“E o sangue que d’Ele escorria era o
preço dos nossos pecados”
“o homem das dores e o mais
desprezado de todos os homens" (Is 53,3).
Um sacrifício de valor
infinito.
"pelo pecado do homem, dirigido contra Deus, a ordem da justiça foi
infringida de uma maneira infinita, e Deus foi infinitamente ofendido. Na base
dessa conclusão está a idéia que a gravidade da ofensa se orienta no ofendido,
ou seja, o peso da ofensa varia de acordo com o objeto da ofensa. Como Deus é
infinito, também a ofensa cometida contra ele pelo pecado da humanidade tem um
peso infinito. O direito violado precisa ser restabelecido, porque Deus é um
Deus da ordem e da justiça, ou melhor, ele é a própria justiça. Como a medida
da ofensa é infinita, exige-se também uma reparação infinita. Ora, o ser humano
não é capaz de oferecer uma reparação infinita, porque como ser finito, ele
sempre só pode oferecer algo que será finito. A sua força destruidora
ultrapassa sua capacidade de construir. Por isso haverá sempre uma distância
infinita entre todas as reparações tentadas pelo ser humano e o tamanho de sua
culpa, ou seja, um abismo que ele nunca será capaz de superar. Qualquer gesto
de desagravo só há de provar-lhe a sua incapacidade de fechar o abismo que ele
mesmo abriu. Isso significa que a ordem permaneceria destruída para sempre e
que o ser humano continuaria eternamente preso ao abismo de sua culpa? (...)
Deus mesmo corrige a injustiça; mas ele não recorre simplesmente à decretação
de uma anistia (apesar de ter essa possibilidade), porque esta não superaria
intrinsecamente o acontecido. Então o Deus infinito se torna ele próprio ser
humano, e como ser humano que faz parte dos ofensores, mas que possui também o
poder de reparação infinita que é negada ao ser humano comum, ele presta o
desagravo exigido. Dessa maneira, a salvação se realiza totalmente pela graça e
restabelece, ao mesmo tempo, toda a ordem de direito. (Cf. SANTO ANSELMO.
Por que Deus se fez homem ? São Paulo: Novo Século, 1998; Cf. RATZINGER, J.,
Introdução ao cristianismo, São Paulo, Loyola, 2005, pp. 172-173)
“(...) foi conveniente tanto à misericórdia como à justiça divina ser o
homem libertado pela paixão de Cristo. À justiça porque, por sua paixão, Cristo
deu satisfação pelo pecado do gênero humano e assim o homem, pela justiça de
Cristo, foi libertado. À misericórdia porque, não podendo o homem, com suas
forças, dar satisfação pelo pecado de toda natureza humana (...) Deus lhe deu
seu Filho para cumprir essa satisfação (...). O que se tornou uma misericórdia
mais abundante do que se tivesse perdoado os pecados sem satisfação” (SANTO TOMÁS DE
AQUINO, Suma Teológica, IIIa, q. 1,
a . 2, rep)
"Se não fosse a morte de nosso Senhor, todos os homens juntos não
poderiam expiar uma pequena mentira." (S. João Maria Vianney)
Um sacrifício
imaculado.
Um sangue purificador.
O profeta Isaías predissera que nosso Redentor deveria ser condenado à
morte e levado ao sacrifício como um inocente cordeiro (Is 53,7). Ele nos amou e nos
lavou dos nossos pecados em seu sangue (Ap 1,5).
Uma loucura de amor.
Caridade infinita de Deus.
Diz Santo Ambrósio: “Ele se fez na cruz maldito para que fôssemos
bem-aventurados no reino de Deus”, (Ep. 47). Cristo deixou-se
assassinar para oferecer sua vida aos assassinos.
O que mais inflamava S. Paulo a amar a Jesus era o pensar que ele quis morrer
não somente por todos em geral, mas também por ele em particular. “Ele me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20).
“Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá sua vida por suas ovelhas”
(Jo 10,11).
"Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus
amigos". (Jo 15,13)
"A lei divina impõe a obrigação aos homens de amar a seu próximo como a si
mesmo. Jesus, porém, amou os homens mais do que a si mesmo" diz São
Cirilo.
"Uma loucura de amor, diz o cardeal Hugo, querer um Deus
morrer pelo homem (In 1Cor 1). Quem pôde, alguma vez, levar Deus a morrer condenado numa cruz no meio
de dois criminosos, com tanta vergonha para grandeza de Deus? Quem fez isto?
Pergunta são Bernardo. E responde: “Foi
o amor, que esqueceu sua dignidade”.
São Lourenço Justiniano dizia: “Vimos a
própria sabedoria, o Verbo encarnado enlouquecido por excessivo amor pelos
homens”. Mas Dionísio Areopagita dizia: “Não, não é uma loucura. O amor de Deus
tem como efeito sair fora de si aquele que ama, e se dar inteiramente à pessoa
amada”.
São Boaventura dizia que as chagas de Jesus ferem
os corações mais duros e aquecem as almas mais frias”. São Paulo tinha razão em
chamar de condenado aquele que não ama a Jesus Cristo: “Se alguém não ama o
Senhor, seja condenado”. (1Cor 16, 22). Quem não se enamora de Deus, vendo
Cristo morto na cruz, não se abrasará jamais. S. Boaventura, não via justo
motivo da morte de Jesus, senão o afeto excessivo que tinha pelos homens (Stim. div. am. p. 1 c. 2). (S. AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. A
prática do amor a Jesus Cristo)
S. Bernardo diz: "Para libertar o escravo, o Pai não poupou a seu Filho e
o Filho não se poupou a si mesmo" (SÃO BERNARDO.Sermão sobre a paixão
do Senhor).
Ó caridade infinita de Deus: Sabendo Jesus que chegara a sua hora de se ir
deste mundo para seu Pai, tendo amado os seus, amou-os até ao fim (Jo 13,1).
Homem das dores.
“Cuspiram-lhe então no rosto e deram-lhe bofetadas” (Mt 26,67).
“Entreguei meu corpo aos que me feriam e minha face aos que a laceravam;
não desviei o rosto dos que me injuriavam e me cobriam de escarros” (Is 50,6).
Diz S. Jerônimo que só no dia do juízo final serão conhecidas todas as
penas e injúrias que Jesus sofreu naquela noite.
Um cordeiro sem mancha.
Tendo amanhecido,
os judeus conduziram Jesus a Pilatos, para que fosse condenado à morte. Pilatos
declara-o inocente: “Não encontro nenhuma culpa neste homem” (Lc 23,4). S.
Boaventura diz que Pilatos desprezou-o como incapaz, porque não fez milagres;
como ignorante, porque não respondeu uma única palavra; como louco, porque se
não defendeu. E no entanto ele era a própria Sabedoria de Deus. Pilatos não o
reconhecer por causa de sua cegueira.
Flagelado como um
criminoso.
Os chicotes não só cobriam de feridas seu corpo inteiro, como também
arrancavam pedaços de carne, ficando essas carnes sagradas totalmente rasgadas,
podendo-se contar todos os ossos (S.Boaventura. Contens. 1. 10, d. 4,
c. 1).
Concordam todos os doutores com S. Boaventura que escolheram para esse
serviço os instrumentos mais bárbaros, de maneira que cada golpe abria uma
chaga, como diz S. Anselmo, chegando os golpes a milhares, porque, segundo o
Padre Crasset, a flagelação foi feita conforme o uso dos romanos e não dos
judeus, aos quais era proibido ultrapassar o número de quarenta vergastadas (Dt 25,3).
Os santos concordam em dizer que Jesus foi de tal maneira dilacerado na
flagelação, que foram postas a descoberto as suas costelas. O mesmo foi
revelado à S. Brígida pela Santíssima Virgem: “Eu, que estava presente, vi seu
corpo flagelado até às costas, de modo que eram visíveis suas costelas. E o
mais doloroso era que, ao retraírem-se, os chicotes vinham com pedaços de carne”.
(Santa Brígida, Lib. I revel., c. 10). Isaías afirmou que sua santíssima
carne na paixão não só seria toda dilacerada, mas também toda triturada e
despedaçada (Is 53,5).
Desprezado.
“E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lhe
sobre a cabeça”. (Mt 27,27-29).
Os santos da Igreja concordam que este tomento de espinhos foi
excessivamente doloroso, porque perfuravam toda a sagrada cabeça do Senhor,
parte sensibilíssima, já que da cabeça partem todos os nervos e sensações do
corpo. Além disso, foi o tormento mais prolongado da paixão, pois Jesus
suportou até à morte esses espinhos, tendo-os enterrados em sua cabeça. Todas
as vezes que lhe tocavam nos espinhos ou na cabeça, se renovavam todas as
dores. Segundo S. Vicente Ferrer, a coroa foi entrelaçada de vários ramos de
espinhos em forma de capacete ou chapéu, de modo que envolvia toda a cabeça e
descia até ao meio da testa conforme foi revelado a S. Brígida (Lib. 4 Rev. c.
70). E, como afirma S. Lourenço Justiniano os espinhos eram tão longos que
chegaram até a penetrar no cérebro (De triumph. Cti. Ag. c. 14). S. Brígida
escreveu que várias torrentes de sangue corriam por sua face, enchendo seus
cabelos, seus olhos, e sua barba, não se vendo outra coisa senão sangue (Lib. 4 Rev. c.
70). E S. Boaventura chegou a dizer que não parecia ser mais a bela face do
Senhor, mas a face de um homem esfolado. Foram os nossos pecados, nossos maus
pensamentos os espinhos cruéis que atravessaram a cabeça de Jesus Cristo.
Os golpeado pelos nossos pecados.
Santa Brígida desejando saber quantos açoites havia recebido Nosso
Senhor em sua Paixão ,
recebeu certo dia o próprio Jesus dizendo-lhe: Recebi em meu corpo 5.480
açoites.
Crucificado
pelas nossas iniquidades.
“E depois de chegados ao lugar chamado Calvário, aí
o crucificaram” (Lc 23,33).
Diz Tertuliano que a cruz foi o nobre instrumento com que Jesus Cristo
se adquiriu tantas almas, porque, morrendo nela, pagou a pena de nossos
pecados” e abriu as portas do céu. “A cruz é a escada do céu” dizia São João
Maria Vianney), dizia também que “A cruz é a chave que abre a porta do céu”;
“E eu, quando for exaltado da terra, atrairei tudo a mim. Ora, isso ele
dizia para indicar de que morte havia de morrer” (Jo 12,32).
Tendo o Senhor chegado com grande dificuldade, mas ainda vivo ao monte,
arrancaram-lhe pela terceira vez com violência suas vestes pegadas às chagas de
sua carne dilacerada e o estenderam sobre a cruz. O cordeiro divino deita-se
sobre esse leito de tormentos, apresenta aos carrascos suas mãos e seus pés
para serem pregados e, levantando os olhos ao céu, oferece ao seu eterno Pai o
grande sacrifício de sua vida pela salvação dos homens. Cravada uma mão,
contraem-se os nervos, sendo por isso necessário que à força e com cordas se
puxassem a outra mão e os pés ao lugar dos cravos, como foi revelado a S.
Brígida, o que ocasionou a contorção e rompimento com dores horríveis dos
nervos e das veias (Liv. 1, c. 10), de tal maneira que se podiam contar todos os ossos, como já predissera
Davi: Atravessaram minhas mãos e meus pés e contaram todos os meus ossos (Sl 21,17).
Diz S. Agostinho não haver morte mais cruel que a morte da cruz (Tract. 36 in Jo), pois, como nota S.
Tomás (III q. 46, a .
6), os crucificados têm os pés e as mãos transpassados, partes essas que
sendo compostas de nervos, músculos e veias, são extremamente sensíveis à dor:
e o só peso do corpo pendido faz que a dor seja contínua e se aumente sempre
mais até à morte. S. Afonso relata que na crucifixão deram vinte e oito
marteladas sobre suas mãos e trinta e seis sobre seus pés.
Bigorna para punir em
seu corpo os nossos pecados.
"No sangue de Cristo manifesta-se a hediondez do pecado e quanto
ele desagrada a Deus. No sangue manifesta-se a justiça e a misericórdia.
Sabemos que se a culpa humana não desagradasse muito a Deus e não fosse de
graves consequencias para a nossa salvação, Deus não teria mandado o Verbo, seu
Filho Unigênito, como bigorna para punir no seu corpo os nossos pecados" (Santa Catarina de
Sena, Carta 76)
Sede de nosso amor.
Aproximando-se Jesus da morte, disse: :”Tenho sede”. Dizei-me, Senhor,
de que tendes sede? “Minha sede é a vossa salvação”, lhe faz dizer S. Agostinho
(In Ps. 33). Sede de nosso amor. “Deus tem sede de que tenhamos sede dele”, diz S.
Gregório Nazianzeno (Tetr. Sent. 34).
Abriu-nos a porta do
paraíso.
“Tudo está consumado”. Tudo está completo. Concluída a nossa redenção,
satisfeita a divina justiça, abriu para nós o paraíso. “Assim Deus amou o mundo
que lhe deu seu Filho unigênito” (Jo 3,16). “Mas Deus, que é
rico em misericórdia, pelo excessivo amor com que nos amou, nos vivificou em
Cristo quando estávamos mortos pelo pecado” (Ef 2,4).
Participar da cruz de Cristo.
“Muitos acompanham a Jesus até o partir do pão, raros até o beber do
cálice de sua paixão… Muitos amam a Jesus, enquanto não lhes sobrevêm
adversidades” (Tomás de Kempis, Imitação de Cristo)
“Seguir Jesus Cristo é aproximar dos espinhos” (São Paulo da Cruz)
“Quem não busca a cruz de Cristo não busca a glória de Cristo.” (São João da Cruz)
“Não recuso a cruz, porque, se recuso a cruz, recuso Jesus” (Santa Gema
Golgani)
Fonte principal:
A paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Santo Afonso
Maria de Ligório.
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