Apesar de cego pela idade, continuava o venerável Beda a pregar a alviçareira boa nova. Conduzido pelo guia, peregrinava o piedoso velho de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, tendo na boca a palavra de Deus e no coração o fogo juvenil.
Um dia o moço que o guiava levou-o a um vale ouriçado de brutas pedras e com mais leveza que maldade lhe disse:
- Venerável Pai muita gente está aqui reunida à espera da vossa prédica.
Imediatamente levantou-se o ancião, escolheu um texto sagrado, explicou-o e fez dele aplicação, e exortou, e advertiu, e exprobrou, e consolou com tanta mansuetude e unção que as lágrimas lhe correram suave e docemente pelas barbas encanecidas.
E, ao concluir, proferiu ele a oração e exclamou:
- Tu és o Reino e o Poder, Tu és a Força e a Glória por toda a eternidade!
Deu-se, nesse momento, um fato estranho: ao redor, no vale pedregoso, bradaram milhares e milhares de vozes que ecoaram pelas montanhas:
- Amém, veneraável Pai! Amém! Amém!
O rapaz tomou-se de assombro, caiu de joelhos, profundamente arrependido, e confessou ao santo o pecado que cometera.
- Mas, meu filho – exclamou comovidamente o velho – por acaso não leste que, se os homens emudecerem, as pedras bradarão? Não tentes, jamais, gracejar com o verbo de Deus, meu filho! A palavra divina é viva, forte e afiada como uma espada de dois gumes; e ainda que o coração humano, a despeito dela, se petrificasse, palpitaria em cada pedra um coração de homem.
(Cândido Jucá - O Bom Caminho, páginas 199/200)
Fonte: Almas Castelos e farfalline.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário