Sta. Teresa de Jesus dizia: Deus não deixa nunca sem recompensa, ainda nesta vida, o menor bom desejo. Assim, há alguns santos que, pelos bons desejos, chegaram em pouco tempo a uma perfeição sublime, segundo a expressão do Sábio: Em uma curta vida, percorrem uma longa carreira.
Tal foi um S. Luiz Gonzaga que subiu tão alto, em tão poucos anos, pois viveu apenas vinte e três, que Sta. Maria Madalena de Pazzi vendo-o em espírito no céu, dizia que lhe parecia que nenhum outro santo gozasse tanta glória como ele no paraíso. Soube então que ele tinha chegado a essa altura pelo ardente desejo que o abrasou durante a vida, de amar tanto a Deus quanto merecesse o Senhor, e na impossibilidade de o conseguir, por ser Deus digno de um amor infinito, sofrera um contínuo martírio de desejos, causa de sua elevação à tanta glória.
Achamos muitos outros ensinamentos sobre esta matéria, nas obras de Sta. Teresa. Em um lugar, ensina: “Sejam grandes os nossos pensamentos, que dai virá o nosso bem”. Em outro, diz: Não devemos limitar os nossos desejos; ao contrário, devemos esperar que, apoiando-nos em Deus, possamos, com esforços contínuos sustentados pelo auxílio de sua graça, chegar pouco a pouco aonde muitos santos chegaram... Sua divina Majestade ama as almas generosas que desconfiam de si mesmas.
Ela atestava, por experiência, que tinha visto estas almas conseguir mais progresso na perfeição em poucos dias, do que as almas pusilânimes, em muitos anos. Para adquirir a coragem necessária, é muito útil ler as vidas dos Santos, particularmente dos que, depois de ter vivido no pecado, chegaram a uma alta santidade, como Sta. Maria Madalena, Sto. Agostinho, Sta. Pelagia Penitente, Sta. Maria Egipciaca e sobretudo Sta. Margarida de Cortona, que passou longos anos em estado de condenação, mas que, neste miserável estado, conservava o desejo de se santificar; e, de fato, depois de sua conversão, de tal sorte se pôs a voar para a perfeição que mereceu saber em vida por uma revelação do Senhor, não só que era predestinada, mas também que lhe estava preparado no céu um lugar entre os serafins.
Sta. Teresa nos adverte ainda que o demônio se esforça por nos fazer crer que é orgulho formar grandes desejos e querer imitar os santos, mas é isto um grande erro. Certamente não há orgulho naquele que, desconfiando de si mesmo, e confiando só em Deus, se põe a marchar com coragem para a perfeição, e diz com o Apóstolo: Nada posso por minhas próprias forças, mas com o auxílio de Deus posso tudo; por isso, tomo a resolução de amá-lo, como o fizeram os santos, mediante sua divina graça.
É, pois, muito importante elevarmos nossos desejos aos grandes intentos, como amar a Deus mais que todos os santos, sofrer por seu amor mais que todos os mártires, suportar perdoando todas as injúrias, abraçar todas as fadigas e todas as penas para salvar uma alma, e outras coisas semelhantes; porque, embora estes desejos não sejam realizáveis, são contudo muito meritórios diante de Deus que ama as boas vontades tanto quanto odeia as perversas. Além disso, pelos desejos das coisas grandes e difíceis, adquire-se mais coragem para praticar as mais fáceis.
É por isso que se ganha muito em formar, cada manhã, o bom propósito de fazer por Deus tudo o que for possível, de sofrer com paciência todas as contrariedades, de estar sempre recolhido e ocupado a fazer atos de amor de Deus. Tal era a prática de S. Francisco contada por S. Boaventura: Ele se propunha fazer grandes coisas com a graça de Jesus Cristo. — “Os bons desejos agradam tanto ao Senhor, como se tivessem sido realizados", diz Sta. Teresa.
Retirado do Livro: A Verdadeira Esposa de Cristo por Santo Afonso de Ligório
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