segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

“Meu divino Coração está destinado para os últimos tempos”

A Santíssima Virgem apareceu em 19 de setembro de 1846 na montanha de La Salette declarou, entre outras coisas, que a propagação do culto do Sagrado Coração seria um dos meios de que Deus se serviria para combater o anticristianismo e santificar os fiéis, a seus escolhidos dos últimos tempos





Monsenhor de Ségur (*) | Sensus fidei: Deus tudo faz oportunamente. Sua sabedoria tem brilhado ao lado de sua misericórdia, dando à Igreja o divino tesouro do Coração de Jesus em tempos em que esta mais havia de necessitá-lo. O mesmo Salvador disse primeiro à Santa Gertrudes, e depois à beata Margarida Maria: “Meu divino Coração está destinado para os últimos tempos”.
Não há que duvidar: todos os sinais indicados pelo Filho de Deus no Evangelho de São Mateus, (cap. XXIV) reúnem-se, acumulam-se, por assim dizer, com espantosa evidência: a fé diminui e se apaga em muitos; o Evangelho tem sido pregado em quase todas as partes; todas as sociedades cristãs têm apostatado; guerras horríveis, lutas de povo contra povo, de nação contra nação, fazem abalar o mundo; brotam milagres de todas as partes; um conjunto extraordinário de profecias, muitas delas indubitavelmente autênticas, unem-se a um secreto instinto das almas santas; finalmente, os três mistérios que parece devem servir de refúgio à Igreja de Deus nas supremas tribulações, o mistério da infalibilidade do Papa, o da Imaculada Conceição de Maria, o do Sagrado Coração de Jesus, dominam a tempestade universal levantada contra tudo o que é católico, dando aos verdadeiros fiéis firmeza na fé e na obediência, a graça da inocência necessária para o triunfo, e o dom de uma caridade, de uma misericórdia e de uma reparação absolutamente divinas. Tudo nos indica a proximidade mais ou menos imediata destes “últimos tempos” preditos pelo Deus do Sagrado Coração.
Em tempos precedentes, para cada novo mal o Salvador tirava um remédio saudável “do tesouro de seu Coração”; mas em nosso tempo, em que todas as negações e todos os males antigos vêm concentrando-se, unindo-se estreitamente sob a bandeira da Revolução e do anticristianismo, Jesus se digna abrir-nos e dar-nos todo inteiro esse mesmo Coração, esse precioso tesouro, com tudo o que contém. É o último esforço de seu amor; o remédio supremo universal.
Sim, o Sagrado Coração é o que necessita a Igreja nos tempos extraordinários. Para grandes males, grandes remédios; para um mal extremo há que lhe aplicar o remédio mais eficaz. A Europa cristã está gangrenada até o coração; para evitar, pois, a morte, é preciso que os fiéis se lancem a buscar a vida em sua fonte, penetrando no Coração do Rei dos céus. Quanto mais penetrarmos, com mais verdade poderá dizer-se: “Não há salvação fora do Coração de Jesus”.
Vislumbram-se os fins admiráveis da Providência ao retardar a manifestação do Sagrado Coração para finais do século XVII, para aquela época em que Satanás haveria de suscitar Voltaire, Rousseau, a franco-maçonaria, o ateísmo filosófico, a Revolução propriamente dita, ou seja, a grande rebelião da sociedade contra a Igreja, do homem contra o Filho do homem, da terra contra o céu.
Ao terminar o século XVII a heresia quis destruir na teoria e na prática o Sacramento do amor, e por conseguinte o amor mesmo, o amor santo e confiado que nasce da Comunhão. Aos fariseus dos últimos tempos Jesus opõe a revelação de seu Coração adorável, transbordando doçura e humildade, fonte inesgotável de ternura, de caridade, de misericórdia, de verdadeira santidade e de verdadeiro amor.
A impiedade no século XVIII levanta um grito satânico, grito de guerra contra Jesus Cristo: Aplastemos al infame! e com sofismas, com sua propaganda infernal e universal, perturbam as inteligências. Que fará Jesus Cristo? Ele, que fez o homem e que o conhece, vai direto a seu coração e o manifesta sob sua forma mais poderosa, mais íntima, mais sedutora: como soberano Amor. Entrega-lhe seu Coração divino; e pelo coração lhe arranca às mortais seduções do entendimento. Com efeito, nada mais forte do que o amor; e pela revelação de seu Sagrado Coração Jesus se fará amar. Admirável ardil de guerra!
Há mais! Aquelas grandes blasfêmias vão dar por fruto grandes crimes; a seita anticristã vai comover a Igreja até seus alicerces; uma perseguição selvagem vai destruir as antigas instituições católicas na Europa; faz rodar pelo cadafalso a cabeça de Luis XVI, fecha os templos, degola sacerdotes e bispos, destrói as Ordens religiosas, faz subir uma prostituta nos altares, conduz o Papa ao desterro (Pio VI) e lhe faz morrer nele; inaugura uma sociedade nova sem fé, sem Deus, sem Jesus Cristo; propaga por todo o mundo essa grande blasfêmia que se chama a separação da Igreja e o Estado; extingue em milhões e milhões de almas a vida da graça.
A esses crimes que provocam necessariamente as represálias da Justiça divina, a esses sacrilégios públicos e até então inauditos, Nosso Senhor Jesus Cristo opõe uma expiação cuja santidade sobrepuja e sobrepujará a perversidade humana; revela, inaugura o culto público de seu Sagrado Coração, e este culto mil vezes bendito, essencialmente expiatório e reparador, irá propagar-se de tal maneira, que “ali onde abundou o pecado, sobreabundará a graça” sempre. Inspire Satanás quanto queira aos demônios em carne humana que há mais de cem anos fazem ressoar o mundo com suas blasfêmias, insultam e pisoteiam a santíssima e adorabilíssima Eucaristia; incite-lhes a blasfemar da Santíssima Virgem, a assassinar sacerdotes, a cometer toda classe de crimes: tudo em vão: a Igreja tem de hoje em diante um meio de reparação mais poderoso que todas as maquinações do inferno: tem o Sacratíssimo Coração de Jesus, o Coração do mesmo Deus.
Mas estas e outras muitas razões que seria demasiado longo expor aqui, a misericordiosíssima Providência manifestou de um modo admirável revelando o culto do Sagrado Coração no final do século XVII.
Acrescente-se a isto que quando a Santíssima Virgem apareceu em 19 de setembro de 1846 na montanha de La Salette, a fim de salvar, se fosse possível, a sociedade, declarou, entre outras coisas, que a propagação do culto do Sagrado Coração seria um dos meios de que Deus se serviria para combater o anticristianismo e santificar os fiéis, a seus escolhidos dos últimos tempos. Esta revelação tem contribuído muito para propagar por todas as partes o amor e o culto do Sagrado Coração.
Entremos nesta corrente de fé, que é o caminho de salvação. Escutemos a voz da Igreja; escutemos as advertências da Santíssima Virgem; creiamos, aceitemos com amor a palavra de Nosso Senhor. Sim, o Sagrado Coração é o mistério dos últimos tempos. Mas a fim de penetrarmos mais das inefáveis excelências do Sagrado Coração, e por conseguinte da excelência do culto e da devoção que se lhe tributam na Igreja, contemplemos de mais perto com os olhos da fé, e com a felicidade e alegria do divino amor, esse Coração amantíssimo e mil vezes adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Coração santo,
Tu reinarás,
Tu nosso encanto
Sempre será.

(*) Monsenhor de Ségur. El Sagrado Corazon de Jesus. pp. 59-64. Casa Editorial de Manuel Galindo y Bezares. 1888.

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