Quid prodest homini, si mundum universum lucretur, animae vero suae detrimentum patiatur? – “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma” (Mt 16, 26)
Sumário. Os nossos parentes e amigos que estão na eternidade, lá da outra vida nos recomendam que não diligenciemos alcançar neste mundo senão os bens que nem mesmo a morte nos faz perder. Com efeito, de que aproveita ganharmos o mundo inteiro, se depois perdermos a alma? Perdida a alma, perdemos tudo! Penetrados desta grande máxima, quantos jovens se resolveram a encerrar-se nos claustros, quantos anacoretas a viver nos desertos, quantos mártires a dar a vida por Jesus Cristo!.
I. Um filósofo antigo, de nome Aristipo, fez em certa ocasião uma viagem por mar. O navio naufragou e o filósofo perdeu todos os seus bens, mas arribou felizmente à praia. Como era muito conhecido pelo seu saber, os habitantes do país o indenizaram de tudo que tinha perdido. Pelo que escreveu depois aos amigos da pátria que, avisados pelo seu exemplo, se premunissem somente daqueles bens que nem com o naufrágio se perdem. É isto exatamente o que lá do outro mundo nos recomendam os parentes e amigos que estão na eternidade: isto é, que não diligenciemos alcançar neste mundo senão os bens que nem a morte nos faz perder.
II. Procuremos viver de maneira que se nos não possa dizer na morte o que foi dito àquele egoísta do Evangelho: Stulte, hac nocte animam tuam repetent a te, quae autem parasti, cuius erunt? (2) — “Insensato, vais morrer, e que será feito dos bens que amontoaste?” Procuremos ser ricos não em bens mundanos, mas em Deus, em virtudes e em merecimentos, bens estes que nos acompanharão para sempre no céu. Numa palavra, cuidemos adquirir o grande tesouro do amor divino; pois que, no dizer de Santo Agostinho, embora estejamos de posse de todas as riquezas, seremos os mais pobres do mundo, senão possuirmos a Deus; o pobre, porém, que possui a Deus pelo amor, possui tudo.
Ah, meu Jesus, meu Redentor! Graças Vos dou por me terdes feito conhecer o meu desvairamento e o mal que fiz, voltando as costas a quem por mim sacrificou o sangue e a vida. Em verdade que não merecíeis da minha parte ser tratado como Vos tratei. Se a morte me surpreendesse nesta hora, que haveria em mim senão pecados e remorsos de consciência, que me fariam morrer em grande inquietação? Meu Salvador, confesso que fiz mal abandonando-Vos, o supremo Bem, pelas miseráveis satisfações deste mundo. Do fundo do coração me arrependo. Ah! Por essa dor que Vos fez morrer na cruz, dai-me tão grande dor de meus pecados que me faça chorar durante o resto da minha vida os agravos que contra Vós cometi. Meu Jesus, meu Jesus, perdoai-me; prometo nunca mais desagradar-Vos e amar-Vos sempre.
Senhor, não sou mais digno de vosso amor, porque o desprezei tanto no passado; mas Vós dissestes que amais a quem Vos ama: Ego diligentes me diligo (3). Amo-Vos; amai-me, pois, também. Não quero mais estar na vossa desgraça. Renuncio a todas as grandezas e gozos do mundo, contanto que me ameis. Meu Deus, atendei-me por amor de Jesus Cristo. Ele Vos pede que não me repilais do vosso coração. A Vós me consagro sem reserva; sacrifico-Vos a minha vida, as minhas satisfações, os meus sentidos, a minha alma, o meu corpo, a minha vontade e liberdade. Aceitai-me; e não me desprezeis, como o merecia, por ter tantas vezes desprezado a vossa amizade.
— Virgem Santíssima e minha Mãe, Maria, pedi a Jesus por mim; em vossa intercessão deposito toda a minha confiança.
Referências:
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 24-27)
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