A PÉROLA PRECIOSA
Breves pensamentos sobre o Rosário meditado, para sacerdotes.
pelo
Padre Wendelin Meyer, O.F.M.
Tradução portuguesa por
Alberto Maria Kolb
2.º M I S T É R I O
JESUS DENTRO DO PEITO...
As dez contas desta dezena seguem como dez pequenos marcos num caminho solitário. O caminho a percorrer é de Nazaré a Judá.
Bela e santa, uma pessoa anda sozinha pela estrada pedregosa e cheia de montanhas: é Maria Santíssima, a mãe do Senhor. Leva consigo o Santo dos Santos. Ninguém o sabe, só e unicamente o céu conhece este segredo; Ela leva Deus em Si. E assim Ela empreendeu essa jornada pelas montanhas da Judá; Ela, a portadora de Cristo. Sua jornada se assemelha às jornadas do Sacerdote, pois não raras vezes percorre assim o sacerdote as ruas das cidades e povoações: o sacerdote leva a Jesus sobre o coração, Maria caminha com Jesus dentro do peito. À viagem de Maria é pois o quadro comparativo à jornada do Sacerdote, quando leva a sagrada comunhão a um doente ou os últimos sacramentos a um moribundo.
Maria levou Seu mistério à casa de Izabel: fazendo alegremente o Sacrifício — pressurosa — para a bênção de João Batista — para a alegria de Izabel — tendo nos lábios o «Magnificat».
FAZENDO ALEGREMENTE O SACRIFÍCIO
Sacrificou a sua tranquilidade, a Sua amável solidão e subiu pelas montanhas de Judá.
Diante delA estende-se um caminho acidentado e áspero, são as altas montanhas de Judá. A jornada a percorrer são muitas léguas. De Nazaré a Jerusalém são 30 horas de caminho, mas Izabel morava além da cidade santa. A caridade de Maria havia de perfazer um caminho de quatro dias, e este sacrifício Maria Santíssima o faz sem queixas, pelo contrário mui alegremente.
Os sacerdotes santos, acrisolados de virtudes, pensam e obram como a Mãe de Deus. Pagam alegremente o tributo de seu tempo e de seu trabalho, deixam de boa vontade, quando o ofício o requer, o seu remanso de Nazaré o seu gabinete de trabalho, tão cômodo e confortável; o seu jardim de flores, tão belo e encantador; o seu descanso, aliás tão merecido e reconfortador. Estes sacerdotes nas suas visitas aos doentes não olham a distância e o número de quilômetros, nem de léguas; nem pensam nos caminhos difíceis, na areia, na lama, pedras, chuvas... sua mente está em Deus, sua pessoa pronta para o sacrifício.
PRESSUROSA
O amor impera e não sofre demoras. Ajuntando ao amor ainda o contentamento e a alegria íntima de fazer o bem, então o homem não conhece tardança.
Maria Santíssima intimamente alegrou-Se de poder anunciar e levar à Sua prima Izabel a grande dita e feliz nova. Abiit in montana cum festinatione, in civitatem Juda (S. Luc. I, 39).
Os mesmos sentimentos invadem o sacerdote, as mesmas asas o elevam às altas regiões e aos ideais nobres a promover e participar de obras de caridade, do socorro ao próximo, obras de grande alcance e de grande benemerência. Quem agita e move tais asas espirituais, deixa imóvel debaixo de seus pés a negligência, o amor às comunidades é a fuga dos trabalhos. Ecce adsum! eis a mola da sua vida. Seja o operário quem o chame, seja o letrado que requeira sua presença — ecce adsum!
— Mais ainda: o seu amor, a sua caridade, transmudam-se em sede, em sede ardente. Ele tem sede de levar voluntariamente o Deus-Eucarístico até lá onde não se sente fome do manjar celeste, ainda que o doente já esteja às portas da eternidade. Verdadeiro espírito de Maria! Mas este espírito destila só e unicamente das almas que vivem da fé: «Justus mens ex fide vivit.»
PARA BÊNÇÃO DE JOÃO BATISTA
Da partícula consagrada, tão diminuta e pequena, parte uma bênção imensa, mas muitas vezes não cabe na nossa percepção. O agir da graça é misterioso.
Aqui porém percebemos claramente o poder que parte de Cristo. O Redentor dentro do coração de Maria; uma força secreta d’Ele dimana. Izabel a percebe, quando Maria Santíssima transpõe o portal da casa; a criança salta, no ventre de Sua mãe; João é purificado da mancha original. Quando o sacerdote leva o Santíssimo à casa dum moribundo, não parece que um ar purificador e um sentimento de profunda devoção se apodera das famílias? Os pais juntamente com seus filhos, os velhos e moços, todos caem de joelhos, batem aos peitos e mostram a sua reverência. E Deus entra então no coração do moribundo, talvez a última vez; ele aí o purifica de suas manchas e de seus pecados e tira até uma parte de suas penas.
Verdadeiramente, hoje entrou nesta casa a salvação, o Redentor cumulou esta família de grandes bens e da suma felicidade. Não é por acaso a visita de Cristo à alma do sacerdote acompanhada dos mesmos salutares efeitos?
Oh estas viagens silenciosas de Jesus, do corporal ao coração de seus fiéis ministros! Quão puro, quão resplandecente não se tornaria pouco a pouco o nosso interior se, diariamente e sempre celebrássemos com a devida preparação!
PARA A ALEGRIA DE IZABEL
Santas almas vêem claramente. Iluminada pela graça, abrem-se aos seus olhos admiráveis profundidades, que não atinge o olhar sensual da maior parte dos filhos de Adão. Um destes olhares profundos lançou também Izabel, pois ela perscrutou o íntimo de Maria Virgem.
O mistério, o inenarrável mistério que Maria guardou em Si, a mãe de S. João Batista descobriu.
E como se com isto tivesse visto o paraíso e penetrado o céu, grande reverência e grande alegria interiormente se apoderaram dela. Todo seu ser mergulhou-se neste mundo bem-aventurado e neste mar de delícias, pois até a criança no seu ventre saltou de alegria. Os seus lábios então destilaram estas palavras cheias de emoção e de gozo: «Et unde hoc mihi ut veniat mater Domini mei ad me?». Donde me vem a honra de que a Mãe de meu Senhor me venha visitar? (S. Luc. I, 43).
Bem aventuranças e felicidades distribuímos nas casas e nos corações, quando aos doentes ou à mesa da comunhão levamos o Divino Manjar dos Anjos.
Bem aventuranças e felicidades quer comunicar-nos o Divino Redentor, quando oculto debaixo das espécies de pão e de vinho desce sobre nosso corporal. A hóstia pura, vista exteriormente, é aos nossos olhos, por assim dizer, a imagem pura da Virgem Maria e o que as espécies do pão e do vinho escondem é o mesmo preciosismo Bem que Maria na casa de Izabel chamou o Seu Bem. Magnífico momento da consagração, quando Sacerdote e Cristo «face a face» se encontram, tão pertinho, tão juntinhos como a Mãe de Jesus e a Mãe do Precursor. Oh portentoso momento da consagração, quando um sacerdote inteiramente purificado, todo puro, olha a hóstia santa, toda pureza! Então seu interior exulta e canta de alegria: Exultat... prae gaudio...! Oh esplendorosos momentos que convertem as dores em alegrias, os espinhos em rosas! Aleluia, Aleluia...! Oh meu Deus, como sois bom! Gratias agimus Domino Deo nostro, vere dignum et justum est, aequum et salutare.
TENDO NOS LÁBIOS O «MAGNIFICAT»
O espírito de caridade levou Maria Santíssima pelas montanhas da Judá; o espírito de caridade todo o tempo a acompanhou nesta jornada. E agora chegado ao seu termo ascende-se mais este fogo interno; esta chama de amor tomou proporções gigantescas.
Parecia serem momentos de Pentecostes, era o sopro do Divino Espírito Santo. Alegrias íntimas invadem o coração de Maria Santíssima na saudação de Izabel. De sua alma, porém, sempre tão silenciosa, partiu um hino de gratidão e de glória. Ela cantou o primeiro Magnificat, o cântico repleto de amor e do espírito profético. Até a este ponto conduzem no fim as jornadas eucarísticas; produzem a repetição do «Magnificat», ascendem a flama sagrada de amor, comunicam algum tanto o espírito dos profetas que permite ao sacerdote ver profundamente os mistérios da nossa Redenção e conhecer e escolher os meios mais aptos segundo as condições e a variedade dos tempos, para frutuosamente conduzir e dirigir as almas.
Todo seu ministério exterior e mais ainda a sua própria santificação ganham com isso. A sua vida interior e sobretudo a sua vida de oração eleva-se cada vez mais até uma amorosa e diuturna comunicação com Deus. O sacerdote então só parece viver da oração. O mundo do seu interior lhe oferece dia por dia horas e momentos mais agradáveis. Pouco a pouco desconhece ele o mundo e afasta-se de todo o criado, volta-se para o interior, vê seu Deus — é agora feliz, sobretudo feliz... Magnificat anima mea Dominum, et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo!
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