Podemos agora perguntar por que Deus permitiu os sofrimentos de Maria? Seria respeitoso entregar-nos a tal pesquisa? Todas as coisas feitas com amor são feitas respeitosamente. Se procuramos sabê-lo, não é por duvidarmos, ou por querermos que Deus nos preste conta de Seus atos, nem por pensarmos que temos o direito de sabê-lo. Mas nos informamos para adquirir novos conhecimentos e transformá-los em um novo amor. Pode ser que não haja uma só obra de Deus cujos motivos nos sejam conhecidos ou ao alcance de nossa inteligência, se Ele mesmo não se digna nos instruir. As obras que Deus realiza emanam de profundezas infinitas. A experiência, porém, nos demonstra que quanto mais conhecemos, mais amamos. É por isso que nos lançamos a investigar coisas que só o amor nos dá o direito e a coragem de aprofundar. Por que Deus permitiu os sofrimentos de Sua Mãe, duma Mãe que Ele amava duma maneira inexprimível, que era sem pecado, que não tinha nada a expiar pela penitência, e da qual as lágrimas não eram necessárias para a redenção do mundo, bastando para tanto o Preciosíssimo Sangue? As razões que vemos de imediato são estas que apresentaremos aqui. Primeiramente, o Seu amor por Ela. O amor pode fazer uma oferta melhor que o dom de si mesmo?
Ora, em Jesus tudo era sofrimento. Mesmo nas grandezas terrestres, os mais altos destinos não passam sempre por gloriosos sofrimentos e provas extraordinárias? E quanto houve de humano e terrestre, embora eminentemente celeste, nesses trinta anos! A mesma lei que envolve Jesus, envolve Maria. E Ela não podia ter de outra coisa um mais ardente desejo em Sua alma tranqüila. Mas essa lei é uma lei de sofrimento, de expiação, de ignomínia, de uma abjeção que beira o aniquilamento. Ela poderia ser um simples instrumento, ou antes, uma Mãe, se Ela ficasse separada de todas essas coisas, se Ela permanecesse, como uma paisagem tranqüila e plana, iluminada pelo Sol, estranha à gloriosa tempestade do Calvário, novo Sinai, bem mais árduo e mais terrível que o antigo. Não é assim para os que estão longe de Jesus? Todavia não é o costume de Seu amor manifestar-se justamente através da Cruz? Jesus deixa o Céu porque o sofrimento Lhe é como um paraíso exclusivamente terrestre; e Ele ama tanto esse paraíso, que se pode bem entender que aqueles que O amam, amarão também o Éden do sofrimento. As grandes graças são como que cadeias de montanhas formadas pelas elevações subterrâneas da dor. As coroas dos Mártires, pois, pertencem-lhes de direito. Maria deveria, acaso, ser privada dessas coroas? Mas, por que gastar tantas palavras sendo que basta apelar para nossos instintos cristãos? A que se assemelharia Maria sem o sofrimento? Esta idéia não implicaria em nada menos do que a desaparição da Senhora do seio da Igreja. Uma Encarnação isenta da dor teria como conseqüência uma Mãe igualmente isenta da dor; mas o Infante de Belém, entregue ao sofrimento, envolveu Sua Mãe com os mesmos liames da dor que envolviam a Ele mesmo. A violência do martírio de Maria vem da perfeição do amor filial de Jesus por Ela. O aumento dos méritos da Santa Virgem foi outra razão de Seus sofrimentos; pois jamais se acumula tanto mérito nesta vida quanto no sofrimento. A qualidade de Mãe de Deus não bastaria para Maria ser elevada ao Céu sem a graça santificante que precedeu e seguiu a dignidade da maternidade divina. A grandeza desta dignidade é uma prova da grandeza da graça nEla, porque, nos desígnios de Deus, as duas coisas são inseparáveis. Assim, a dignidade que conhecemos é um sinal da graça que ignoramos. A elevação de Maria devia depender de Seus méritos, e estes deveriam ser adquiridos por meio de uma longa carreira de sofrimentos. Oh! Que dirá acerca disso a multidão arrebatada que povoa atualmente o Céu, sobretudo a alma de nossa Mãe querida, na qual Ela mesma reconhece as recompensas especiais de cada dor em particular, a coroa especial de cada ação sobrenatural! Apesar do prodigioso excesso da recompensa, Ela distingue em detalhe a correspondência entre esta e cada dor em particular; Ela vê como Suas recompensas nascem, por assim dizer, de Suas dores, duma maneira sobrenatural. Pois a graça não é outra coisa que a glória. Apenas que a graça é a glória no exílio, enquanto que a glória é a graça na pátria. A graça é o sólido tesouro; a glória é somente a alegria e o triunfo. De sorte que esta grande Compaixão de Maria é elevada à glória pelo caminho ordinário e legítimo do reino dos céus. Sessenta e três anos de alegrias extáticas não teriam, na ordem atual dos desígnios de Deus, elevado este trono maternal a uma tão extraordinária proximidade de Deus. A Rainha dos Céus deve necessariamente ser tratada como rainha [também na questão do sofrimento], para que Ela esteja o mais possível preparada quando o dia de Sua coroação chegar. O triunfo da Assunção será devido às amarguras da Compaixão.
Há sempre uma aparência de crueldade nos altos destinos. A sorte arrasta os seus favoritos através de espadas nuas. O alto destino de Maria não podia ser isento desse aspecto de crueldade, e o que parece tão cruel é a natureza divina de Seu Filho. Isso é conseqüência da infinita perfeição de Deus, que deve necessariamente se bastar a si mesmo e ser Ele mesmo Seu próprio fim. Assim Deus é também o fim supremo de todas as criaturas e não há outro fim verdadeiro além dEle. É portanto uma parte de Sua magnificência, uma parte de Seu profundo amor, que todas as coisas tenham sido feitas para Ele, e que Sua glória seja superior a toda outra glória. A maior misericórdia de Deus para com Suas criaturas é a de lhes permitir contribuir para Sua glória, e de poderem fazê-lo duma maneira inteligente e livre. Bem considerado, a criatura não pode ter uma felicidade maior que a de aumentar a glória de Seu Criador.
Eis aí a única verdadeira satisfação ao mesmo tempo da inteligência e da vontade, a única coisa que pode ser para a criatura um eterno repouso. Essa foi outra razão pela qual a permissão de sofrer foi dada a Maria: Deus pôde assim receber dEla uma glória maior, não somente do que de qualquer outra criatura, como de todas as criaturas reunidas, à exceção somente da natureza criada de Nosso Senhor. Maria teve o maravilhoso privilégio de espelhar em Sua pessoa toda a criação e de ultrapassá-la mesmo, duma forma excelente e absoluta, através do louvor e da adoração, da glória e do culto rendido ao Criador. Quando Ela escalava alturas assustadoras, situadas bem acima da capacidade dos sentimentos e da inteligência dos Santos, quando Ela vencia torrentes profundas de sangue e de lágrimas, e ultrapassava ondas semeadas de obstáculos e de rochas, Maria estava repleta de graças poderosas, que exigiam uma extrema correspondência à Vontade Divina, mas Ela não recebeu de Jesus nenhum dom ao qual atribuísse maior valor do que a Sua própria dolorosa Compaixão. Nem por um mundo Ela quereria ser privada da menor circunstância que pudesse agravar Sua dor! Mesmo no auge de Suas aflições Ela se alegrava, em espírito de profunda adoração à inexorável soberania de Deus. Esse Deus que seria suspenso, e que era Seu Filho. Era esse o Crucificado pálido, desfalecido, fraco e ensangüentado, do qual a glória, mais vasta do o mais vasto oceano que envolve o mundo, queria Ela ainda aumentar, com uma complacência incompreensível, formada por torrentes de sobrenatural bondade e de santidade consumada que as espadas afiadas da dor faziam jorrar de Seu Coração Imaculado. Foi Ela, por assim dizer, que pagou a dívida de todos os Santos para com a Paixão de Jesus, dívida que eles jamais poderiam pagar. Maria ao pé da Cruz era o mundo em adoração; pois que outra criatura adoraria então a Jesus em Seu abatimento?
E toda esta [aparente] crueldade dum Deus zeloso de Sua glória, esta sede infinita de possuir Suas criaturas, era para Maria a perfeição das delícias e o supremo exercício da realeza, ao passo que, da parte de Seu divino Filho, era a inefável efusão de amor da qual Ela receberia as torrentes depois da noite da Encarnação. A Igreja seria outra coisa diversa do que ela é se o culto das dores de Maria não formasse uma parte de sua beleza, de seu tesouro e de seu poder junto a Deus. Podemos pensar com menos confusão em nossa dívida para com a Paixão de Nosso Senhor quando consideramos a dor com a qual esta Mãe a honrou [por nós], dor que não se assemelha a nenhuma outra, a não ser àquela de Seu Filho mesmo.
Assim encontramos também a nossa alegria nessas dores. Maria sofreu por amor de nós, tanto quanto por amor de Seu Filho. Não deve ser Ela, pois, com efeito, a Mãe da consolação, o refúgio dos aflitos? Era preciso, para isso, que Ela descesse às profundezas de todas as dores que pode sentir o coração humano. Tanto quanto possível a uma simples criatura, era preciso que Ela as medisse todas e as experimentasse todas, sem exceptuar mesmo a dor que provém do pecado, ao qual nós estamos sujeitos e do qual Ela é isenta. Era preciso que Ela conhecesse o peso de nossos fardos e todo o gênero de misérias que cada um deles traz consigo. Deveria ser para Ela uma ciência o conhecer com exatidão as consolações que exigem nossos fracos corações em meio às suas diferentes provas, e de reconhecer o que alivia e acalma nossos sofrimentos nas milhares de circunstâncias diversas e desencontradas onde somos provados. Nosso Senhor não nos resgatou de nossos pecados por uma aparição brilhante nos céus, por uma visão passageira da Cruz observada apenas do Tabor no esplendor distante do firmamento, nem por uma absolvição pronunciada uma vez por todas do alto do Carmelo, voltado para o mar e para nosso distante ocidente. Para Ele a Redenção poderia ser tão fácil quanto a Criação. Todavia Ele realizou nossa salvação ao preço de longos anos, de sofrimentos infinitos, de abismos de ignomínia, através da efusão de Seu Sangue e das inexprimíveis amarguras de Sua Alma. Ele ganha nossa salvação, Ele a merece, Ele luta para a conquistar e não obtém êxito senão nos prodígios de Sua Paixão. E nada disso era necessário, sem dúvida: uma palavra, uma lágrima, um olhar Seu bastaria para nos redimir. Bastaria mesmo um simples ato da Vontade de Deus, com ou sem a Encarnação. Mas foi de Seu agrado que fosse assim. Em Sua Sabedoria Infinita, Ele não quis se apoiar apenas em Sua Onipotência, mas escolheu uma outra via.
Assim também com Maria. Ela não foi tornada duma só vez Mãe dos aflitos, como por uma nomeação. Ela não devia tornar-se a Consoladora dos que sofrem, por um simples decreto da Vontade Divina. Poderia ser assim, mas não foi. Sua qualidade de Mãe dos homens é como uma longa e penosa conseqüência de Sua divina Maternidade. Para a adquirir e a merecer, Ela trabalhou, Ela sofreu, Ela suportou enormes fardos de dor e, por fim, obteve-a sobre o Calvário. Não a mereceu estritamente falando, como Jesus mereceu a salvação do mundo, pois esta qualidade [de Mãe dos homens] é uma parte da salvação merecida pelo Salvador. Mas Ela a mereceu tanto quanto uma criatura o poderia, e quando Ela se aproximava de Sua meta, Deus veio com Sua graça ao encontro d’Ela. E como era necessário para nós, portanto, que Deus permitisse os sofrimentos de Maria! Que seria o oceano das dores humanas sem esta espécie de claridade lunar que Maria resplandece? O oceano, com as nuvens sombrias e espessas que sobre ele se abatem, não difere mais das magníficas planícies de vegetação e ondas que se atiram sobre as rochas sob o sol, do que a triste extensão das mágoas sucessivas da vida, sem a doce a atraente luz que recebe do amor de Maria, diferiria da nossa vida presente, passada ao abrigo de Seu trono maternal. Quantos prantos Ela já não enxugou de nossos olhos? Quantas lágrimas amargas Ela já não nos tornou doces? E depois, a velhice chega, o círculo daqueles que amamos diminui a cada ano, a doença, a morte nos aguardam. Questionaremos ainda o tesouro de consolações que o Coração Imaculado de Maria em si encerra para nós? Foi com inteira satisfação desse Coração, e para o nosso bem, que Deus Lhe permitiu sofrer, a fim de que Ela pudesse ser realmente a Mãe dos aflitos, pois Suas dores a cada instante Lhe lembram as nossas. A medida do que podemos sofrer é pequena, mas como foi grande o peso das dores que Ela suportou, e como as suportou nobremente!
Nosso Senhor foi nossa salvação e nosso exemplo. Ele resgatou o mundo unicamente através de Seu Preciosíssimo Sangue. Somente Seus méritos nos salvaram. Suas prerrogativas, como Redentor, são únicas. Mesmo Sua Mãe tinha de ser resgatada, e Ela o foi, duma maneira diferente e mais sublime, preventiva e não reparativa, por meio da incomparável graça da Imaculada Conceição, e não por uma regeneração após um estado de culpa. No entanto, foi a Vontade de Nosso Senhor que Sua Mãe, Sua cooperação, Seu consentimento, Suas graças, Seus sofrimentos, fossem de tal modo unidos à obra da Redenção, que não os pudéssemos separar. Ele quis que a Compaixão de Maria estivesse ligada à Sua própria Paixão. E, com efeito, sem a Compaixão, Sua Paixão teria sido diferente do que foi. Ele submete de tal modo Maria à mesma lei de expiação que assumira, que, enfim, pode-se dizer com verdade, em vários sentidos, que Ela teve parte na Redenção do mundo. Mas se o que vimos de dizer é verdadeiro de Jesus Cristo considerado como Vítima expiatória, obra para a perfeição da qual a união da natureza divina com a natureza humana era necessária, é ainda mais verdadeiro para o Cristo considerado como nosso exemplo. Com a graça de Seu Filho, Maria seria a mais capaz de cumprir essa função junto com Ele, e porque Ela não é mais do que uma simples criatura humana, este exemplo nos tocava de mais perto. Assim, podemos supor que Deus permitiu as dores de Maria, para que Ela nos servisse de exemplo duma maneira a mais excelente. A dor caracteriza mais ou menos toda a vida humana, e apesar dela encerrar em si todos os meios particulares de união com Deus, ela perturba e embaraça mais que qualquer outra coisa nossas relações com Ele. A dor ataca nossa confiança em Deus, e não pode haver verdadeira adoração sem confiança. Ela faz nascer tentações contra a fé, ou as robustece quando já as encontra. Ela nos conduz a uma espécie de mau humor e insolência a respeito de Deus, faltas que provém dos abismos mesmos de nossa natureza, desses abismos mesmos donde emanam também o amor e a adoração, que elas combatem secretamente, e dos quais almejam tomar o lugar. Reconhecemos esta revolta como um autêntico fenômeno da natureza criada, quando consideramos a maneira surpreendente com a qual Deus justifica a irreverência de Jó e encontra um pecado digno de castigo nas críticas dos amigos deste, enquanto que Ele, o perscrutador dos corações, não vê nas lágrimas ardidas do patriarca nada que possa ferir a integridade de sua paciência, vendo-as, pelo contrário, em harmonia com o respeito e o amor a Ele devidos. Suportar dores pode ser a obra mais elevada, a mais árdua que nós tenhamos a realizar, e faz parte dos desígnios de Deus que o total de dores que devemos sofrer corresponda a um grau de santidade que nos faça capazes de suportá-las. É preciso que suportemos a dor duma maneira natural, mesmo quando a suportamos duma maneira sobrenatural. Ser santo não é ter a alma insensível ou dificilmente impressionável, mesmo quando essa falta de sensibilidade resulta de que os interesses religiosos estão acima dos sentimentos e penetrando-os de elevadas abstrações. Seguramente, a espiritualidade nos impede de sentir várias dores, e ninguém negará que isso já seja, sob muitos aspectos, um privilégio. Mas é preciso não confundir essa insensibilidade com a heróica paciência de suportar sofrimentos. Para ser heróico nessa matéria, é preciso que o coração esteja vivo, para que o amor divino crave nele então mais cruelmente e mais profundamente os traços que nos ferem. Ora, em tudo isso, Maria é nosso exemplo, um exemplo que há produzido tais resultados de santidade eminente e graças sobrenaturais na Igreja, que podemos sem dúvida afirmar que essa foi uma das razões pelas quais Deus permitiu o excessivo martírio da Santa Virgem.
Ousaremos ainda sugerir uma outra razão de Suas dores. Assim como a Bíblia é uma revelação escrita, Maria é, em certo sentido, uma revelação simbólica. Deus se serve de Maria para deixar claras muitas coisas que, de outra forma, permaneceriam obscuras. É uma idéia familiar aos teólogos considerar a Santa Virgem como uma espécie de imagem da Santíssima Trindade. Como Filha do Pai, Mãe do Filho e Esposa do Espírito Santo, Ela representa, embora limitadamente por ser uma criatura, as relações das Três Pessoas divinas. Ela é, por assim dizer, um lago de águas tranqüilas e transparentes, ao seio do qual os maravilhosos atributos de Deus e as alturas dos céus, apesar de sua distância, refletem-se duma maneira distinta e fiel. Conhecemos melhor a misericórdia de Deus, Sua condescendência, Sua intimidade com as criaturas, Suas vias particulares, graças à luz que Ele fez brilhar em Maria, e melhor do que o poderíamos conhecer por outros meios. Assim, as perfeições de Deus, Sua maneira de agir para com as criaturas, o modo pelo qual se manifestam Suas graças reparadoras, a possibilidade da santidade, a fecundidade inventiva do amor divino, a maneira pela qual Deus forma os Santos, Sua conduta para com a Igreja, Sua sociedade interior com as almas que O buscam – eis algumas das coisas escritas em Maria, como inscrições hieroglíficas fáceis de decifrar à luz da fé, através da inteligente penetração da piedade. Assim, Deus A revestiu de Suas dores, como para torná-lA uma revelação completa do mistério do sofrimento.Ele fez brilhar nEla essa doutrina fecunda, de que o sofrimento, quando tem motivo as coisas divinas, é uma verdadeira conseqüência do amor. Maria não tinha cometido nenhum pecado pelo qual devesse reparar; Ela não havia sido atingida pelo castigo da queda de Eva; não estava compreendida sob a lei do pecado. Na ordem dos desígnios do Céu, Maria fôra prevista antes do decreto que permitiu o pecado. Ela também não veio ao mundo para o resgatar. Todo o sangue de Maria, essa fonte tão doce do Preciosíssimo Sangue [de Jesus], não teria sido suficiente para lavar um só pecado venial, nem para salvar a alma dum só recém-nascido. Ela devia ser simplesmente mergulhada num mar de amor inefável, e é por isso que o dilúvio da dor passa sobre Sua alma e a envolve, da mesma forma que os rios turbulentos vêm se jogar no mar. Seus sofrimentos fecham a boca a toda lamúria. Com uma doce violência e uma força de persuasão irresistível, eles impõem silêncio a todos os filhos sofredores do Pai celeste. Os Santos não podem duvidar, então, que o sofrimento seja a mais grande semelhança com Cristo. Em meio à nossa extrema baixeza, cuja paciência assemelha-se a um tecido tão fraco que já está gasto mesmo quando ainda é novo, nós aprendemos não apenas a nos calar, mas a sofrer com doçura; pensamos mesmo, com alegria, que tempo virá em que amaremos esses sofrimentos, que são já como uma moeda de ouro com a qual Deus paga o nosso amor.
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