Era quase meia noite quando puxaram com insistência a campainha da casa paroquial de uma cidade. Estava à porta uma senhora de idade que pediu o Viático para um doente cuja rua e número da casa indicou. Ela mesma acompanhou o sacerdote até perto da casa, onde de repente desapareceu.
O sacerdote tocou a campainha, mas ninguém apareceu. Afinal do terceiro andar um velho perguntou quem queria entrar tão tarde. Respondeu o sacerdote que vinha sacramentar um doente.
— Aqui, quanto sei, não há doente, replicou o velho, mas está chovendo, suba e espere passar a chuva, eu sofro mesmo de insônia.
O sacerdote subiu e entrando no quarto viu logo uma imagem de Nossa Senhora e uma lamparina acesa diante da mesma.
— Eis que acertei com uma casa religiosa, exclamou contente.
— Eu sou homem do tempo moderno, respondeu o velho, e não dou importância a imagens, mas em memória de minha mãe que era muito piedosa e estimava muito esta, conservei-a e até guardei o seu costume de acender diante dela a lamparina aos sábados.
Vendo que o padre olhava com muito interesse para o retrato de uma senhora idosa, em frente à escrivaninha, ele disse comovido:
— É minha mãe; era tão religiosa e rezava tanto a Nossa Senhora. Antes de morrer ela disse-me:
“Pobre filho, quando estiver no céu, rezarei muito por ti para que te convertas”
Mas eu não chego a isto, porque não quero saber de confissão.
Em seguida foi contando a sua vida, mas com tanta sinceridade que o sacerdote lhe disse:
— Pois o amigo não quer saber de confissão, e, entretanto acaba de manifestar-me seu interior tão claramente que poderia dar-lhe a absolvição.
— Oh! Que felicidade, se pudesse fazer isto. Exclamou o ancião, há trinta anos que não me confesso, mas agora a lembrança da minha mãe dá-me vontade de confessar-me.
Caindo de joelhos completou muito comovido a confissão, foi absolvido e recebeu a Santa Comunhão. Depois de dirigir-lhe mais algumas palavras de conselho e animação, o sacerdote retirou-se. O retrato da mãe parecia ter agora expressão de júbilo, e descendo a escada e voltando à sua casa, veio ao Padre a intuição clara de que o retrato era o da senhora que o chamara e depois desaparecera.
De manhã o sacerdote acordou pelo som de um dobre dos sinos. Perguntando quem tinha falecido, informaram-no que o velho que ele confessara de noite, sucumbiu a um colapso cardíaco. Salvo na última hora pela bondade da Mãe do céu e os rogos da mãe terrestre.
- Referência:
(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Um Mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria, segundo Santo Afonso Maria de Ligório. Edições Paulinas 1ª ed., 1949, p. 210-217)
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