sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Maria Santíssima é cheia de Graça

 



Ave, gratia plena, Dominus tecum — “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28)

Sumário. Querendo a Santíssima Trindade ostentar as suas grandezas, criou a Santíssima Virgem, destinou-a para Mãe do Verbo encarnado, e em vista desta dignidade imensa e incomparável, enriqueceu-lhe a alma bendita de toda a espécie de graças, superiores às repartidas entre todas as criaturas. Por isso a Santíssima Virgem está no céu assentada num trono de majestade, à direita de Jesus Cristo, forma uma hierarquia separada, e só ela dá mais brilho à pátria bem-aventurada do que tudo o mais que há no paraíso. Façamos ato de fé nesta grandeza inefável de nossa querida Mãe, rendamos graças a Deus e unamo-nos aos espíritos angélicos para a amar e bendizer.

I. Consideremos que a Santíssima Trindade, querendo ostentar as suas grandezas, criou Maria Santíssima, destinou-a para Mãe do Verbo divino, e, em vista desta dignidade imensa e incomparável, enriqueceu-lhe a alma bendita com todas as prerrogativas, virtudes, dons e santidade, repartidos entre as demais criaturas. Assim como um artista que resolveu fazer um primor de arte, sempre nele está pensando e com toda a aplicação forma projetos, a fim de que saia uma obra-prima; da mesma forma, conforme a divina Mãe revelou à Santa Matilde, “a Santíssima Trindade em mim se deleitava e regozijava, comprazendo-se na obra maravilhosa, que pelo seu poder, sabedoria e infinita bondade queria formar em mim”.

A divina Mãe é, pois, mais rica em graça, em merecimentos, em privilégios, em grandezas, em glória, do que todos os anjos e santos juntos. Como Primogênita do Pai Eterno, como Mãe do Filho de Deus e como Esposa do Espírito Santo está ela assentada num trono de majestade, à direita de Jesus Cristo, formando uma hierarquia separada e superior às outras. Por conseguinte, ela por si só dá ao céu mais glória e esplendor, mais luz e graça, mais alegria e júbilo do que tudo o mais o que há no paraíso. Numa palavra, só Deus é superior a Maria e só Ele, no dizer de São Bernardino, pode conhecer a sublimidade da elevação da Virgem.

Pelo que o anjo revelou a Santa Brígida que as hierarquias angélicas, pasmadas à vista do trono sublime preparado pela Santíssima Trindade para a futura Mãe de Deus, conceberam para com Maria tamanha reverência e respeito, tanta satisfação e complacência, que começaram a amá-la mais do que a si próprios, e alegraram-se mais pelas graças que Deus resolvera dar a Maria, que pela sua própria criação. Unamo-nos a estes espíritos celestiais no amor e respeito para com a nossa grande Rainha.

II. Alegremo-nos frequentemente com a divina Mãe pelas suas graças e pela sua glória e digamos-lhe com Carlos, filho de Santa Brígida:

“Ó Maria, amo-vos tanto, que antes quisera sofrer toda a pena, a fim de que não ficásseis privada, um só instante, da vossa dignidade e grandeza; e, se estivesse ao meu alcance, de boa vontade me privaria de todos os meus bens, a fim de os dar a vós, minha Mãe queridíssima”

Demos todos os dias graças à Santíssima Trindade pelos privilégios concedidos a Maria, rezando três Glórias ao Pai; e façamos por ela três atos de amor e de mortificação. Quando ouvirmos o nome de Maria, inclinemos a cabeça, avivemos a nossa fé na maternidade divina e agradeçamos a Jesus Cristo o querer fazer-se filho de Maria, e dar-no-la por Mãe.

Ó Virgem Santíssima, Mãe de Deus e minha Mãe, Maria, permiti que, prostrado diante do trono da vossa Majestade, una a minha voz à do arcanjo São Gabriel e vos diga: Ave, gratia plena, Dominus tecum! Deus vos salve, ó Maria, cheia de graça; o Senhor é convosco. Vós sois a bendita entre as mulheres; bendita entre todas as gerações presentes, passadas e futuras; bendita por todas as línguas, por todas as nações, por todos os reinos e por todos os povos. E convosco seja bendito o fruto do vosso ventre virginal, Jesus: Et benedictus fructus ventris tui (1).

Ó Virgem Santíssima, lembrai-vos de mim, pobre pecador, alcançai-me as graças de que necessito: fazei com que comece uma vida nova e a termine com uma boa morte. E assim como eu, miserável, vos bendigo na terra, assim abençoai-me vós, juntamente com Jesus Cristo, lá do alto do céu, a fim de que possa um dia ir louvar-vos e agradecer-vos no paraíso. Ó minha querida Mãe, fazei-o pela honra do vosso nome e pelo muito que amais à Santíssima Trindade que vos comunicou tamanha grandeza. “E Vós, ó meu Deus, que pela virgindade fecunda de Maria concedestes ao gênero humano a graça da Redenção, concedei-me que, invocando cá na terra à mesma Bem-aventurada Virgem como Mãe da graça, mereça gozar no céu a sua perpétua companhia. Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo” (2).

Referências:
(1) Lc 1, 42.
(2) Or. eccles.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até à Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 409-411)

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