sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Doutrina da Cruz segundo S. João da Cruz e Sta Edith Stein



"Quão estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. Poucos são os que o encontram. Devemos observar bem a ênfase dada à partícula 'quão', pois é como se dissesse 'na verdade é muito estreita, mais do que podeis imaginar...' Essa via ao alto monte da perfeição, exige viajantes que não levem fardos que os façam pender para baixo... Já que se tem o propósito de somente buscar e alcançar a Deus, somente a ele se há de buscar e alcançar de fato! Instruindo-nos e incitando-nos nesse caminho, Jesus Cristo proferiu essa doutrina tão admirável e, receio dizer, tanto menos praticada pelas amas (que se sentem atraídas à vida espiritual) quanto mais necessária!

'Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas o que perder a sua vida por causa de mim e do evangelho, irá salvá-la'.

Oh! Quem poderia aqui agora dar a entender, praticar e saborear este conselho!... aniquilação de toda a suavidade em Deus... aridez... tédio... sofrimentos... eis a pura cruz espiritual e a nudez do espírito pobre, segundo Jesus. O verdadeiro espírito antes procura em Deus a amargura que as delícias, prefere o sofrimento ao consolo, a privação ao gozo, a aridez e as aflições às doces comunicações celestes, sabendo que isto é seguir a Cristo e renunciar-se. Agir de outro modo é buscar-se a si mesmo em Deus, o que é muito contrário ao amor. Buscar a Deus nele mesmo... é inclinar-se a escolher, por amor a Cristo, tudo quanto há de mais áspero, seja de Deus, seja do mundo". A renúncia, segundo a vontade divina, consiste em "morrer para sua natureza... aniquilando-a... em tudo quanto a vontade julga ser valioso na ordem temporal, natural e espiritual... Quem assim tomar a cruz sobre si experimentará o jugo suave e o fardo leve, encontrando em todas as coisas grande alívio e suavidade... Quando a alma ficar desfeita em nada - isto é, a suprema humildade - estará realizada a união espiritual entre a alma e Deus... união que consiste numa viva morte de cruz, sensitiva e espiritual, interior e exterior".

S. João da Cruz, Subida ao Monte Carmelo, Livro II.


Para tanto não há outro caminho, pois, segundo o plano divino da salvação, Cristo houve por "remir a alma e desposá-la consigo, servindo-se dos próprios meios que haviam causado a ruína e a corrupção da natureza humana; pois, assim como por meio da árvore proibida no paraíso, foi essa natureza estragada e perdida por Adão, assim na árvore da cruz foi remida e reparada." (S. João da Cruz, Cântico Espiritual, Explicação da Canção XXIII) Se quiser partilhar com ele da vida, com ele deverá passar pela morte de cruz, e deverá como Cristo crucificar a sua própria natureza por uma vida de mortificação e renúncia, entregando-se à crucifixão pelos sofrimentos e pela morte, conforme Deus determinar e permitir. Quanto mais perfeita for a crucifixão ativa e passiva, tanto mais íntima será a união com o crucificado, e tanto maior será a participação na vida divina."

Edith Stein, A Ciência da Cruz, Cap. I.

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