Dolor meus in conspectu meo semper.
A minha dor está sempre ante os meus olhos (SI 37,18).
Considera que, desde o primeiro instante em que foi criada a alma de Jesus Cristo e unida ao corpo no seio de Maria, o eterno Padre intimou a seu Filho a ordem de sacrificar sua vida pela redenção do mundo, e que ao mesmo tempo lhe pôs ante os olhos o espetáculo aflitivo de todas as penas que devia sofrer até a morte para salvar os homens. Mostrou-lhe então os sofrimentos, as humilhações, a pobreza que teria de suportar durante toda a sua vida em Belém, no Egito, em Nazaré, e depois todas as dores e todas as ignomínias de sua paixão, os flagelos, os espinhos, os cravos, a cruz, e os enfados, as tristezas, as agonias, os abandonos, em que terminaria sua vida sobre o Calvário.
Quando Abraão conduziu seu filho à morte, não quis afligi-lo antes, nem mesmo no pouco tempo necessário para chegar à montanha, e guardou em segredo o seu intento; mas o Pai celeste quis que seu Filho encarnado, vítima destinada a satisfazer à sua justiça por todos os pecados, sofresse antecipadamente todasas penas a que devia submeter-se durante a sua vida e na sua morte. Assim, essa cruel tristeza que Jesus provou no jardim das Oliveiras, e que bastava como ele mesmo declarou para lhe tirar a vida, ele a suportou continuamente desde o primeiro momento de sua existência no seio de Maria; e desde então ele sentiu e sofreu vivamente e em seu conjunto o peso de todas as dores e de todos os opróbrios que o aguardavam.
Toda a vida e todos os anos de nosso divino Redentor foram pois uma vida e anos de dores e lágrimas: A minha vida vai-se consumindo com a dor, e os meus anos com os gemidos. O seu adorável coração não ficou isento de penas nem um instante: velando e dormindo, trabalhando e descansando, orando e conversando tinha sempre diante dos olhos essa cruel representação, que mais atormentava a sua alma do que todos os tormentos dos mártires os fizeram sofrer. Os mártires sofreram, mas ajudados pela graça suportaram seus tormentos com a consolação e a alegria que o fervor proporciona; Jesus Cristo sofreu, mas sempre com um coração cheio, de tédio e tristeza; e tudo aceitou por amor de nós.
Reza-se o Terço ao final.
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