terça-feira, 10 de maio de 2016

A PACIÊNCIA - Meios Para Adquiri-la

  Cristão: neste vale de lágrimas e penas, és um desterrado; eis porque a paciência é para ti tão necessária como o pão de que te alimentas. Queres pra ticá-la com sinceridade? eu lhe a prometo, sem temor de ser desmentido, contanto que pratiques os avisos seguintes:
  1.  Estando zangado, cala. Não deves fazer ação nenhuma, nem proferir palavra arrebatado da ira, porque depois não só te arrependerias do dito ou feito, senão que talvez seriam já irremediáveis os males que com teus arrebatamentos tivesses ocasionado.
  2.  Lembra-te que, se Deus te houvesse tirado a vida quando pecaste pela primeira vez, arderias agora nos infernos, padecendo lá muito mais do que sofres agora aqui; e se te dessem a escolher entre o que agora aqui padeces e o que lá padecerias, não preferirias isto ao inferno? Pois então, faze de conta que Deus te comuta nestas penas o que lá deverias padecer, e não as sofrerás?
  3.  Levanta teu pensamento ao céu e considera quanta é a glória que lá te espera, se sofreres aqui com paciência: não podem comparar-se as penas desta vida com a glória e galardão, que por elas te dará Deus depois, e hás de saber que, como diz São Gregório, ninguém pode chegar aos grandes prêmios do céu, senão pelo caminho de grandes trabalhos; e estes trabalhos hão de sofrer- se com paciência e em graça de Deus, porque do contrário não servem para o céu.
   4.  Pensa que ninguém será coroado de glória, sem haver sofrido com paciência e graça; São João viu que todos os Santos levavam palmas nas mãos, como símbolo do martírio ou da paciência com que sofreram as penas desta vida. Lê as vidas dos Santos e Santas, a de Jesus e Maria, e verás com que paciência sofreram as calúnias, perseguições, privações e toda classe de tormentos, apesar de serem inocentes; e tu, miserável pecador, que há tantos anos deverias arder nos infernos, não sofrerás?
   5.  Não serão suficientes estes exemplos para sossegar-te? Vou então pôr outro diante de teus olhos que creio que te moverá: vem comigo, vamos ao Calvário ... Vês aqueles dois que estão ao lado de Jesus? São dois ladrões; ambos padecem da mesma classe de penas, os dois estão lá justiçados... mas que morte tão diferentes a deles! Um passa do suplício ao paraíso, o outro da cruz ao inferno, e por quê? Porque este se desespera impaciente, enquanto o outro sofre a pena com paciência. Entende, pois, que todos os homens levam sua cruz neste mundo, mas com esta diferença, que aquele que a carregar com paciência, graça e humildade, persuadido de que por seus pecados merece aquilo e muito mais, irá ao céu com o bom ladrão; mas quem a carregar com raiva, blasfemando e desesperado, irá com o mau ladrão desesperar-se por uma eternidade nos infernos.
  6.  Alcançarás a virtude da paciência pedindo-a com humildade a Jesus e a Maria Santíssima, rezando para esse fim todos os dias de manhã um Padre Nosso e três Ave Maria. Em teus trabalhos dize com frequência: Meu Jesus, assisti-me; Virgem Santíssima, ajudai- me; seja tudo por amor de Deus; seja em desconto e satisfação de meus pecados. De noite examina se faltaste durante o dia, e, se achares ter faltado, reza tantas vezes a Ave Maria quantas foram as faltas.

ADVERTÊNCIA

   Para que a paciência seja frutuosa e meritória, é indispensável sofrer as penas em estado de graça porque àquele que está em pecado mortal de nada lhe serve para ganhar o céu, sofrer muito com paciência; serve-lhe certamente para a terra, isto é, para ganhar bens temporais. E para que melhor se entenda isto, vou servir-me do mesmo exemplo com que Jesus Cristo exortou a seus discípulos à paciência, anunciando-lhes que, enquanto estiverem neste mundo, seriam como a mulher que está de parto, a qual no ato de dar à luz padece terríveis dores, mas depois dá tudo por bem empregado vendo que deu ao mundo uma linda criança. De fato, os verdadeiros cristãos, durante os dias desta vida, são como mães que estão de parto: dão-lhes muito que sofrer as penas e trabalhos inseparáveis deste vale de lágrimas, e causam-lhes alguma tristeza; mas no termo desta vida alegrar-se-ão, vendo que deram à luz tão grandes e tão boas obras para a pátria celestial. Mas, assim como aquela mãe que exulta pelo bom sucesso de seu parto, sentiria aflições muito amargas, se, depois de tanto padecer, visse morto o fruto de suas entranhas, e que em vez de servir-lhe de consolação, só houvesse de servir para alimento de bichos; da mesmo sorte, o cristão dá, por assim dizer, à luz para a pátria celestial, todo o bem que faz e os males que sofre em graça de Deus, como se fossem outros tantos meninos vivos e belíssimos; mas se estiver em pecado mortal, as obras boas que faz e os trabalhos que padece com paciência, são como outros tantos meninos que dá à luz em meio das dores desta vida, mas meninos mortos, que só servem para alimento da terra, isto é, para alcançar bens terrenos e temporais, mas não para os celestiais, porque são obras mortas. Portanto: Paciência e Graça; se alguma vez se tiver a fragilidade de perder esta graça, ou de cair em pecado, é mister fazer logo um fervoroso ato de contrição e confessar-se o mais breve possível, para não ter a desgraça de dar à luz tantas obras mortas, sem que sirvam para a pátria celestial. O pecador, porém, não deve omitir as obras boas, nem deixe de sofrer com paciência os males, ao menos para alcançar de Deus a verdadeira conversão; mas persuada-se, que ainda que proceda assim, se não estiver em graça de Deus, nunca merecerá o céu.


Fonte: Devocionário "Caminho Reto e Seguro para chegar ao Céu." - 1944

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