Mons. de Ségur (*) | Tradução Sensus fidei: Há outra razão para admirar e adorar profundamente o Coração de Jesus: tal é a de que Ele mesmo é o princípio de sua vida, e, portanto, o princípio da vida de sua Mãe e de todos os fiéis.
Jesus é a vida. Ele mesmo o disse: Eu sou a Vida: Ego sum Vita.”[1] Seu Coração, que é a parte mais excelente Dele mesmo, é portanto a mais excelente, a mais viva que há Naquele que é a Vida. Este Coração divino pode ser considerado em relação ao corpo de Jesus e em relação à sua alma; sendo para um e outra como o princípio da vida.
É considerado como princípio da vida do corpo de Nosso Senhor, porque dele, como de uma fonte vivificante, derrama-se por todos os membros o sangue divino que é absolutamente necessário para a vida deste adorável corpo. O Espírito Santo o disse: “A vida da carne está no sangue”.[2] O calor da vida reside no sangue e o sangue parte do coração.
O Coração espiritual de Jesus, ou seja, sua alma santíssima, unida a seu coração de carne e considerado no que tem de mais sublime, a inteligência e o amor, é igualmente a base e o princípio da vida de Jesus; desta vida que por razão da união hipostática da natureza humana com a natureza divina na pessoa do Verbo, pode com toda propriedade chamar-se vida divina, vida de um Deus. Deste Coração deífico partem, para difundir-se na alma de Jesus, todos as torrentes da luz divina e do divino amor.
O Sagrado Coração é, pois, em Jesus o princípio de sua vida todos os pensamentos e afetos que o Filho de Deus teve neste mundo por nossa salvação, todas as palavras que disse, todas as obras que fez, todas as dores que se dignou sofrer, a santidade e o amor incompreensíveis com que fez e sofreu todas estas coisas, em uma palavra, tudo nEle procedia de seu divino Coração, como os riachos provêm de sua fonte.
Ao Sagrado Coração de Jesus somos, pois, devedores de tudo; do Coração de Jesus provém nossa salvação. Que faremos para dar-Vos as devidas graças, oh bom Jesus? Oferecemo-Vos esse Coração adorável que haveis dignado fazer nosso. Sim, ofereço-Vos com confiança em união de amor infinito que inspirou tantas coisas admiráveis para a minha redenção.
O Coração de Jesus é ademais o princípio da vida da Mãe de Deus; pois, assim como o virginal Coração desta Mãe admirável foi o princípio da vida corporal e natural de seu Filho, enquanto o levava em seu casto seio, assim também o Coração deste adorável Filho foi, por sua vez, o princípio da vida espiritual e sobrenatural de sua Santíssima Mãe. O Coração deífico do Filho de Maria foi, portanto, o princípio de todos os piedosos pensamentos e afetos de sua bem-aventurada Mãe, de todas as suas santas palavras, de todas as suas boas ações, de todas as suas virtudes, e da santidade maravilhosa com que sofria tantas penas e dores, cooperando com seu Filho na obra de nossa redenção.
Oh, Jesus, Salvador meu! Louvado seja eternamente vosso divino Coração! Em ação de graças pelo que vossa Santíssima Mãe e nossa Mãe se dignou fazer por nós, ofereço-Vos o que mais amais no mundo depois de vosso Pai: o Coração Imaculado de Maria, todo abrasado de amor por Vós.
Em terceiro lugar, o Coração de Jesus é o princípio da vida espiritual e sobrenatural de todos os filhos de Deus. Esta vida sobrenatural é como uma expansão, uma difusão da vida inteiramente divina que Jesus comunica à sua Mãe.
Sendo o Coração de Jesus o princípio da vida da cabeça, é também o princípio da vida dos membros. E sendo o princípio da vida da Mãe, é pelo mesmo princípio da vida dos filhos.
Semelhante àquela fonte misteriosa que brotava no meio do Paraíso terrenal para derramar-se dali por toda a terra e fecundá-la, assim o Coração de Jesus está no meio da Igreja como a fonte universal de santidade, da qual brotam as águas vivas do Espírito Santo, águas que se derramam sobre nós para a vida eterna.
O Coração de Jesus é o princípio, a origem de todos os bons pensamentos que formaram e formarão até o fim dos séculos e até à eternidade as almas de todos os cristãos; o princípio e origem de todas as santas palavras que saíram e sairão de sua boca; de todas as obras de piedade que fizeram e farão suas mãos; de todas as virtudes que praticaram e praticarão; e, por fim, de todos os méritos que adquiriram e possam adquirir trabalhando, sofrendo, morrendo por Jesus Cristo.
Fazei, Salvador meu, que todas estas coisas se convertam em louvores eternos ao vosso Santíssimo Coração! E, pois, haveis-me dado este mesmo Coração para que seja o princípio de minha vida, fazei, se é de vosso agrado, que seja o único princípio de todos os meus sentimentos e afetos; que com sua ardentíssima caridade vivifique e mova, como com um sangue místico, todas as potências de minha alma, de sorte que não eu, mas ele senão ele viva em mim. Fazei, finalmente, que seja vosso Coração a alma de minha de minha alma, o espírito de meu espírito, o coração de meu coração.
Oh, Coração de Jesus Cristo, princípio de todo o bem! Glória a Vós no céu e na terra, no tempo e na eternidade!
[1] João. XI, XIV.
[2] Anima enim omnis carnis in sanguine est. (Levit. XVII, 11,14.).
(*) Monsenhor de Ségur. El Sagrado Corazon de Jesus. pp. 81-85 Casa Editorial de Manuel Galindo y Bezares. 1888.
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