Carta de janeiro de 1993
Por Bispo Richard Williamson
Queridos Amigos,
É claro que família gira em torno da mãe. E então ao defender a mulher autêntica, por exemplo, abordando o uso de calças por mulheres, se está ainda defendendo a família. Mas ao invés de culpar, esta carta quer incentivar os jovens pais e mães.
Jovens – e menos jovens – pais e mães, não é tão fácil uma tarefa como a vossa, a de criar hoje uma família católica. Para medir a extensão do problema, você deve medir a corrupção do catolicismo, que remonta a mais de um século, e você não é responsável pelos contras, mas sim por resistir à Revolução em sua própria família quando você entende como isso funciona.
Em todos os lugares, onde o Protestantismo surgiu há 400 anos, ele fez desaparecer a Igreja Católica ou Corpo Místico de Cristo, e ele fez do homem não mais um membro desse corpo social divino, mas um indivíduo isolado diante de Deus. De lá vem o individualismo moderno. Além disso, o Protestantismo também “liberou” a consciência do homem da autoridade da Igreja docente e dirigente (Mat. 28,19-20), deixando-o “livre”; é daí que vem o liberalismo moderno. Perto do final do século XX, mesmo naquelas partes do mundo onde o Protestantismo não havia prevalecido no início, o liberalismo individualista que ele criou penetrou profundamente, por exemplo, até mesmo dentro da Igreja Católica no Vaticano II. Então o mundo moderno está completamente imerso nas ideias protestantes: cada homem é livre, cada um por si, somos todos iguais na sociedade.
Mas estas ideias são profundamente antissociais. Assim, toda a sociedade moderna entra em colapso. Mas a família é uma pequena sociedade. Também a família moderna entra em colapso.
Para ilustrar como ele arruinou as coisas, vejamos o espetáculo que se apresenta hoje nos aeroportos, um pai com sua esposa e um ou dois filhos. Ele se veste, se comporta e está fazendo todo o possível para parecer com um “cavaleiro solitário”! Pobre família! Observa-se que sua esposa e filho ou filhos são naturalmente atraídos a ele, sob sua dependência natural; e depois por sua segunda natureza, o individualismo que o impregna desde o berço, os repele. No entanto, a dois pode-se jogar este jogo de independência. Então, vemos frequentemente a mulher, com seu filho único ou dois, tentando evitar depender dele. Então é só uma questão de tempo para que todos saiam do seu lado.
Visto que o casamento como foi projetado por Deus é um compromisso, as crianças são uma restrição; uma família é composta de laços, de restrições. Mas a “liberdade” ao contrário significa ausência de restrições: sem cordões, sem laços, sem apegos, sem afeições.
Assim, a “liberdade” destruiu a família.
A família como foi concebida por Deus é uma pequena sociedade hierárquica, com o pai na liderança, as crianças dependendo do pai e da mãe, e os servos depois deles (Ef. 5, 22 – 5, 19, incluindo a epístola da missa de casamento católico; ver Col. 3,18 a 4,21). Mas “igualdade” significa o desaparecimento de toda superioridade, de qualquer posição ou cargo.
Assim, a “igualdade” destruiu a família.
Mais uma vez, a família, como foi projetada por Deus, é uma pequena sociedade ou entidade social, na qual cada membro tem um papel distinto e complementar dos outros, até mesmo crianças mongoloides! Mas o individualismo significa independência – não interdependência -, seres humanos solitários. Assim, o individualismo destruiu a família.
Com efeito, é preciso saber o que queremos:
Ou o mundo moderno continua a glorificar a liberdade, a igualdade, o individualismo, a rebelião contra a autoridade, “cada um viva por si mesmo como lhe aprouver”, caso em que a família é prejudicada; ou o mundo procura defender a família, caso em que ele deveria parar de apresentar de forma atraente as ideias antissociais. Ele não pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Ele não pode, ao mesmo tempo, “ficar com a manteiga e ganhar dinheiro com a manteiga” [a]. Ele não pode amar o liberalismo e a família. Um dos dois deve desaparecer. Hoje, é a família que desaparece. Os liberais razoáveis, com as melhores intenções, estão, apesar disso, no comboio da destruição. A estrada para o inferno está pavimentada com boas intenções – e de ideias falsas.
Caros pais e mães! Vocês tem alguma simpatia secreta pelo rebelde solitário que enfrenta a autoridade e que sem qualquer ajuda garante o triunfo contra ela, a verdade e o bem? Este é o herói de quase todos os filmes modernos. Cuidado! Sob este sistema de valores está incubada a destruição de sua família. É a desagregação familiar, deixando a porta aberta a uma cascata de males, que destrói os seres humanos: divórcio, contracepção, pornografia, aborto, eutanásia, precisamos enfatizar?
A jovem mãe que me escreveu para me apresentar seu caso: há mais de 15 anos você se tornou uma católica da tradição, tendo crescido nos anos 60, 70, foi um pouco doutrinada, você me disse, pelo movimento de libertação da mulher. Você passou pela universidade, tornou-se educadora, até mesmo trabalhou no Capitólio, e se tornou “capaz de grandes coisas”, encontrando exaltação e satisfação ao lado de seus colegas de trabalho. Então você se casou, decidiu ouvir seus sacerdotes, ficou em casa com as crianças, entre as quais há agora dois adolescentes. Na época, havia montes de coisas para limpar todos os dias, e todos os problemas trazidos sobre uma família, por exemplo, a necessidade alguns anos atrás de encontrar uma educação católica para os seus filhos, levou você a viajar duas horas por dia durante três deles enquanto você educava em casa outros dois e cuidava de um bebê. “Foi uma loucura!” você me disse.
Não tão louco, jovem mãe! O que você aspirava na Colina do Capitólio? Combater a pornografia? Eu lhe asseguro, se o seu afeto e pureza da mãe estão no coração de seus filhos, você fez mais para imunizar o seu interior do que todos esses legisladores nunca poderão fazer para proteger o seu exterior. Você sonhou em se envolver na interessante luta contra o aborto? Eu lhe asseguro, se você tiver metade da Fé sobrenatural em primeiro lugar e ficou em casa para criar uma grande família nesta Fé, você terá mais nos corações de suas filhas para lutar contra o aborto, do que se você e elas tivessem participado de inúmeras marchas, campanhas e manifestações. Sem mencionar que ao pregar pelo exemplo, você fez muito mais do que faria carregando cartazes!
Mãe, pode ser que você não pense assim no momento, mas você escolheu a melhor parte. Espere só sentir como o ninho estará vazio quando os “pássaros” tiverem voado! Você pode esperar? Venha me ver daqui a vinte anos! Enquanto isso, que Deus a abençoe e que você possa ter todo o apoio de que precisa, porque a mão que balança o berço governa o mundo; porque o coração da mãe é a primeiríssima sala de aula das crianças; porque só você pode colocar no coração e na alma de suas crianças a construção ou a demolição da sociedade para todos nós amanhã.
Maridos: apoiem as mães que criam seus filhos! Avós: estejam à altura da tarefa, seus netos precisam de vocês. Amigos da mesma paróquia: ajudem com a pilha de roupa para lavar, pois um pequeno gesto pode ter um grande alcance! Católicos: lembremos que o mundo inteiro depende de nós! E jovens mães não parem de trazer luz ao seu ninho, e que Deus as abençoe. Vivam por vossa fé católica, e vocês irão construir sobre a rocha, e nenhum vento e nenhuma inundação poderão prejudicá-los.
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Traduzido de: Monseigneur Williamson. Feminisme et Pantalon. Paroles D’Evêques. Septembre 1991-Janvier 1994. ISBN 2-908758-01-6.
D. Williamson é Bispo da FSSPX.
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Notas da tradutora :
*Ganhei esse livreto com cinco cartas de D. Williamson discorrendo sobre a modéstia feminina, especialmente sobre a mulher e o problema da calça, em português: Feminismo e Calça. A primeira das cartas, a de setembro de 1991, já tinha sido traduzida por mim a partir do texto em inglês do blog “Filipino Flavour”. Veja: Carta 1, Carta 2.
[a] « avoir le beurre et l’argent du beurre » : expressão francesa que significa que você não pode ter algo para si e ganhar dinheiro com a venda dele ao mesmo tempo. Ou você fica com a manteiga ou você a vende para obter dinheiro, não se pode ter as duas coisas ao mesmo tempo.
Fonte: Maria Rosa
Muito interessante sua postagem.
ResponderExcluirParabéns.
Que Deus nos abençoe sempre
Aguardo sua visita
crisma2012matao.blogspot.com.br