sábado, 29 de abril de 2017

Pensamentos de Santa Teresinha do Menino Jesus

“Eu lutei muito, estou bem fatigada, mas não temo a guerra; obtenho a paz na oração. É vontade de Deus que eu combata até a morte”








Teresinha aos 3 anos e meio

 “Jesus! quero amá-Lo, amá-Lo como nunca foi amado”. “Que Ele me dê um amor sem limites!”.
“A ciência do amor! Não quero senão esta ciência, porque eu não tenho nenhum outro desejo, senão este: amar a Jesus até à loucura!”. “Minha vocação é o amor”.
“Desejais um meio para chegar à perfeição; não conheço senão este: o amor”.
“Sem amor todas as obras não são nada, mesmo as mais brilhantes; não, Jesus não pede grandes ações, mas unicamente o abandono e a gratidão; isto é amor”.
“A alma mais fervorosa é a mais fiel em fazer todas as suas ações por amor”.
Falando às suas noviças de um brinquedo chamado caleidoscópio, cujo funcionamento havia estudado, explica-lhes como só o amor pode dar valor aos seus atos:
“Quando nossas ações, mesmo as menores, não saem do foco do amor, a Santíssima Trindade, figurada pelos três espelhos convergentes, dá-lhes um reflexo e uma beleza admirável, e Jesus acha nosso procedimento sempre belo. Mas se nos distanciarmos deste centro inefável, que verá Ele? Um pouco de palha, obras manchadas e de nenhum valor”.
“Compreendo bem que só o amor é capaz de nos tornar agradáveis a Deus; o amor é o único tesouro que ambiciono. Por ele, tendo dado todas as minhas riquezas, considero nada ter dado”.
“Não são as riquezas e a glória, mesmo a glória do céu, que meu coração ambiciona, o que eu peço é o amor”.



Teresinha aos 8 anos

“Quero passar o meu céu fazendo o bem sobre a terra”.
“Permaneço pequenina, não tenho outra ocupação que colher flores, as flores do amor e do sacrifício, e oferecê-las a Deus para Lhe dar prazer”. “Tudo o que fiz foi para dar prazer a Deus, para salvar as almas”.
“Não quero que Jesus sofra; quisera enxugar as lágrimas que Ele derrama pelos pecadores, convertendo-os todos”. “Oh! não percamos tempo, salvemos as almas! As almas caem no inferno tão numerosas quanto os flocos de neve em um dia de inverno(Sta. Teresa d”Ávila) e Jesus chora; e nós pensamos em nossas dores, sem pensar em consolá-Lo”.
“Há uma só coisa a fazer durante o único dia, ou antes, a única noite desta vida; é amar, amar a Jesus com todas as forças de nosso coração, e salvar as almas para que Ele seja amado”.
“A única coisa que desejo é ver Deus amado, e confesso que, se no céu não pudesse trabalhar para isto, preferiria o exílio à Pátria”.
“Mais que nunca, Jesus tem sede de amor…  e mesmo entre seus discípulos se encontram, infelizmente, poucos corações que se entregam sem nenhuma reserva à ternura do seu amor infinito!…”
“Ó meu Jesus! combaterei por vosso amor até o fim de minha vida. Porque não quisestes repouso nesta terra, quero seguir vosso exemplo; desejo ardentemente combater para Vossa glória; suplico-Vos, fortificai minha coragem, armai-me para a luta”.



Teresinha aos 10 anos

“Quanto agradeço ao Senhor ter-me permitido encontrar somente amargura nas amizades da terra! Com um coração como o meu, ter-me-ia deixado prender e cortar as asas; então, como poderia voar e repousar?”
“Esforçava-me muito para não me desculpar; minha primeira vitória não foi grande, mas, custou-me bastante. Um jarrinho, deixado por não sei quem, junto de uma janela, foi encontrado quebrado. Nossa mestra, crendo-me culpada de o ter deixado fora do lugar, me diz para ser mais cuidadosa de outra vez, e que eu não era nada amiga da ordem. Sem nada replicar, beijei o chão; em seguida prometi que no futuro teria mais cuidado”. “Por causa de minha pouca virtude, estas pequenas práticas, repito, custaram-me muito, e eu tinha necessidade de pensar que no dia do julgamento tudo seria revelado”.
“É tão doce servir a Deus na noite e nas provas; temos somente esta vida para viver de fé!”
“Quero me esconder no claustro para me dar mais inteiramente a Deus. É unicamente a imolação total de si mesmo que merece o nome de amor”.
“Todos os dias procuro fazer muitos sacrifíciozinhos. Faço o possível para não deixar escapar nenhuma ocasião”.
“A todos os êxtases, prefiro a monotonia do sacrifício obscuro”. “Ó meu Deus! não tenho outro meio de Vos provar meu amor, senão lançar flores, quer dizer, não deixar escapar nenhum sacrifício, nenhum olhar, nenhuma palavra, aproveitar as menores ações e fazê-las por amor. Eu não encontrarei uma só dessas flores sem que a desfolhe para Vós!…”



Teresinha aos 13 anos

“Eu não tenho um coração insensível, e é justamente por ser ele capaz de sofrer muito que desejo oferecê-lo a Jesus para todos os gêneros de sofrimentos que possa suportar”.
“Meu desejo é ser missionária, não somente durante alguns anos; quisera tê-lo sido desde a criação do mundo, e continuar a sê-lo até a consumação dos séculos”.
“Quisera iluminar as almas, a exemplo dos profetas e dos doutores. Percorrer a terra, pregar vosso nome, e plantar no solo infiel vossa cruz gloriosa, ó meu Bem-Amado! Mas uma só Missão não me bastaria… quisera ao mesmo tempo anunciar o Evangelho em todas as partes do mundo e até nas ilhas mais distantes…”
“Óh! acima de tudo, quisera o martírio, mas eis aí outra loucura, porque eu não desejo um só gênero de suplício; para me satisfazer precisaria sofrê-los todos…”
“Como Vós, meu Esposo amado, eu quisera ser flagelada, crucificada… Quisera morrer e esfolada como São Bartolomeu; como São João, ser mergulhada em óleo fervente; ou como Santo Inácio de Antioquia, se triturada pelos dentes das feras, a fim de tornar-me um pão digno de Deus; como Santa Inês e Santa Cecília, quisera apresentar meu pescoço ao gládio do carrasco, e como Joana d’Arc sobre uma fogueira ardente, murmurar o nome de Jesus! Se meu pensamento se volta para os tormentos desconhecidos que serão a partilha dos cristãos no tempo do anticristo, sinto meu coração estremecer; quisera que estes tormentos me fossem reservados”.



Teresinha aos 15 anos, q. entrou para o Carmelo

“Abri, meu Jesus, Vosso livro de vida, onde estão registradas as ações de todos os santos; estas ações, quisera eu tê-las praticado por Vós!”
“Como podeis pensar, portanto, que estes desejos sejam sinal do meu amor? Ah! eu sinto que não é isto que agrada a Deus em minha alma tão pequenina. O que Lhe dá prazer, é ver-me amar minha pequenez e minha pobreza,  é a esperança cega que tenho na sua misericórdia… Eis meu único tesouro; por que não poderia ser o vosso?”
“Não sou egoísta, é a Deus que eu amo, e não a mim”.
“Pedia a Jesus que eu O ame com um amor desinteressado, não desejo o amor sensível; desde que Ele o sinta, isto me basta”.
“Amemos a Jesus para sofrermos tudo o que Ele quiser, mesmo a aridez, as friezas aparentes. Amar a Jesus sem experimentar a doçura deste amor, eis aí um martírio… Pois bem! morramos mártires!…”
“Sim cantarei, cantarei sempre, mesmo que seja necessário colher minhas rosas no meio dos espinhos, e meu canto será tanto mais melodioso, quanto mais os espinhos forem longos e penetrantes”.
“Senti um grande desejo de não amar, senão a Deus, de não encontrar alegria senão n’Ele”.



Irmã Teresa do Menino Jesus, Carmelita

“Não conto com os meus méritos, não tenho nenhum; mas espero naquele que é a virtude, a santidade mesma. É Ele somente quem, contentando-se com meus fracos esforços, elevar-me-á até Ele, e far-me-á santa”.
“No céu procurarei obter para as crianças, a graça do batismo; sofro muito por saber que tão grande número delas, por não serem batizadas, não verão jamais a Deus”.
“Feliz de morrer aos 24 anos, porque antes desta idade não se é geralmente ordenado padre. Então Deus, chamando-me a si, poupa-me o desgosto de ter vivido sem o ter sido, e sem a esperança de o ser algum dia”.
“Quantas vezes tenho pensado que devo talvez todas as graças que me foram concedidas, às súplicas de uma pequenina alma que só conhecerei no céu!”
“Vim para o Carmelo para salvar as almas e orar pelos sacerdotes”.
“Jesus deseja que a salvação das almas dependa de nossos sacrifícios, de nosso amor; ofereçamos nossos sofrimentos a Jesus para salvar as almas. Oh! vivamos para elas, sejamos apóstolas”.
“Peço a Deus que todas as orações feitas para aliviar meus sofrimentos revertam para a salvação dos pecadores”.
“Oremos pelos sacerdotes, que nossas vidas lhes sejam consagradas… Essas almas deveriam ser mais transparentes que o cristal, mas ah! sei que há ministros do Senhor que não são o que deveriam ser. Então, oremos e soframos por eles…Compreenda o grito do meu coração. Quanto é bela nossa vocação! Cabe-nos conservar o sal da terra! Oferecemos nossas orações e sacrifícios pelos apóstolos do Senhor; devemos ser nós mesmas apóstolas, enquanto por suas palavras e seus exemplos eles evangelizam as almas de nossos irmãos”.



Em abril de 1897 cai gravemente doente

“Eu lutei muito, estou bem fatigada, mas não temo a guerra; obtenho a paz na oração. É vontade de Deus que eu combata até a morte”.
“Ah! que veneno de louvores é servido diariamente àqueles que têm o primeiro lugar! que funesto incenso! e quanto uma alma deve ser desprendida de si mesma para que não experimente com isso algum prejuízo!”
“A provação amadureceu e fortificou minha alma de tal sorte que nada neste mundo me pode contristar”.
“O Criador do universo espera a oração, a imolação de uma alma pequenina para salvar uma multidão de outras, resgatadas como ela ao preço de Seu sangue”. “Oh! não percamos a provação que Jesus nos envia, não faltemos à ocasião de explorar essa mina de ouro…”
“A cruz me acompanhou desde o berço e essa cruz Jesus me fez amar com paixão”.
“Ah! longe de me queixar a Jesus da cruz que nos envia, não posso compreender o amor infinito que o levou a nos tratar assim…”
“Eu não desejo estar sem sofrimentos neste mundo, porque o sofrimento unido ao amor é a única coisa que me parece desejável neste vale de lágrimas”.
“Eu bem sei, Nosso Senhor me considerava muito fraca para me expor à tentação; eu seria inteiramente iludida pela enganosa luz das criaturas”.
“Ó Jesus, meu divino Esposo! levai-me antes do que me deixar neste mundo manchar a minha alma cometendo a menor falta voluntária”.
“A única graça que Vos peço, ó meu Deus, é jamais Vos ofender!”
“Ó Jesus! fazei que ninguém se ocupe de mim, que eu seja pisada, esquecida, como um grãozinho de areia”.
“Estou feliz por me sentir imperfeita, e de ter tanta necessidade da misericórdia de Deus no momento da morte!”
“Sim, sou uma alma muito pequenina que não pode oferecer a Deus senão coisas muito pequeninas; ainda assim me acontece freqüentemente deixar escapar estes pequenos sacrifícios que dão tanta paz ao coração; mas não desanimo, resigno-me a ter um pouco menos de paz e procuro ser mais vigilante para o futuro”.
“Minha vida é toda de amor e de confiança em Deus; não compreendo as almas que têm medo de um tão terno amigo”.
“O Senhor tem em conta as nossas fraquezas, Ele conhece perfeitamente a fragilidade de nossa natureza; por que então temerei?”
“O que ofende a Jesus, o que fere o seu coração, é a falta de confiança”.
“Ó Jesus! quem me dera poder dizer a todas as almas pequeninas quão inefável é Vossa condescendência! Sinto que que se fosse possível encontrar uma alma ainda mais fraca do que a minha a cumularias de maiores favores, desde que se abandonasse com uma inteira confiança em Vossa misericórdia infinita!”
“O sofrimento poderá atingir os mais extremos limites, mas estou segura de que Deus jamais me abandonará!”
“Sim, esse abandono é minha bússola, não tenho outro guia. Nenhuma outra coisa peço com tanto ardor como o cumprimento perfeito da vontade de Deus sobre minha alma”.



Morre em 30/09/1897 com 24 anos

“Não quereria entrar no céu nem um minuto sequer mais cedo, por minha própria vontade. A única felicidade nesta terra é aplicar-se em achar sempre deliciosa a parte que Jesus nos dá”.
“Deus quer que me abandone, como uma criancinha que não se preocupa com o que se fará dela”.
“As únicas mortificações que me concedi consistiam em mortificar meu amor próprio, o que me fez maior bem que as penitências corporais”.
“É, acima de tudo, o Evangelho que uso para minhas orações; nele encontro tudo o que é necessário à minha pobre alma”.
“Recolho também na Sagrada Escritura e na Imitação de Cristo um maná escondido, sólido e puro”.
Perguntam-lhe com que nome deveria ser invocada quando estivesse no céu: – “Chamar-me-eis TERESINHA”,respondeu ela humildemente.
Na morte, suas últimas palavras não poderiam ser outras: “MEU JESUS, EU VOS AMO!

sexta-feira, 28 de abril de 2017

O OFÍCIO ESPECIAL DE MARIA NOS ÚLTIMOS TEMPOS

São Luís Maria Grignion de Montfort



"A salvação do mundo começou por Maria, e é por Ela que se deve consumar. Na primeira vinda de Jesus Cristo, Maria quase não apareceu, a fim de que os homens, ainda pouco instruídos e esclarecidos sobre a pessoa de seu Filho, não se afastassem da verdade, apegando-se muito intensa e grosseiramente a Ela. Sendo a Virgem conhecida, é provável que isso tivesse acontecido por causa dos encantos admiráveis que o Altíssimo lhe tinha concedido, mesmo exteriormente.


Tanto assim é que São Dionísio Areopagita deixou escrito que, quando a viu, a teria tomado por uma divindade, – devido aos Seus secretos atrativos e à sua beleza incomparável – , se a fé, em que estava bem confirmado, lhe não tivesse garantido o contrário.

Mas, na segunda vinda de Jesus Cristo, Maria tem de ser conhecida e, por isso, deve ser manifestada pelo Espírito Santo. Por Ela fará Conhecer, Amar e Servir Jesus Cristo, uma vez que já não subsistem as razões que o levaram a ocultar, durante a vida, a sua Esposa, e a revelá-la só muito pouco, desde a pregação do Santo Evangelho.

Deus quer, portanto, revelar e manifestar Maria, a obra-prima das suas mãos, nesses derradeiros tempos.

1º. Porque Ela se escondeu neste mundo, e se colocou mais abaixo que o pó, em sua humildade profunda, tendo obtido de Deus, dos Seus Apóstolos e Evangelistas, que não fosse manifestada.

2º. Porque Ela é obra-prima saída das mãos de Deus, tanto na Terra pela graça, como no Céu pela glória. Por isso Deus quer, por meio d’Ela, ser louvado e glorificado sobre a terra pelos viventes.

3º. Sendo a aurora que precede e descobre o Sol da Justiça, Jesus Cristo, Maria deve ser conhecida e vista, para que Jesus o seja também.

4º. Visto ser Ela o caminho por onde Jesus Cristo veio a nós da primeira vez, haverá de sê-lo ainda quando Ele vier pela segunda, embora de maneira diversa.

5º. Como é Maria o meio seguro, a via reta e imaculada para ir a Jesus Cristo e para o encontrar perfeitamente, é por Ela que o devem achar as almas chamadas a brilhar em santidade.

Aquele que achar Maria, achará a vida (Pr 8, 35), isto é, encontrará Jesus Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6). Mas não a pode achar quem a não procurar; não pode procurá-la quem não a conhecer: pois não se busca nem se deseja um objeto desconhecido. É pois necessário que Maria
seja conhecida mais do que nunca, para maior conhecimento e glória da Santíssima Trindade.

6º. Maria deve brilhar mais do que nunca em misericórdia, em força e em graça nestes últimos tempos.

Em misericórdia, para reconduzir e receber amorosamente os pobres pecadores e extraviados, que se converterão e regressarão à Igreja Católica.

Em força, para se opor aos inimigos de Deus, aos idólatras, cismáticos, maometanos, judeus e ímpios endurecidos, que se revoltarão terrivelmente, para seduzir e fazer cair, por meio de promessas e ameaças, todos os que lhes forem contrários.

E, finalmente, Ela deve brilhar em graça, para animar e suster os valorosos soldados e fiéis servos de Jesus Cristo, que combaterão pelos Seus interesses.

7º. Enfim, Maria deve ser terrível para o demônio e seus sequazes, como um exército disposto em linha de batalha (Ct 6, 3.9), principalmente nestes últimos tempos. A razão disso é que o demônio intensifica todos os dias seus esforços e combates, visto saber bem que tem pouco tempo (Ap 12,12), e muito menos do que nunca, para perder as almas. Suscitará em breve cruéis perseguições, e armará terríveis emboscadas aos servos fiéis e verdadeiros filhos de Maria, pois lhe são precisos mais esforços para vencer estes do que os outros."



(Fonte: "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", São Luís Maria Grgnion de Montfort, livro em formato pdf, Primeira Edição Popular do Serviço de Animação Eucarística Mariana, cotejada com o original francês, bem como com edições italiana, espanhola e diversas brasileiras, Julho/2002, Capítulo Primeiro, itens 49 e 50, p. 47 a 49 - Título por nós adaptado)

quinta-feira, 27 de abril de 2017

1917-2017, Atualidade da mensagem de Fátima

Propomos que consagrem, após uma preparação diligente, suas casas e suas obras ao Imaculado Coração, que pratiquem bem a devoção dos cinco primeiros sábados, que usem o escapulário de Nossa Senhora do Carmo e que difundam a medalha milagrosa dada pela Santíssima Virgem na rue du Bac, em Paris – medalha que retrata os dois corações de Jesus e Maria















1917-2017, Atualidade da mensagem de Fátima

Fraternidade Sacerdotal S. Pio X, FSSPX: Caros Amigos e Benfeitores,
Em 1917, Nossa Senhora se dignou visitar a Terra. Ela confiou aos três videntes de Fátima uma mensagem formada por várias partes, algumas das quais estão agrupadas sob o nome de “segredo”, de modo que as expressões “mensagem” e “segredo” de Fátima tornaram-se sinônimas. Devemos, contudo, distingui-las. A mensagem foi comunicada imediatamente. As partes relevantes do “segredo” estavam destinadas a serem divulgadas mais tarde, em diversas datas, ao mais tardar em 1960. Elas abrangem grandes acontecimentos na Igreja e no mundo concernentes ao comportamento dos homens em relação a Deus. Mencionam guerras, o desaparecimento de nações inteiras, erros graves difundidos em todos os continentes, a consagração da Rússia pelo Papa e pelos bispos, o triunfo do Coração Imaculado e um tempo de paz.

Estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria

Um ano antes da celebração do centenário das aparições de Fátima, reconhecidas como autênticas pela Igreja, permitam-me insistir sobre a importância deste evento e desta mensagem que nos recordam uma série de verdades fundamentais da fé e nos mostram a intervenção real de Deus na história humana.
1) A essência da mensagem está nas seguintes palavras de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, em 13 de junho de 1917: “Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o seu trono.”
Quando refletimos sobre o conjunto da mensagem de Fátima, com seu segredo, considerando a influência que teve e ainda tem na história da Igreja e do mundo, torna-se evidente que tudo gira ao redor de uma intervenção divina: “Ele (Jesus) quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”. Mais tarde, quando a Irmã Lúcia perguntou ao Sagrado Coração por qual motivo ele queria a consagração da Rússia, Nosso Senhor respondeu: “Porque quero que toda a Minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o Seu culto e pôr, ao lado da devoção do Meu Divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração” (primavera de 1936).
2) A segunda verdade fundamental que emerge da mensagem de Fátima é a intervenção real de Deus Todo-poderoso na história da humanidade, tanto sobre os indivíduos como sobre as nações. Esta é uma verdade óbvia para nós, mas que é hoje muito atacada em um mundo ateu, liberal ou social-comunista, um mundo maçônico que pretende agir e realizar os seus projetos sem considerar o Criador e Salvador, Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Infelizmente, muitos homens de Igreja também estão imbuídos com esta ideia de que o mundo, os países e os governos temporais não devem prestar contas a Cristo Rei, Rei das Nações. Muitos elementos da mensagem de Fátima nos mostram radicalmente o contrário, como os três seguintes:
  1. A Santíssima Virgem disse às crianças de Fátima que Deus colocou nas mãos de Maria a paz das nações. Desfrutar a paz ou sofrer a guerra dependem, em primeiro lugar, de Nossa Senhora, por disposição expressa da Divina Providência.
  2. Os bispos de Portugal obedeceram ao pedido de consagração ao Coração Imaculado, enquanto que o episcopado espanhol negligenciou o mesmo pedido. A própria Irmã Lúcia disse que as desgraças que posteriormente atingiram a Espanha e que foram evitadas em Portugal foram consequências desta consagração – realizada ou negligenciada – ao Imaculado Coração.
  3. Depois de anunciar que, se o mundo não se convertesse, haveria uma guerra ainda mais terrível. Esta foi a Segunda Guerra Mundial. Considerando as datas mais importantes desta guerra, é necessário constatar que elas correspondem a festas da Santíssima Virgem Maria. Especialmente o dia 8 de maio, festa de Maria Medianeira – anteriormente festa de São Miguel Arcanjo -, data da rendição alemã; e o dia 15 de agosto, festa da Assunção de Maria, data da aceitação pelo imperador do Japão da rendição de seu país.

Intervenção Real de Deus na história dos homens

3) “De Deus não se zomba” (Gal. 6,7). De acordo com o testemunho da Irmã Lúcia, estas foram as palavras de Nosso Senhor, dois anos depois de que Nossa Senhora lhe havia dito, em 1929, que o tempo para a consagração da Rússia tinha chegado, pedido que ainda permanece sem resposta: “Faz saber aos Meus ministros que, como seguiram o exemplo do Rei de França em atrasarem a execução do Meu pedido, segui-lo-ão na desgraça” (agosto de 1931). Estas palavras recordavam o pedido do Sagrado Coração feito a Luís XIV em 1689 e que o rei da França não havia querido executar. Cem anos mais tarde, começa a Revolução que arruinou o poder do rei Luís XVI e o levou à decapitação. As ameaças de Nosso Senhor aos seus ministros são terríveis… Eles seguirão o rei da França em seu infortúnio. As perseguições atuais realizadas contra um grande número de cristãos e os ataques contra as pessoas consagradas nos levam a pensar que, infelizmente, os padres, bispos e demais ministros de Nosso Senhor ainda não beberam esse cálice de amargura até a última gota.
Tudo isso mostra a importância que Nosso Senhor concede a Fátima e à sua mensagem sobre a devoção ao Imaculado Coração de Maria.
Podemos concluir que a história dos séculos XX e XXI está profundamente condicionada por essa intenção divina: a devoção ao Imaculado Coração e a grave negligência do mundo e de muitos homens de Igreja em cumprir esta intenção, apesar de haver sido manifesta com tanta clareza e acompanhada por milagres verdadeiramente extraordinários.
Segundo as próprias palavras de Nossa Senhora, também temos que concluir que os propósitos de Deus culminarão com a apoteose do triunfo do Coração Imaculado de Maria por ocasião da consagração da Rússia pelo Santo Padre, ao qual estarão unidos os bispos de todo o mundo. Com este triunfo, foi prometido um tempo de paz ao mundo e à Igreja.
Até o momento presente, as várias tentativas de consagração não alcançaram os efeitos prometidos por Maria. Apesar de um renascimento religioso inegável da Rússia Ortodoxa nos últimos anos, não vemos hoje nem a sua consagração nem o crescimento no mundo da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Muito pelo contrário.

Um ano para preparar o centenário de Fátima

Portanto, a fim de preparar o centenário das aparições de Fátima, decidimos lançar uma nova cruzada do Rosário, essa oração que o Imaculado Coração de Maria pediu tão insistentemente.
Para corresponder mais intimamente às intenções divinas e dada a insistência manifestada por Nossa Senhora sobre a necessidade de reparação pelos pecados, uniremos com coragem a nossos rosários muitos sacrifícios. Esperamos poder oferecer uma coroa de doze milhões de rosários e de cinquenta milhões de sacrifícios. Com todo o coração, queremos trabalhar para difundir a devoção ao Imaculado Coração, especialmente durante este tempo de oração e penitência. Esta é a primeira intenção da nossa cruzada, à qual também unimos o pedido filial do triunfo do Coração Imaculado e a Consagração da Rússia, tal como foi pedida por Nossa Senhora. E, finalmente, nos tempos difíceis em que vivemos, tanto no mundo como na Igreja, pedimos a nossa Mãe celeste uma proteção especial sobre a Fraternidade São Pio X, todas as suas obras e todas as congregações religiosas amigas.
Convidamos a todos, pelo amor à Mãe de Deus e a seu Coração Doloroso e Imaculado, a multiplicar esses atos, que nós próprios faremos, a praticar mais intensamente esta devoção e a difundi-la. Por esse motivo, propomos que consagrem, após uma preparação diligente, suas casas e suas obras ao Imaculado Coração, que pratiquem bem a devoção dos cinco primeiros sábados, que usem o escapulário de Nossa Senhora do Carmo e que difundam a medalha milagrosa dada pela Santíssima Virgem na rue du Bac, em Paris – medalha que retrata os dois corações de Jesus e Maria.
Que possamos, assim, aportar nossa pequena contribuição aos pedidos do Céu, receber a proteção divina e, principalmente, obter a realização em seu tempo da mais bela das promessas: nossa salvação e a salvação dos pecadores.
Que Nossa Senhora os abençoe com o Menino Jesus, como diz uma bela e piedosa oração do Breviário: “Nos cum prole pia benedicat Virgo Maria“.
Na festa de Nossa Senhora do Carmo, 16 de julho de 2016
+ Bernard Fellay

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Este é o tempo para construir o que os outros destroem

Como saberei que estou agindo de acordo com a Vontade de Deus, se me encontro só e sem apoio de ninguém? A autoridade inquestionável da TRADIÇÃO. Aqui você tem a resposta. Siga a fé que a tradição nos legou, e o Senhor estará com você





“Lembra-te de Jesus Cristo, saído da estirpe de Davi e ressuscitado dos mortos, segundo o meu Evangelho, pelo qual estou sofrendo até as cadeias como um malfeitor. Mas a palavra de Deus, esta não se deixa acorrentar. Pelo que tudo suporto por amor dos escolhidos, para que também eles consigam a salvação em Jesus Cristo, com a glória eterna. Eis uma verdade absolutamente certa: Se morrermos com ele, com ele viveremos. Se soubermos perseverar, com ele reinaremos. Se, porém, o renegarmos, ele nos renegará. Se formos infiéis… ele continua fiel, e não pode desdizer-se”. (2Tm 2-8,13)
Tradução Sensus fidei: Queridos irmãos, alguns de vocês, preocupados com a situação da Igreja e pela fortaleza de sua própria fé, sentem-se sozinhos em suas preocupações. Mas não estão. É o momento de pensar como estava o Senhor na Cruz. Como está Ele cada dia em todos os Sacrários da terra? Isso é a solidão. Mas nós O temos sempre disposto a nos fazer companhia. Não se sinta só.
Junto à Cruz de Jesus estavam sua Mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena (Jo. 19, 25). Onde estavam os outros? Onde estamos os outros? Lembre-se do que diz São Paulo: nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras. (2 Tm 2, 5). O Senhor irá ajudá-lo a entendê-lo em seu caso particular. Lembre-se de Jesus Cristo, que ressuscitou dos mortos e é descendente de Davi. Esta é a boa notícia que o apóstolo prega, razão pela qual sofre e está acorrentado. Mas a palavra de Deus não está acorrentada.
Continua o apóstolo dizendo, e dizendo-nos a todos, por isso suporto essas provas por amor aos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus e participem da glória eterna. Esta doutrina é digna de fé: Se morremos com Ele, com Ele viveremos. O próprio São Paulo nos fala e nos encoraja em nossos esforços para continuar a viver a fé e mantê-la viva.
O Senhor nos dá a liberdade para fazer o bem ou fazer o mal, nós escolhemos. Mas é o caso de que, Aquele que somente obra o bem e nos deixa agir livremente, a esse se recrimina, questiona-se o Seu ensinamento, contesta-se. É o tempo para construir o que os outros destroem. O ensinamento do Senhor se mantém vivo, atual, porque é perene.
Você perguntará, quem me confirma na fé? Estou só. Confirmam-lhe na fé a tradição da Igreja Católica, as Sagradas Escrituras, o Magistério. A força da Palavra de Deus, quando condena o pecado da sodomia, ou o do adultério. Diz-nos o Senhor, nosso Deus. É a Palavra de Deus, está nas Sagradas Escrituras. São Paulo não estava só? Ficou com medo? O que devemos temer? Ninguém pode fechar nossas bocas, porque o Senhor está conosco, porque pregamos a Sua Palavra divina, a sua Palavra de vida eterna. Os Apóstolos morreram por amor a Deus. Será que vamos nos assustar? Este tempo não é pior do que o de São Paulo, que denunciou aqueles que viviam em pecado. E nós nos assustamos diante de um grupo de Pastores que pretende nos assustar?
Temos de alçar a voz para dizer a Verdade, cada um no lugar que lhe corresponda, e da maneira como o Senhor quer que o façamos. Precisamos evangelizar. Evangelizar? Sim. Tudo o que a Igreja nos ensina na tradição, o Catecismo, as Sagradas Escrituras. Porque se não, apenas encontraremos a palavra do homem e não a Palavra de Deus. Conhecemos a Palavra de Deus, o Senhor no-la mostra no Magistério da Igreja que temos recebido, e quer que a levemos para os demais.
Queridos irmãos, atualmente temos a sensação de que o Senhor afrouxou as rédeas da Igreja, mas Ele nunca as soltou. Estes tempos não são piores do que outros. Não podemos queixar quando nossos irmãos morrem mártires pela fé. Devemos encabeçar uma luta com a Palavra. E no Santo Sacrifício da Missa encontramos a força. Em nada deve nos importar o mundo e seus poderes pobres, porque o Senhor está com aqueles que defendem a Sua Palavra e a Sua Verdade. O que está angustiado é aquele que olha para a terra e não para o Céu.
Você se pergunta: Como saberei que estou agindo de acordo com a Vontade de Deus, se me encontro só e sem apoio de ninguém? Pois, o Senhor está conosco, e também nos adverte do perigo. A Igreja perfeitamente nos diz o que é certo e o que é errado. A autoridade inquestionável da TRADIÇÃO. Aqui você tem a resposta. Siga a fé que a tradição nos legou, e o Senhor estará com você.
É tempo de pregar a Palavra de Deus, os ensinamentos que recebemos que, inalteráveis, permanecem tão atuais quanto ontem, hoje e amanhã. É tempo de lutar com nossa palavra, é tempo de correr nossa corrida sem medir o esforço, é tempo de pensar apenas na coroa final.
Este é o tempo para construir o que os outros destroem.
Ave Maria Puríssima.
Pe. Juan Manuel Rodriguez de la Rosa.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Benevolência para com o próximo



Deus quando formou o coração do homem, plasmou-o na bondade, estas palavras do genial Bossuet se aplicam a todos nós, principalmente à mulher, a quem Deus enriqueceu com tesouros de bondade e delicadezas tais, que a torna apta para suavizar as horas amargas da vida.

Á vista da desgraça alheia, não se comove o coração da mulher muito mais depressa que o do homem? Não chora a moça e a mulher de vezes antes, sobre o infortúnio alheio? Não estendem com mais prazer sua mão benfazeja para suavizar a necessidade alheia? Em regra não resolvem dez moças consagrar-se, como irmãs de caridade, às obras de misericórdia cristã, antes que só rapaz queira prestar-se a tal sacrifício? 

Este traço de bondade e benevolência, com que Deus marcou coração feminino, deves, jovem cristã, procurar conservá-lo e avivá-lo sempre mais. Não te é apenas um adorno: também se lhe anexa um grande poder, muito salutar e benfazejo a outrem.
O conhecido escritor inglês Faber, assim se exprime sobre o poder da benevolência:

Vejo uma multidão de pequenos entes, com as faces veladas, quem em união com a graça e com os anjos executam as suas obras. Esvoaçam por toda a parte. Consolam os tristes, tranqüilizam os aflitos, acalmam os enfermos, acendem nos olhos dos moribundos um raio de esperança, mitigam as dores dos corações aflitos e desviam os homens do pecado. Parecem dotados de força surpreendente: conseguem o que os anjos não podem; insinuam-se nos corações, a cujas portas se lhes abrem, voam de novo estes pequenos mensageiros do Pai do Céu, para levar a graça. Estes pequenos, mas poderosos entes, são os atos de bondade, que da manhã à noite se acham ao serviço do bom Deus”.

Servindo-se de uma comparação tirada da vida dos animais, certo escritor francês procura expor o benefício influxo da benevolência, fazendo-nos ver como os próprios animais não são insensíveis ao toque da bondade.
É a história de um pobre cãozinho, que corre apressado ao longo do muro e se esconde quanto pode. As crianças perseguem-no. Os trausentes o repelem a ponta-pés. É um cão do campo, cujo dono o expulsou. Magro, faminto, imundo, passa as noites ao relento nos portões, de orelha em pé, receoso de ser enxotado impiedosamente. Ninguém lhe dá um olhar carinhoso, e até os outros cães o assaltam com desprezo, por não serem tão magros quanto ele. Passa um homem; o pobre animal adivinha nele um salvador e se lhe arroja aos pés, implorando alguma coisa com um olhar de amargura e tristeza.

O homem acaricia o cãozinho, toma-o consigo e o restaura novamente. Pouco tempo depois o animal adquire uma aparência tão bela, e altiva, que todos o apreciam e já ninguém o maltrata. Se tivesse permanecido faminto e desgraçado, a raiva, a loucura, se teriam apoderado dele. Como foi objeto de amor e assistência, mostrou-se tão fiel e agradecido, e recuperou aquela aparência bonita que os mesmos cães que antes o mordiam com desprezo, agora o olham com inveja. Assim acontece também entre os homens: a bondade torna-os felizes e a felicidade comunica-lhes beleza e dignidade.

1º- Sê, portanto jovem cristã, benévola e caridosa nos pensamentos, com relação ao teu próximo. 

A caridade não suspeita mal”, diz o apóstolo dos gentios. Não concede nenhum pensamento injusto, nenhuma desconfiança infundada, nenhuma prevenção. Dificilmente acredita no mal que vê; desculpa de bom grado a intenção quando não pode desculpar a ação.
Se possuíres caridade, muito mais facilmente e com maior prazer, dirigirás os teus pensamentos e a tua atenção interna, antes para as qualidades do teu próximo do que para as suas faltas. De fato, toda pessoa a par das imperfeições e defeitos, possui também boas qualidades. É o que te será fácil reconhecer e levar em consideração, sem julgar com muita severidade as faltas alheias nem demasiado te ocupar com elas.

Sê como a abelha delicada que pousa sobre as flores e delas suga o doce néctar, evitando feri-se nos espinhos. Disse um grande educador: “quem nutrir amiúde pensamentos benévolos a respeito do próximo, instigado por motivos sobrenaturais, não estará muito longe de se tornar santo”.

Numerosos cristãos, mesmo assíduos à prece, á recepção dos Sacramentos nem por isto se tornam santos, por não resistirem com bastante energia a pensamentos menos caritativos que se lhes revolvem no interior, e proferirem acerca das demais sentenças duras e inclementes.
E quantas penas severas não atrairemos sobre nós, o Purgatório, por causa desta insensibilidade! Com todas estas asperezas ser-nos-á impossível entrar no céu, e fruir da visão de Deus, que é o próprio Amor. Nem a morte as removerá do nosso coração; só restará que sejam aniquiladas em nossas almas, pelas chamas do Purgatório. E, se estas asperezas e insensibilidades forem muito graves, deveremos, então, temer que o seu peso nos arraste ainda mais a baixo, àquela tremenda profundeza, onde não reina mais nenhum amor, e da qual ninguém se poderá evadir. 

2º- Sê ainda benévola e caridosa no falar. 

Primeiro, no trato com teu próximo. Tem sério cuidado em falar , sempre com tranqüilidade e mansidão com as pessoas das tuas relações, que, destarte ganharás domínio sobre elas. É belo o provérbio alemão, que assim reza: “uma boa palavra encontra um bom eco”. – ein gutes Wort findet einem guten Ort.

Muitas amizades nobres e devotadas, que nada poderá desligar, tiveram o seu começo em palavras amáveis, saídas de um bom coração. Quantas desconfianças e preconceitos, nutridos por longo tempo contra uma pessoa, não cessam de todo, porque num encontro aparentemente fortuito com ela, se ouve de seus lábios palavras afáveis e cordiais! É como bálsamo sobre o coração; tudo se torna claro e pacífico, toda prevenção desaparece e renasce o entusiasmo. E, no entanto, foram apenas umas poucas palavras, que momentos depois o vento dissipou: mas a doçura e suavidade com que foram pronunciadas, tiveram a virtude de afastar do coração a camada de gelo e convertê-lo completamente.

Antes de tudo, guarda-te daquela nervosa irritabilidade tão comum, em nossos tempos, que se procura desculpar, com tamanha facilidade, e que ocasiona tantas amarguras, dá aso a palavras ásperas e severas observações.
 
Aprende a dominar-te, até mesmo quando pensas que possuis nervos delicados e fracos, e permite somente palavras que alegrem e edifiquem.
Deves também ser benévola quando te revelam faltas do teu próximo. É muito importante chamar atenção sobre este ponto. Que de males não causa quem discorre, com tanto prazer, sobre as faltas e defeitos dos outros! Quantos ódios e desavenças, rixas e altercações e ciúmes produz! Quanta confusão e desordem cria! Com muita razão, diz a Sagrada Escritura;Aguçam as línguas viperinas; têm veneno de áspides debaixo de seus lábios” (Sl. 139,4). 
Com muito rigor e severidade, fala São Bernardo a esse respeito, não obstante, o seu cognome de melífluo:

Não é porventura a língua a cobra mais cruel? Sem dúvida, com seu hálito ela envenena mortalmente. Não é a língua uma lança pontiaguda? Sem dúvida, a mais pontiaguda de todas, porque de um só golpe fere três homens, ao mesmo tempo; aquele a quem desonra, aquele que ouve, e aquele que fala”.

Eis porque não deves falar sobre as faltas do teu próximo, a não ser que o exija um motivo importante, e mesmo, neste caso, sem excitação apaixonada e só o necessário. Se outras pessoas em tua presença conduzem a conversa para tais assuntos, sem necessidade, esforça-te por dar à palestra outra direção, ou defende a honra do próximo com palavras pacíficas e brandas, chama a atenção dos que assim falam para a injustiça e crueldade de tais maledicências.

Deste modo desempenharás o pacífico dos anjos, suavizarás a hora da tua morte e merecerás sentença benigna no tribunal divino.

Jovem cristã, sê benévola para com os outros em todo o teu proceder, fecunda em obras de misericórdia, sobretudo se puderes dispor de tempo e folgas e dissipações, em prazeres e divertimentos. Tudo isto tornar-te-á fútil e superficial; roubar-te-á a energia da vontade, de que necessitas, a fim de poderes dominar as tuas más inclinações, criará em ti um sentimento mundano, que a seu tempo dissipará o espírito cristão e fará com que tenhas por estranhos Deus e Sua santíssima vontade.

Não percorras o caminho da vida fria, insensível e inconsideradamente. Reflete, muitas vezes, na bondade de Deus para contigo, e confronta a tua situação com a daqueles que têm de suportar um destino duro e cruel.

Teus pais desdobraram-se para proporcionar-te educação esmerada e não pouparam esforços para dar-te instrução suficiente, a fim de que enfrentes o porvir com ânimo sereno.

Outros há que, muito cedo, perderam os pais, pobres órfãos, não encontraram ninguém que se interessasse pela sua educação e subsistência.

Não poderias economizar alguma coisa nos teus vestidos e recreações, a fim de contribuir, com um óbolo para a educação de tais órfãos desamparados? Trajas roupas finas com apuro e bom gosto, alimentas-te diariamente em mesa farta, dormes em leito macio, habitas uma casa que no inverno é agradavelmente aquecida, e onde nada falta para a tua comodidade.

Muitos há que não conhecem tais coisas por experiência; tantas casas onde o pai, cuidadoso sustentáculo do lar, demasiado cedo desapareceu da vida ou jaz enfermo desde há muito, pelo que a pobre mãe se vê obrigada a dedicar-se a duro trabalho para sustentar os queridos filhos; e todavia, a despeito das suas canseiras, apenas lhe é possível saciar-lhes a fome com mesquinha alimentação e provê-los de roupa suficiente.

Não poderias, nas horas disponíveis, confeccionar para essas crianças enregeladas um agasalho quente?

O Divino Salvador, sem dúvida, haveria de recompensar-te largamente, como fez outrora a São Martinho, o qual, sendo soldado, numa noite de inverno cedeu a um mendigo que tiritava de frio a metade do seu manto.
Gozas, talvez, de saúde exuberante e sentes como o sangue circula rápido e vivo em tuas veias; no entanto, quantos doentes jazem longo tempo em seu pobre leito de dores, sem dinheiro para chamar um médico, e sem alimento que lhes possa fortalecer e restituir as energias consumidas pela doença.

Dize-me, não poderias passar pelo tugúrio destes pobres, a fim de fazeres algo por eles e alegrá-los com algum caridoso auxílio? Oh! tem certeza de que entrarias no quarto, ou melhor, no coração destes doentes, como o sol brilhante e benéfico; sentirias com isto maior alegria interna e delícias mais intensas das que gozas num baile aparatoso ou num passeio divertido.

Sim, a benevolência fazem-nos semelhantes a Deus, granjeiam-nos seus favores e destilam em nosso coração descanso e paz.

Luís XVI e sua esposa Maria Antonieta passeavam certa vez ás sombras da floresta pitoresca de Versalhes. Encontraram-se com uma jovem que trazia um prato com uma só colher de estanho.

- "Que trazes tu, aí?" interrogou a Princesa.
-"Alteza, a sopa para meu pai e para minha mãe, que trabalham lá em baixo, no campo".
- "Com que foi preparada?"
- "Com água e raízes".
- "Sem carne?"
- "Ah! senhora, nós nos sentimos felizes e contentes, quando temos apenas pão".
-  "Leva, então, esta moeda de ouro a teu pai, para que vos provenha de alimentos mais substanciosos".

Cheia de alegria retirou-se a jovem, e Maria Antonieta seguiu-a com os olhos.
Viu, pouco depois, que a pobre gente se punha de joelhos no meio do campo.
- "Vês? meu querido, - exclamou a Princesa - estão rezando por nós. Oh! Deus, quanto é doce fazer o bem!"

Nunca te esqueças pois destas palavras da Sagrada Escritura:
 
 "Não se afastem de ti a misericórdia e a verdade; põe-nas ao redor do teu pescoço, e grave-as sobre as tábuas do teu coração, que assim encontrarás graça e boa opinião perante Deus e perante os homens". (Prov., 3,3-4).
 
Reflete amiúdo também sobre as palavras de São João Crisóstomo:

"Diante de Deus, mais vale ser misericordioso do que ressuscitar mortos, pois é obra melhor alimentar a Cristo faminto, do que em Seu nome ressuscitar mortos".

(Donzela cristã, Pe. Matias de Bremscheid)

Fonte:

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