A PÉROLA PRECIOSA
Breves pensamentos sobre o Rosário meditado, para sacerdotes.
pelo
Padre Wendelin Meyer, O.F.M.
Tradução portuguesa por
Alberto Maria Kolb
4.º MISTÉRIO
PARA O CÉU...
Os dias de Maria declinaram. A mais bela entre as mulheres sentiu aproximar-se o Seu fim; a morte, porém, não tinha pleno poder sobre Ela. Ela, que teve em Si o Imperecível, havia de deixar este mundo sem se corromper Seu corpo.
O invólucro imaculado elevava-se com Sua alma cândida à terra da Inocência e Pureza.
No céu esperava o Pai a Sua filha, o Filho a Sua mãe, o Espírito Santo a Sua esposa.
O sacerdote tem seu fim de modo diverso. Ele, que tantas vezes teve entre as suas mãos o Senhor da Vida, Cristo Jesus, ele que O teve sobre seu peito e encerrado em seu coração, é sujeito à corrupção.
Ele há de descer à sepultura, há de passar provavelmente pela antecâmara do céu, isto é, pelo purgatório, para satisfazer o que as pobres almas têm que expurgar. Depois, porém participará das alegrias de Maria pela entrada de sua alma ao céu.
Meditemos que o Pai recebe Sua filha, o Filho a Sua mãe, o Espírito Santo a Sua esposa.
O Pai recebe sua filha:
Maria era uma criança privilegiada.
Reteve em sua alma o sinete de uma pureza nunca perdida. A Sua vida era como o brilho da estrela matutina, o manso cintilar da aurora. «Progreditur quasi aurora!» (Sab. 6-9). Ela passava em brilho todos os filhos de Adão, e até todas as fileiras dos Bem-aventurados; sim, era maior ainda; era a virginal filha do Padre Eterno, que encerrava em Seu coração todos os filhos desta terra, que por eles sofria e por eles orava. Quem poderá enumerar os filhos de Deus que Maria Santíssima já salvara antes de Sua morte? Ela foi a mais diligente e fervorosa filha na casa de Seu Eterno Pai. Quem pois poderá dizer-nos com que amor Deus Padre a recebeu em Seus braços no dia de Sua assunção!
Pai e Filha se encontraram.
Isto dá ao sacerdote uma idéia de suas futuras glórias na eternidade. Afastemos de nós o medo tão desgraçado e pernicioso! Ainda que entre o sepulcro e o céu acharemos o purgatório, contudo, além da Igreja militante, está o Pai de braços abertos, pronto a nos receber. Não somos filhos privilegiados da graça? Não temos em nós o Seu sinal indelével? O selo de nossa preferência? Quando o pai esperava com ardente desejo e entre saudades infindas o filho pródigo, não havia por acaso de saudar com mais carinho e mais afetos o filho sempre obediente e sempre disposto para a graça?
Além disso, toda a nossa vida era consagrada ao dever e à obrigação de preservar da eterna condenação os filhos errantes e rebeldes, e conduzi-los à celeste mansão, levá-los à eterna pátria. Isto o Padre Eterno esquecerá? Não, nunca! um coração paterno nos espera. Abba, Pai, vós que habitais sobre as estrelas, longe, bem longe de mim, bendigo a hora e o momento em que me recebereis na mansão celeste, nas eternas e imorredouras alegrias do céu.
O Filho recebe Sua mãe:
Poderia Jesus esquecer-Se de Sua carinhosa mãe? Não, certamente não! A noite de Natal era demasiado encantadora e a esta santa noite a imagem de Maria era inseparavelmente unida. A casinha de Nazaré era sobremaneira íntima e idílica; nesta, Maria cuidava com tanto desvelo e maternal afeto de Jesus, repartindo estes cuidados com José, Seu casto esposo. Seu estado de Mater-Dolorosa na montanha do Gólgota é frisante exemplo do amor heróico de uma mãe. Não, tal Mãe jamais podia ser esquecida, por isso Jesus tinha saudades de Sua Mãe.
Entretanto da morte de Jesus à morte de Maria decorreram anos. Aproximando-se porém a hora da partida, recebeu Maria a vida celestial da mão d’Aquele a quem Ela deu a vida terrestre. Oh feliz encontro! Palavras humanas, são insuficientes para descrever os sentimentos da Mãe e do Filho.
Novamente levanta-se o véu da Eternidade. Lancemos segunda vez um olhar sobre as nossas futuras alegrias do céu. Não poderemos por acaso viver da doce esperança de encontrarmos semelhante recepção?Quicumque enim fecerit voluntatem Patris mei, qui in coelis est, ipse meus frater, et soror, et mater est(S. Math. 12-50).
E a vontade do Pai foi para nós sempre cara e preciosa. Estávamos inúmeras vezes debruçados sobre as sagradas páginas, pensativos, para tomarmos mais a fundo e compreendermos melhor esta vontade; aprofundávamos nesta Lei nosso espírito e nosso coração, quando os silenciosos momentos da meditação cercaram santamente todo nosso «eu».
E o púlpito sagrado bem poderia contar quanto nos era estimável esta vontade do Pai! «In lege Domini voluntas ejus». (Ps. 1-2), clama este púlpito, esta cátedra da Lei, ao povo e à paróquia. A nossa própria vida, para exemplo do povo, procurávamos em todo o tempo conformar com as prescrições divinas. — «Este então me é irmão, irmã, mãe...» Oh dia mui vezes feliz; dia de nosso ingresso no céu!
O Espírito Santo recebe a Esposa.
Admirável era a união da alma de Maria com o Espírito Santo. Ele A enchia completamente, A regia descia sobre Ela em línguas de fogo. Em Maria jazia o conteúdo total do «Cantica Canticorum», aquela tenra vida, que se consumia de amor pelo Seu eterno esposo. Separada do mundo e absorta em Deus, descansava a Santa Virgem nos braços de Seu Amado. «Adjuiro vos filiae Jerusalem per capreas, cervos que camporum, ne suscitetis neque evigilare faciatis dilectam, donec ipsa velit (Cant. 3-5).
O Espírito Santo edificou n’Ela a Sua habitação. «Tota pulchra es arnica mea, et macula non est in te». (Cant. 4-7).
Esta santa esposa voava à eterna pátria, para contemplar Seu Divino Esposo face a face.
Também esta Assunção ao céu servirá para nós de ensinamento. A nossa vida não está ela em íntima união com o Espírito Santo? Não foi este amado hóspede de nossa alma mão direita em todos os nossos ministérios sacerdotais?
O veni, veni Sancte Spiritus! Quantas vezes saíram estas palavras de nossos lábios! E Ele, o Divino Paráclito, ajudava a nossa fraqueza, abrandava a nossa tristeza, inflamava o nosso ânimo. Quem, porém, poderá exprimir em palavras a consolação nas horas tristes e amargas que Ele infiltrava, qual bálsamo refrigerante, em nosso coração atribulado? Este «aduleis hospes anima» nos espera, para nos céus ser-nos ainda mais, do que foi para nós na terra. Exulta satis, filia Sion! (Zach. 9-9).
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