Toda a santidade e toda a perfeição de uma pessoa consiste em amar a Jesus Cristo, nosso Deus, nosso maior bem, nosso Salvador. Jesus Cristo mesmo disse: “Quem me ama será amado por meu Pai”[1].
São Francisco de Sales diz: “Alguns põem a perfeição na austeridade da vida, outros na oração, estes na frequência dos sacramentos, aqueles nas esmolas. Enganam-se. A perfeição consiste em amar a Deus de todo o coração”[2]. Como escreve São Paulo: “Mas, sobretudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição”[3].
A caridade une e conserva todas as virtudes que fazem um homem perfeito. Santo Agostinho exclamava: “Ama e faze o que queres”[4]. A pessoa que ama a Deus, aprende deste amor a evitar o que lhe desagrada e a fazer tudo o que lhe agrada.
Amor eterno
Por acaso, não merece Deus todo nosso amor? Ele nos amou eternamente: “Amo-te com um amor eterno”[5]. Diz Deus ao homem:
― “Olhe, fui eu o primeiro a amar você. Você não estava ainda no mundo. O mundo nem existia, e eu já o amava. Eu amo você desde que sou Deus. Amo você, e desde que amei a mim mesmo, amei também você!”
Santa Inês, virgem, tinha razão quando lhe apresentaram jovens que pretendiam ser seus esposos. Ela dizia:
― “Outro amor me conquistou primeiro. Jovens deste mundo, desistam de pretender meu amor. O primeiro a me amar foi o meu Deus. Amou-me desde a eternidade, por isso é justo dar-lhe todos os meus afetos, não amar outro senão ele!”[6].
Os homens deixam-se levar pelas recompensas. Deus quis cativá-los ao seu amor por meio de seus dons. Disse, portanto:
― Quero atrair os homens a me amar com aqueles laços com que se deixam prender, isto é, laços de amor[7] que são exatamente todos os dons feitos por Deus aos homens. Dotou-os de alma com potências perfeitas à sua imagem, memória, entendimento, vontade. O corpo com seus sentidos. Depois criou o céu, a terra e tantas outras coisas, todas por amor do homem. Céus, estrelas plantas, mares, rios, fontes, montanhas, metais, frutas e tantas espécies de animais. Deus criou tudo para o homem e quer que este o ame em agradecimento por tantos dons. Santo Agostinho exclamava:
― “O céu e a terra e todas as coisas me dizem que eu devo amar-vos. Senhor meu, todas as coisas que vejo na terra e acima da terra me falam e me exortam a vos amar. Todas me dizem que as fizestes por meu amor”[8].
O abade Rancé, fundador da Trapa[9], ficava olhando de sua ermida as colinas, as fontes, as aves, as flores, as plantas e o céu; sentia-se inflamado por Deus em cada uma destas criaturas feitas pelo seu amor[10].
Santa Maria Madalena de Pazzi inflamava-se no amor de Deus quando tinha nas mãos uma bonita flor:
― “Meu Senhor pensou em criar esta flor, desde toda a eternidade, por meu amor”. Essa flor tornava-se em suas mãos como uma flecha de amor que a feria e unia sua pessoa mais intimamente a Deus[11].
Olhando as árvores, as fontes, os regatos, lagos e campos, dizia Santa Tereza: “Todas estas belas criaturas me lembram a minha ingratidão por amar tão pouco o Criador. Criou-as para ser amado por mim”[12]. Conta-se que um eremita, caminhando pelo campo, sentia que as plantas e as flores como que reprovavam a sua ingratidão para com Deus. Tocando-as com a bengala, dizia-lhes:
― “Calem-se, calem-se. Vocês me chamam de ingrato; dizem-me que Deus as criou por meu amor e eu não o amo. Já entendo. Calem-se, calem-se! Não me reprovem mais”[13].
― “Meu Senhor pensou em criar esta flor, desde toda a eternidade, por meu amor”. Essa flor tornava-se em suas mãos como uma flecha de amor que a feria e unia sua pessoa mais intimamente a Deus[11].
Olhando as árvores, as fontes, os regatos, lagos e campos, dizia Santa Tereza: “Todas estas belas criaturas me lembram a minha ingratidão por amar tão pouco o Criador. Criou-as para ser amado por mim”[12]. Conta-se que um eremita, caminhando pelo campo, sentia que as plantas e as flores como que reprovavam a sua ingratidão para com Deus. Tocando-as com a bengala, dizia-lhes:
― “Calem-se, calem-se. Vocês me chamam de ingrato; dizem-me que Deus as criou por meu amor e eu não o amo. Já entendo. Calem-se, calem-se! Não me reprovem mais”[13].
[1] Jo 16, 27.
[2] Camus, Esprit de S. François de Sales, p. I, c 25. S. Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota, p. I, c. 1.
[3] Cl 3, 14.
[4] Sto. Agostinho, In Epist. Joannis ad Parthos, t. 7, n°. 8, ML 35-2033.
[5] Jr 31, 3.
[6] Antigo Ofício da festa de Sta. Inês, ant. Sta. Inês, ant. 1 do I not.
[7] Os 11, 4.
[8] Sto. Agostinho, Confissões, 1. 10, c. 6, n°. 8, ML 32-782.
[9] TRAPA é um conjunto de casas pequenas, mais retirado das cidades, onde vivem pessoas em muito silêncio, orações, trabalho e vida comunitária. "ERMIDA" são as casas que compõem a trapa. Eremitas são as pessoas que moram nas ermidas (Nota do tradutor).
[10] Dom A. J. Le Bouthillier de Rancé, De la sainteté et des devoirs de la vie monastique, c. 7, I.
[11] Puccini, Vita (1611) ― p. I, c. 34.
[12] Sta. Teresa, Libro de la Vida, c. 9. Obras, I, 65.
[13] Scaramelli, Direttorio Ascetico, t. 1, a. 7, c. 4, n°. 201. ― O devoto solitário de quem fala Sto. Afonso é S. Simão Salo.
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Santo Afonso Maria de Ligório. A prática do amor a Jesus Cristo. 7a. Edição. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1996, p. 11-14.
[5] Jr 31, 3.
[6] Antigo Ofício da festa de Sta. Inês, ant. Sta. Inês, ant. 1 do I not.
[7] Os 11, 4.
[8] Sto. Agostinho, Confissões, 1. 10, c. 6, n°. 8, ML 32-782.
[9] TRAPA é um conjunto de casas pequenas, mais retirado das cidades, onde vivem pessoas em muito silêncio, orações, trabalho e vida comunitária. "ERMIDA" são as casas que compõem a trapa. Eremitas são as pessoas que moram nas ermidas (Nota do tradutor).
[10] Dom A. J. Le Bouthillier de Rancé, De la sainteté et des devoirs de la vie monastique, c. 7, I.
[11] Puccini, Vita (1611) ― p. I, c. 34.
[12] Sta. Teresa, Libro de la Vida, c. 9. Obras, I, 65.
[13] Scaramelli, Direttorio Ascetico, t. 1, a. 7, c. 4, n°. 201. ― O devoto solitário de quem fala Sto. Afonso é S. Simão Salo.
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Santo Afonso Maria de Ligório. A prática do amor a Jesus Cristo. 7a. Edição. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1996, p. 11-14.
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