Pio XII
Repetidas vezes, e a propósito de diversos problemas, insistimos sobre a santidade da família, sobre seus direitos, finalidades, como célula fundamental da sociedade humana. Por isto sua vida, sua saúde, seu vigor, sua atividade, asseguram, na ordem, a vida,a saúde, o vigor, a atividade de toda a sociedade. Da existência, da dignidade, da função social que lhe advém de Deus, a família deve responder ao próprio Deus. Seus direitos, seus privilégios são inalienáveis, intangíveis; ela tem o dever, antes de tudo, diante de Deus, e em segundo lugar diante da sociedade, de defender, reivindicar, promover, efetivamente estes direitos e privilégios, não somente em própria vantagem, mas para a glória de Deus, para o bem da coletividade.
Para o cristão está vigente uma regra que lhe consente fixar com certeza a extensão dos direitos e dos deveres da família na comunidade do Estado. Ela é assim concebida: a família não é para a sociedade; mas a sociedade é que é para a família. A família é a célula fundamental, o elemento que constitui a comunidade estatal, já que, para usar a expressão mesma de Nosso predecessor Pio XI, de feliz memória, “a cidade é tal qual a fazem as famílias e os homens de que é formada, como o corpo é formado pelos membros.” Em virtude, por assim dizer, do instinto de conservação, o Estado deveria portanto cumprir o que, essencialmente e segundo o desígnio de Deus Criador e Salvador, é seu primeiro dever: garantir, de modo absoluto os valores que asseguram à família ordem, dignidade humana, saúde, felicidade. Estes valores que são os elementos mesmo do bem comum, não poderão jamais ser sacrificados àquilo que aparentemente poderia ser o bem comum. Indicamos, a título de exemplo, alguns que ameaçam muito hoje: a indissolubilidade do matrimônio; a proteção da vida antes do nascimento; (...) o direito dos progenitores sobre os filhos, no que diz respeito ao Estado; a plena liberdade para os progenitores de educar os filhos na verdadeira fé, e portanto, o direito dos progenitores católicos à escola católica; condições de vida pública tal que a família e sobretudo a juventude tenham a certeza moral de não provir delas a corrupção.
(...) Mas quanto aos direitos essenciais da família, os verdadeiros fiéis da Igreja empenhar-se-ão até o fim para sustentá-los. Poderá acontecer que, aqui ou ali, sobre algum ponto sejam constrangidos a ceder diante da superioridade de forças políticas, mas neste caso não se capitula, suporta-se. Além do mais, em casos semelhantes, é preciso que a doutrina seja salva, que todos os meios eficazes sejam colocados em prática para chegar gradualmente ao fim a que se não renunciou.
Entre estes meios eficazes, se não também imediatos, um dos mais potentes é a união dos pais de família, firmes nas próprias convicções e unidos na mesma vontade.
Outro meio que não ficará jamais estéril ainda antes de obter o resultado desejado e que, em falta ou na espera do sucesso que se continua a perseguir, traz sempre os frutos, é o cuidado, nesta coalizão de pais e de família, de empenhar-se em iluminar a opinião pública, de persuadi-la a pouco e pouco, de favorecer o triunfo da verdade e da justiça. Nenhum esforço para agir sobre ela deve ser descurado ou negligenciado.
Há um campo no qual esta educação, esta sã orientação da opinião pública se impõe com trágica urgência. Em tal setor ela foi pervertida por uma propaganda que não hesitaria chamar funesta, porque embora visando atingir os católicos, os que a exercitam não percebem que inconscientemente estão sendo enganados pelo espírito do mal.
Queremos referir-nos a escritos, livros e artigos concernentes à iniciação sexual, que hoje obtêm muitas vezes enormes sucessos de venda e inundam todo o mundo, invadindo a infância, submergindo a nova geração, perturbando os noivos e os jovens esposos.
Com toda a gravidade, atenção e dignidade que o argumento comporta, a Igreja tratou o problema de uma instrução em tal matéria, qual aconselham ou exigem seja o desenvolvimento físico e psíquico normal do adolescente, sejam os casos específicos nas diversas condições individuais. A Igreja com justo direito pode declarar que, no mais profundo respeito para a santidade do matrimônio, em teoria e na prática, deixou livres os esposos naquilo que o impulso de uma natureza sã e honesta, sem causar ofensa ao Criador, consente.
Fica-se aterrorizado diante do intolerável descaramento de tal literatura: ao passo que, diante do segredo da intimidade conjugal, até o paganismo parecia parar com respeito, hoje se assiste à violação do mistério e ele é oferecido como espetáculo sensual e vívido ao grande público e até à juventude. É de se perguntar se permanece ainda suficientemente nítido o limite entre esta iniciação e a imprensa ou ilustração erótica e obscena, que deliberadamente se propõe a corromper ou aproveitar vergonhosamente, por vis interesses, os mais baixos instintos da natureza decaída.
Não basta. Tal propaganda ameaça também o povo católico com dúplice flagelo, para não usar uma expressão mais forte. Antes de tudo, exagera além da medida a importância e o significado, na vida, do elemento sexual.
(...) Em segundo lugar esta, assim chamada, literatura não parece ter em consideração alguma a experiência geral de ontem, de hoje e de sempre, fundamentada sobre a própria natureza, que atesta que na educação moral nem a iniciação, nem a instrução, de per si, trazem alguma vantagem; que ela é gravemente danosa e prejudicial quando não está solidamente sustentada por uma constante disciplina, por um vigoroso domínio de si, pelo recurso sobretudo às forças sobrenaturais da oração e dos sacramentos. Todos os educadores católicos dignos deste nome e da própria missão bem conhecem o concurso preponderante das energias sobrenaturais na santificação do homem, as quais ajudam o adulto, solteiro ou casado.
(...) Pais de família, uni-vos – bem entendido, sob a orientação de vossos bispos -; chamai em vosso auxílio todas as mulheres e mães católicas, para combaterem unidos, sem incertezas e respeito humano, para fazer dique e destruir estes movimentos, qualquer que sejam o nome ou a autoridade de que se cobrem ou da qual tenham sido revestidos.
Pio XII, Discurso aos pais de família franceses
Fonte: Blog GRAA
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