terça-feira, 27 de maio de 2014

A Pérola Preciosa - 13.º Mistério

A PÉROLA PRECIOSA

Breves pensamentos sobre o Rosário meditado, para sacerdotes.
pelo
Padre Wendelin Meyer, O.F.M.
Tradução portuguesa por
Alberto Maria Kolb


3.º MISTÉRIO
RECEBEI O ESPÍRITO SANTO

Os sacerdotes têm deveres de Apóstolos; eles devem ensinar, sofrer, sacrificar, espalhar a igreja, fortificai-a e protegê-la contra um mun­do inteiro. Isso eles só podem e unicamente com a força de Deus; por este motivo Cristo Nosso Senhor lhes enviou o Espírito Santo. Eles re­ceberam a plenitude das graças; uma vida nova, forte, flamejante de amor, os abraçava todos. Com este Divino Espírito venceram e supera­ram o espírito do mundo. No milagre de Pen­tecostes, os mesmos dons, mais ou menos, re­servou Deus Nosso Senhor para todos os Seus sacerdotes. Deus os introduz a uma estreitíssima união com o SS. Sacramento do Altar.

Diariamente formam um só espírito com Ele, até que em fim após alguns anos de santa vida recebem a plenitude do Espírito Divino. O Sacerdote pode dizer-se realmente participante da vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos: o espírito de sabedoria. do intelecto, do con­selho, da fortaleza, da ciência, da piedade e do temor de Deus.

O Espírito de sabedoria:

Os antigos sábios de Roma e da Grécia eram celebridades mundiais; eram sem dúvida grandes homens que conheciam a vida profunda­mente. E contudo estavam escurecidas as suas vistas. Mais alto, muito mais alto estão as al­mas nas quais opera o Espírito de Deus. Diante de seus olhos cai a aparência. A essência das coisas, seu valor e sua futilidade lhes aparecem, toda a miséria deste mundo efêmeros e transitório jaz desmascarado a seus pés.

Náusea e nojo apoderam-se deles. Usam das criaturas como se não usassem delas; por isso abre-se diante deles o esplendor e toda a magnificência do Unigênito do Padre Eterno, cheio de graça e de verdade. A Essência de Deus, Sua beleza e Seu amor infinito penetra as suas almas como o sol matutino abrasa e aquece a vegetação.

As profundezas da Religião, suas inefáveis harmonias, os seus dogmas, firmes e inabaláveis, abrem-se diante deles. Contemplam então um novo mundo, escutam músicas suaves da ce­leste mansão.

E a alma então estreita seus braços, re­cebendo um doce amplexo: Deus e Sua santa religião, amando o primeiro e praticando a se­gunda. O único objeto dessa criatura é o Eter­no, o Infinito — Deus.

Oh dom inefável, admirável nos corações dos ministros de Deus!

Não deve ser este dom propriedade nossa? Não é nosso sagrado dever abraçar com íntimo amor o Altíssimo?

Devemos ser homens mortos ao mundo e vivos só para Deus, homens que, acima de todos os trabalhos e deveres, procuram conseguir o fim único e principal, que é encher-se a si e o mundo inteiro do desejo e do amor das coisas divinas. Roguemos, rezemos para que nos seja dado achar esta sabedoria, porque, possuindo-a, possuímos a vida.

O dom do intelecto:.

Existe um duplo modo de conhecer: um desprende-se da luz natural da razão, o outro vem do céu. Este último é fruto da graça, aquele consequência do trabalho intelectual.

O conhecimento nascido da graça e provado por uma santa vida não é outro senão o dom do intelecto.

Quem o possui, conhece, segunda vez, o que já tinha conhecido, mas agora mais claro e profundamente, como coisa completamente nova.

Esta luz ilumina por vezes mui intimamente os segredos divinos e mistérios sagrados, in­cendiando então o coração. E como é uma luz divina, que não pressupõe grande talento, pode iluminar e arder para homens mui simples e rústicos. A história e a vida dos Santos nos apresentam a este res­peito esclarecimentos em abundância.

Não é isso uma consolação para nós, Sa­cerdotes? Vivamos sempre bem interiormente, cônscios do nosso próprio nada, e assim o Espírito de Deus estará lançando Sua sombra protetora sobre nós e entraremos deste modo no mundo místico de nossa santa fé.

Tomando então a palavra para falar em público, falaremos como quem tem poder que vem do céu e conduz ao céu. A palavra que pronunciamos é mui simples, mas arrasta após si as almas. E nós mesmos descansamos com gosto, possuindo o dom do intelecto, a nossa vida na contemplação das cousas divinas.

O dom de conselho:

Quem necessita mais este dom do que o sacerdote?

O sacerdote está em lugar daquele que Isaías chamava: «Consiliarius». O mundo bem o sabe, procura porém uma doutrina, que não é dada da carne e do sangue nem do fruto de trabalhoso e fatigante pensar. O mundo quer mais, deseja uma palavra que soa quase como foi a revelação, que clara e abertamente, com firmeza se desprende da alma fervorosa, de um interior que está intimamente unido com Deus Nosso Senhor. Isso só poderá dar aos homens aquele espírito plenamente ligado com o espírito de Deus e formando quase uma coisa só; poderá dar só aquele que conhece e ouve a voz maravilhosa de seu Deus habitando nele.

Quão pouco de sobrenatural perpassa as horas de nosso recreio, se só e unicamente nos fitamos nos nossos dotes naturais! Isso não deve ser assim.

Deste modo jamais saberemos dizer a pa­lavra conveniente e adequada às almas interiores e profundamente pensativas. Tais almas existem muito mais abundantes do que pensamos; muitas vezes acham-se ajoelhadas ao nosso lado, sem as percebermos. Não foram por nós satisfeitas; re­tiraram-se visto que não éramos bastante aptos a contentá-las e nossas palavras passaram sim­plesmente pela superfície.

O dom da fortaleza:

Não é difícil ver e conhecer a beleza da religião cristã; ela brilha por entre as pá­ginas do Evangelho. É fácil descansar-se entre doces meditações de princípios cristãos — católicos, mas traduzi-los na prática da vida, e até nas últimas consequências, isso requer força de ânimo e fortaleza. Pode por acaso viver um bom sacerdote praticando até á ultima perfeição; as suas obrigações, sem esta fortaleza especial?

Nunca; jamais! Ser sacerdote, isto é, sofrer e trabalhar com Cristo Jesus, é um dever que requer força, é uma obrigação que exige fortaleza.

Isso Deus bem o sabia, por isso nos deu o espírito da fortaleza. Esta força sobrenatural por si só é bastante poderosa para elevar os sacerdotes num santo idealismo sobre si mes­mos, inspirá-los e deixá-los praticar feitos e que são, intimamente vistos, sacrifícios inauditos, heroísmos sem rivais.

O Espírito de Deus é força.

Onde este espírito vive e age, crescei e florescem almas generosas e fortes. Do interior destas almas brota e jorra um poder sobrena­tural, invadindo todo o íntimo do homem, impelindo-o ao martírio de sua vocação.

O veni sancte Spiritus, da robur, fer auxílium!

O dom da ciência!

A religião católica é um tecido admirável. Seus fios correm da eternidade para o tempo, do tempo para a eternidade.

O Espírito elevado de Deus, os altíssimos pensamentos do Pai, do Filho e do Espírito estão nele contidos.

Grandes mentalidades não chegam, com uma vida ainda que mui prolongada, a compreender as profundezas dos ensinamentos de Cristo Nos­so Senhor, menos ainda, comunicá-los e ensi­nai-os a outrem. A ciência humana poderá con­seguir isto?

Pode investigar muita coisa, mas só quan­do o homem científico permanece imóvel, che­gado ao seu termo, aí então começa a compreender e contemplar e mirar a alma iluminada por Deus. Almas que possuem o dom da ciência, vêm montes e vales que se escondem aos olhos dos maiores sábios. Tais favorecidos frequentaram as escolas do Espírito Santo. E é por isso que estas almas podem falar tão simples, tão claro e contudo tão profundamente que se fica admirado e estupefato.

Isso nos dá que pensar, Sacerdotes devem transmitir a ciência da salvação. Poderão eles cumprir perfeitamente esta obrigação sem o dom da ciência? Sem isso, não serão seus sermões e suas conferências, na maior parte, o fruto de estudos e perscrutamentos humanos?

Certo que devemos usar das nossas facul­dades intelectuais, quanto mais, tanto melhor. Sobre todo trabalho humano, porém, estão, a lógica e a retórica do Espírito Santo. Este fala mui simplesmente, tão claro e ao mesmo tempo com tanta erudição e profundeza, que já crianças, já adultos podem seguir facilmente.

O sermão então é cheio de luz e repleto de unção e sente-se que outro fala pelo sa­cerdote. Oh preciosíssimo e inestimável dom. 

O dom da piedade!

Existe um piedoso estado d’alma que não requer sentimentos forçados, mas eleva-se man­sa e tranquilamente do interior, como o odor evapora-se da flor. Este estado se encontra, quan­do se lêem os escritos dos Santos, repletos de unção e de vida. Neles circula um espírito que não é deste mundo. Todas as palavras são quase como ligadas por suspiros. O leitor vê uma alma que não abraça o pecado por todos os tesouros deste mundo, que prefere o comércio íntimo com Deus a todos os prazeres e todas as riquezas desta terra, que com sumo gosto se oculta para fruir de Deus, na oração e contem­plação, que de sua vida faz um perpétuo culto ao Deus Uno e Trino, que sobremodo lê com amor no jardim encantador da Sagrada Escritura, enfim uma alma que vive totalmente em Deus e de Deus Uno e Trino, que sobremodo lê com amor escritos místicos de S. Boaventura e não per­cebe o sopro deste dom da piedade?

Porém é um mero perceber que sentimos. E nós somos sacerdotes, homens que desejam levar e converter o mundo à piedade? Todo nos­so exterior devia indicar devoção, tal qual a revelam os escritos dos Santos. É esse nos­so caso? Superiores — diz São Boaventura «devemos estar tão cheios de fervor, de devoção e piedade que sem impulso de fora, pratiquemos fielmente todas as virtudes que são segundo as circunstâncias e situação, em que nos achamos a melhor e mais proveitosa.» (De sex alis Seraph. 1-3), Pedi e recebereis! (S. João, 16-24).

O dom do temor de Deus!

«Beatus vir, qui timet Dóminum...» (Ps. I 111-1), assim orou e cantou o piedoso levita desde séculos, imemoriais.

O Espírito de Deus foi seu Mestre, ensi­nando-o. «Bem aventurado», diz ele, pois a bem-aventurança está no temor de Deus. Entretanto a grande maioria da humanidade não conhecerá nunca está bem-aventurança; muitos vivem no temor servil. Eles vêm atrás dos espinhos dos dez mandamentos Jeová, isto é, Deus Nosso Senhor, com o azorrague; mas que nosso di­vino e meigo Redentor está também escondido debaixo das leis e detrás dos mandamentos, o Salvador, cujo amor não tem medidas nem li­mites, isto bem poucos vêem e compreendem. Aqueles porém que o compreendem, fogem do pecado e evitam a transgressão da lei, porque Deus é essencialmente bom e perfeito. Evitam arte toda sombra de pecado e imperfeição, por­que estão persuadidos e compenetrados da infinita bondade paternal de Deus. Eis as almas, nas quais habita e mora o dom do temor de Deus.

Também em nós vive este dom, mas pensa­mos em aumentá-lo?

Que penetrantes e persuasivos seriam, os nos­sos sermões e as nossas palavras sobre o pecado, se possuíssemos a plenitude deste Divino Espírito! Como trabalharíamos contra o pecado, si fossemos dele inimigos acérrimos! Nossa atividade no confessionário, no tribunal da peni­tência, tomaria então certamente outro caráter.

Ego te absolvo é o primeiro e princi­pal efeito do sacramento da penitência, mas também o Ego te erudio, isto é, a educação do penitente para o santo temor não só dos pecados mortais, mas até dos veniais e de todas as imperfeições, tem grande valor. Estes são os dois pólos, os dois extremos de verdadeiro trabalho no santo tribunal da penitência.

Nós sacerdotes devemos educar as almas, to­mar-lhes o temor servil e em lugar deste im­plantar-lhes um amor filial para com Deus Nosso Senhor.

Roguemos incessantemente que também cresça este tão precioso dom. 

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