Um dia os Apóstolos discutiam para saber qual deles teria o primeiro lugar no reino dos céus. Tomando então uma criança, Nosso Senhor colocou-a no meio deles, e depois disse: “Em verdade vos digo, se não vos fizerdes semelhantes a esta criança, não entrareis no reino dos céus!”
Que é que mais notamos na criança? Não é a candura, a simplicidade? Ela não tem nenhuma astúcia, diz o que pensa, acredita o que lhe dizem, anda simplesmente, francamente, direitinho. Eis aí o vosso moldelo.
1º – O QUE É A SIMPLICIDADE
Poder-se-ia defini-la: uma virtude pela qual se vai direito a Deus, direto à verdade, direto ao dever.
a)Ir direto a Deus
Quer dizer não ver em tudo senão a Sua santa vontade, sem se preocupar com o juízo dos homens. Tudo por Deus! Ele é o princípio e o fim das nossas ações; deve-se viver como se houvesse só Ele e nós neste mundo. A alma simples vai a Deus “direto como uma bala de canhão“.
b)Ir direto à verdade
Como Nosso Senhor nos ensina quando nos recomenda falarmos assim: “Isto é, isto não é, tudo o que se acrescenta bem do Mau”, deveríeis ter a tal ponto essa franqueza, que a vossa palavra equivalesse a um juramento! É tão belo achar uma pessoa bem franca e ler-lhe toda a alma no olhar claro e límpido!
c) Ir direto ao dever
É sacrificar tudo por Ele. O dever é uma coisa sagrada, é a senha! Deve-se ir a ele através de tudo, e lançar-se nele com toda a alma, com todo o coração, mesmo se o sofrimento ou a dor deverem achar-se no caminho.
d)A alma simples é aberta, leal, cândida
Faz-se amar por todos e em toda parte, porquanto, segundo o pensamento de São Vicente de Paulo, ela não usa nem de finura, nem de astúcia, age simplismente e fala sinceramente, mesmo observando a dicrição que a prudência exige.
A alma simples é cheia de clarividência e de limpidez; vê depressa e vê claro. Não suspeitando nem os artifícios nem as astúcias, desconcerta-os, dissipa-os, e passa através, forte de sua retidão e da sua fraqueza.
A alma simples faz a sua obra arrediamente, desdenhosa do louvor do arruído, como a roseira que produz sua flor, ao sol sem dúvida, mas longe do mundo e dos seus tumultos.
A alma simples vive tranquila e calma, como o ribeiro no seu leito, deslizando ao longo das ribas; vê-se o céu mirar-se-lhes nas águas. Já não houve, com efeito, quem dissesse ser a simplicidade filha da inocência? ela é também irmã da caridade.
Sede, pois simples:
1 – Nos pensamentos, indo direto ao fim, sem colear, sem procurar enganar os outros nem enganar a vós mesma.
2 – Nas palavras, só dizendo o que tiverdes no coração, e coisa alguma que seja contrária a Deus ou ao próximo, evitando também o que possa enaltecer-vos.
3- Para com Deus: Ide a Ele com um coração desinteresado, que se compraza em amá-lO sobretudo por Ele mesmo; fazei passar este motivo à frente de outros que sejam bons, lícitos e até mesmo recomendados; mostrai-Lhe, porém, a disposição que pressupõe sempre este pedido do Padre-Nosso: “Seja feita a Vossa vontade!”
4- Para com o próximo. Há uma simplicidade ingênua que não é virtude e que atrai as zombarias; a boa simplicidade, que será a vossa, é acompanhada de discernimento e de juízo, mostra-se para com todos franca, sincera, leal, forte de toda a força da verdade, mas nunca esquecendo uma reserva digna.
Mormente nos nossos dias, certas pessoas vêem na simplicidade uma virtude de superfetação, que parece constrangê-las e mesmo diminuí-las. Que erro!
“Se teu olho é simples, disse o Mestre, todo o teu corpo será luminoso“.
Essa virtude porá luz na vossa vida; ela implica a ascensão calma e tranquila da alma para a verdade e para o bem, e mesmo se não se tem de praticá-la, não se pode deixar de admirá-la nos outros.
e) Vantagens que essa virtude proporciona
Eis, pois, uma alma simples, reta; ela tem só uma visão, só um olhar, só uma intenção, só um desejo, só um escopo: Deus e a Sua vontade, isto é, o Dever!
Não tem dois modos de pensar nem de agir; fala como pensa, o seu procedimento é o mesmo em toda parte e sempre. A sua fé é simples, sem raciocínio nem hesitação. A sua esperança é simples: ela se abandona à divina Providência como uma criança nas mãos de seu pai. Seu amor é simples: ela refere tudo a Deus, amorosamente, candidamente. Não diz: “Que pensarão os homens?”, mas sim: “Que pensará Deus?”
Como é bela essa alma! como é boa! como é grande!
1 – Deus a ama
Porque “é com os simples que Ele gosta de conversar“, a tal ponto que Jesuss, no Evangelho, agradece abertamente a Seu Pai o lhes haver revelado a Sua doutrina, a eles os “pequenos“, de preferência aos sábios e aos prudentes do século.
2- Toda gente a ama
Porque mesmo as naturezas mais falsas são subjugadas pela reta e nobre simplicidade, cujo encanto arrebata e atrai.
3 – Ela é cheia de segurança
Porque há nela confiança, coragem, tranquilidade, intrepidez. Ela segue seu caminho, bem direto, sem temer coisa alguma; ao passo que a alma que vai por caminhos oblíquos tem sempre medo de ser descoberta, de se ver reconhecida e desprezada.
4 – É feliz
Uma alma simples recebe muitas graças e luzes; vai à verdade, ao bem, ao dever, facilmente, nobremente, com todas as veras. E, quando Deus a chama a Si, ela morre como viveu, simplesmente.
2º – INIMIGOS DA SIMPLICIDADE
a) Vaidade
É este um inimigo perigoso das jovens. Cativa-as por suas bagatelas, torna-as inaptas para as mais nobres aspirações, e desvia do bem, não raro do dever, aquelas que a ela se deixam arrastas. Muitas poucas almas se elevam até ao orgulho, a maior parte vegeta numa tola e oca vaidade.
Comprazem-se em si mesmas, nos seus talentos, nas suas qualidades. Achamo-las em adoração perpétua diante da sua pessoínha, enquanto uma garridíce não raro requintada as impede de agradar aos outros.
Alphonse Karr disse:
“Para muitas mulheres, a religião consiste em ir à missa no domingo, para mostrar o vestido e criticar os vestidos das outras”.Esta reflexão mordaz não parecerá injusta a todas.
Beleza, vestidos, talentos, “toilettes”, tudo isso bem pouco é. Infelizmente essas “vaidades” se tornam com freqüência preocupações estorvantes, que perseguem a donzela até aos pés dos altares. Quanta pequenez há, pois, nessa procura exagerada do enfeite! que falta de simplicidade também!
Tomai uma bela rosa que desabrocha no meio de um canteiro, e, no pretexto de torná-la ainda mais bela, guarnecei-a de fitas, de lentejouras, e vertei-lhe na corola um perfume precioso. Que tereis feito? … tereis estragado uma coisa bem fresca, e lhe tereis tirado a sua verdadeira beleza.
Aplicai a comparação a vós mesma.
Em plena juventude, nessa hora matinal da vossa vida em que ainda tendes as frescuras da primavera, buscar fora o exagero de certos ornamentos não é confessar que as graças recebidas da natureza não vos bastam? não é querer tomar emprestado à arte garridices que vos afeiam, e muitas vezes cair numa extravagância ridícula?
Deixai a rosa florescer e embalsamar o jardim; e vós,tende a simplicidade de ficar sendo vós mesma.
b) Mentira
Uma coisa está no direito de impressionar um observador atento: a honestidade mais elementar impede de pagar uma compra com moeda falsa, corar-se-ia disso; e entretanto por um nada, nas relações sociais, dar-se-á a mentira em lugar da verdade.
Um prelado escreve:
“O que prova o quanto a mentira é feia é não haver nada de que se tenha vergonha em igual grau. A confusão suprema consiste em ser pegado em flagrante delito de mentira. A mentira é o pecado dos fracos, dos que, para se safarem do embaraço, para se defenderem ou se vingarem, só têm esse processo hipócrita, injusto, caviloso, essa tenebrosa covardia equívoca, oblíqua, que rasteja na sombra, que se mascara e abusa da confiança de um próximo por demais leal para suspeitar tal baixeza e não se deixar enganar.
Deixai para outras almas menos corajosas, e menos delicadas do que as vossas, todas as ‘mentiras de necessidade’, mentiras alegres ou oficiosas que, ao mal que se faz em enganar o próximo, acrescentam o mal não menor de enganar a própria consciência. É dar prova de um caráter bem pequeno o não ter a coragem daquilo que se pensa, ou daquilo que se quer, ou daquilo que se faz. É coisa baixa e vil, quando se fala, não ousar fazê-lo conformemente ao próprio pensamento … Nunca uma jovem pode enveredar pela trilha da desonra a não ser pisando antes a verdade. Aquele que é bastante desgradado para mentir, por isso mesmo é capaz de todas as vilanias.
Determinando-o o temor dos homens a fazer, por sua mentira, injúrias à verdade, à sua consciência e a Deus, doravante nada mais pode retê-lo no declive do mal, de vez que ele achou meios de escapar aos homens com desprezar a Deus, a consciência e a verdade!”
Estremecei, pois, a verdade, a lealdade, a franqueza e a simplicidade. Não tenhais medo de dizer sim, se é sim, e não, se é não; a menos que, sem o deixardes parecer nem trairdes uma justa reserva, necessário se torne saberdes guardar para vós o vosso pensamento.
A limpidez das vossas palavras será, ordinariamente, o melhor testemunho da limpidez do vosso coração aos olhos de Deus.
Há a mentira vaidosa, inspirada pelo desejo de se pôr logo na frente para atrair a atenção dos outros.
Há a mentira gabola, em que a pessoa inventa relatos nos quais, naturalmente, dá a si o lugar de honra.
Há a mentira interesseira, tão depressa achada por quem quer descupar-se, escusar-se ou sair do embaraço para evitar uma humilhação ou uma punição.
Há enfim, a mentira perniciosa, que procura positivamente prejudicar os outros.
Isso são vulnerações da retidão da consciência e da retidão moral, que é uma das primeiras formas da honestidade. Quando não puderdes dizer toda a verdade, jamais digais coisa alguma que lhe seja contrário.
Lembrai-vos sempre de que:
1º – A mentira é a arma dos fracos; a criança a ela recorre espontaneamente quando acredita poder com isso evitar algum aborrecimento.
2º – A mentira vos tornaria desprezível, porque é uma vilania.
3º – Ser pegado em flagrante delito de mentira é uma das piores humilhações que vos possam suceder.
4º – Sois filha d’Aquele que disse: “A Verdade, sou eu!” Quanto ao demônio, deram-lhe o nome de pai da mentira!
c) Hipocrisia
Dizer de alguém que é hipócrita é fazer-lhe a injúria mais cruenta. Vimos, mais acima, o quanto a mentira é alvitante. Pela hipocrisia mente-se de maneira particularmente odiosa, pois se oculta a própria malícia, que se coloreia de todas as aparências da virtude. Onde quer que ela reine, tudo é falso. Em vendo uma donzela escrava desse vício, diríeis uma santinha; mas devassai os mil estratagemas de que ela serve para enganar, que acharíeis? uma alma baixa, vil, má, um sepulcro caiado!
Esquadrinhai bem os folhos e os refolhos da vossa consciência, e vede se não tendes nada desse mal; do contrário, mister seria extirpar-lhe até o último germe, pois ele só vos cobre de uma virtude de empréstimo para não deixar perceber o vosso orgulho!
Aos olhos de todos parecei, pois, o que sóis na realidade. Tende a franqueza de mostrar-vos tal qual sois! Não podeis enganar a Deus; quanto ao próximo, não o enganareis muito tempo. Olham-vos, sois encantadora; reviram-vos, perscrutam-vos, sois terrível! Pareceis-vos com essas águas tranquilas que a gente mal sente correrem, mas que escondem profundezas onde a gente se afoga!
Não; rasgai essas máscara vós mesma, se não quiserdes que Deus venha fazê-lo com mão forte, ou que sobrevenha um incidente que ostente aos olhos de todos a vossa alma negra e os vossos vícios floridos.
d) Moça “modern style”
Um moço muito mundano respondia a uma senhora que lhe propunha em casamento uma jovem “estilo moderno”: “Só me casarei com uma mulher que seja mui simplesmente mulher.”
Não faltam moças atormentadas pelo desejo extravagante de serem “modernas”, de serem “do seu tempo“! Palavras ridículas, fórmulas ocas, frases sonoras, que mal encobrem uma tendência para a insubordinação, para a frivolidade, para a dissipação, para o gênero “garçonnier”.
Acaso não se ouve nos nossos dias umas doudivanas vos dizerem francamente: Tenho vinte anos, quero trabalhar com minhas mãos, mas não como se ensina às moças! cozinhar, fazer doces, cuidar da casa! Não! não! Quero viver livre e fazer meu caminho na vida como um homem! Eu, não quero me casar;porque casar é ser escrava, e eu sou livre!…
Pobres loucas! ao invés de partides para a conquista dos “direitos da mulher”, tão decepcionantes, senão mais, do que os direitos do homem, reivindicai para vós o direito de servir e de vos dedicardes. Foi para isso que Deus criou a mulher esposa e mãe!
Pobres loucas! ao invés de partides para a conquista dos “direitos da mulher”, tão decepcionantes, senão mais, do que os direitos do homem, reivindicai para vós o direito de servir e de vos dedicardes. Foi para isso que Deus criou a mulher esposa e mãe!
A formação da donzela – Pe. J. Baeteman
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