Hoje eu queria lhes falar sobre um tema que tenho pensado e exposto em algumas conferências que andei fazendo por aí. Tema difícil e que eu tenho falado como em uma espécie de laboratório, de reflexão, captando aqui e ali as ponderações das pessoas sábias. É dentro desse espírito que eu lhes trago aqui. Meu intuito é tratar do assunto do namoro de forma racional, buscando as razões profundas que levam os homens a se comportar com respeito, na obediência à Lei de Deus. Não é suficiente, hoje, um padre dizer aos jovens: não façam isso ou aquilo. Quem quer entender, busque a verdade!
Estamos numa fase em que muitos de vocês estão namorando e eu sei o quanto o namoro pode ser um obstáculo à vida católica. E isso importa para mim e para vocês.Como tem acontecido com freqüência, a consciência vai perdendo os parâmetros, os critérios do reto agir, a razão começa a ficar confusa diante de um mundo que vai impondo o pecado para todos e em toda parte.
Alguém já me colocou a coisa nos termos seguintes: eu sei que não posso ter um relacionamento sexual porque é proibido pela Lei de Deus, pelos Mandamentos; mas eu não entendo porque é proibido, para mim parece um exagero.
Esse exemplo mostra a urgência de nós falarmos sobre o assunto. Eu sei que isso pode parecer uma imposição de regras, mas não é assim. O que eu quero é que vocês entendam as razões profundas que levaram Deus e a Igreja a colocarem na Santa Lei esse mandamento: não fornicarás (ou seja, não terás um relacionamento sexual fora do casamento).
De fato, se olharmos para a natureza do homem e da mulher, o modo como os corpos se completam, as reações fisiológicas que acontecem quando os sentimentos e paixões se atraem mutuamente, poderíamos pensar que não há pecado onde tudo obedece tão bem à natureza dos corpos.
Mas um olhar mais profundo sobre a natureza humana nos obriga a considerar que nem só do corpo é feito o homem. Se aquela é a lei da paixão, já não é a lei da razão. A razão é aquilo que nos diferencia dos animais. Somos racionais porque temos uma alma espiritual, capaz de raciocínio, pensamento, conclusões, capaz de errar e de reconhecer que errou, voltar atrás e corrigir, tudo isso é próprio da Inteligência. A inteligência é uma máquina de processar a Verdade! E esse mesmo espírito é também capaz de mover-se em busca do Bem, daquilo que o conhecimento, a inteligência, a razão, nos mostraram como sendo verdadeiro. Essa capacidade de buscar o bem e de possui-lo, está na Vontade livre. A vontade é uma máquina de processar o amor, esse movimento racional que nos leva a buscar o bem racional. (difere do amor paixão, que é aquela atração dos corpos que vimos acima).
Ora, essa natureza composta de corpo e espírito foi criada por Deus. Isso é muito claro porque está revelado por Deus no primeiro livro da Biblia, o Gênesis.
Mas, ao criar o homem à sua Imagem e semelhança, capaz de conhecer e de amar, aconteceu uma coisa incrível: Deus criou a mulher, tirou-a do lado do homem, da sua costela, ou seja, do seu peito, para que ele fosse para ela proteção e amor. Mais do que isso: Deus tomou Eva pela mão e a apresentou a Adão. Isso também está revelado no Gênesis. Deus criou a FAMÍLIA, e determinou assim que fosse pela Família que a sociedade humana se desenvolvesse: “Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne” (Genesis , cap. 2). Nesta frase aparece claramente que a união sexual só existe, só foi criada por Deus quando o homem deixa a sua casa e se une à sua mulher, dois numa mesma carne. No capítulo primeiro, aparecera a razão do homem se unir à sua mulher: “Crescei e multiplicai-vos e povoai a terra”, o que dá o significado primeiro, a razão principal da união carnal: povoar a terra, trazer frutos para a nova Família.
Ora, nada disso aparece no namoro. Ninguém saiu da casa de pai e de mãe para se unir à uma mulher, ninguém assumiu a responsabilidade de ganhar a vida para sustentar a Família, ninguém tem relações sexuais com namorada ou namorado para povoar a Família… bem ao contrário, é falsificando a própria beleza do ato conjugal que os jovens fazem isso. Mas é claro que ninguém vai dizer que estava ali fazendo sexo com o namorado ou com a namorada por razões mesquinhas e carnais. Vão me dizer que é por amor, porque se amam. Mas aqui aparece claramente que esse amor que une um namorado a uma namorada não é o amor da Vontade Livre, aquele amor que é racional, que obedece à Verdade racional e é fruto dessa verdade. O amor que leva os jovens a se unir é o amor paixão, e esse é puramente carnal, animal e bruto. No fundo, só serve para satisfazer os próprios desejos, já que não está fundamentado na verdade da Família. Só a Família nos leva a agir por uma causa superior a nós mesmos. Quando, ao contrário, é fugindo da Família que se tem relações íntimas, então ele só pode ser carnal, e isso é uma espécie de escravidão, contrária à liberdade da Vontade.
Muito bem… vamos supor que vocês entendam, pelo que ficou explicado acima, que o sexo só pode ser praticado quando já se fundou uma Família. Resta então examinar a questão do namoro.
O Namoro
A primeira coisa que constatamos na sociedade atual é que a difusão do sexo livre foi crescendo na mesma proporção em que o casamento foi desmoronando. Quanto maior foi a liberdade dada aos jovens de se encontrarem na intimidade, alegando que todos são muito maduros e livres, maior foi o descaso com a Família. E eu pergunto: não deveria ser o contrário? Se fosse verdadeiro amor o que une os jovens no namoro, e que esse amor fosse racional, fruto da verdade, não deveria empurrá-los a querer sair de casa e fundar uma nova família? Mas não, o que vemos é um horror cada vez maior com a idéia de casamento.
Desapareceu a diferença da função social do homem e da mulher; esta passou a lutar com o homem no mercado de trabalho e já não quer saber da casa, do lar, de filhos, de fraldas, de preparar um jantar gostoso para o marido. Ao contrário, ela está na faculdade, ela só vai poder pensar em casamento (ou melhor, em experiências de viver junto) quando já estiver trabalhando, ganhando dinheiro e se realizando como profissional. Ou seja, ela só vai pensar em viver junto ou em algo parecido com uma Família quando o fato de ter filhos já for um tremendo incômodo, uma atrapalhação, um gasto, um número negativo na conta bancária.
Aí, nesse contexto, é claro, fica fácil se entender que a Família já não conte mais na vida do namoro. O namoro passa a ser, então, a satisfação dos prazeres do corpo através da afeição sentimental para com outra pessoa. (eu não quero entrar em outro detalhe, mas também devemos considerar que, sendo assim, não espanta que tantas pessoas se inclinem a paixões invertidas. Sendo fruto da paixão, esse tipo de atração vai depender também da química dos hormônios e como não há mais critérios morais e espirituais regulando essas paixões, vão se deixar levar pela mesma escravidão da paixão. E uma pessoa que considere normal que os namoros sejam sexuais, se for coerente com esse pensamento, chegará à conclusão que o sexo invertido também é normal, o que repugna à natureza criada por Deus e ao mais simples espírito católico)
É assim que o namoro atual está impregnado de diversos erros e de atos pecaminosos que arrancam a graça do coração. Uma alma católica não pode perder a noção do que seja a amizade de Deus e deve sempre se impor uma análise franca e verdadeira sobre o seu estado de alma antes de se aproximar da Sagrada Mesa, na Comunhão. Antes a morte do que o pecado, dizia São Domingos Sávio.
Namoro Precoce:
O primeiro erro do namoro atual é ser precoce. Tudo inclina a criança a viver nesse ambiente de sensualidade: as roupas que se usa, o corpo que deve aparecer, a vaidade precoce e exagerada, as brincadeiras fomentadas entre crianças pequenas de namorinhos e beijinhos. Tudo leva os pré-adolescentes a mergulharem nos namoros carnais a partir dos dez-doze anos. Como uma criança católica pode viver o mínimo do catolicismo se começa a namorar numa época em que o namoro só pode servir para excitar as paixões? Porque nem mesmo verdadeira afeição se pode ter numa idade dessas! Tudo ali é falso. O corpo não está formado, a inteligência não terminou seu desenvolvimento, a responsabilidade do amor verdadeiro está muito longe de se alcançar, enfim, nada existe de verdade senão a enganação da mídia e dos intelectuais.
Quando se deveria pensar em namoro? … só se deveria pensar em namoro quando, no mínimo, uma abertura verdadeira existisse para um casamento futuro. Sem isso, não faz sentido, porque só servirá para as paixões e para o amor carnal. O que vemos hoje é que todos os jovens se sentem obrigados a namorar porque convivem com isso. A vergonha de parecer diferente (chama-se “respeito humano”) tem mais peso do que o temor de Deus e o risco da condenação eterna.
Namoro excitante:
Outro erro do namoro é fazer com que ele seja uma preparação para o sexo. Muitos jovens católicos, sabendo que o sexo é pecado, se entregam a todo tipo de atos excitantes, de contatos, de beijos sexuais, que já não servem mais para significar um verdadeiro amor, mas sim para satisfazer as paixões mais carnais do corpo. Ora, o corpo tem suas exigências, a sensualidade tem suas regras, de modo que não se pode entregar a atos de sensualidade que excitam o corpo sem que o corpo leve ao pecado. O grau de excitação pode variar pelo tempo e pelo modo, mas a regra é inexorável.
Além disso, há uma espécie de lei também nas coisas da carne. E essa lei dita que nunca se retorna a um estágio anterior. Uma vez rompida uma barreira, não se volta a um estágio anterior a ela. Sempre que um casal de namorados ousa mais, alcança uma intimidade maior, eles já não conseguirão deixar de usar daquele estágio de aproximação. Até que se chega ao estágio máximo, em que um simples casal de namorados tem uma intimidade de marido e mulher. Já se perde o pudor, a vergonha, já se está pronto para o sexo sem casamento e sem responsabilidade. (entendam essa expressão no sentido exposto acima, da fundação de uma nova família. Não tem nada a ver com o pecado do uso de preservativos para não contrair aids.)
Namoro-escola:
O namoro sexual tem outras conseqüências pecaminosas: ele ensina a pessoa a fazer outros pecados. Como a vida de namoro deixou de lado qualquer regra religiosa ou moral, ao chegar ao casamento, (se chegar) o jovem já vai estar acostumado com uma vida sem Deus, sem comunhão, sem limites. Qual a garantia que se terá de que sua vida de casado vai obedecer às santas regras da religião? Como vai ele ou eles, encarar a necessidade de se obedecer a Deus no que toca o uso do matrimônio? (ou seja, o fato de que o ato conjugal do casal, agora já lícito porque casaram, não pode ser falsificado através de preservativos, remédios, e atos para impedir a gravidez). O jovem casal que não teve forças espirituais para viver na castidade, vai ter forças para viver na santidade do sacramento do matrimônio? Aparentemente não. E aquilo que era só um “namorinho” mais ousado, transforma-se num modo de vida, num estilo anti-católico de viver, onde a carne é a rainha e o espírito foi relegado ao calabouço do castelo interior. A situação da alma é de grave perigo de condenação eterna. E tudo começou num namorinho precoce de adolescentes imaturos.
Como consertar essa situação:
De alguma forma é preciso voltar à Sabedoria da Igreja, porque importa viver sempre na graça de Deus. Não podemos barganhar com as coisas divinas, usá-las ou não usá-las de acordo com nossa vontade. A Majestade Divina exige e nós devemos amorosamente obedece-Lo como a um Pai. Além disso, pesando tudo isso, pesando o passado e o presente, devemos constatar que a salvação eterna é muito mais importante do que alguns momentos de prazer carnal. Por isso vale a pena um esforço. Me parece que alguns pontos são de exigência premente:
– não comecem a namorar cedo. O namoro precoce rompe o momento da juventude que é o momento de fomentar as grandes amizades, de se conhecer as pessoas de modo mais profundo, de se divertir com diversões sadias, em grupos de pessoas boas, animadas e amigas. Nesse ambiente, o rapaz ou a menina que começam a namorar se isolam dos amigos, vão se esconder nos cantos para estar sozinhos, para romperem as barreiras, para se sentirem donos de si. Além disso, o namoro excitante tira a concentração nos estudos, deixa a pessoa irritadiça, desobediente, mentirosa… Começa a ver os pais como inimigos, ferem o 4º Mandamento alegremente… ou seja, um desastre moral se abate sobre ela.
– quando já forem maiores e que aparecer uma pessoa na vida de vocês, antes de começarem a namorar passem um tempo num estágio de vida que, antigamente, se chamava “freqüentação”. Fulano está freqüentando sicrana, se dizia. Nesse estágio, as conversas são mais importantes do que os beijos, o encontro com amigos comuns não atrapalha os dois, ao contrário, só enriquece. Para uma pessoa católica, essa é a oportunidade de se conhecer melhor, de se saber se tal pessoa poderá vir a ser um bom namorado ou boa namorada. Já não importa muito se é a mais bonita da sala, se é o galã de cinema esperado. Esse tempo de freqüentação faz aquele amor de paixão, perigoso e excitante, ir tomando o aspecto real e natural do verdadeiro amor, que é o amor da razão. Então, quando se iniciar a fase de namoro propriamente, de um compromisso, já se terá refletido sobre o que é o bem e o mal, o certo e o errado, tanto nos atos a serem feitos no namoro, como no que se pretende fazer da vida.
– Cuidado com as intimidades exageradas. Hoje já não se beija ou se abraça. O que os namorados fazem é simplesmente uma preparação sexual, e isso não pode ser, é pecado se preparar para pecar; é pecado se colocar em situação próxima de pecado. Quando um casal de namorados se prepara sexualmente, mesmo se eles tiverem, no início, a intenção de não praticar o sexo, serão empurrados e ludibriados pela lei do corpo e da sensualidade. Aprendam a estabelecer os limites para não cair nesse exagero, pois o pecado está ali, de espreita, para dar o bote.
– Quando vocês perceberem que um relacionamento só vai lhes levar aos prazeres do sexo, ficará claro que não tem futuro católico um namoro desses. Isso lhes mostrará que não se deve deixar as afeições crescerem a ponto de se perder as forças de reagir, de voltar atrás e de interromper tal freqüentação ou namoro. Guardem sempre a liberdade sobre as paixões, não se entreguem a fundo num sentimento exagerado que lhes impedirá de ver onde está a verdade.
– Recorram sempre à oração. A alma que não reza está preparando para si o caminho do inferno. Não é possível viver sem pecar se não se pede ajuda a Deus, se não se pensa nos seus mistérios, no Natal, nas dores da Paixão, no Céu onde Ele habita e prepara um lugar para nós. Não faz sentido para um católico, mesmo quando ele está nessa idade das grandes descobertas, de desprezar a Santa Missa e a piedade eucarística, como vemos nas melhores famílias. Os jovens liberados de hoje não são piedosos, não rezam e não amam a Deus. Quando vão à missa, é aquela chateação e obrigação! Isso não é normal. Um jovem de 18 ou 20 anos deve alimentar o desejo das coisas grandes que lhe vem ao coração, descobrindo a grandeza dos mistérios de Deus, da prática das virtudes e da oração.
É possível, quando já se está numa idade razoável, fazer um namoro em que o pecado fique esquecido. Mesmo quando o namorado ou a namorada não forem católicos, ou não forem da Tradição, ainda assim é possível mostrar a eles o quanto um namoro casto respeita a eles mesmos, ajuda aos dois a se conhecerem melhor e prepara as intenções para um futuro cheio de verdadeiras aventuras, quando chegar a hora de entrar na igreja ao som dos órgãos. Acreditem, vale à pena.
Cuidado com o mundo, ele está enganando vocês direitinho.
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Outros dois excelentes textos e um vídeo sobre o assunto estão nos links abaixo:
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