Ipse (Iesus) est propitiatio pro peccatis nostris – “Ele (Jesus) é a propiciação pelos nossos pecados” (I Io. 2, 2).
Sumário. A Santa missa é por excelência a oração propiciatória e a reparadora; é ela que continuamente atrai sobre nós as divinas misericórdias e impede a divina justiça de tomar as vinganças merecidas pelos nossos pecados. Eis porque, depois da vinda de Jesus Cristo, não se vêem mais aqueles castigos tão freqüentes e tão formidáveis que se observam na antiga Lei. Tomai, pois, a resolução de assistir cada dia e com a devida atenção ao santo sacrifício, mesmo à custa de algum incômodo ou de algum interesse temporal.
Considera que a Santa Missa é um sacrifício propiciatório, isto é, que torna Deus propício para nos perdoar não só as penas temporais, que ficam a pagar depois do perdão da culpa, mas também a própria culpa. Quanto à pena, a Missa perdoa-a diretamente, pelo menos em parte, não só aos vivos, mas também às almas dos defuntos. Pelo que São Jerônimo afirma: “Cada Missa celebrada com devoção faz sair diversas almas do purgatório.”
Quanto às culpas, perdoa-as, posto que só indiretamente, e as perdoa todas, por mais graves que sejam, conforme a declaração do Concílio de Trento: Peccata etiam ingentia dimittit (1) . O que quer dizer que, por meio do Sacrifício do Altar, concede a graça, pela qual o homem é levado a arrepender-se e a purificar-se no Sacramento da Penitência. – Santa Matilde viu um dia que a Santíssima Virgem amolecia um diamante mergulhando-o no Sangue do Coração de Jesus. Com tal visão, o Senhor lhe quis dar a entender que não há coração tão duro que não fique amolecido só com ser tingido no Sangue do Cordeiro Divino, que Se imola sobre o Altar.
Pobres de nós, se não houvesse este grande Sacrifício, que é por excelência a oração expiatória e reparadora; que continuamente atrai sobre nós as divinas misericórdias e impede a justiça divina de exercer a vingança merecida pelas nossas culpas! – Eis porque, depois da vinda de Jesus Cristo, não se vêem mais os castigos tão freqüentes e formidáveis que se observam na antiga Lei. Pela mesma razão tem o demônio procurado tantas vezes, e procura ainda sempre, por meio dos hereges, fazer desaparecer do mundo a Missa. Faz dos hereges os precursores do anticristo que, conforme a profecia de Daniel, antes de mais nada, abolirá o Santo Sacrifício do Altar (2).
“Oh, quem me dera poder assistir a mais uma Missa!” É o que exclamava uma pobre pecadora no leito de morte, e perguntada pelo porque, respondeu: Quer me parecer que então se havia de acalmar todas as minhas inquietações. Vendo o Sacerdote que eleva ao Céu o cálice com o Sangue preciosíssimo, diria eu ao Pai Eterno: Senhor, é grande a minha dívida, mas eis aí a minha satisfação. O Sangue inocente do Redentor, oh, quanto melhor implora para mim a vossa misericórdia, do que o sangue de Abel bradava por vingança contra Caim!
Meu irmão, há de chegar talvez o dia em que tu também, prestes a morrer, ou (pior ainda) atormentado nas chamas devoradoras do purgatório, exclamarás: Oh, quem me dera assistir a mais uma Missa! Mas então não haverá mais tempo para o fazer. Aproveita, pois, o tempo que Deus te dá agora, e toma a resolução de assistir cada dia ao divino Sacrifício, e de assistir com devoção, oferecendo-o pelos fins para que foi instituído.
† “Senhor, Deus todo-poderoso, eis me aqui, prostrado diante de Vós, para aplacar e honrar a vossa Majestade Divina em nome de todas as criaturas. Mas como poderei fazê lo sendo tão miserável e pecador como sou?! Mas posso e quero fazê-lo, sabendo que Vos gloriais de ser chamado Pai das misericórdias, e por nosso amor destes vosso Filho Unigênito que Se sacrificou por nós sobre a Cruz, e sobre os nossos altares renova continuamente por nós o sacrifício de Si mesmo. Eis porque eu, posto que pecador, mas pecador arrependido, pobre mas rico em Jesus Cristo, me apresento diante de Vós, e com fervor de todos os Anjos e Santos, com os afetos do Coração Imaculado de Maria, Vos ofereço em nome de todas as criaturas as Missas que são celebradas hoje, com todas as que já foram celebradas e serão celebradas até ao fim do mundo.
Tenciono renovar a presente oferta todos os instantes deste dia e de toda a minha vida, para tributar à vossa infinita Majestade uma homenagem e uma glória dignas de Vós, para aplacar a vossa indignação e satisfazer à vossa Justiça pelos nossos muitos pecados, para Vos render graças proporcionadas aos vossos benefícios e implorar a vossa misericórdia para mim, para todos os pecadores, para todos os fiéis vivos e defuntos, para a Igreja universal, e principalmente para seu Chefe visível, o Sumo Pontífice Romano, e finalmente também para os pobres cismáticos, hereges e infiéis, afim de que eles também se convertam e se salvem.” Ó doce Coração de Maria, sêde a minha Salvação. (*VIII 951.)
- Trid. Seas. 22, c. 2.
2. Dan. 12, 11.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II – Santo Afonso
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