quarta-feira, 10 de maio de 2017

A SALVAÇÃO É A ÚNICA COISA NECESSÁRIA

Porro unum est necessarium – “Uma só coisa é necessária” (Luc. 10, 42).
Sumário. Não é preciso que neste mundo sejamos cumulados de dignidades, que tenhamos riquezas, boa saúde, gozos terrestres; é necessário tão somente que nos salvemos. Não há meio termo: se não nos salvarmos, seremos condenados; estaremos ou sempre felizes no céu, ou sempre infelizes no inferno! Por isso avisa-nos o Senhor, que amontoemos tesouros, já não neste mundo, mas no céu, onde a ferrugem e os vermes não os consomem, nem os desenterram e roubam os ladrões.
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Não é necessário que neste mundo sejamos cumulados de dignidades, que tenhamos riquezas, boa saúde e gozos terrestres; mas necessário é que nos salvemos. Não há meio termo: se não nos salvarmos, seremos condenados. Depois desta breve vida seremos ou para sempre felizes no paraíso, ou para sempre desgraçados no inferno.
Quantos mundanos, que outrora gozaram abundância de riquezas e honras, foram elevados às mais altas dignidades, quiçá a tronos, estão agora no inferno! Ali todas as prosperidades gozadas neste mundo só lhes servem para sua maior dor e desesperação. – Eis o que nos avisa o Senhor: Nolite thesaurizare vobis thesauros in terra –Não queirais ajuntar tesouros na terra; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem a ferrugem e os vermes, e onde os ladrões não os desenterram nem roubam (1). Todos os bens terrestres se perdem na hora da morte; mas os bens espirituais são tesouros incomparavelmente mais preciosos e duram eternamente.
Deus manifestou-nos a vontade de que todos sejam salvos, e a todos dá o auxílio para se salvarem. Quem se perder, perder-se-á por culpa própria, e isto será a sua pena mais grave no inferno. Vindicta carnis impii, ignis et vermis (2) – “A vingança da carne do ímpio será o fogo e o verme”. O fogo e o verme roedor (isto é, o remorso da consciência), serão os algozes do réprobo para vingança de seus pecados; mas o verme roedor o atormentará eternamente muito mais que o fogo. – Que dor não causa neste mundo a perda de um objeto de valor, de um diamante, de um relógio, de uma bolsa com dinheiro, mormente quando a perda se deu por descuido próprio? A lembrança da perda faz perder o apetite e o sono, posto que haja esperança de remediá-la de outra maneira. Qual não será então o tormento do réprobo ao lembrar-se que por sua culpa própria perdeu o seu Deus e o paraíso, sem esperança de poder ainda possuí-los?
Ergo erravimus(3) – “Logo nos extraviamos do caminho”. Eis aí o que fará os desgraçados réprobos chorarem eternamente: extraviamo-nos do caminho perdendo-nos voluntariamente, e não há mais remédio para o nosso erro. Para todas as desgraças que nos podem sobrevir neste mundo, acha-se com o tempo algum remédio, ou na mudança das circunstâncias ou ao menos na santa resignação à vontade divina. Mas chegados que formos à eternidade, nenhum remédio nos poderá valer, se para desgraça nossa tivéssemos errado o caminho do céu.
Por isso exorta-nos o apóstolo São Paulo a que nos empenhemos na obra da salvação com temor e tremor, isto é, com medo de a perdermos: Cum metu et tremore vestram salutem operamini (4). Este medo fará com que andemos com cautela no caminho do céu e fujamos das ocasiões perigosas e nos recomendemos continuamente a Deus, e deste modo sermos salvos. Roguemos ao Senhor, queira gravar bem fundo em nosso espírito este pensamento, que do último suspiro na hora da morte dependerá o sermos eternamente bem-aventurados ou eternamente desgraçados sem esperança de remédio.
Ó meu Deus, tenho muitas vezes desprezado a vossa graça; mas o Profeta assegura-me que sois misericordioso para com aquele que Vos procura: Bonus est Dominus animae quaerenti illum (5). Outrora fugia de Vós, mas agora Vos procuro; não desejo e não amo senão a Vós; por piedade, não me desprezeis, lembrai-Vos do sangue que por mim derramastes. Esse sangue e a vossa intercessão, ó Mãe de Deus, Maria, são todas as minhas esperanças. (II 277.)
  1. Matth. 6, 19.
    2. Ecclus. 7, 19.
    3. Sap. 5, 6.
    4. Phil. 2, 12.
    5. Thren. 3, 25.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II – Santo Afonso

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