terça-feira, 21 de janeiro de 2025

EXORCISTAS LANÇAM UM GRITO DE ALERTA

 

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A Associação Internacional de Exorcistas, Associação fundada em 1994 e reconhecida em 2014 como Associação privada de fiéis de direito pontifício, tem como objetivo principal servir aos sacerdotes que exercem o Ministério de Exorcista na Igreja Católica. Ela reúne mais de 900 exorcistas e 130 auxiliares.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Em 6 de janeiro de 2025, a Associação publicou um documento propondo “algumas observações sobre certas práticas pastorais equivocadas”, que distorcem ou desconsideram as instruções da Igreja e os elementos de prudência que devem cercar o exercício do delicado ministério de exorcista.

O aumento da demanda

O texto constata o aumento de pedidos de pessoas “convencidas de serem vítimas de uma ação extraordinária do demônio, em uma das suas diversas formas”. Às vezes, porém, a intervenção de terceiros, incompetentes e sem discernimento, interfere no exame regular do caso. É por isso que os exorcistas fornecem dez esclarecimentos “para lançar luz sobre certas situações repreensíveis”.

1. Advertência contra a improvisação e o sensacionalismo

Certos sacerdotes, pessoas consagradas e leigos utilizam meios arbitrários, não autorizados pela autoridade eclesiástica competente. Mais grave ainda, eles dissuadem os fiéis de recorrer ao exorcista oficial de sua diocese, sugerindo que recorram a outros exorcistas “mais poderosos” ou apoiem a ideia de uma presença demoníaca que eles identificam erroneamente.

2. Obsessão com a presença do demônio

Algumas pessoas “concentram sua atenção exclusivamente na presença e na ação do demônio”. Negligenciam a fé, a oração, a vida sacramental e a prática da caridade, que sempre foram apresentadas como as melhores armas contra o demônio. Acreditam que a libertação depende apenas da repetição compulsiva de orações e bênçãos.

3. Negligência no discernimento

Certos sacerdotes, “por vezes, infelizmente, também certos exorcistas, negligenciando o discernimento sério e rigoroso prescrito pela Praenotanda do Rito dos Exorcismos, utilizam critérios estranhos à fé católica, fazendo uso de conceitos de origem esotérica ou new age. Essa abordagem é inaceitável e contrária à fé e à doutrina da Igreja”, observa o documento.

4. Práticas supersticiosas e uso indevido de objetos sagradas

O documento tem como alvo aqueles que usam “práticas supersticiosas”, como pedir fotos ou roupas para identificar possíveis espíritos malignos, tocar os fiéis para “diagnosticar a presença de entidades malignas” ou sugerir o uso inadequado para res sacrae (água, sal, óleo sagrado, etc.). Isto mantém “mentalidades e práticas supersticiosas”.

5. Envolvimento de pessoas inadequadas

Alguns padres trabalham com pessoas consideradas “sensíveis”, encaminhando-lhes fiéis sofredores, em vez de encaminhá-los ao exorcista oficial. Às vezes, é o exorcista diocesano quem delega a essas pessoas a tarefa de discernir uma verdadeira ação demoníaca, e até se deixa guiar por eles a fim de “libertar” as pessoas sofredoras do espírito maligno.

Tal comportamento é, obviamente, contrário à missão do exorcista, que é responsável por discernir e utilizar os meios dados pela Igreja para combater o demônio.

6. Desprezo pelas ciências médicas e psicológicas

No discernimento, o exorcista, além dos critérios tradicionais utilizados para identificar casos de ação demoníaca extraordinária, pode recorrer ao conselho de exorcistas experientes e, em certos casos, à consulta de especialistas médicos e psiquiátricos. Esses especialistas podem ajudar a compreender a origem dos males que não são necessariamente de origem sobrenatural. Recusar-se a fazer isso expõe os fiéis a riscos desnecessários e até mesmo a perigos graves.

7. Afirmações prejudiciais

O texto observa ainda que “querer a todo custo identificar uma ação demoníaca extraordinária como causa desencadeadora de uma situação de sofrimento cuja origem é desconhecida, sem um discernimento sério, não só é vão, mas também pode levar a danos”. Especialmente no caso de doenças que não podem ser curadas.

8. A questão das maldições

As maldições, “que infelizmente estão mais difundidas na sociedade atual do que se imagina”, não são a causa de todos os males e infortúnios que podem ocorrer na vida de uma pessoa. Esse tipo de comportamento não só corre o risco de lançar uma busca por aqueles que supostamente são os culpados, mas também gera suspeita e até mesmo ódio, muitas vezes de forma gratuita.

Em vez disso, devemos oferecer a ajuda da oração e recordar às pessoas o poder da graça divina em todas as provações e o fato de que Deus é o mestre de tudo o que acontece, quer Ele tenha desejado ou permitido que acontecesse. Por fim, devemos combinar essas provações para nos configurarmos com o Cristo sofredor.

9. Cura da Árvore Genealógica

Alguns sacerdotes, e mesmo alguns exorcistas, “praticam a cura intergeracional como condição sine qua non , sem a qual nenhuma cura ou libertação pode ser obtida”, sem se aperceberem dos danos para a fé, e das consequências para as pessoas. Estas práticas não têm fundamento. É uma cópia pobre do que os Mórmons fazem.

10. Deixar o medo de lado

O exorcista deve ser um agente da paz que vem de Cristo. Ele deve lutar contra o medo que o demônio usa para reduzir o homem à sua misericórdia. Um sacerdote que tem medo do demônio não poderá exercer o ministério do exorcismo sem se expor a graves perigos, especialmente se combater esse medo através de práticas mais ou menos supersticiosas.

O documento termina com algumas considerações gerais relativas à sociedade e à forma como ela percebe o ofício de exorcista hoje, especialmente através dos filmes que o assumiram, e sobre a necessidade de uma vida cristã sólida, o melhor fundamento para manter o demônio à distância.

Essas observações são interessantes e mostram como o ministério do exorcismo pode ser desviado ou mal orientado atualmente.

Remorsos e desejos de um pecador moribundo

 A morte do Justo e a morte do Pecador

A morte do Justo e a morte do Pecador

Tire o maior proveito desta Meditação seguindo os passos

Angustia superveniente, requirent pacem, et non erit – “Ao sobrevir-lhes de repente a angústia, eles buscarão a paz e não a haverá” (Ez 7, 25)

Sumário. Consideremos o estado infeliz de um moribundo que viveu mal, especialmente se era pessoa consagrada a Deus. Que remorso lhe causará o pensamento de que, com os meios que o Senhor lhe proporcionou, até um pagão se faria santo! Desejará então um instante daquele tempo que agora se perde, ou é empregado no pecado, mas em vão. Irmão meu, a fim de que não tenhamos tal desgraça, tomemos agora as resoluções que então havíamos de tomar. Talvez seja esta a última vez que Deus nos chama.

I. Como se deixam bem conhecer no momento da morte as verdades da fé, mas para maior tormento do moribundo que viveu mal, especialmente se era pessoa consagrada a Deus, já que, para o servir, tinha mais facilidade, mais exemplos, mais inspirações. Ó Deus, que pena será para essa pessoa pensar e dizer: “Repreendi os outros e fiz pior do que eles! Deixei o mundo e vivi ligado aos gozos, às vaidades e às afeições do mundo!” Que remorso lhe causará o pensamento de que, com as luzes que recebeu de Deus, até um pagão se teria feito santo! Que dor não sofrerá, lembrando-se de ter ridicularizado as práticas de piedade dos outros como fraquezas de espírito e de ter louvado certas máximas do mundo, de estima ou de amor próprio!

Desiderium peccatorum peribit (1) — “O desejo dos pecadores perecerá”. Quanto será desejado na morte o tempo que se perde agora! Conta São Gregório, nos seus Diálogos, que um homem rico, mas de maus costumes, chamado Crisâncio, estando a ponto de morrer, gritava aos demônios que lhe apareciam visivelmente para se apoderar de sua alma: “Dai-me tempo, dai-me tempo até amanhã.” Respondiam os demônios: “Ó insensato, é nesta hora que pedes tempo? Tiveste tanto tempo e perdeste-o, empregaste-o a pecar, e agora é que pedes tempo? Já não há mais tempo.” O desgraçado continuava a gritar e a pedir socorro. Próximo dele achava-se um seu filho chamado Maximo, que era monge. Dizia-lhe o moribundo: “Socorre-me, filho, meu caro Maximo, socorre-me!” No entanto, com o rosto chamejante, volvia-se de um para outro lado do leito, e nesta agitação e gritos de desespero, expirou desgraçadamente.

Ó céus! Durante a vida, aqueles desgraçados comprazem-se na sua loucura, mas na morte abrem os olhos e reconhecem quanto foram insensatos; mas isto então lhes serve tão somente para aumentar o seu desespero de remediarem o mal que fizeram. — Meu irmão, penso que ao leres estas reflexões, dirás: É verdade; é mesmo assim. Mas se é verdade, muito maior seria a tua loucura e a tua desgraça, se, reconhecendo a verdade na vida, não te aproveitasses dela a tempo. Esta mesma leitura, que acabas de fazer, ser-te-á no momento da morte uma espada de dor.

II. Eia pois, já que te é dado tempo de evitar tão deplorável morte, dá-te pressa em aproveitá-lo: não demores até que venha o tempo em que não poderá remediar o mal. Não demores sequer um mês, nem sequer uma semana. Quem sabe se a luz que Deus te dá agora na sua misericórdia, não é a última graça e a última exortação que te faz? É loucura não querer pensar na morte, que é certa e da qual depende a eternidade; mas maior loucura ainda é pensar nela e não se preparar. Faze agora as reflexões e resoluções que farás então; agora com fruto, então sem fruto; agora com a confiança de te salvar, então com grande desconfiança de tua salvação. — A um fidalgo, que se despedia da corte de Carlos V, a fim de viver unicamente para Deus, perguntou o imperador, porque deixava a corte. “Porque é necessário”, respondeu ele, “que exista um intervalo de penitência entre uma vida desordenada e a morte.”

Não, meu Jesus, não quero continuar a abusar da vossa misericórdia. Agradeço-Vos a luz que hoje me dais, e prometo-Vos mudar de vida. Quanto me consola o que dissestes: Convertimini ad me, et convertar ad vos (2) — “Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós”. Afastei-me de Vós por amor das criaturas e das minhas miseráveis satisfações; agora deixo tudo e converto-me a Vós. Estou certo de que não me repulsareis, se eu quiser amar-Vos, porquanto me dizeis que estais pronto para me acolher em vossos braços. Convertar ad vos — “me converterei a vós”. Recebei-me na vossa graça, fazei-me conhecer o grande bem que em Vós possuo e o amor que tivestes para comigo, a fim de que não torne a deixar-Vos.

— Perdoai-me, ó meu amado Jesus, perdoai-me; meu Amor, perdoai-me todos os desgostos que Vos tenho causado. Dai-me o vosso amor e fazei de mim o que quiserdes. Castigai-me, como entenderdes; privai-me de tudo, mas não me priveis da vossa graça. Venha o mundo todo a oferecer-me todos os seus bens; protesto que só Vos quero a Vós e nada mais.

— Ó Maria, recomendai-me a vosso Filho; Ele vos concede tudo quanto pedis; em vós confio.

Referências:
(1) Sl 111, 10
(2) Za 1, 3

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 159-161)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO

 

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Entre os que atacam a Igreja a propósito deste dito levam a dianteira os protestantes. Ora, este princípio, de que eles se servem para acusar a Igreja, não é senão uma conseqüência lógica e necessária da doutrina dos seus principais mestres; pelo que estão em contradição consigo mesmo. Com que direito nos podem eles argüir com o que eles próprios devem admitir e o que explicitamente professam os formulários de fé dos primeiros tempos do protestantismo? Eis o que, por exemplo, lemos na confissão helvética: “Não há salvação fora da Igreja, assim como a não houve fora da arca; quem quiser ter a vida, é preciso não se separar da verdadeira Igreja de Jesus Cristo”. Não são menos explícitas as confissões da Saxônia, da Bélgica e da Escócia. Fora da Igreja, diz também o catecismo calvinista do século XVII, não há senão condenação; e todos os que se separarem da comunhão dos fiéis para formarem uma seita à parte, não podem esperar salvar-se enquanto assim estiverem separados”. E é o que afirma o próprio Calvino nas suas Instituições, dizendo: Fora do seio da Igreja não se pode esperar a remissão dos pecados nem a salvação”.

* * *

“Mas pelo menos”, dirão, “não se pode a Igreja livrar da nota de intolerante e de cruel, em ela declarar que fora da Igreja não há salvação. Que de homens, pois, destinados à condenação eterna, só por não pertencerem à Igreja romana!”

Já nós, ainda que de passagem, respondemos a esta acusação. Bom será, porém, dar-lhe mais algum desenvolvimento; e assim se verá, como aquele velho de que fala Rousseau, de nenhum modo é digno de piedade.

Se, com efeito, a verdadeira religião, a religião de Jesus Cristo é obrigatória para todos os homens, e, se esta religião, a única, é professada e ensinada só pela Igreja católica, apostólica, romana, força é reconhecer que fora desta Igreja não há salvação, e que ninguém pode alcançar o céu sem a ela de algum modo pertencer. Não é, portanto, a Igreja que há de ser acusada por falar assim; se algum fosse digno de censura, seria o seu divino Fundador, que tornou a sua religião indispensável para todos.

O que, pois, sobremaneira importa é precisar bem o sentido desta máxima. “Há, observa o cardeal Deschamps, nestas palavras, assim como em todas as de uma lei penal, uma palavra, que sempre se há de subentender, e é a palavra voluntariamente; porque sempre a lei penal supõe culpabilidade; e a culpabilidade supõe sempre duas condições: o fato e a intenção. E, por isso, a pergunta: ‘crê a Igreja na condenação dos que, sendo nascidos e educados lá onde a não puderam conhecer, se acham em ignorância invencível a respeito da lei de Jesus Cristo, mas praticaram fielmente tudo o que eles viram ser bom’, é necessário responder: ‘Não crê’”.

“Pode-se, pois, pertencer à alma, ainda que se não pertença ao corpo da Igreja, diz o mesmo cardeal. Não é evidente que pertence à alma da Igreja um homem que está de boa fé e que entraria nela se a conhecesse? Não estão realmente nesta disposição todos os que têm um desejo sincero e geral de aderirem à verdade e de fazerem a vontade de Deus? É esta uma questão semelhante a do batismo de desejo, do qual, como diz São Tomás de Aquino, se acha implícita e suficientemente contido na vontade geral de empregar todos os meios de salvação concedidos aos homens pela Providência divina. Os que, por conseguinte, estão pela sua parte dispostos a, conhecendo a Igreja, fazerem parte dela, já por isso mesmo são aos olhos de Deus considerados como filhos dela, e certamente receberão dele as luzes necessárias à sua salvação”.

“Morreu Jesus Cristo por todos os homens; e as graças liberalizadas em atenção a esta vítima, que a justiça eterna previu desde o princípio haver de ser imolada no correr dos tempos, occisus ab origine mundi, redundaram em benefício de todos, sem exceção alguma. Nenhum homem, portanto, ficou excluído dos benefícios da redenção, a não ser por culpa sua e pela sua resistência à graça; e cada um será julgado segundo a que houver recebido. Haverá porventura doutrina mais terna e juntamente mais terrível; mais terna para com os pobres ignorantes, que não têm culpa, na sua ignorância, e mais terrível para com os ingratos, que, para se esquivarem à luz, que os inunda, vão buscar as trevas de sofismas contra a justiça de Deus?”

Este é também o sentir unânime da Tradição, que ensina como coisa certa, dar Deus a todos os homens as graças suficientes para se salvarem, e que ninguém se condena a não ser por um ato livre da alma que, ingrata, recusa os dons divinos. “Deus não recusa a sua graça a quem da sua parte faz tudo o que de si depende”, diz um muito conhecido axioma teológico, a que já nos referimos(1).

Para que melhor se compreenda o sentido desta máxima, distingamos, como fazem os teólogos, o corpo e a alma na Igreja. O corpo ou parte visível da Igreja é o conjunto dos membros, unidos entre si pelo assentimento às mesmas verdades, pela participação dos mesmos sacramentos, e pela obediência aos mesmos pastores, daqueles que pelo batismo se inscreveram oficialmente entre os seus súditos. A alma ou a parte invisível é a graça santificante, princípio da vida sobrenatural, que torna o homem agradável aos olhos de Deus.

Para de todo se pertencer, tanto de direito como de fato, ao corpo da Igreja, é primeiramente preciso entrar nela pelo batismo; e mais, é necessário, depois do uso da razão, prestar o seu assentimento, voluntário e feito com conhecimento de causa, por meio de um ato de fé católica; nem, enfim, deve fazer-se expulsar dela pela excomunhão, nem sair-se dela, abraçando algum erro.

Para se pertencer à alma da Igreja ou para se salvar, basta estar em estado de graça, quer se faça, ou não, parte do corpo da Igreja; ou, por outra, podem, segundo a doutrina católica, os hereges, os cismáticos e até os gentios possuir a graça santificante e merecer o céu. Mas, está claro, se alguém conhecesse a necessidade de fazer parte da Igreja, era impossível pertencer à alma da Igreja, e conservar a graça santificante, sem também pertencer ao corpo dela, pois faltaria voluntariamente a uma obrigação, que ele reconhece como grave(2).

Ninguém, pois, se perde senão por culpa sua, menosprezando a lei, a qual, porém, não obriga senão depois de conhecida ou promulgada, pois não obriga em consciência a quem a desconhece. E, por isso é que o Senhor só depois de haver dito aos apóstolos: “Ide por toda a terra e ensinai o Evangelho a toda a gente”, é que acrescentou: “Quem não crer será condenado”. Supõe, pois, conhecer-se a verdade, quando se incorre em condenação por causa da incredulidade.

Desçamos, porém, para maior clareza desta matéria, a alguns casos particulares.

Quanto ás crianças, nascidas de pais cismáticos, hereges ou infiéis, se elas receberam o batismo, recebem também com ele a graça santificante, que subsiste enquanto não caírem em falta grave. Pertencem estas à alma da Igreja, e certamente se salvam se morrerem neste estado. Supõe este caso que a criança, chegada ao uso da razão, persiste numa ignorância invencível acerca da verdadeira religião, ou por se achar na impossibilidade de se informar dela, ou por lhe não prestar atenção, visto não ter dúvida sobre a verdade da que professa.

Suponhamos agora que esta criança, depois homem, veio por mal seu a perder a graça santificante, caindo em pecado grave; poder-se-á ainda reconciliar com Deus. E, para este fim, se a seita a que pertencer guardar o sacramento da penitência, tem a obrigação de confessar-se, isto é, de empregar o meio por ele reconhecido como necessário; mais, para alcançar o perdão deste pecado precisa ter uma contrição perfeita. A razão é clara; pois que por uma parte este homem iria contra a sua consciência, se não acudisse a este meio, e por outra a contrição perfeita é absolutamente necessária, pois esta confissão é por si mesma ineficaz.

Quanto às crianças, que morrem sem terem recebido o batismo (e o mesmo se diga dos adultos que nunca tiveram o uso da razão), já acima dissemos, o que acerca da sua sorte se há de pensar: gozarão uma felicidade natural, cuja fruição seria a reservada a todos nós, se não tivéssemos sido elevados à ordem sobrenatural; e ficarão unicamente privadas do grau de felicidade correspondente à visão beatífica de Deus, visões indébitas a qualquer pura criatura(3). 

Vejamos agora o que se há de pensar acerca dos adultos não batizados ou infiéis, que fizeram uso da razão, como são os judeus, os maometanos e os pagãos. Eis, em resumo, qual é sobre este ponto a doutrina da Igreja: não ficam excluídos, por causa da sua infidelidade, senão quando ela é voluntária; e quando àqueles, cuja infidelidade provém de uma ignorânciainvencível, se eles se vierem a perder, não será por terem ignorado o que lhes era impossível conhecer, mas por faltas graves por eles próprios cometidas.

Se se governarem pela lei natural em seus corações gravada, se aceitarem as tradições primitivas, posto que muitas vezes deturpadas, acerca de Deus e da sua providência, da promessa de um Redentor, assim como das recompensas e castigos reservados aos homens numa outra vida, pertencem à alma da Igreja e podem salvar-se.

Para eles o batismo pela água, que é necessário a todos os que conhecem a necessidade dele, e estão em condições de o receberem, fica sendo substituído pelo batismo de sangue ou pelo de desejo. Este batismo de desejo supre também o batismo da água para os que, conhecendo a necessidade deste e não podendo, por qualquer causa recebê-lo, têm um desejoexplícito dele, acompanhado da contrição perfeita dos pecados graves atuais. Quanto ao desejo implícito do batismo ou ato perfeito de amor a Deus, é certo ter ele bastado nos primeiros tempos da Igreja para os pagãos, que ainda não tinham ouvido a pregação do Evangelho. Não considera a Igreja, de fato, como necessário à salvação, o batismo da água senão depois do Evangelho ter sido promulgado, segundo expressamente declara o Concílio de Trento. Ora, esta pregação do Evangelho só se fez e não podia fazer-se senão progressivamente. Se, pois, existiam meios de salvação distintos do batismo, para os infiéis daqueles tempos, pois que ainda o Evangelho lhes não tinha sido pregado, também hão de existir para os infiéis dos séculos seguintes, que, sem culpa sua, se achavam em circunstâncias iguais(4).

Não ficam, portanto, segundo a doutrina da Igreja, excluídos da salvação os gentios, os hereges e os cismáticos, que não abraçaram a verdadeira fé, a não ser os que não conheceram a verdade revelada porque não a quiseram conhecer, ou os que, tendo-a bastantemente conhecido, se recusaram a abraça-la. Só, de fato, estão obrigados a entrar na Igreja Católica os que a reconhecem como o único meio necessário para alcançarem a sua salvação. É, portanto, sob todos os respeitos muito racional e lógica a fórmula: “Fora da Igreja não há salvação”: e, se a acusam por este lado, é porque ou estão de má fé ou estão iludidos; iludidos, por lhe não conhecerem o sentido adequado e preciso; de má fé, por se recusarem a reconhecê-lo.

É verdade, observemos ainda, que, se a salvação é possível fora do corpo da Igreja, não deixa, no entanto, de ser mais difícil. A inteligência não possui, neste caso, a verdade íntegra nem o magistério infalível; e a vontade carece também de um grande número de auxílios, como são, os sacramentos, o culto externo, etc. Têm, pois, muitíssima razão os ministros do Evangelho, que, possuídos de um zelo ardente e de um amor generoso para com seus próximos, se não poupam a trabalhos e nem mesmo aos perigos da vida para a toda a parte levarem o conhecimento de Jesus Cristo e para dilatarem as fronteiras da Igreja por Ele fundada. Além de que, se a sorte dos que morrem só com a culpa original não é para causar dó, é, contudo, mil vezes mais invejável a sorte e felicidade dos escolhidos para o céu, a qual consiste na visão e fruição de Deus por todo sempre.

FONTEPe. W. Devivier, S.J., Curso de Apologética Cristã. Editora Melhoramentos, São Paulo, 3a. edição, 1925

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  1. É coisa certíssima que “O Senhor não quer que alguém se perca, mas sim que todos recorram à penitência” (II Ped. III-9). “Quer o nosso Deus e Salvador que todos os homens se salvem e que alcancem o conhecimento da verdade (I Tim. II-4). Não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, que se entregou pela redenção de todos” (I Tim. 5, 6). “Jesus Cristo deu a vida por todos” (II Cor. V-15). “Jesus Cristo é a vítima propiciatória por nossos pecados, e também pelos de todo o mundo”. (I Jo. II-2). “Deus não faz acepção de pessoas. Quem, pois, pecou sem a lei, perecerá sem a lei”. (II Ped. II-12). “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rom. V-20).
  2. Costumam os teólogos dividir a infidelidade em negativa e positiva. A infidelidade negativanão é um pecado; encontra-se na gente, que não crê na Revelação, porque a ignoram, sem que tenham culpa nesta ignorância. A infidelidade positiva é um pecado, porque há, nos que a têm, um suficiente conhecimento da Revelação, que eles abandonam. Condenam-se estes por se recusarem a obedecer a uma ordem expressa e formal de Deus. O homem, que nasce e se educou na infidelidade ou no cisma, está obrigado a esclarecer-se e a procurar a verdadeira religião, no caso de ter dúvida séria acerca da religião, que professa; e, se o não fizer, deixa de estar na boa fé e ofende a Deus gravemente. Não há dúvida que entre os cristãos, separados da Igreja, há um grande número, que estão de boa fé, e nem sequer tem consciência do cisma ou da heresia, de que são vítimas. Newman, apesar do seu talento e da integridade da sua vida, afirma ter vivido muitos anos no anglicanismo sem lhe ocorrer dúvida alguma sobre a sua religião; e com muitos outros passará a mesma coisa.
  3. Uma boa parte dos teólogos, e, certamente a mais numerosa, para não dizer a mais autorizada, aponta como punição resultante do pecado original a privação somente da felicidade sobrenatural (a vista de Deus), felicidade a que a natureza humana, como tal, não tem direito. São Tomás afirma que as crianças que morrem sem batismo, não só não sofrem as penas dos sentidos, mas nem sequer a tristeza pela pena do dano, isto é, pela perda da visão beatífica… É, pois, de crer que estas crianças gozem uma felicidade natural mais ou menos perfeita.
  4. Vem aqui a propósito as judiciosas palavras do abade A. Pirenne, na sua obra Etudes philosophiques, etc. Suponhamos que o pagão (e o mesmo se diga dos hereges e dos cismáticos) morre, amando a Deus em si mesmo e sobre todas as coisas; está com isso salvo, porque com a caridade (sobrenatural) tem tudo; a caridade por si justifica. E, note-se, um grau ínfimode caridade é quanto basta, porque a essência duma virtude não consiste na sua intensidade: uma gota de água é água, como é um oceano; nem a quantidadede uma coisa influi na sua natureza. E assim a caridade subsiste, não obstante o apego ao pecado venial, e subsiste sem haver devoção alguma sensível. Estais, pois, salvo, contanto que, ao deixar esta vida ameis a Deus por si mesmo e sobre todas as coisas, que possam levar ao pecado mortal; estais salvo, sejam quais forem as circunstâncias em que vos possais encontrar. Ou sejais pagão ou herege ou pecador, se, no momento supremo, receberdes de Deus o dom da caridade, por menor que seja e compatível até com o pecado venial, tereis feito o bastante para vos salvardes; porque a caridade torna a contrição perfeita; e a caridade e a contrição perfeita encerram, ao menos implicitamente o desejo do batismo e da confissão. “Se se quiser saber o modo como a caridade se comunica aos infiéis, explica-o Leibnitz, que o tomou dos católicos, Deus dará o necessário a todos os que fazem o que humanamente depende deles, ainda quando fosse necessário fazer um milagre”. “Se houvesse de perecer uma alma inocente, diz São Tomás, proveria Deus, mandando até um anjo para lhe revelar as verdades divinas”.
Fonte: Dominus Est

O Amor vence tudo

 Cristo abraçando São Bernardo (Francisco Ribalta)

Cristo abraçando São Bernardo (Francisco Ribalta)

Tire o maior proveito desta Meditação seguindo os passos

Fortis est ut mors dilectio – “O amor é forte como a morte” (Ct 8, 6)

Sumário. Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres do mundo; assim o amor de Deus, quando reina num coração, desprende-o do afeto a todos os bens caducos. Queremos, pois, saber se amamos a Deus e se somos inteiramente d’Ele? Examinemos se estamos desapegados de todas as coisas terrestres. Vejamos sobretudo se já estamos desapegados de nós mesmos, pela morte do maldito amor próprio, que quer intrometer-se mesmo nas ações mais santas.

I. Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres mundanos: assim o amor de Deus, quando reina num coração, desprende-o do afeto a todos estes bens terrestres. Por isso vemos os Santos desfazerem-se de tudo quanto o mundo lhes oferecia, renunciarem às suas posses, às mais altas dignidades e retirarem-se para os desertos ou claustros, para pensarem somente em amar o seu Deus. — A alma não pode deixar de amar, ou seu Criador, ou as criaturas. Desfaça-se uma alma de todo o afeto terrestre e achá-la-eis cheia do amor divino. Queremos saber se pertencemos inteiramente a Deus? Examinemo-nos se estamos desapegados de todas as coisas da terra.

Queixam-se alguns de que em todas as suas devoções, orações, comunhões, visitas ao Santíssimo Sacramento não acham Deus. Responde-lhes Santa Teresa: desprende o coração das criaturas e então busca Deus e achá-Lo-ás. Não acharás sempre doçuras espirituais, mas o Senhor te fará gozar aquela paz interior que sobrepuja todas as delícias sensitivas. Que delícia maior pode experimentar uma alma abrasada no amor divino do que em dizer: Deus meus et omnia — “Meu Deus e meu tudo”?

Fortis ut mors dilectio — “O amor é forte como a morte”. Enquanto virmos um moribundo interessado por alguma coisa terrestre, teremos a prova mais certa de que não está ainda morto, visto que a morte nos tira tudo. Quem quiser ser todo de Deus deve deixar tudo: a reserva feita de qualquer coisa prova que o amor de Deus não é perfeito, mas fraco. — O amor divino, diz o P. Segneri Júnior, é um amável ladrão que nos tira todas as coisas terrestres. A outro servo de Deus, que tinha distribuído todos os seus bens entre os pobres, perguntou-se o que o reduzira a tal estado de pobreza. Tirou da algibeira o livro dos Evangelhos e disse: Eis aí quem me despojou de tudo. Em uma palavra, Jesus Cristo quer possuir o nosso coração todo inteiro e não sofre competidores.

II. Diz São Francisco de Sales que o puro amor divino consome tudo quanto não é Deus. Portanto, quando nasce em nosso coração qualquer afeto a alguma coisa que não seja Deus nem por Deus, preciso é arrancá-lo logo, dizendo: Vai-te, pois para ti não há aqui lugar. É nisto que consiste a renúncia completa, que o Salvador nos recomenda tão instantemente, se quisermos ser d’Ele sem reserva; digo renúncia completa, isso é, de qualquer coisa, e especialmente de parentes e amigos. Quantos, para agradar aos homens, deixam de fazer-se santos!

Mas sobretudo devemos renunciar a nós mesmos, triunfando do amor próprio. Maldito amor próprio que quer intrometer-se em tudo, até nas obras mais santas, deslumbrando-nos com a própria glória ou a própria satisfação. Quantos pregadores e escritores perdem assim todo o merecimento das suas fadigas! Muitas vezes mesmo em nossas meditações ou leituras espirituais ou mesmo em nossas santas comunhões se mistura alguma intenção menos pura, quer de sermos vistos, quer de experimentarmos as doçuras espirituais.

Devemo-nos portanto esforçar por vencer este inimigo que nos faz perder o fruto das nossas mais belas obras. Devemo-nos privar, quanto possível, daquilo que mais nos agrada: privar-nos de tal ou qual divertimento, exatamente porque nos diverte; obsequiar uma pessoa ingrata, exatamente porque é amargosa. O amor próprio faz com que nenhuma coisa se nos afigure boa em que ele não acha a sua satisfação. Mas quem quiser ser todo de Deus, quando se trata de coisas do seu agrado, faça-se violência e diga: Perca-se tudo, contanto que se dê gosto a Deus.

Pelo mais, não há no mundo pessoa mais contente do que aquela que despreza todos os bens do mundo. Quem mais se priva de semelhantes bens, mais rico se torna de graças divinas. É assim que o Senhor sóe galardoar aos que o amam fielmente.

Ó meu Jesus, Vós conheceis a minha fraqueza: prometestes socorrer a quem confia em Vós. Senhor, amo-Vos, espero em Vós, dai-me força e fazei-me todo vosso. Em vós também confio, ó minha doce Advogada, Maria.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 156-158)

domingo, 19 de janeiro de 2025

Desejo que Jesus teve de sofrer por nós

 Como poderemos deixar de amá-Lo de todo o nosso coração, e recusar-nos a sofrer alguma coisa por seu amor?

Como poderemos deixar de amá-Lo de todo o nosso coração, e recusar-nos a sofrer alguma coisa por seu amor?
Melhores presentes para os seus entes queridos

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Baptismo habeo baptizari, et quomodo coarctor, usquedum perficiatur – “Tenho de ser batizado com um batismo; e quão grande não é a minha ansiedade até que ele se cumpra” (Lc 12, 50)

Sumário. Podia Jesus salvar-nos sem sofrer. Mas não; por nosso amor quis abraçar uma vida de dores e de desprezos, sem qualquer consolação terrena. Mais, durante toda a sua vida suspirava continuamente pela hora de sua morte, a fim de ser batizado com o seu próprio sangue e limpar-nos das imundícies dos nossos pecados. Em vista de tudo isso, como poderemos deixar de amá-Lo de todo o nosso coração, e recusar-nos a sofrer alguma coisa por seu amor?

Melhores presentes para os seus entes queridos

I. Podia Jesus salvar-nos sem sofrer; mas não, quis abraçar uma vida de dores e de desprezos, sem qualquer consolação terrestre, e uma morte toda amargosa e desolada, unicamente para nos fazer compreender o amor que nos tinha e o seu desejo de ser amado por nós. Durante toda a sua vida Jesus suspirava pela hora da morte, que Ele desejava oferecer a Deus a fim de obter para nós a salvação eterna. É este o desejo que o fazia dizer: Baptismo habeo baptizari, et quomodo coarctor, usquedum perficiatur — “Tenho de ser batizado com um batismo; e quão grande não é a minha ansiedade até que ele se cumpra!” Jesus desejava ser batizado com o seu próprio sangue, para expiar, não os pecados próprios, senão os nossos. Ó amor infinito! Infeliz de quem não Vos conhece e não Vos ama.

Foi esse mesmo desejo que na véspera de sua morte Lhe inspirou estas palavras: Desiderio desideravi hoc Pascha manducare vobiscum (1) — “Tenho desejado ansiosamente comer esta Páscoa convosco”. Falando assim, demonstrou que em toda a sua vida não tivera outro desejo, a não ser o de ver chegado o tempo de sua paixão e morte, a fim de patentear ao homem o amor imenso que lhe tinha. — É pois, verdade, ó meu Jesus, almejais o nosso amor com tamanha veemência, que para o ganhardes não recusastes a morte! Como poderei negar alguma coisa a um Deus que por meu amor deu o seu sangue e a sua vida?

Melhores presentes para os seus entes queridos

II. Diz São Boaventura que causa pasmo ver um Deus padecer por amor dos homens; mas que mais pasmo causa ver homens que contemplam um Deus que sofre por amor deles, que se fez criança e está tiritando de frio numa gruta, que vive como pobre oficial numa humilde loja e afinal morre, como um réu, sobre a cruz, e todavia não ardem de amor para com um Deus tão amante, ou mesmo chegam a desprezar o amor divino por amor dos vis prazeres da terra: como é possível que um Deus ame tanto os homens, e que estes, tão gratos aliás para com seus semelhantes, sejam tão ingratos para com Deus?

Ah! Jesus meu, eu também tenho sido do número destes ingratos. Dizei-me: como pudestes aceitar tantos sofrimentos por meu amor, apesar da previsão das injúrias que Vos havia de fazer? Mas já que me tendes suportado e me quereis ver salvo, dai-me uma grande dor dos meus pecados, uma dor proporcionada à minha ingratidão. Abomino e detesto sinceramente todos os desgostos que Vos tenho causado. Se em tempos passados desprezei a vossa graça, agora estimo-a acima de todos os reinos da terra. Amo-Vos de toda a minha alma, ó Deus de infinito amor, e desejo viver unicamente para Vos amar. Abrasai-me mais, e dai-me mais amor. Lembrai-me sempre o amor que me tendes dedicado, a fim de que o meu coração esteja sempre abrasado em vosso amor, assim como o vosso ardia no meu amor.

— Ó Coração amante de Maria, acendei em meu pobre coração o fogo do santo amor.

Referências:
(1) Lc 22, 15

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 154-156)

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