A sabedoria deste mundo consiste em:
- esconder com astúcia o fundo de seu pensamento,
- a disfarçar seus sentimentos sob as palavras,
- a persuadir que as coisas falsas são verdadeiras, e
- a demonstrar que as verdadeiras são falsas!
O uso desta "prudência" começa na idade mais tenra; ensina-se mesmo às crianças!
Aqueles que a aprenderam, do alto de seu orgulho têm apenas desdém por aqueles que o ignoram, e estes, subjugados e medrosos, caem de admiração diante dos outros; porque aprecia-se esta horrível duplicidade velada sob um falso nome, já que chamamos "saber viver" esta perversidade mental.
Este "saber viver" aprendem aqueles que o adotam para buscar o cimo das honras; a aproveitar com alegria a magnificência da glória mundana que se adquire; a devolver aos outros – e a que preço! – o mal que tiverem feito; a nunca ceder, quando se tem os meios, a alguém que quisesse resistir, e quando toda possibilidade virtuosa faz falta, a camuflar sob a máscara de uma acalmante bondade tudo o que a malícia é impotente para realizar.
A sabedoria dos santos, ao contrário, consiste em:
- nunca dissimular;
- a descobrir seus sentimentos em suas palavras;
- a amar a verdade como ela é;
- a fugir de todas as falsidades;
- a fazer o bem gratuitamente;
- a suportar o mal antes de provocá-lo;
- a não buscar vingança pela injúria que se recebe e
- a considerar como de um enorme proveito os opróbrios que nos vale a verdade.
Somente, zomba-se desta simplicidade dos justos, porque aos olhos dos sábios deste mundo, a inocência é taxada de insensatez; eles chamam estupidez tudo o que é feito com sinceridade, e tudo o que a verdade aprova em um comportamento humano é tido por ridículo por esta sabedoria mundana.
Não há nada mais tolo aos olhos do mundo que revelar o que se diz do fundo do coração, de nada disfarçar com artifício, de não devolver injúria por injúria, de rezar por aqueles que nos maldizem, de procurar a pobreza, de abandonar o que se possui; de não resistir àquele que nos fere e estender a outra face àquele que nos esbofeteia.
Excerto de “Morais de São Gregório o Grande.”
(pg. 456)
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