A diferença entre morrer em estado de graça ou em pecado mortal
1. Bem depressa a tua vida terminará na terra; por isso vê como te conduzes: hoje vive o homem e amanhã já não existe. E em desaparecendo aos olhos, também depressa se apaga da lembrança.
Oh! loucura e dureza do coração humano, que só pensa no presente, e não prevê o futuro! De tal modo te devas portar em todas as obras e pensamentos, como se hoje houvesses de morrer. Se tivesses boa consciência, não recearias muito a morte. Melhor fora evitar o pecado, do que fugir da morte. Se hoje não estás preparado, como o estarás amanhã? O dia de amanhã é incerto; e quem sabe se te será concedido?
2. De que serve viver muito tempo, quando tão pouco nos emendamos? Ai! a vida longa nem sempre leva à emenda; muitas vezes aumenta mais as culpas. Prouvera a Deus, que, ao menos, tivéssemos vivido bem um só dia neste mundo! Não falta quem conte os anos da sua conversão; mas a quantos terão eles servido para se emendarem. Se é terrível morrer, talvez seja mais perigoso viver muito.
Bem-aventurado aquele que tem sempre diante dos olhos a hora da sua morte, e que todos os dias se prepara, para morrer. Se já viste morrer alguém, considera que também tu hás-de passar por aquela hora.
3. Quando amanhecer, pensa que não chegarás à noite. E quando anoitecer, não ouses contar com a manhã seguinte. Por isso anda sempre preparado, e vive de tal modo, que nunca a morte te encontre desprevenido.
Muitos morrem repentina e inesperadamente. Porque o Filho do Homem há-de vir, na hora em que menos se espera. Quando essa última hora chegar começarás a julgar de modo muito diferente de toda a tua vida passada, e muito te arrependerás de teres sido tão negligente e remisso.
4. Quão feliz e prudente é aquele, que se esforça por ser na vida, como deseja que a morte o venha encontrar! (...) Agora é o tempo mais precioso; agora são os dias da salvação; agora é o tempo propício.
Mas ai! porque não empregas mais utilmente este tempo, em que podes ganhar merecimentos para a vida eterna? Tempo virá, em que hás-de querer um dia ou uma hora para te emendares, e não sei se a conseguirás.
6. Ah! meu irmão, de quantos perigos te poderias livrar, e quão grande temor evitar, se nesta vida andasses sempre penetrado do temor e desconfiança da morte! Procura agora viver de tal modo, que à hora da morte mais tenhas motivos para te alegrar, do que para temer.
Aprende agora a morrer para o mundo, para então começares a viver com Cristo. Aprende agora a desprezar todas as coisas, para então poderes ir livremente para Cristo. Castiga o teu corpo pela penitência, para então poderes ter sólida confiança.
7. Oh! louco! Como pensas que hás-de viver largos anos, se nem sequer um dia tens seguro Quantos, julgando viver muito tempo, se enganaram, e foram inesperadamente arrancados ao corpo? (...) Faz agora, meu irmão, o que puderes; porque não sabes quando morrerás, e ignoras também o que será de ti depois da morte.
Enquanto tens tempo, entesoura para ti riquezas imortais. Não penses em mais nada, senão da tua salvação; trata tão somente das coisas de Deus.
9. Considera-te sobre a terra como peregrino e hóspede, que nada se preocupa com os negócios do mundo. Conserva o teu coração livre e levantado para Deus, porque não tens aqui morada permanente.
Dirige ao Céu com lágrimas as orações e gemidos de cada dia, para que a tua alma, depois da morte, mereça passar ditosamente ao Senhor. Ámen.
in Imitação de Cristo (Livro I - cap. XXIII)
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