sacramento; mas agora, se uma alma deseja unir-se a Jesus Cristo, o seu Amado a está esperando em muitos templos. Não há aldeia, por mais pobre que seja, não há convento de religiosos que não tenha o Sacramento Santíssimo. Em todos esses lugares, o Rei do céu se regozija em poder permanecer aprisionado na pobre moradazinha de pedra ou de madeira onde muitas vezes fica só, sem ter quem o sirva e apenas, iluminado por uma lâmpada de azeite…
Ó Senhor! — exclama São Bernardo — isto não convém à vossa infinita majestade… Nada importa, responde Jesus Cristo: se isto não convém à minha majestade, satisfaz, entretanto, o meu amor.
Que ternos afetos experimentam os peregrinos, quando visitam a Santa Igreja de Loreto, ou os lugares da Terra Santa, o estábulo de Belém, o Calvário, o Santo Sepulcro, lugares, onde Cristo nasceu, morreu e foi sepultado!… Muito maior, porém, deve ser o nosso amor quando nos achamos na igreja em presença do próprio Jesus Cristo que reside no Santíssimo Sacramento! Dizia o venerável João d’Ávila que não havia para ele santuário de maior devoção e consolo que uma igreja em que houvesse Jesus Sacramentado. O Padre Baltasar Álvares lamentava-se por ver os palácios reais repletos de gente, e os templos, onde mora Cristo, solitários e abandonados… Ó meu Deus!… Se o Senhor tivesse concedido o privilégio de sua presença a uma única igreja na terra, à de São Pedro em Roma, por exemplo, e ali residisse apenas um dia por ano, quantos peregrinos, quantos personagens nobres, quantos monarcas procurariam ter a felicidade de estar naquele templo, no dia marcado, para reverenciar ao Rei do céu, que tinha descido novamente à terra! Que rico sacrário de ouro e de pedras preciosas lhe não seria preparado! Com quanta luz se iluminaria a igreja a fim de solenizar a presença de Cristo!… Mas não — disse o Redentor — não quero morar apenas numa igreja, nem por um dia só, nem procuro ostentação, nem riqueza, mas desejo viver contínua, diariamente, onde meus fiéis estão, para que todos me encontrem facilmente, sempre e a qualquer hora.
Se Jesus Cristo não tivesse inventado este inefável obséquio de amor, quem é que teria sido capaz de descobri-lo? Se, ao aproximar-se a hora da ascensão ao céu, alguém lhe tivesse dito: Senhor, para mostrar-nos vosso afeto, ficai conosco nos altares sob as espécies de pão, a fim de que vos encontremos quando for de nossa vontade, — quão temerária teria parecido tal petição! Mas o que nenhum homem jamais poderia imaginar, nosso amantíssimo Salvador o concebeu e realizou…
E onde está, Senhor, nossa gratidão por mercê tão excelsa?… Se um príncipe poderoso viesse de longínquas terras com o fito expresso de que fosse visitado por um obscuro aldeão, não seria este extremamente ingrato se se recusasse a ver o príncipe, ou a querer vê-lo apenas de passagem?

AFETOS E SÚPLICAS

Ó Jesus, meu Redentor e amor de minha alma! A quão alto preço pagastes vossa morada na Eucaristia! Sofrestes primeiramente morte dolorosa antes de viver sobre nossos altares e, a seguir, inumeráveis injúrias no Sacramento, só porque quereis assistir-nos e regalar-nos com vossa presença real. Em compensação, nos descuidamos e nos esquecemos de visitar-vos, posto que bem saibamos que desejais as nossas visitas, com o fim de nos cumular de bens, quando permanecemos ante vós. Perdoai-me, Senhor, que também eu me conto no número destes ingratos… Mas doravante, meu Jesus, estou resolvido a visitar- vos frequentemente e a conservar-me o mais tempo possível na vossa presença, a fim de dar-vos graças e amar-vos e pedir-vos mercês, pois tal é o fim que vos impeliu a ficar entre nós, recolhido aos sacrários e prisioneiro nosso de amor. Amo-vos, Bondade infinita, amo-vos, Pai amantíssimo; amo-vos, Sumo Bem, mais digno de ser amado do que todas as coisas. Fazei que me esqueça a mim mesmo e a todas as coisas, e que somente do vosso amor me recorde, para viver o restante de meus dias unicamente ocupado em servir-vos. Fazei que a partir de hoje seja a minha maior delícia permanecer prostrado a vossos pés. Inflamai-me, inteiramente no vosso amor!…
Maria, minha mãe, alcançai-me grande amor ao Santíssimo Sacramento, e quando me virdes negligente, recordai-me a promessa que agora faço de o visitar diariamente!

PONTO II

Consideremos, em segundo lugar, como Jesus Cristo na Eucaristia dá audiência a todos nós. Dizia Santa Teresa que não a todos os homens é dada a honra de falar com os reis deste mundo. Os pobres, quando o necessitam, apenas conseguem comunicar-se com o soberano por meio de uma terceira pessoa. Mas o rei da glória não tem necessidade de intermediários. Todos, nobres e plebeus, podem tratar com ele, rosto a rosto, no Santíssimo Sacramento. Não é em vão que Jesus se chama a si mesmo “Flor dos campos” (Ct 2,1): Eu sou flor dos campos e lírio dos vales. Assim como as flores do jardim estão reservadas e ocultas para muitos, as do campo se oferecem generosas a todas as visitas. Sou flor do campo, porque me deixo ver por todos quantos me procuram, disse, comentando este texto, o Cardeal Hugo.
Jesus Cristo, na Eucaristia, é acessível a todos e a qualquer hora do dia. São Pedro Crisólogo, falando do nascimento de Cristo no estábulo de Belém, observa que nem sempre os reis dão audiência a seus súditos. Acontece mesmo frequentemente que, quando alguém se apresenta para falar ao soberano, os guardas o despedem, dizendo que não é hora de audiência e que volte depois. Mas o Redentor quis nascer num estábulo aberto, sem portas e sem guardas, a fim de receber a qualquer momento a quem o procura. Não há ali criados que digam: ainda não é hora. O mesmo sucede com o Santíssimo Sacramento. As portas da igreja estão abertas, e todos nós podemos entrar e falar com o Rei dos céus sempre que nos apraz. E Jesus tem prazer em receber-nos e deseja que lhe falemos ali com ilimitada confiança. Para isto é que se oculta sob as espécies do pão, porque se Cristo aparecesse sobre o altar em resplandecente trono de glória, como há de apresentar-se no dia do juízo final, quem ousaria aproximar-se dele? Como, porém, o Senhor — diz Santa Teresa — deseja que lhe falemos e impetremos suas graças com toda a confiança e sem temor algum, encobriu sua majestade divina sob as espécies do pão. Segundo Tomás de Kempis, quer que tratemos com ele como se trata um amigo fraternal.
Quando a alma, ao pé do altar, está em amorosos colóquios com Cristo, parece que o Senhor lhe dirige aquelas palavras do Cântico dos Cânticos:
“Levanta-te, apressa-te, minha amiga, minha formosa, e vem” (Ct 2,10)
Surge, e levanta-te, alma, lhe diz, e nada temas. Propera, apressa-te, aproxima-te de mim. Amica mea, já não me és desagradável, mas bela, porque minha graça te tornou formosa. Et veni, vem e dize-me o que desejas, que, para ouvir-te, estou neste altar… Que gozo terias, meu leitor, se o rei te chamasse a seu palácio e dissesse: Que desejas? Que necessitas? Muito te estimo e desejo ser útil a ti!… O mesmo diz Cristo, o rei do céu, a todos os que o visitam.
“Vinde a mim todos os que estais sobrecarregados e atribulados, que eu vos aliviarei” (Mt 11,28)
Vinde, pobres enfermos, aflitos, que posso e quero enriquecer- vos, curar-vos e consolar-vos: é para este fim que estou nos altares (Is 58,9).

AFETOS E SÚPLICAS

Já que residis nos altares, meu amantíssimo Jesus, para ouvir as súplicas que vos dirigem os desgraçados que recorrem a vós, ouvi, Senhor, os rogos deste pobre pecador… Ó Cordeiro de Deus, sacrificado e morto na cruz! Minha alma foi resgatada com vosso sangue; perdoai-me as ofensas que vos tenho feito e socorrei-me com vossa graça, a fim de que não volte a perder-vos jamais. Fazei-me partícipe, meu Jesus, daquela profunda dor dos pecados que sofrestes no horto de Getsêmani… Meu Deus, se eu morresse no pecado, não poderia amar-vos nunca; mas vossa clemência esperou por mim a fim de que vos amasse! Agradeço-vos o tempo que me concedestes e, já que me é dado amar-vos, consagro-vos o meu amor. Dai-me a graça do vosso divino amor em grau tal que de tudo me esqueça inteiramente e somente me ocupe em servir e agradar a vosso sagrado Coração. Ó meu Jesus! Dedicastes-me a vossa vida toda; permiti que vos consagre o restante da minha. Atraí-me ao vosso amor e fazei-me vosso inteiramente antes que chegue a hora de minha morte. Assim o espero pelos merecimentos da vossa sagrada Paixão e também, ó Maria Santíssima, pela vossa poderosa intercessão. Bem sabeis que vos amo; tende misericórdia de mim.

PONTO III

Jesus no Santíssimo Sacramento ouve e recebe a todos para comunicar-nos sua graça, porque mais deseja o Senhor favorecer-nos com seus dons do que nós recebê-los. Deus, que é a Bondade infinita, generosa e difusiva por sua própria natureza, compraz-se em comunicar os seus benefícios a todo mundo e se entristece quando as almas não acodem a pedir-lhes. Por que — diz o Senhor — não vos dirigis a mim? Porventura, hei sido para vós semelhante à terra estéril, quando me pedistes graças?… O apóstolo São João viu que o peito do Senhor resplandecia adornado por um cinto de ouro, símbolo da misericórdia de Cristo e da amorosa solicitude com que deseja dispensar-nos sua graça (Ap 1,15). O Senhor sempre está pronto a auxiliar-nos; mas no Santíssimo Sacramento, como afirma o discípulo, concede e distribui, de modo especial, abundantíssimos favores. O beato Henrique Suso dizia que Jesus na Eucaristia atende com a maior complacência a nossas petições e súplicas.
Assim como as mães acham consolo e alívio, dando o peito generosamente, não só a seu próprio filho, mas também a outros pequeninos, o Senhor neste Sacramento a todos convida e nos diz: “Como a mãe acaricia a seu filho, assim eu vos consolarei” (Is 66,13). Ao Pe. Baltasar Álvares apareceu visivelmente Cristo na Eucaristia, mostrando-lhe as graças inumeráveis que trazia à disposição para prodigalizá-las aos homens; mas não havia quem as pedisse.
Bem-aventurada a alma que, ao pé do altar, se detém para solicitar a graça do Senhor! A condessa de Feria, que depois se fez religiosa de Santa Clara, permanecia ante o Santíssimo Sacramento todo o tempo de que podia dispor. Por isso, a chamavam a esposa do SS. Sacramento.
Ali recebia continuamente riquíssimos tesouros de graças. Perguntada por que passava tantas horas prostrada ante o Senhor Sacramentado, respondeu:
“Desejaria ficar ali por toda a eternidade… Perguntais o que se faz na presença do Santíssimo Sacramento… E que é que se deixa de fazer? Que faz um pobre na presença de um rico? E um enfermo diante do médico?… Agradece-se, ama-se, roga-se”
Queixou-se o Senhor à sua fiel serva Irmã Margarida Alacoque da ingratidão com que os homens o tratam neste Sacramento de Amor.
Mostrando-lhe seu sagrado Coração em trono de chamas, cercado de espinhos e uma cruz ao alto, dá-lhe a entender a amorosa presença de Cristo na Eucaristia e diz:
“Contempla este Coração que tanto tem amado aos homens e que nada omitiu, nem mesmo o consumir-se, para demonstrar-lhes seu amor. Mas em reconhecimento só recebo ingratidões da maior parte deles, pelas irreverências e os desprezos com que me tratam neste Sacramento. E o que mais deploro é que assim procedem não poucas almas que me são especialmente consagradas”
Os homens deixam de entreter-se com Cristo, porque não o amam.
Recreiam-se horas inteiras falando com um amigo, mas enfadam-se logo em ficar com o Senhor! Como há de Jesus Cristo conceder-lhes seu amor? Se não afastam de seu coração os afetos terrenos, como há de entrar nele o amor divino? Ah, se pudesses dizer verdadeiramente de coração o que dizia São Filipe Néri ao ver o Santíssimo Sacramento: “Eis o meu amor” e não te cansarias nunca de estar horas e dias ante Jesus Sacramentado.
Para a alma que ama a Deus, essas horas parecem momentos.
São Francisco Xavier, fatigado pelo diário trabalho da salvação das almas, encontrava à noite apropriado descanso em permanecer diante do Santíssimo Sacramento. São João Francisco de Regis, famoso missionário da França, depois de ter empregado todo o dia na pregação, dirigia-se à igreja; e quando a encontrava fechada, ficava à porta, exposto às inclemências do tempo com o propósito de homenagear, ao menos de longe, a seu amado Senhor. São Luís Gonzaga desejava estar sempre na presença de Jesus Sacramentado; como, porém, os Superiores lhe proibissem que se entretivesse nesses atos prolongados de adoração, acontecia que, quando o santo jovem passava diante do altar, sentia de um lado que Jesus o atraía docemente para que com ele permanecesse, e de outro, obrigado pela obediência, a afastar-se.
Nesse caso dizia amorosamente:
“Apartai-vos, Senhor, apartai-vos de mim; não me prendais junto de vós; deixai que de vós me separe, porque devo obedecer”
Portanto, meu irmão, se não sentes tão alto amor a Cristo, procura visitá-lo diariamente, que Ele saberá inflamar o teu coração. Sentes frio ou tibieza? Aproxima-te do fogo, como dizia Santa Catarina de Sena, e ditoso de ti se Jesus te conceder a graça de abrasar- te em seu amor! Então, não amarás mais as coisas da terra, mas as desprezarás todas, pois, segundo observa São Francisco de Sales: Quando em casa há fogo, tudo se lança pela janela.

AFETOS E SÚPLICAS

Ah, meu Jesus! Fazei que vos conheçamos e amemos! Sois tão amável, que só isto é suficiente para que vos amem todos os homens…
E quão poucos são aqueles que se dedicam ao vosso amor! Ó Senhor! Entre estes ingratos também me achava eu. Não neguei minha gratidão às criaturas quando delas recebi mercês ou favores. Somente para convosco, que vos destes todo a mim, fui tão ingrato que cheguei a ofender-vos gravemente e ultrajar-vos com meus pecados. E vós, Senhor, em vez de abandonar-me, persistis em procurar-me e reclamais o meu amor, inspirando-me a lembrança daquele amoroso mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração (Mc 12,30). Pois bem! Já que, apesar de minha ingratidão, quereis que vos ame, prometo amar-vos, meu Deus. Assim o desejais, e eu, favorecido por vossa graça, não desejo outra coisa. Amo-vos, meu amor e meu tudo. Pelo sangue que derramastes por mim, ajudai-me e socorrei-me. Nele ponho a minha esperança, assim como na intercessão de vossa Mãe Maria Santíssima, cujas súplicas quereis que contribuam para a nossa salvação.
Rogai por mim, Santa Virgem Maria, a Jesus Cristo, meu Senhor; e posto que abrasais no amor divino a todos os que se vos consagram, com insistência vos peço: inflamai nele o meu coração, que tanto vos ama sempre.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Preparação para a Morte – Considerações sobre as verdades eternas. Tradução de Celso Alencar em pdf, 2004, p. 377-390)

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Da assistência à Santa Missa



Immolabit (agnum) universa multitudo filiorum Israel – “Toda a multidão dos filhos de Israel imolará (um cordeiro)” (Ex 12, 6)
Sumário. Para ouvir a missa com devoção, devemos ter bem presente que o sacrifício do altar é o mesmo que foi um dia oferecido no Calvário, posto que se ofereça sem derramamento de sangue. Avivemos, pois, a nossa fé, e, quando assistirmos aos augustos mistérios, afiguremo-nos que em companhia de Maria Santíssima e de São João estamos ao pé da árvore da Cruz, para oferecer ao Pai Eterno a vida de seu Filho adorável. E, quando tivermos a ventura de comungar, façamos que bebemos o Sangue preciosíssimo do Coração amável de Jesus Cristo.
I. Para ouvir a missa com devoção, devemos ter bem presente que o sacrifício do altar é o mesmo que foi oferecido um dia no Calvário; com esta diferença: que ali o sangue de Jesus se derramou realmente, e aqui só se derrama misticamente. Se então tivesses estado no Calvário, com que devoção e ternura terias assistido a tão sublime sacrifício! Aviva, pois, a tua fé e pensa que a mesma oferenda de então se renova sobre o altar pela mão do sacerdote. Por isso, cada vez que assistires à missa, afigura-te que em companhia de Maria Santíssima e de São João te achas ao pé da árvore da Cruz, para ofereceres a Deus Pai a vida de seu adorável Filho. Se tiveres ainda a ventura de comungar, faze que da chaga do sagrado Coração de Jesus estás bebendo o seu preciosíssimo Sangue.
Além disso deves lembrar-te que o assistir à missa é de algum modo oferecê-la; porque o sacerdote, sendo ministro público, obra, fala e ora em nome de todos os fiéis e em particular daqueles que assistem. De modo que, ouvindo devotamente a missa, também tu, posto que não sejas sacerdote, ofereces de algum modo a Deus um sacrifício de valor infinito, e pagas-Lhe, segundo a justiça, as quatro grandes dividas que Lhe deves: a de honrá-Lo tanto como merece a sua grandeza; a de satisfazer-Lhe, conforme exige a sua justiça; a de agradecer-Lhe à proporção da sua liberalidade; e finalmente a de pedir-Lhe tudo o que exige a nossa miséria.
É, pois, com razão que um autor célebre dizia:
“Antes quisera eu perder o mundo inteiro, do que uma só missa, porque sei que o que na terra podemos fazer de mais sublime para a glória de Deus é exatamente a missa, na qual o próprio Jesus Cristo se oferece para dar a seu Pai uma glória infinita. — Que consolo sinto depois de assistir à missa! Então, posto que não seja sacerdote, eu também ofereci à Deus um sacrifício de valor infinito. Ó meu amado Jesus, que tesouro inestimável possuímos em Vós, se soubéssemos apreciá-lo.” (1)
II. Ainda que a missa tenha um valor infinito, Deus o aceita de um modo finito, segundo a disposição daquele que a ouve. Por isso, procura ouvir quantas missas puderes. — Visto que a Igreja católica tem seus ministros em todas as regiões que o sol ilumina sucessivamente, e assim, por consequência, não há hora do dia ou da noite em que não se celebre em alguma parte do mundo o divino sacrifício, forma de manhã a intenção de assistir a todos estos milhares de missas, e com este pensamento consolador santifica todas as ocupações do dia e todos os momentos de insônia durante a noite.
Convence-te de que o dia começado devotamente ao pé do altar será um dia acompanhado da bênção de Jesus Cristo; será, portanto, um dia cristão e cheio de merecimentos para a vida e para a eternidade. Oh! Quão abundante provisão de paciência, de força, de resignação para durante o dia tiram as almas desta fonte inesgotável do divino sacrifício!
Meu Deus, adoro a vossa Majestade infinita e quisera honrar-Vos tanto como mereceis. Mas que honra Vos pode dar um pecador miserável? Ofereço-Vos a honra que continuamente Vos tributa Jesus Cristo sobre o altar em todas as missas que agora estão sendo celebradas e serão celebradas no futuro, até à consumação dos séculos.
— Detesto, ó Senhor, e abomino mais que todos os males, os desgostos que Vos hei causado, e em satisfação ofereço-Vos o vosso Filho, que por nosso amor se sacrifica novamente sobre o altar. Eu Vô-lo ofereço também em ação de graças por todos os favores que me tendes dispensado desde o princípio da minha vida até ao presente. Rogo-Vos, pelos merecimentos desse preciosíssimo Sangue, que me perdoeis as ingratidões para convosco, e me concedais um amor ardente a Jesus sacramentado, e a santa perseverança até à morte.
— Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe, Maria, peço-vos a mesma graça.
Referências:
(1) M. de Bernières
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 326-329)

Fonte:

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Em que coisas nos devemos conformar com a vontade divina

Compaixão (William Bouguereau, 1825-1905)
Si bona suscepimus de manu Dei, mala quare non suscipiamus? – “Se temos recebido os bens da mão de Deus, porque não receberemos também os males?” (Jó 2, 10)
Sumário. É certo que tudo o que acontece no mundo, acontece pela vontade ou permissão divina. Mesmo quando alguém nos prejudica nos nossos bens ou na reputação, ainda que Deus não queria o pecado do ofensor, quer todavia os efeitos, isto é, a nossa pobreza e humilhação. Quando, pois, nos acontecem desgraças, seja qual for a sua causa imediata, consideremo-las como vindas das mãos de Deus, e aceitemo-las não só com paciência, senão com alegria, porquanto serão no céu as joias mais preciosas da nossa coroa.
I. Devemo-nos conformar com a vontade de Deus, não só nos males que nos vêem diretamente d’Ele, tais como doenças, desolações espirituais, perda de bens ou de parentes; mas ainda nos que vêem só indiretamente de Deus, isto é, por meio dos homens, como infâmias, desprezos, injustiças e todas as outras espécies de perseguições. É de observar que, quando alguém nos faz algum agravo nos bens ou na honra, Deus não quer o pecado do que nos ofende, mas sim a nossa pobreza e a nossa humilhação. Numa palavra, tudo vem de Deus, tanto os bens como os males.
Chamam-se males, porque nós os chamamos e os fazemos assim. Se os recebêssemos com resignação das mãos de Deus, não seriam para nós males, mas bens. As pedras preciosas que mais adornam a coroa dos Santos, são as tribulações que aceitaram por amor de Deus, pensando que tudo nos vem das suas mãos divinas. — Quando o santo homem Jó recebeu a notícia de que os Sabeus lhe haviam roubado os bens, que respondeu ele? Dominus dedit, Dominus abstulit (1) — “O Senhor os deu, o Senhor os tirou”. Não disse: o Senhor me deu esses bens e os Sabeus m´os roubaram; mas disse: o Senhor m´os deu, o Senhor m´os tirou. Por isso bendisse o nome do Senhor, pensando que tudo tinha acontecido pela sua vontade: Sicut Domino placuit, ita factum est; sit nomen Domini benedictum.
Quando os santos mártires Epicteto e Astion eram atormentados com ganchos de ferro e tochas acesas, não proferiam senão estas palavras:
“Senhor, cumpra-se em nós a vossa vontade!”
E quando expiravam, as suas últimas palavras foram estas:
“Bendito sejais, ó Deus eterno, por nos terdes dado a graça de cumprir em nós o vosso santo beneplácito.”
— A mesma coisa nós devemos fazer, quando nos sucedam algumas contrariedades; recebamo-las todas da mão de Deus, não só com paciência, mas até com alegria; seguindo o exemplo dos apóstolos, que se regozijavam de ser maltratados pelo amor de Jesus Cristo (2). Que maior satisfação poderemos ter, do que abraçar algumas cruzes e saber que abraçando-as podemos ser agradáveis a Deus?
II. Se quisermos viver em paz contínua, tenhamos d´ora em diante, o cuidado de nos unirmos estreitamente à vontade de Deus, dizendo em tudo o que nos suceda: Ita, Pater, quoniam sic fuit placitum ante te (3) — “Senhor, assim é que foi do vosso agrado! Seja feito assim!”. Para este fim devemos dirigir todas as nossas meditações, comunhões, visitas e orações. Ofereçamo-nos incessantemente ao Senhor dizendo: Meu Deus, eis-me aqui: disponde de mim segundo a vossa vontade. Santa Teresa oferecia-se a Deus pelo menos cinquenta vezes ao dia, e pedia-lhe que dispusesse dela à sua vontade.
— Quando as cruzes se nos afigurarem demais pesadas, lancemos um olhar sobre Jesus crucificado e pensemos na glória celeste. As plantas destinadas a serem transplantadas ao paraíso devem deitar suas raízes no Calvário. Elas crescem tão somente à sombra da Cruz, e não se multiplicam enquanto não forem regadas pelo sangue que os açoites, os espinhos e os cravos fizeram correr das chagas do Salvador. Numa palavra, a Cruz demonstra a virtude dos santos e aperfeiçoa as obras.
Ah, meu divino Redentor! Vinde e doravante reinai só na minha alma. Atraí a Vós toda a minha vontade, a fim de que só deseje e queira o que Vós quiserdes. Meu Jesus, no passado tantas vezes Vos desagradei, opondo-me às vossas santas vontades; arrependo-me disso e detesto-o de todo o coração. Mereço os castigos, não os recuso; mas não me castigueis privando-me do vosso amor.
Ó Sangue do meu Jesus, em vós espero estar sempre ligado à divina vontade; ela será a minha guia, o meu desejo, o meu amor e a minha paz. Nela é que sempre quero viver e repousar. Em tudo o que me acontecer, direi sempre: Meu Deus, assim o quisestes, assim o quero; meu Deus, só quero o que Vós quiserdes, seja feita sempre em mim a vossa vontade: Fiat voluntas tua. Meu Jesus, pelos vossos merecimentos, concedei-me a graça de Vos repetir sem cessar esta bela palavra de amor: Seja feita a vossa vontade! — Fiat voluntas tua!
— Ó Maria, minha Mãe, como sois feliz por terdes sempre e em tudo cumprido a vontade de Deus! Fazei que também doravante eu a possa cumprir! Minha Rainha, por todo esse amor que tendes a Jesus Cristo, peço-vos que me alcanceis esta graça: de vós a espero.
Referências:
(1) Jó 1, 21
(2) At 5, 4
(3) Mt 11, 26


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 319-321)

Fonte:

domingo, 24 de dezembro de 2017

Jesus nasce em Belém


A Luz veio ao mundo

O nascimento de Jesus (cf. Lc 2, 1-20) é contemplado pela Liturgia da Igreja sob o símbolo da Luz: «Ó Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz!»«O povo que caminhava na escuridão viu uma grande luz»«Hoje surgiu a luz para o mundo: o Senhor nasceu para nós».
Todas essas expressões são um eco das palavras do prólogo do Evangelho de São João:
No princípio era o Verbo […] e o Verbo era Deus. […] Nele estava a Vida, e a vida era a Luz dos homens. […] Era a Luz verdadeira, que vindo ao mundo, ilumina todo homem […]. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós (Jo 1, 1 seg.)
Neste capítulo, a nossa meditação quer ser mais contemplativa: ajudar-nos a voltar os olhos e o coração para Jesus Menino, que repousa sobre as palhas do Presépio, envolto nos paninhos que a Mãe lhe preparou, de modo a sentirmos o impulso de agradecer-lhe a sua entrega «por nós, homens e para a nossa salvação», e de adorá-lo: Meu Senhor e meu Deus!
O Menino que vemos deitado na manjedoura é Deus feito homem. É o Redentor que vem para nos salvar.
Tanto amou Deus o mundo – diz o Evangelho após a conversa de Jesus com Nicodemos – que lhe deu seu Filho único. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele (Jo 3, 16-17)
Este é o coração da nossa fé! O Menino nos dá a certeza de que Deus, que é amor, nos ama com loucura. Deus é amor! – escrevia são João. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado o seu Filho único, para que vivamos por Ele (1 Jo 4, 8-9).
Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou…O mistério da Encarnação extasiava esse Apóstolo e o levava a dizer na sua primeira Carta (1, 1): Nós o vimos com os nossos olhos, nós o contemplamos, nós o ouvimos, nós o tocamos com as mãos…! E, como que lamentando a tristeza dos que são incapazes de «ver», acrescentava: Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor (4, 8).

Sinais do Amor, tesouros do Amor

Jesus nos ama – a você, a mim, a cada um – com toda a força do seu Amor divino e humano. É um amor que tem dois sinais da autenticidade. Em primeiro lugar, é uma doação plena. Um amor que não se dá não é amor. Mas não é um dar-se qualquer, é uma doação que visa o nosso bem. E aí está o segundo sinal: todo verdadeiro amor quer bem, quer o bem, dá-se procurando o bem da pessoa amada.
Qual é o bem que Jesus nos traz? Todos os bens! A vida divina – Deus em nós – aqui na terra e a vida eterna. Desse tesouro, nós podemos extrair especialmente três riquezas:
• A riqueza da Verdade que Ele nos ensina.
• A riqueza do Caminho do Céu, que Ele nos mostra com o seu exemplo e a sua palavra.
• E a riqueza da Vida nova dos filhos de Deus – concedida pela graça do Espírito Santo -, que chega até nós a partir do seu Coração trespassado na Cruz.

Tudo isso resumiu-o Jesus, na Última Ceia, numa só frase: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Meditemos nessas palavras.
Eu sou a Verdade. Vem à memória a alegria do pai de São João Batista, Zacarias – marido de santa Isabel -, quando, no dia do nascimento de João, profetizou o próximo nascimento de Jesus como fruto da
ternura e misericórdia do nosso Deus, que nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente, que há de iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz (Lc 1, 78-79)
Desde antes de nascer, Jesus já é anunciado como o Sol, como a luz, a luz da Verdade, que nos guiará para a paz.
Já percebeu que a Verdade que Ele nos traz não é uma verdade qualquer: é a verdade- verdadeira? É – como dizia são João Paulo II – «a Verdade sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo» (Cf. Carta Encíclica Redemptoris Missio, 07.12.1990, n. 3; e Carta Encíclica Redemptor Hominis, 04.03.1979, n. 12).
Mas essa Verdade – como Jesus explicava – é parecida com a «semente» na mão do semeador (cf. Mt 13, 1-23; Mc 4, 1-20; Lc 8, 1-15). Pode perder-se no caminho, cair sobre as pedras ou entre espinhos, e morrer; ou pode cair numa boa terra e dar fruto.
Se procurarmos acolher a Verdade – com maiúscula -, a nossa vida irá sendo reflexo da vida de Cristo Jesus, e nada deste mundo poderá abalar a nossa fé.
Aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha (Mt 7, 24-27).
Uma casa que nem a chuva, nem o vento, nem as tormentas conseguirão derrubar.
Eu sou o Caminho. Olhe para Jesus Menino. Descobrirá que toda a vida dele – desde que nasceu até que subiu ao Pai -, é uma irradiação de exemplo, é a sinalização luminosa do caminho que leva para Deus.
É lógico que Cristo nos diga: Segue-me!… Porque nos quer bem. Ele nos compara às ovelhas que Ele, o Bom Pastor, conduz com segurança entre brumas, penhascos e perigos, até o lugar do repouso. Ele é o Bom Pastor, que anda na frente, marcando o rumo com as suas pegadas.
Se nos acostumarmos a ler e meditar todos os dias o Evangelho, para conhecer cada vez mais a fundo a vida e o exemplo de Cristo, entenderemos (e praticaremos) o que dizia São Paulo:
Progredi no amor, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou como oferenda e sacrifício de suave odor (Ef 5, 2).
O Amor cristão não é fumaça nem perfumaria; não é uma teoria, não é uma paixão que arde e se evapora. Ou ele se manifesta por obras e de verdade – com frase são João (1 Jo 3, 18) – ou é uma miragem. Deve se concretizar na prática das virtudes: deve ser um amor generoso, compreensivo, dedicado, paciente, constante, forte na adversidade, caridoso, gentil, prestativo, e justo e discreto… Um amor que cada dia cresce na entrega a Deus e ao próximo.
Eu sou a Vida. Com o olhar e o coração fixos no Menino, pensemos na terceira coisa que Ele nos diz: Eu sou a Vida. Jesus é Deus que se faz homem, para que o homem, de uma maneira que não há palavras para expressar, se faça «Deus», se torne – como dizia São Pedro – participante da natureza divina (2 Pe 1, 11). É um pensamento que – desde os primeiros séculos do Cristianismo – deixava pasmados os santos, inebriados de alegria e de agradecimento.
Significa que Jesus nos traz a graça divina, a «graça do Espírito Santo», que nos une intimamente a Ele e nos faz participar da sua própria Vida:
Da sua plenitude – diz São João – todos nós recebemos, e graça sobre graça. Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo (Jo 1, 17-18).
A graça do Espírito Santo, recebida pela primeira vez no Batismo, nos faz renascer para uma vida nova, transformando-nos em filhos de Deus. O Novo Testamento traz expressões belíssimas desse mistério. Por exemplo, São João afirma que a graça nos dá o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12). E São Paulo declara, com grande alegria, que, com a graça do Espírito Santo, recebemos o espírito de adoção como filhos, pelo qual clamamos: Abbá, Pai! Papai! (Rom 8, 15).
Jesus foi e será sempre a fonte de toda a graça, uma «fonte» que não para de jorrar. Aquele que tiver sede, venha a mim e beba (Jo 7, 37), diz-nos. E nos promete derramar em nós, sem medida, o Espírito Santo, amor de Deus que santifica.

As Sete Fontes

Jesus é como um manancial de onde brotam as sete fontes pelas quais nos vem principalmente a graça: os sete Sacramentos. Cada um deles nos une a Deus (e aos irmãos) de uma maneira própria.
Batismo purifica-nos da culpa original e nos transforma – como víamos – em filhos de Deus; [Cristian: o Crisma é o óleo perfumado, e a Crisma é o Sacramento]Crisma dá-nos a força do Espírito Santo para sermos cristãos responsáveis, maduros e ativos no apostolado; a Reconciliação ou Confissão cura a alma doente e ressuscita a que está morta pelo pecado; a Eucaristia une-nos intimamente ao Sacrifício redentor de Jesus, que se faz Alimento, vida da alma, e oferece companhia de Amigo no Sacrário; o sacramento da Ordem faz com que os que recebem a ordenação sacerdotal (bispos e presbíteros) sejam instrumentos vivos de Cristo sacerdote, ajudados pelo ministério dos diáconos; o Matrimônioimplanta a poderosa semente da graça sacramental e a caridade de Deus no amor dos esposos e dos pais; e a Unção dos Enfermos é a mão carinhosa de Jesus, que nos ergue da doença, ou – quando é o caso – nos encaminha definitivamente para o Céu.
E, assim, os sete Sacramentos, juntamente com as virtudes e com a força poderosa da oração – que é a respiração vital da alma do cristão – vão-nos identificando com Cristo, vão- nos transformando nEle, fazem com que pensemos como Cristo, sintamos como Cristo, amemos como Cristo, vivamos como Cristo. Isto é a vida cristã.
Depois de pensar nessas realidades, não acha que o Natal é o momento certo para nos perguntarmos, diante de Jesus Menino:
«Eu vivo como filho de Deus? A minha oração é uma oração de filho, cheia de entrega e de confiança? Posso dizer que o meu temor é filial, ou seja, que não temo que Deus me abandone ou me castigue, mas temo só magoá-lo, ofendê-lo? Cumpro os mandamentos com carinho de filho, ou com a má vontade do forçado? Tenho delicadezas de afeto filial para com Deus, para com Nossa Senhora? Enfim, eu poderia pôr o adjetivo filial em tudo o que penso, sinto e faço em relação a Deus?»
Com a ajuda do Menino-Deus e da sua Mãe santíssima, nós podemos viver assim. Pensemos, então nesta realidade: em cada Natal, Deus chega muito perto de nós; em cada Natal, Jesus – ultrapassando as barreiras do tempo – leva-nos para junto do Presépio; em cada Natal, Maria, a Mãe, oferece-nos o Menino, sob o olhar sorridente de José. E, em cada Natal, Jesus também sorri para nós e nos pergunta:
«Será agora? Será desta vez…? Confia» – diz-nos -, «eu nasci para te ajudar»

9º Dia da Novena de Natal

Ascendit autem et Joseph… ut profiteretur cum Maria desponsata sibi uxore praegnante.
José foi também… para se recensear juntamente com sua esposa Maria que estava grávida. (Lc 2,4).
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Deus havia decretado que seu Filho nascesse não na casa de José, mas numa gruta, num estábulo, da maneira mais po­bre e mais penosa que possa nascer uma criança; e por isso dispôs que César publicasse um edito pelo qual cada um era obrigado a ir inscrever-se no lugar de sua origem.

sábado, 23 de dezembro de 2017

8º Dia da Novena de Natal

Apparuit gratia Dei Salvatoris nostri omnibus hominibus, erudiens nos, ut… pie vivamus in hoc saeculo, expectans beatam spem et adventum gloriae magni Dei et Salvatoris nostri Jesu Christi
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A graça de Deus nosso Salvador apareceu a todos os homens e nos ensinou a viver no século presente com piedade aguardando a beatitude que esperamos, e a vinda da glória de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo (Tt 2,11)
Considera que por essa graça de que aqui fala o apóstolo, entende-se o ardente amor de Jesus Cristo aos homensamor que não merecemos e que por essa razão é chamada graça.
Esse amor em Deus foi sempre o mesmo, mas não apareceu sempre. Foi, primeiramente, prometido por um grande número de profecias e anunciado por muitas figuras; mas apareceu manifestamente quando o Redentor nasceu, quando o Verbo eterno se mostrou aos homens sob a forma duma criancinha, reclinada sobre palha, chorando e tremendo de frio, começan­do assim a satisfazer pelas penas por nós merecidas, e fazen­do-nos conhecer o afeto que nos tinha pelo sacrifício que fez de sua vida por nós. Nisto conhecemos o amor de Deus, diz S. João, em ter ele dado a sua Vida por nós,Apareceu pois o amor do nosso Deus e apareceu a todos os homens: Omnibus hominibus, Mas por que não o conhece­ram todos, e, ainda hoje nem todos o conhecem? Eis como Jesus mesmo responde a essa pergunta .A luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à luz. Não o conheceram e não o conhecem porque não querem conhecê-lo, amando mais as trevas do pecado do que a luz da graça.   . 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

7º Dia da Novena de Natal

In própria venit, et sui eum non receperunt.
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Veio para o que era seu, e os seus o não receberam (Jo 1, 11)
Um dia, durante as festas do Natal, S. Francisco de Assis andava chorando e suspirando pelos caminhos e florestas, e parecia inconsolável. Perguntaram-lhe a causa de sua dor e ele respondeu: “Como quereis que eu não chore, vendo que o amor não é amado? Vejo um Deus amar o homem até a loucura, e o homem ser tão ingrato a esse Deus!” Se a ingratidão dos homens afligia tanto o coração de S. Francisco, imaginemo-nos quanto mais afligiu o coração de Jesus Cristo.
Apenas concebido no seio de Maria, ele viu a cruel ingrati­dão, que devia receber dos homens. Viera do céu para acender na terra o fogo do amor divino; esse único motivo o levou a dei­xar-se imergir num abismo de dores e opróbrios: Vim trazer o fogo sobre a terra, e que quero senão que se inflame? E via um abismo de pecados que os homens iriam cometer depois de receberem tantas provas de seu amor! Eis, diz S. Bernardino de Sena, o que lhe causou uma dor infinita.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

A Arte de aproveitar as próprias faltas

Foto de Ad Majorem DEI Gloriam.




"Gostava S. Joana Francisca de Chantal de repetir estas doutrinas do seu bem-aventurado Pai espiritual: "Minha querida menina, escrevia ele a uma irmã, os vossos desânimos são uma verdadeira tentação. Pois, dizei-me, que frutos tirais deles e quais os motivos para os ter? Pensais que em nosso poder está nunca desatender a Deus e não cometer imperfeições? Seria preciso ser anjo. Peço-vos, pois, que vos acomodeis com esta vida de misérias, mas sem desânimo. Mais agrada a Deus esta humilhação, este amor da vossa abjeção feita com tranquilidade e paz do que as vossas fidelidades de capricho."

6º Dia da Novena de Natal

Factus sum sicut homo sine adjutorio, inter mortuos liber.
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Tornei-me como um homem sem socorro, abandonado entre os mortos (Salm. 87,5).
Considera os sofrimentos de Jesus Cristo no seio de sua Mãe, onde esteve como numa prisão, durante nove meses. É verdade que as outras crianças se acham no mesmo estado, mas não lhe sentem os incômodos, porque os não conhecem. Jesus, ao contrário, tinha pleno conhecimento deles, pois desde o primeiro instante de sua vida, teve o perfeito uso da razão: Possuía os sentidos e não podia servir-se deles; tinha olhos e não podia ver; tinha língua e não podia falar; tinha mão e não podia estendê-las; tinha pés e não podia andar, de sorte que durante nove meses teve de ficar no seio de Maria como um morto encerrado num sepulcro: Como um homem sem socorro, abandonado entre os mortos. Era livre, porque voluntariamente se fizera prisioneiro de amor naquele cárcere; mas o amor o privava da liberdade e lá o conservava tão estreitamente preso, que não podia mover-se: ele era livre, porém, entre os mortos. Ó paciência do Salvador! exclama S. Ambrósio ao considerar os sofrimentos de Jesus no seio de Maria.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Pecados Calados na Confissão

Foto de Ad Majorem DEI Gloriam.



"E ouça como foi: Certa noite, estava o santo confessando no coro da Igreja de São Francisco de Sales em Turim; era grande o número de jovens ali reunidos, esperando que chegasse a sua vez. Pelo confessionário passam dez, passam vinte, e chega finalmente um que, tendo já feito uma parte da confissão, pára de repente.
— Continue, diz-lhe D. Bosco, que por inspiração divina lia na consciência dos seus filhos.
— Continue! E o resto?
— Não há mais nada, Padre, mais nada!
- Não temas, meu filho, continua o Santo, o Confessor não ralha, não castiga, perdoa sempre, perdoa sempre, perdoa tudo em nome de Deus; tem coragem...confessa-te bem...
— Não há mais nada! Nada mais!...

5º Dia da Novena de Natal

Oblatus estquia ipse voluit.
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Foi oferecido porque ele mesmo quis (Is 53,7).
Desde o primeiro instante que o Verbo divino se viu feito homem e criança no seio de Maria, ofereceu-se sem reserva aos sofrimentos e à morte, para resgatar o mundo: Foi oferecido porque ele mesmo quis. Sabia que todos os sacrifícios de bodes e touros, oferecidos a Deus no passado, não podia satisfazer pelos pecados dos homens, que só uma pessoa divi­na podia pagar o preço de sua redenção: Eis por que, escreve S. Paulo, desde sua entrada no mundo ele diz: Não quisestes hóstia nem oblação, mas me formastes um corpo… Então eu disse: Eis-me que venho. Meu Pai! todas as vítimas que vos foram oferecidas até agora, não foram suficientes e não podiam sê-lo para desarmar vossa justiça; destes-me este corpo passível a fim de que pela efusão do meu sangue eu vos apla­que e salve os homens. Eis-me pronto: Ecce venio; aceito tudo e me submeto em tudo à vossa santa vontade.

SEJA UM BENFEITOR!