sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Nunca se viu um homem jejuar com discernimento e ser assaltado por maus desejos

Tal como os olhos sãos desejam a luz, assim o jejum efetuado com discernimento suscita o desejo da oração. Quando um homem começa a jejuar, deseja comunicar com Deus nos pensamentos do seu espírito. 

Com efeito, o corpo que jejua não suporta dormir toda a noite no seu leito. Quando o jejum sela a boca do homem, este medita em estado de contrição, o seu coração reza, o seu rosto está sério, os maus pensamentos deixam-no; é inimigo das cobiças e das conversas vãs. Nunca se viu um homem jejuar com discernimento e ser assaltado por maus desejos. O jejum feito com discernimento é uma grande casa que protege muito bem… 

Porque o jejum é a ordem que foi dada desde o início à nossa natureza, para não comer o fruto da árvore (Gn 2,17), e é daí que vem aquilo que nos engana… Foi também por aí que o Salvador começou, quando se revelou ao mundo no Jordão. Com efeito, depois do batismo, o Espírito levou-o ao deserto, onde jejuou quarenta dias e quarenta noites. 

Todos os que partem para o seguir fazem doravante o mesmo: é sobre este fundamento que põem o início do seu combate, porque tal arma foi forjada por Deus… E quando agora o diabo vê essa arma na mão de um homem, este adversário e tirano tem medo. Ele pensa imediatamente na derrota que o Salvador lhe infligiu no deserto, recorda-se e a sua força é quebrada. Consome-se assim que vê a arma que nos deu aquele que nos conduz ao combate. Que arma pode ser mais poderosa e reanimar tanto o coração na sua luta contra os espíritos do mal?

Isaac o Sírio (século VII), monge perto de Mossul in 'Discursos ascéticos', 1.ª série, n.º 85 

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