Nossa Senhora em Fátima insistiu que se rezasse o Terço. A pastorinha Lúcia explica porquê:
Repare, Senhor Padre, que a Santíssima Virgem, nestes últimos tempos em que vivemos, deu uma nova eficácia à recitação do Rosário.
E deu-nos esta eficácia de tal maneira que não há problema temporal ou espiritual, por mais difícil que seja, na vida pessoal de cada um de nós, das nossas famílias, das famílias do mundo ou das comunidades religiosas, ou mesmo da vida dos povos e nações, que não possa ser resolvido pelo Rosário.
Não há problema, afirmo-lhe, por mais difícil que seja, que não possamos resolver rezando o Rosário. Com o Rosário, salvar-nos-emos. Santificar-nos-emos. Consolaremos a Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas.
São Luís Maria Grignino de Montfort foi um dos maiores devotos da Virgem Maria. Em seu escrito: O Segredo de Maria, existe citações que remetem as aparições de Nossa Senhora em Fátima! Leia:
I. A Santa Escravidão de amor é a verdadeira Árvore da Vida
Compreendeste, alma predestinada, pela operação do Espírito Santo, o que acabo de dizer? Agradece-o a Deus! É um segredo desconhecido de quase todos.
Se achaste o tesouro escondido no campo de Maria, a pérola preciosa do Evangelho, é preciso vender tudo para adquiri-la;
É necessário o sacrifício de ti mesmo nas mãos de Maria, e que alegremente te percas n’Ela para aí encontrar somente Deus.
. Se o Espírito Santo plantou em tua alma a verdadeira Árvore da Vida, que é a devoção que acabo de explicar, é preciso que cultives com o máximo cuidado, a fim de que frutifique no devido tempo.
Esta devoção é o grão de mostarda de que fala o Evangelho, o qual, ao que parece, o menor de todos os grãos;
Torna-se todavia bem grande e se eleva tão alto que as aves do Céu, quer dizer os predestinados, aí fazem o seu ninho e repousam à sombra durante o calor do Sol e aí se escondem, em segurança, dos animais ferozes.
Escravizar em Maria e viver conforme a Vossa vontade para alcançar o Reino dos Céus.
Quem há de discordar que Os pastorinhos de Fátima, não foram autênticos Escravos de Nossa Senhora em Fátima? Ao partilhar de suas mensagens e corresponder aos Vossos pedidos?
Viver em torno das Vossas mensagens e Revelações, atender aos Seus pedidos, e acreditar no Reinado do Imaculado Coração de Maria, é a escravidão em Fátima.
II. A maneira de cultivá-la
Eis, alma predestinada, a maneira de cultivá-la:
.Nenhum apoio humano
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1º)Sendo esta árvore plantada em um coração bem fiel, quer estar em pleno vento, sem nenhum apoio humano;
Sendo divina, quer estar sempre sem nenhuma criatura, a qual poderia impedi-la de elevar-se para seu princípio que é Deus.
Assim, não se deve absolutamente apoiar-se em sua indústria ou em seus talentos puramente naturais, ou no crédito ou na autoridade dos homens:
É NECESSÁRIO RECORRER A MARIA E APOIAR-SE EM SEU SOCORRO
Francisco Marto foi o exemplo de Coração fiel que não necessitava de Apoio Humano. Ao dedicar seu precioso tempo rezando sozinho, para consolar Nosso Senhor e Nossa Senhora.
Olhar contínuo da alma
2º) É preciso que a alma, na qual esta árvore está plantada, esteja incessantemente ocupada como um bom jardineiro, a cuidá-la e a repará-la.
Pois esta árvore, sendo viva e devendo produzir um fruto de vida, quer ser cultivada e aumentada por UM CONTÍNUO OLHAR DA ALMA;
E consequentemente uma alma perfeita há de n’Ela pensar continuamente, dela fazer sua principal ocupação.
Violência a si próprio
3º)É preciso arrancar e cortar os cardos e os espinhos que com o tempo poderiam sufocar esta árvore, ou impedi-la de produzir fruto:Quer dizer, ser fiel em cortar e podar, pela mortificação e violência a si próprio, todos os PRAZERES INÚTEIS e as vãs ocupações com as criaturas;Ou por outra, crucificar a carne, GUARDAR O SILÊNCIO, mortificar os sentidos. Remetendo as influências e costumes banais que já haviam sido previstos por Nossa Senhora em Fátima.
Nas memórias da Irmã Lúcia, uma das Videntes de Nossa Senhora em Fátima, nenhum dos três pastorinhos viveram situações que pudessem retirar este fruto espiritual. A própria Lúcia, por exemplo, tentará participar de um baile foi reprendida por Francisco, para que não vivas costumes banais.
Nada de amor próprio.
4º) É necessário velar para que as lagartas não a prejudiquem em nada.
Essas lagartas são o amor de si mesmo e das comodidades, as quais comem as folhas verdes e as belas esperanças que a Árvore tinha do fruto:
Pois O AMOR DE SI MESMO E O AMOR DE MARIA NÃO SE TOLERAM ABSOLUTAMENTE.
Horror ao pecado
5º) Não se deve deixar que as feras se aproximem dela.Essas feras são os pecados, que poderiam matar a Árvore da Vida pelo simples contato;Nem mesmo seu hálito deve atingi-la, quer dizer, os PECADOS VENIAIS, QUE SÃO SEMPRE MUITO PERIGOSOS se não se faz caso deles.
O pecado da Carne, por exemplo, que havia sido explicado por Nossa Senhora em Fátima que seria o que “mais leva as almas ao inferno”.
Fidelidade aos exercícios
É necessário regar continuamente essa árvore divina com a Comunhão, a Santa Missa e orações(assim como Nossa Senhora pediu a Oração do Santo Rosário nas aparições em Fátima).
Sem O QUE ESSA ÁRVORE DEIXARIA DE FRUTIFICAR.
Paz nas provações
6º) Não nos devemos preocupar se for sacudida pelo vento, pois é necessário que a combata o vento das tentações para fazê-la tombar, que as neves e as geadas a rodeiem para perdê-la;
Quer dizer que esta devoção à Santa Virgem SERÁ NECESSARIAMENTE ATACADA E CONTRADITA;
Porém desde que se persevere em cultivá-la, não há nada a temer.
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II. O fruto da Árvore da Vida é o amável e adorável Jesus
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Alma predestinada, se tu cultivas assim a tua Árvore da Vida, plantada de novo pelo Espírito Santo em tua alma;
Eu te asseguro que em POUCO TEMPO CRESCERÁ TÃO ALTO que as aves do Céu aí habitarão, e TORNAR-SE-Á TÃO PERFEITA que afinal dará seu fruto de honra e de graça a seu tempo, quer dizer o AMÁVEL E ADORÁVEL JESUS que sempre foi e que será sempre o ÚNICO FRUTO DE MARIA.
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Feliz uma alma na qual Maria, a Árvore da Vida, é plantada;
Mais feliz aquela na qual ela dá seu fruto;
Porém a MAIS FELIZ DE TODAS É AQUELA QUE APRECIA E CONSERVA SEU FRUTO até à morte e nos séculos dos séculos.
Assim seja!
Fonte: São Luís Maria Grignion de MONTFORT. O Segredo de Maria.
A doutrina católica ensina-nos que o primeiro dever da caridade não está na tolerância das convicções erróneas, por sinceras que sejam, nem na indiferença teórica e prática pelo erro ou vício, em que vemos mergulhados os nossos irmãos, mas no zelo pela sua restauração intelectual e moral, não menos que por seu bem-estar material.
Esta mesma doutrina católica ensina-nos também que a fonte do amor ao próximo encontra-se no amor a Deus, Pai comum e fim comum de toda a família humana; e em Jesus Cristo, do qual somos membros, a tal ponto que fazer o bem aos outros é fazer o bem ao próprio Jesus Cristo. Qualquer outro amor é ilusão ou sentimento estéril e passageiro. Na verdade, nós temos a experiência humana de pagãos e sociedades seculares de eras passadas para mostrar que a preocupação com interesses comuns ou afinidades de natureza pesam muito pouco contra as paixões e desejos selvagens do coração.
Não, veneráveis irmãos, não existe verdadeira fraternidade fora da caridade cristã. Através de Deus e de seu Filho Jesus Cristo, nosso Salvador, a caridade cristã abrange todos os homens, para consolar todos, e para os conduzir todos à mesma fé e à mesma felicidade celestial. Separando a fraternidade da caridade cristã assim entendida, a democracia, longe de ser um progresso, constituiria um desastroso recuo para a civilização.
Se, e Nós desejamo-lo com toda a nossa alma, chegar a maior soma possível de bem-estar para a sociedade e para cada um dos seus membros pela fraternidade, ou, como se diz ainda, pela solidariedade universal, é necessária a união dos espíritos na verdade, a união das vontades na moral, a união dos corações no amor de Deus e de seu filho Jesus Cristo. Ora, esta união só poderá ser realizada pela caridade católica, que é a única, por consequência, que pode conduzir os povos no caminho do progresso, para o ideal da civilização.
S. Pio X (Papa) in Carta Apostólica ''Notre Charge Apostolique'' (25/08/1910)
Cuidai de vos reunirdes com mais frequência para oferecer a Deus a vossa eucaristia, as vossas acções de graças e os vossos louvores. Por vos reunirdes frequentemente, enfraqueceis as forças de Satanás e o seu poder pernicioso dissipa-se perante a unanimidade da vossa fé. Haverá algo melhor do que a paz, esta paz que desarma todos os nossos inimigos espirituais e carnais?
Não ignorareis nenhuma destas verdades, se tiverdes por Jesus Cristo uma fé e uma caridade perfeitas. Estas duas virtudes são o princípio e o fim da vida: a fé é o seu princípio, a caridade, a sua perfeição; a união das duas, o próprio Deus; todas as outras virtudes as seguem em procissão para conduzir o homem à perfeição. A profissão da fé é incompatível com o pecado e a caridade com o ódio. «É pelos frutos que se conhece a árvore» (Mt 12,33); da mesma forma, é pelas suas obras que se reconhecem os que fazem profissão de pertencer a Cristo. Pois, neste momento, não basta fazermos profissão da nossa fé, mas temos efectivamente de a pôr em prática com perseverança, até ao fim.
Mais vale ser cristão sem o dizer, do que dizê-lo sem o ser. Fica muito bem ensinar, desde que se pratique o que se ensina. Nós temos, portanto, um só Mestre (Mt 23,8), Aquele que «disse, e tudo foi feito» (Sl 32,9). Mesmo as obras que realizou em silêncio são dignas do Pai. Aquele que compreende verdadeiramente a palavra de Jesus também é capaz de ouvir o seu silêncio; será então perfeito: agirá através de sua palavra e manifestar-se-á pelo seu silêncio. Nada escapa ao Senhor; até os nossos segredos estão na sua mão. Façamos portanto todas as nossas acções com o pensamento de que Ele habita em nós; desse modo, seremos templos seus, e Ele será o nosso Deus, que habitará em nós.
Santo Inácio de Antioquia in Carta aos Efésios, §§ 13-15 (trad. coll. Icthus, vol. 2, p. 80)
Santa Teresinha do Menino Jesus, doutora da Igreja, tem muito para nos ensinar. Por exemplo isto:
Notei (e é muito natural) que as Irmãs mais santas são as mais amadas; procura-se conversar com elas, [e] prestam-se-lhes serviços sem que os peçam. As almas imperfeitas, pelo contrário, não são nada procuradas; as pessoas mantêm-se, sem dúvida, em relação a elas, dentro dos limites da cortesia religiosa, mas, receando talvez dizer-lhes algumas palavras pouco amáveis, evitam a companhia delas. Eis a conclusão que daí tiro: devo procurar, no recreio, nas licenças, a companhia das Irmãs que me são menos agradáveis, [e] exercer junto dessas almas feridas o ofício do Bom Samaritano [Lc 10,30-35].
Uma palavra, um sorriso amável, bastam, muitas vezes, para alegrar uma alma triste; mas não é exclusivamente para atingir esse objectivo que quero praticar a caridade, pois sei que bem depressa desanimaria: uma palavra que terei dito com a melhor intenção poderá ser interpretada completamente ao contrário.
Assim, para não perder o meu tempo, quero ser amável para com todas (e em particular para com as Irmãs menos amáveis) para dar alegria a Jesus e corresponder ao conselho que Ele dá no Evangelho mais ou menos nestes termos: «Quando derdes um banquete, não convideis os vossos parentes nem os vossos amigos, não vão eles também convidar-vos, por sua vez, recebendo [vós] assim a vossa recompensa; mas convidai os pobres, os coxos, os paralíticos, e sereis felizes por eles não vos poderem retribuir, pois o vosso Pai, que vê no segredo, vos recompensará» [Mt 6,4]. Que banquete poderia uma carmelita oferecer às suas Irmãs, senão um banquete espiritual composto de caridade amável e alegre?
Quanto a mim, não conheço outro, e quero imitar São Paulo, que se alegrava com os que encontrava alegres; é verdade que chorava também com os aflitos [Rm 12,15], e algumas vezes as lágrimas devem aparecer no banquete que quero oferecer, mas procurarei sempre que essas lágrimas se transformem em alegria [Jo 16,20], já que o Senhor ama os que dão com alegria [2Cor 9,7].
Amemos todos o Senhor nosso Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, com todo o nosso espírito, com todo o nosso poder e coragem, com toda a nossa inteligência, com todas as forças, com todo o nosso esforço, com todo o nosso afecto, com as nossas entranhas, com todo o nosso desejo, com toda a nossa vontade. Ele deu-nos e continua a dar-nos o corpo, a alma e a vida; Ele criou-nos e resgatou-nos; salvar-nos-á apenas por sua misericórdia; apesar das nossas fraquezas e das nossas misérias, das nossas vilanias e das nossas vergonhas, das nossas ingratidões e da nossa maldade, Ele só nos fez e faz o bem.
Não tenhamos portanto outro desejo, nem outra vontade, outro prazer e outra alegria que não seja o nosso Criador, Redentor e Salvador, o único verdadeiro Deus que é o bem pleno, inteiro, total, verdadeiro e soberano; o único que é bom, misericordioso e amável, indulgente e manso; só Ele é santo, justo, verdadeiro e recto; só Ele é benevolente, inocente e puro; dele, por Ele e nele reside todo o perdão, toda a graça e toda a glória para todos os penitentes e justos da terra e para todos os bem-aventurados que rejubilam com Ele no céu.
Portanto, a partir de agora, já não haja obstáculos, nem barreiras, nem filtros! Em todos os lados e lugares, a todas as horas e em todos os tempos, todos os dias e sem interrupção, creiamos todos com uma fé humilde e verdadeira, preservemo-la no nosso coração, saibamos amar, honrar, adorar, servir, louvar e bendizer, glorificar e celebrar, enaltecer e agradecer ao altíssimo soberano Deus eterno, Trindade e unidade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Não somos nós, mas a Providência divina que faz tudo, mesmo nas coisas que aparentemente somos nós que fazemos. (Homilias sobre São Mateus, 21, 4)
Não é possível falar de não receber em se tratando de Deus, porque, tanto quanto a bondade supera a maldade, assim o seu amor supera o de todos os pais. (Homilias sobre São Mateus, 23, 5)
Além do que já nos disse, o Senhor dá-nos ainda mais um motivo para que tenhamos confiança: Procurai antes de tudo o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo (Mt 6, 33). Depois de ter livrado a alma de toda a inquietação, Cristo recorda-lhe o Céu. Com efeito, Ele veio destruir o que era antigo e chamar-nos a uma pátria melhor. Por isso não poupa esforços para nos livrar do cuidado do supérfluo e para nos desprender do desordenado amor à terra [...]. Não nascemos para comer, beber e vestir-nos luxuosamente, mas para agradar a Deus e alcançar os bens eternos. E já que essas coisas devem ser secundárias no nosso empenho, sê-lo-ão também na nossa oração. (Homilias sobre São Mateus, 22, 3)
Mal somos atingidos por uma doença corporal, não deixamos de tentar nada, até nos vermos livres da moléstia; estando, no entanto, a nossa alma doente, às vezes, tudo são vacilações e atrasos [...]: fazemos do necessário acessório, e do acessório necessário. Deixamos aberta a fonte dos males e desejamos secar os arroios. (Homilias sobre São Mateus, 14, 3)
O que quero é pedir-vos e suplicar-vos novamente que imiteis pelo menos as crianças pequenas na escola. Estas, antes de mais nada, aprendem a forma das letras; depois começam a distinguir as cursivas, e assim, passo a passo, chegam a aprender a ler. Façamos nós o mesmo: dividindo em partes a virtude, aprendamos primeiro a não imprecar, não perjurar, não maldizer; a seguir, passando à letra seguinte, a não invejar ninguém, a não amar os corpos, a não nos entregarmos à gula e a embriaguez, a não ser cruéis, a não ser indolentes. Depois, passando às letras espirituais, estudemos a continência, a mortificação do ventre, a castidade, a justiça, o desprezo da glória; sejamos modestos, contritos de coração, e, ligando essas virtudes umas às outras, escrevamo-las na nossa alma. Podemos exercitar todas essas coisas na nossa própria casa: com os amigos, com a mulher e com os filhos. Para já, comecemos com o mais simples, como, por exemplo, não deprecar. Estudemos constantemente esta letra na nossa própria casa. Sem dúvida, não nos faltarão em casa pessoas que venham perturbar este estudo: é o escravo que vos irrita; a mulher que, com o seu mau humor, vos tira do sério; e o menino que, com as suas travessuras e rebeldias, vos faz prorromper em ameaças e imprecações. Pois bem, se em casa, aguilhoados constantemente por todos estes, conseguirdes não ser arrastados a dizer imprecações, facilmente saireis indenes também em praça pública. Mais ainda: se em casa não insultares a tua mulher nem o teu escravo nem outro qualquer, conseguirás não insultar absolutamente ninguém. É verdade que a tua mulher muitas vezes se põe a louvar fulano e a chorar como uma desgraçada, e te dá assim razões suficientes para prorromperes em maldições contra o outro. Mas tu não te irrites nem maldigas o louvado, antes suporta tudo generosamente. Se ouvires os teus escravos louvarem igualmente outros senhores, também não te perturbes, mas permanece sempre sereno. Seja a tua casa um lugar de combate e adestramento na virtude. Bem exercitado em casa, sustentarás com muita destreza os combates em praça pública. (Homilias sobre São Mateus, 11, 8)
Não há nada, por fácil que seja, que a nossa tibieza não apresente como difícil e pesado; como nada há tampouco tão difícil e penoso que o nosso fervor e determinação não o torne fácil e leve. (Tratado sobre a compunção, 1, 5)
[As tentações] servem em primeiro lugar para que percebas que agora és mais forte. Depois, para que tenhas moderação e humildade, e não te empertigues pela grandeza dos dons recebidos, porque as tentações podem muito bem reprimir o teu orgulho. Além disso, a malícia do demônio, que talvez duvide de que realmente o abandonaste, pode pela prova das tentações ter plena certeza de que te afastaste dele definitivamente. Quarto motivo: as tentações tornam-te mais forte do que o ferro mais bem temperado. Quinto: dão-te a melhor prova de como são preciosos os tesouros que te foram confiados, porque, se o diabo não tivesse visto que agora estás constituído na mais alta honra, não te atacaria. (Homilias sobre São Mateus, 13, I)
O grave não é que aquele que luta, caia, mas que permaneça caído. O grave não é ser ferido na guerra, mas desesperar-se depois de receber o golpe e não cuidar da ferida. Um mercador não deixa de navegar por ter sofrido naufrágio certa vez e perdido a carga. Retoma ao mar e desafia as ondas e atravessa os oceanos, e acaba por recuperar a sua riqueza. E assim vemos também muitos atletas que, depois de grandes quedas, conseguiram ser coroados; e muitas vezes aconteceu que um soldado, que primeiro havia dado as costas ao inimigo, depois voltou atrás e lutou como um valente e venceu o inimigo. Muitos, por fim, que negaram a Cristo forçados pela violência dos tormentos tornaram depois ao combate e saíram deste mundo cingindo a coroa do martírio. Se cada um destes se tivesse deixado tomar pelo desalento ao primeiro golpe, não teria alcançado os bens que alcançou mais tarde. Assim também tu, querido Teodoro, não deves precipitar-te a ti mesmo no abismo só porque te afastaste um pouco do teu estado. Não. Resiste valorosamente e retoma depois ao lugar de onde saíste, e não tenhas por desonra teres um dia recebido esse golpe. Se visses um soldado que retoma ferido da guerra não o considerarias desonrado; desonra é lançar fora as armas e deixar o campo de batalha. Mas enquanto a pessoa se mantiver firme no seu posto e se empenhar em combater, mesmo que seja ferida, mesmo que tenha de retroceder alguns passos, ninguém será tão insensato nem tão inexperiente nas coisas da guerra que se atreva a lançar-lho em rosto. Não ser ferido é próprio somente daqueles que não lutam; mas aqueles que se lançam com grande ímpeto contra o inimigo, é natural que vez por outra sejam atingidos por um golpe e caiam. Isto é o que te aconteceu agora: quiseste matar a serpente de um só golpe e foste mordido por ela. Mas, anima-te; com um pouco de vigilância, não ficará o menor rasto dessa ferida e até, com a graça de Deus, conseguirás esmagar a cabeça da serpente. (Exortação 2 a Teodoro, 1)
Quando falta a nossa cooperação, cessa também a ajuda divina. (Homilias sobre São Mateus, 50, 2)
Um chefe no campo de batalha estima mais o soldado que, depois de ter fugido, volta e ataca com ardor o inimigo, que o que nunca voltou as costas, mas também nunca realizou uma ação valorosa. (Comentário à primeira Carta aos Coríntios, 3)
Para que servem umas plantas que depressa florescem e pouco depois murcham? Não, o Senhor exige dos seus uma resistência constante. (Homilias sobre São Mateus, 33, 5)
As árvores que crescem em lugares sombreados e livres de ventos, enquanto externamente se desenvolvem com aspecto viçoso, tornam-se moles e quebradiças, e qualquer coisa as fere facilmente; ao contrário, as que vivem nos cumes dos montes mais altos, agitadas por muitos e fortes ventos, sempre expostas à intempérie e às inclemências, batidas por fortes tempestades e cobertas de neves constantes, tornam-se mais robustas que o ferro. (Homilia sobre a glória na tribulação).
No dia 13 de maio de 1995 ocorreu o 78o. aniversário da primeira aparição da Santíssima Virgem Maria em Fátima, Portugal, em 1917. Esse grande evento, manifestação realmente excepcional da Misericórdia divina, é agora deixado no mais profundo esquecimento e isso, precisamente, por culpa da hierarquia católica. Sobre o único sobrevivente dos três pequenos videntes1, Irmã Maria Lúcia do Coração Imaculado, mais conhecida sob o nome de irmã Lúcia (Lúcia dos Santos), paira o silêncio há vários anos. Enclausurada no Carmelo de Coimbra desde março de 1948, ela recebia periodicamente visitas autorizadas das mais diversas personalidades eclesiásticas, de cardeais a simples pesquisadores sobre as aparições, assim como uma importante correspondência vinda de todos os cantos do mundo. Mas já a partir de 1954 (durante os três últimos anos do reinado de Pio XII) as visitas começaram a ser reduzidas pelas autoridades competentes, para terminar por serem completamente suprimidas a partir de 1960. Nesse ano estava prevista a leitura pública, pelo papa, do famoso “terceiro segredo” de Fátima, leitura que — como se sabe — não foi feita2. Ao contrário, a partir desse ano, Irmã Lúcia não pôde mais falar com ninguém sobre as aparições, nem mesmo por carta. Com exceção dos cardeais, aos quais não se aplicam as proibições da clausura, dos parentes mais próximos e benfeitores conhecidos das autoridades, ninguém pode se aproximar do parlatório do convento. As permissões de visita são dadas pelo prefeito da Congregação pela Doutrina da Fé, mas este (o Cardeal Ratzinger) há muitos anos não concede nenhuma.
Assim, foi imposto à Irmã Lúcia uma clausura dentro da clausura. É um fato surpreendente que, por si só, já dá uma idéia do ambiente no Vaticano. Aquela que, nesse século, pode testemunhar ter visto e ouvido a Santíssima Virgem Maria (e Nosso Senhor) é mantida num isolamento total, muito além das regras mais rígidas da clausura. Que o Vaticano tenha adotado a orientação de apagar e de fazer esquecer Fátima, resulta também do fato de que a obra científica fundamental e oficial sobre as aparições — os quatorze volumes do padre Alonso, nos quais esse pesquisador de valor recolheu, classificou e comentou 5396 documentos — essa obra esteja pronta desde 1976, mas sua publicação ainda não tenha sido autorizada pelas autoridades competentes3. Na realidade, a hierarquia parece não ter compreendido a importância da “mensagem de Fátima”. Senão os Papas teriam se empenhado com outro ardor em satisfazer os pedidos. Começando pelos atos de culto ordinário e extraordinário, pedidos repetidas vezes por Nossa Senhora e por Jesus em pessoa, nas visões e nas mensagens com as quais a Irmã Lúcia foi gratificada de 1917 à 1952 (pelo que sabemos). Nos referimos ao pedido de instituir a Comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados do mês em honra do Imaculado Coração de Maria e de Lhe consagrar publicamente, explicitamente e solenemente a Rússia, em união manifesta de todos os bispos.
Pio XI e Pio XII não fizeram a verdadeira consagração da Rússia
Nenhum dos dois pedidos foram ouvidos. O primeiro não foi nem mesmo tomado em consideração. Para o segundo, houve consagrações, mas nenhuma válida, porque não estavam conformes às modalidades expressamente pedidas pelo Céu. Os dois pedidos estão, aliás, ligados, porque no segredo comunicado no dia 13 de julho de 1917, a Santíssima Virgem disse: “Para impedir isso [a guerra mundial que acabava de ser profetizada em punição pela infidelidade e malícia humanas] virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora dos primeiros sábados [do mês]. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá é terão paz. Se não, ela espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, meu Coração Imaculado triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao mundo algum tempo de paz“.
Essa consagração ao Imaculado Coração de Maria foi, depois, pedida numa visão, no convento de Tuy, na Espanha, no dia 13 de junho de 1929, e o Papa reinante Pio XI, foi certamente informado antes de agosto de 1931: “É chegado o momento em que Deus pede ao Santo Padre de fazer, em união com todos os bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Coração Imaculado, prometendo salvá-la por esse meio“.
Trata-se de uma consagração solene, unicamente da Rússia, feita pelo Papa e simultaneamente pelos bispos de todo o mundo, consagração cujo fruto será a conversão da Rússia ao catolicismo. A Rússia, cismática e herética, comunista e atéia, não pode evidentemente se converter à verdadeira Fé (e pôr seu braço poderoso ao seu serviço) senão por uma intervenção divina explícita, na qual, entretanto, os homens (no caso o alto escalão da Igreja Católica) são chamados a participar — num ato solene — com a adesão plena e corajosa da sua inteligência e vontade.
Mas esse ato de consagração não deve, evidentemente, ser muito fácil de se fazer, pois até hoje os papas ainda não conseguiram fazê-lo! O medo das reações da Rússia e das outras potências desse mundo foi, até hoje, mais forte que o desejo de satisfazer ao pedido divino! E talvez esse pedido nunca tenha sido levado a sério, isto é, com a humildade e o zelo que a Fé exige. Depois de Pio XI, que não fez absolutamente nada, empenhado que estava num começo de tentativa — catastrófica — de abertura à União Soviética, houve de fato consagrações concernentes à Rússia, sob diversas modalidades, mas nunca respeitando a forma prescrita pela Santíssima Virgem. No dia 31 de outubro de 1942, Pio XII — numa rádio-mensagem dirigida à nação portuguesa — consagrava a Igreja e o mundo ao Imaculado Coração de Maria, com uma menção especial, mas muito discreta, da Rússia. Esse ato, entretanto, foi demonstrado completamente ineficaz para a conversão dessa nação por falta manifesta de algumas condições essenciais requeridas. A Santíssima Virgem Maria pediu de fato, expressamente, que a consagração tenha por objeto unicamente a Rússia, e a Irmã Lúcia, várias vezes chamou a atenção sobre esse ponto. Além disso, a consagração deve se fazer em união explícita com todos os bispos do mundo (e não somente com alguns). Nenhuma dessas duas condições essenciais foi realizada na ocasião da rádio-mensagem papal.
No dia 7 de julho de 1952, Pio XII, na sua carta apostólica Sacro vergente anno, dirigida aos povos da Rússia, efetuava uma consagração “de todos os povos da Rússia” ao Imaculado Coração de Maria para que, com a Sua ajuda, se realizasse “uma paz verdadeira, a concórdia fraterna e a liberdade que é devida a cada um”. Trata-se, pois, de uma consagração feita em termos vagos, na qual não se fala nem em reparação nem de conversão ao catolicismo, mas de paz, de concórdia e de liberdade em termos quase leigos: ainda mais, de uma consagração sem nenhuma solenidade. Não houve, realmente, uma ordem dada aos bispos do mundo inteiro de se unirem explicitamente ao Papa na consagração. Esse ato passou praticamente inadvertido e, além disso, que conversões foram produzidas? João XXIII, muito empenhado na Ostpolitik, nada fez. Paulo VI, referindo-se aos atos de Pio XII, limitou-se em consagrar à Maria Imaculada “toda a família humana”, no seu discurso de clausura da sessão conciliar, no dia 26 de novembro de 1964. Em relação à mensagem de Fátima, esse papa guarda sempre um desapego cético, como alto prelado refinado, “aberto ao mundo”, que ele era. Esteve em Portugal na ocasião do Jubileu das aparições (em 13 de maio de 67), mas limitou sua visita a um só dia, não foi no lugar das aparições, não deu à Irmã Lúcia — que tinha sido convocada à tribuna papal — a audiência privada que ela desejava. Segundo Jean Guitton, eis o seu julgamento sobre a vidente: “… uma moça muito simples! Ela é uma camponesa sem complicação. O povo queria vê-la e eu lhas mostrei“.
João Paulo II continua pelo mesmo caminho
O papa atual [N. da P., o autor refere-se ao papa João Paulo II, então reinante] só mostrou um certo interesse por Fátima depois do conhecido atentado que sofreu no dia 13 de maio de 1981. Cerca de um mês mais tarde confiou a “família humana” inteira à proteção da Bem-aventurada Virgem. Mas a Irmã Lúcia continuava a sustentar, nas suas raras entrevistas com autoridades eclesiásticas, que as consagrações de Pio XII não eram válidas do ponto de vista da conversão da Rússia (conversão da qual não se via nenhum traço). João Paulo II fez, assim, novas consagrações, sob a forma de um “ato de oferenda” do mundo (e mentalmente ‘ da Rússia também) a Deus, por intermédio do Imaculado Coração de Maria, em união puramente espiritual com “todos os pastores da Igreja” que, no entanto, por seu lado, não consagraram coisa nenhuma. Esse ato foi repetido dia 16 de outubro de 1983 e, em face dos protestos dos católicos, no dia 25 de março de 1984 em Roma. Mas esses três “atos” devem ser considerados como totalmente inválidos no que concerne à conversão desejada da Rússia, por causa da falta das condições pedidas pela Santíssima Virgem Maria. Com efeito, eles deveriam referir-se somente à Rússia (que, ao contrário, nem mesmo foi citada) e serem realizados simultaneamente por todos os bispos do mundo. Em seguida, diante das novas tentativas de alguns especialistas em Fátima (com o padre Caillon em primeiro lugar), de obter uma consagração da Rússia conforme ao pedido divino, o papa e as autoridades eclesiásticas reagiram incomodados, afirmando que já se havia feito (e mais de uma vez) o necessário. A questão devia ser considerada como terminada. Em 1989 fizeram circular declarações e cartas (datilografadas) atribuídas à Irmã Lúcia, nas quais se afirmava que o ato de oferenda de 1984 correspondia ao pedido por Nossa Senhora. Mas nessas cartas estava dito que o ato de oferenda do papa tinha satisfeito o pedido de Nossa Senhora de lhe consagrar o “mundo”, enquanto que todo mundo sabe que a Irmã Lúcia sempre disse que a Santíssima Virgem lhe falou somente da Rússia e nunca falou do mundo. A autenticidade dessas declarações, assim, parece duvidosa. Procurou-se, depois, criar a opinião que os transtornos do leste da Europa e a crise do comunismo demonstravam que o ato de oferenda de João Paulo II produziu seus frutos: a Rússia começaria a se converter. Nossa Senhora, no entanto, não pediu a conversão da Rússia à liberdade de consciência ou à democracia, mas sim ao catolicismo. Ora, dessa conversão ao catolicismo (a única que conta) não se vê sinal na Rússia de hoje que gosta de se definir como “pós-comunista”. O Vaticano afirma que a questão está encerrada. Onze anos se passaram depois do ato de oferenda do papa; a Rússia se converteu? Categoricamente, a resposta é: Não. O que vemos na Rússia atual? Uma desordem moral espantosa, talvez mesmo pior que a que aflige o Ocidente há vários anos. O hedonismo e o materialismo os mais ativos, se expandem, numa orgia de seitas e falsas religiões, de neopaganismo bárbaro e decadente.
Os católicos russo-ucranianos (os uniatas), foram completamente abandonados, em homenagem à política do “diálogo” com os ortodoxos e o poder político local. Em vez de se expandir, o catolicismo na Rússia sofreu, ao contrário, uma nova perseguição! Podemos então continuar a afirmar que os “atos de oferenda” do papa conduzem a Rússia para a verdadeira Fé? Que foram atos conformes à vontade divina? Os fatos demonstram que o papa não satisfez os pedidos da Santíssima Virgem Maria.
Uma terrível advertência!
Quando o céu ordena, o homem nada pode fazer conforme o seu parecer. Ele deve, ao contrário, seguir o exemplo de Naaman, o Sírio, que se deixou convencer em entrar sete vezes nas águas do Jordão para curar a lepra, obedecendo assim literalmente ao que lhe tinha ordenado o profeta Eliseu, apesar da coisa lhe parecer, no momento, absurda, ofensiva e mesmo ridícula (2o. Livro dos Reis). Curar-se da lepra apenas com sete imersões consecutivas nas águas de um rio! E, no entanto, isso acontece justamente porque a onipotência divina é capaz disso e de qualquer outra coisa. Os papas citados acima não tiveram, evidentemente, a Fé de Naaman. Não creram que, de um simples ato de consagração, pudesse decorrer, pela vontade divina, um evento imenso, de porte histórico decisivo, tal como a conversão da Rússia ao catolicismo.
Mas, então, a consagração da Rússia se fará? Os papas continuarão a ignorar os pedidos divinos? Não. A consagração será feita, mas tarde. E o que profetizou Nosso Senhor à vidente, repetindo o que a Santíssima Virgem Maria tinha dito em Fátima, numa visão que remonta à 1931, em Rianjo, na Espanha, diante da atitude passiva de Pio XI: “Dê a conhecer a meus ministros, dado que eles seguem o exemplo do Rei de França, atrasando a execução de meu pedido, que continuarão na infelicidade. Nunca será tarde demais para recorrer à Jesus e a Maria… Como o Rei de França, eles se arrependerão e o farão, mas será tarde…”.
A referência ao rei de França concerne à visão de santa Margarida Maria Alacoque, que a transmitiu a Luís XIV em 1689, de consagrar explicitamente a França ao Sagrado Coração de Jesus; mas nem o rei de França, nem seus sucessores responderam a esse pedido, com exceção de Luís XVI, que fez a consagração quando já era “tarde”, isto é, quando a monarquia já tinha sido abatida e ele encontrava-se prisioneiro no Templo, na véspera da sua execução. Segundo a profecia, deveria acontecer aos papas alguma coisa parecida, por causa da sua negligência e da sua obstinação: um papa fará finalmente a consagração, levado pelas circunstâncias gravíssimas, situação que se pode imaginar de extremo perigo para a Igreja. Sobre o papado flutua, ex voce Christi, mesmo se expressa numa revelação privada, a profecia de um castigo severo por causa da desobediência e da sua falta de Fé repetidas vezes, profecia cuja realização pode naturalmente tornar-se inútil por uma mudança de sentimento e de conduta dos destinatários, do momento que Deus nos deixa o uso do nosso livre arbítrio. Profecia terrível, na qual não foi dita, no entanto, “tarde demais”, mas “tarde”, deixando assim entendido que, depois desse ato tardio, haverá para a Igreja o renascimento. Nenhum papa depois de Pio XII pareceu inquietar-se com essa terrível advertência, talvez porque a profecia e praticamente todo o conjunto da mensagem de Fátima sejam, de fato, consideradas como divagações da reclusa de Coimbra.
A questão do terceiro segredo
A omissão, por uma recusa obstinada e constante, perdurou em seguida de maneira mais grave em relação à divulgação do terceiro segredode Fátima. Por esse nome entende-se, como se sabe, a terceira parte do segredo comunicado aos três videntes na sexta-feira, 13 de julho de 1917, segredo divulgado depois gradualmente no decorrer dos anos seguintes, por Irmã Lúcia (com exceção do terceiro segredo). Osegredo (que os videntes disseram ter recebido, sem no entanto nada revelar, não obstante as pressões, intimidações ou ameaças) é, na realidade, um todo coerente. Ele contém “três coisas”: a visão do inferno; a proclamação da vontade de Deus de estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria para salvá-lo do castigo da II guerra mundial (profetizada com extrema clareza), devoção cujas manifestações deveriam ser a prática da comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados do mês e a consagração da Rússia, a qual nos referimos mais acima. Na segunda parte do segredo, Nossa Senhora, depois de ter dito que a I guerra mundial acabaria em breve, parece vincular a eclosão da II guerra mundial à falta de conversão da Rússia. Enfim, há a terceira parte ou o “terceiro segredo”, posto por escrito pela vidente em janeiro de 1944 numa página de caderno que foi enviada dentro de um envelope fechado, no dia 17 de maio de 1944, para o bispo de Leiria (que não quis ler) e transmitido a Roma, dia 16 de abril de 1957. Pio XII também não quis lê-lo. Segundo as indicações da Irmã Lúcia, a publicação do segredo deveria ter sido feita em 1960. A vidente sempre deu a compreender que essa parte do segredo de Fátima não podia, por causa do seu conteúdo, ser do domínio público como as duas outras: quanto à sua divulgação, ela a confiava às autoridades eclesiásticas superiores e não à simples ordem do seu confessor. Os papas que leram o 3o. segredo e que são responsáveis da sua não difusão são: João XXIII, Paulo VI e o papa atual, João Paulo II. O terceiro segredo começa quase com certeza, com a última frase do texto no qual Irmã Lúcia nos fez conhecer as duas outras partes da mensagem de Fátima. E essa frase é: “em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc”. A presença do “etc” demonstra que Irmã Lúcia quis dar a entender que a frase em questão não é uma profecia isolada dirigida exclusivamente a Portugal. (o que alguns tentaram sustentar), mas o início de um anúncio sobre a manutenção do dogma da Fé nas nações cristãs. O terceiro segredo concerne, segundo todas as probabilidades, à manutenção do depósito da Fé, o que quer dizer que seu objeto específico é a Santa Igreja. É muito provável que nele estejam sinteticamente profetizados os graves transtornos que o catolicismo viria sofrer, por causa da hierarquia impregnada de modernismo, “estuário de todas heresias”, a partir do Concílio Vaticano II. A traição da Fé por culpa de pastores, escravos da heresia, é certamente antecipada no terceiro segredo: é por isso que a Igreja oficial atual, que é a Igreja na qual esses pastores detém as alavancas do poder, evita torná-lo público e tudo faz para deixá-lo cair no esquecimento. Não se trata pois do fim do mundo, como se procuro insinuar, embora não se possa excluir à priori que sejam anunciados também castigos materiais (aliás já claramente previstos na segunda parte da mensagem de Fátima). O terceiro segredo concerne à Igreja, à dolorosa obscuridade da Fé da qual somos testemunhas cada vez mais horrorizadas. Podemos também deduzir que seja assim pelo que disse o papa atual à Irmã Lúcia no seu breve encontro de 13 de maior de 1982, e que ela relatou ao cardeal Oddi em 1985: que não era oportuno divulgar o segredo porque o mundo “não o compreenderia”. Ou, como disse o cardeal Ratzinger ao jornalista Messori, que não era oportuno divulgá-lo porque se exporia “ao perigo de utilizarem o seu conteúdo com sensacionalismo”. Se se tratasse do fim do mundo, o público não compreenderia? Ele compreenderia, e como! E o que poderia haver no segredo que, não somente faça sensação, mas seja difícil de compreender pelos fiéis, se não a revelação ex voce divina, sancionada por um papa que clamará ao mundo quando fizer uma leitura pública do famoso texto, que a Igreja oficial atual é uma Igreja apóstata da verdade católica, dessa verdade proclamada e defendida durante dezenove séculos?
Será que os fiéis não deveriam já ter percebido isso há muito tempo? O que eles pensam de uma Igreja que, no lugar do culto de Deus, pratica o culto do homem e da mulher, que tirou a Santíssima Trindade da Santa Missa, dos seus discursos e dos pensamentos dos fiéis; que afirma crer em um “Deus único” idêntico para todas as religiões, inclusive as mais hostis ao Cristianismo; que não fala mais do pecado original, nem da imortalidade da alma, nem do Julgamento particular e, finalmente, nem do Paraíso; que deixa crer que o inferno está vazio; que, quando é constrangida a lembrar, no Novo Catecismo, as verdades tradicionais do catolicismo, o faz apresentando-as comoopiniões (subjetivas) da tradição da Igreja e não como verdades (objetivas) em si e por si; que instituiu um Novus Ordo Missae considerado como aceitável pelos protestantes, quer dizer, por heréticos; que passa sempre sob silêncio a natureza divina de Cristo, porque se a proclamasse, como é seu dever, desapareceria rapidamente o que chamam “diálogo”; que afirma que Jesus já salvou todo o mundo, morrendo sobre a Cruz, mesmo aqueles que não crêem que Ele é o Filho de Deus; que não considera mais a conversão do mundo a Cristo como seu dever fundamental, porque tentar converter seria uma violência à “liberdade de consciência” dos adeptos das outras religiões; que abraçou em tudo e por tudo os métodos e os conceitos e, assim, os erros da teologia protestante; que honra os “mártires” dos heréticos e elimina os seus próprios do calendário; que trabalha incansavelmente a unificar o catolicismo com todas as outras religiões e seitas, dissolvendo-o, assim, no abraço do falso ecumenismo; que fala somente, e de maneira inoportuna, dos problemas desse mundo, políticos em particular, e nunca da vida Eterna; para a qual no lugar do catolicismo inventou-se um humanismo deísta, parecido ao dos maçons, o qual, em nome de um igualitarismo abstrato e verbal, fomenta o espírito de rebelião e o ódio por toda autoridade legítima, incitando grupos sociais inteiros a esperança messiânicas completamente anticristãs?
Poderíamos continuar. Poderíamos encher páginas com a lista das infidelidades e traições cometidas pelos homens atuais da Igreja. Não todos, certamente, apesar de ser verdadeiro o provérbio: Quem cala consente. E que acabam tornando-se cúmplices, mesmo sem querer. Será que não há, em toda a Igreja Católica, um só bispo ou cardeal, capaz de elevar-se contra a moda dominante, para defender em alta voz o dogma da Fé? Além do mais, a Irmã Lúcia, no que seria sua última entrevista, o seu famoso encontro com o padre Fuentes, de 26 de dezembro de 1957, tinha já denunciado a surdez espiritual crescente e o início da perda da Fé: “Padre, a Santíssima Virgem está muito triste porque ninguém faz caso de Sua mensagem, nem os bons nem os maus. Os bons continuam seu caminho, mas sem se preocupar da mensagem. Os maus, visto que o castigo de Deus não os fere no momento, continuam sua vida de pecado sem fazerem caso da mensagem. Mas, creia-me padre, Deus vai castigar o mundo e o fará de uma maneira terrível [estávamos na véspera do Concílio Vaticano II, que representou para a Igreja — segundo Congar — o que os États Generaux representaram para a Revolução Francesa]. Diga-lhes [ao bispo de Leiria e a Pio XII que não quiseram ler o terceiro segredo] que a Santíssima Virgem disse várias vezes, a meus primos Francisco e Jacinta e a mim, que muitas nações desaparecerão da face da terra, que a Rússia será o instrumento da punição do Céu em relação ao mundo inteiro, se não conseguirmos obter antes, a conversão dessa pobre nação (…) Padre, o diabo vai começar uma batalha terrível contra a Virgem, e como ele sabe o modo de ofender mais a Deus e perverter em pouco tempo o maior número de almas, ele faz tudo para ganhas as almas das pessoas consagradas a Deus (…). Padre, não esperamos que venha de Roma um apelo à penitência da parte do Santo Padre para o mundo inteiro. Nem esperemos tampouco que venha dos nossos bispos um apelo das suas dioceses respectivas, nem das congregações religiosas. Não, Nosso Senhor já utilizou muitas vezes esses meios e o mundo os ignorou. É por isso que, agora, é necessário que cada um de nós comece em si mesmo a sua própria reforma espiritual. Cada um deverá salvar não somente sua alma, mas também todas as almas que Deus colocou no seu caminho“.
E os meios para realizar a “reforma espiritual” para nós e para os outros são os verdadeiros instrumentos católicos para a salvação das almas, isto é, “a oração e o sacrifício”, “o santo Rosário” e a “devoção ao Imaculado Coração de Maria”.
Jamais exprimiremos o suficiente a nossa admiração e gratidão pela Irmã Lúcia, essa figura exemplar de religiosa, exemplo perfeito, pela graça de Deus, de virtude cristã, simples, humilde e devota, que resiste e persevera até o fim, no silêncio hostil que a cerca, para levar a seu termo a missão que Nosso Senhor lhe confiou há tantos anos.
Ela é para nós um modelo no combate que devemos levar todos os dias contra nós mesmos e contra o mundo. Seu sofrimento, sua luta intrépida pela defesa e o triunfo do dogma da Fé, nos são de grande ajuda e reconforto, cercados como estamos pelas trevas que parecem se espessar sempre mais, enquanto a tempestade se levanta na Igreja a cada dia que passa. A carmelita de Coimbra nos lembra que, apesar das aparências, Deus não nos abandonou, que devemos permanecer sempre sólidos na Fé porque “no fim“, depois das provas que só Deus conhece, o Imaculado Coração de Maria “triunfará“.
1.[N. da P] Irmã Lúcia faleceu no dia 13 de fevereiro de 2005, cerca de 9 anos após a publicação deste artigo.
2.[N. da P] No dia 26 de janeiro de 2000, numa conferência de imprensa, foi apresentado um texto que, segundo o Vaticano corresponderia à totalidade do “terceiro segredo”. Por todo mundo, uma onda de ceticismo se formou. Leia nossos comentários nesse site.
3.[N. da P] A obra monumental do padre Alonso, fruto de um labor de 10 anos e considerada de grande valor por quem o leu, teve sua publicação suspensa em 1976 por ordem do bispo de Fátima, Mons. D. Alberto Cosme do Amaral. Anos depois, 2 dos 24 volumes viriam a ser publicados, assim mesmo em edições alteradas. Qual seria o conteúdo desses documentos e o que teria o padre Alonso concluído das suas pesquisas? Podemos apenas adivinhar com base em alguns trechos de artigos publicados pelo mesmo em periódicos. A citação abaixo, que tiramos do artigo “Crônica de um Encobrimento”, publicado no site da Associação de Fátima, reforça a idéia de que o conteúdo do Terceiro Segredo se referiria a onda de apostasia do após Concílio Vaticano II: “No período que precede o grande triunfo do Coração Imaculado de Maria, sucederão coisas tremendas que são objecto da terceira parte do Segredo. Que coisas serão essas? Se ’em Portugal, se conservará sempre o dogma da Fé, …’ pode claramente deduzir-se destas palavras que, em outros lugares da Igreja, estes dogmas vão tornar-se obscuros ou chegarão mesmo a perder-se …”; “Seria, então, de toda a probabilidade que, nesse período ‘intermédio’ a que nos estamos a referir (depois de 1960 e antes do triunfo do Imaculado Coração de Maria), o texto (do Terceiro Segredo) faça referências concretas à crise da Fé na Igreja e à negligência dos Seus próprios Pastores.” O Padre Alonso fala ainda de “lutas intestinas no seio da própria Igreja e de graves negligências pastorais por parte das altas hierarcas” e, mesmo, de “deficiências na alta Hierarquia da Igreja…”; “Falaria o texto original (e inédito) de circunstâncias concretas? É muito possível que não só fale de uma verdadeira ‘crise de fé’ na Igreja durante este período intermédio, mas ainda, como acontece com o segredo de La Salette, por exemplo, que haja referências mais concretas às lutas internas dos católicos ou às deficiências de sacerdotes e religiosos. Talvez se refira, inclusivamente, às próprias deficiências da alta Hierarquia da Igreja.” “Por isso, nada disto é alheio a outros comunicados que a Irmã Lúcia tenha feito sobre este assunto.”. Significativamente, a Irmã Lúcia nunca corrigiu estas conclusões do Padre Alonso – quando nunca hesitou em corrigir outras declarações de clérigos e de vários autores sobre Fátima, sempre que estavam enganados. Ora o Padre Alonso teve acesso tanto aos documentos como à própria Irmã Lúcia. Assim, o seu testemunho é de importância capital.