domingo, 20 de abril de 2014

A Pérola Preciosa - 5.º Mistério

A PÉROLA PRECIOSA

Breves pensamentos sobre o Rosário meditado, para sacerdotes.
pelo
Padre Wendelin Meyer, O.F.M.
Tradução portuguesa por
Alberto Maria Kolb


5.º MISTÉRIO

A mulher do Evangelho dizia: «Alegrai-vos comigo, pois achei a moeda que estava perdida.» (S. Luc. 15-9). Por acaso Jesus não é mais do que ouro e prata? E Maria Santíssima achou o menino; Seu coração rejubilava, sal­tava de alegria, é certo, isso compreende-se facilmente. E a alma imortal do homem não é por acaso mais preciosa do que todos os tesouros deste mundo? O sacerdote acha esta alma, por tanto tempo perdida, no templo, no confessionário, no leito da morte, em habitações miseráveis, casebres e choupanas; então o olhar do sacerdote brilha. Aqui novamente se encon­tram a Mãe de Deus e o Ministro de Deus; a vida de um resplandece na existência do outro.


Maria Santíssima, porém, achou o menino Jesus: após dolorosa procura; — depois de três dias; — com o auxilio de S. José; — no tem­plo; — como mudado.

Após dolorosa procura:

Sempre houve quem procurasse Jesus. Até Herodes mandou indagar a respeito do recém- nascido Messias; não o impeliu uma dor solícita, mas a inveja, a vingança e a sede de sangue. Podia fazer abstração da criança; mas seu trono lhe era mais caro do que o próprio Deus; Maria Santíssima, porém tinha saudades de Seu filho e O procurava com o coração amar­gurado. «Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de dor». Intimamente sentimos e certo sabemos que nunca, que jamais houve mãe que possuísse filho mais santo; e que nunca houve filho que possuísse mãe mais carinhosa. Ambos se conheceram e se perscrutaram intimamente, ambos se perderam. Isso era para Maria mais do que a perda da vida.

Cuidar das almas é conchegar a si as crian­ças, ir ao encalço de paroquianos que andam transviados, procurar homens que se envereda­ram em caminhos escabrosos e se perderam. A tristeza pelas almas perdidas impele o sacer­dote a procurá-las. Com as lágrimas nos olhos ele vê a miséria da inocência perdida, con­templa tristonho o formoso lírio murchado; aí então faz penitência, ora, geme, padece por estas almas. Caminhos repletos de espinhos e cansaços o não aterrorizam desde que consiga con­verter o pobre filho transviado. Tremores o as­saltam ao pensar que estas almas talvez se per­cam eternamente e que baldados são todos os seus esforços. Oh bem-aventurada angústia do coração sacerdotal, como és nobre! Oh feliz momento, em que pecadores endurecidos e ove­lhas desgarradas voltam contritos aos braços de seu pastor!

Depois de três dias.

Na jornada após a partida, após a jornada de um dia, Maria Santíssima percebeu a perda de Seu grande tesouro. Mudo pairava o céu sobre o descanso noturno da caravana. A mãe angustiada procura junto dos parentes, mas inu­tilmente; procura junto dos amigos e conhe­cidos, mas sem fruto; ninguém dá notícia de Jesus, ninguém O descobre aí. Surge a manhã. Maria volta a Jerusalém, os muros e os cami­nhos não falam, nada dizem, nada revelam; os judeus não conhecem o menino. Novamente chega a tarde e depois sucede nova manhã com sua aurora encantadora. Enfim, no ter­ceiro dia, mãe e filho se encontram, e ei-los frente a frente.

Passam dias inteiros até que o sacerdote encontre a ovelha desgarrada, a ovelha perdida. Os dias muita vez prolongam-se em semanas, meses, anos até... Quantas vezes nasce e entra o sol... e nada da ovelha! Apesar desses infor­túnios, o sacerdote não desanima, sem descanso nem trégua segue ele a ovelha errante. Descanso despreocupado não conhece o pastor de almas; as horas que ele gasta em reconduzir ao bom caminho filhos e filhas espirituais emaranhados no erro, são as horas mais santas e mais felizes de toda sua vida.

Com o auxilio de São José:

O pai putativo de Jesus compartiu as dores e os trabalhos de Maria, a mãe sempre virgem.

A perda era também dele; por isso cogitava, se afligia, orava, procurava com Maria. Ambos prestam-se mutuamente auxílio e força; por isso seus trabalhos foram coroados com feliz êxito.

Quando dois ou três sacerdotes de comum acordo trabalham para o mesmo fim, Deus en­tão habita no meio deles. Unidos a Deus con­seguem muito. Deus conhece o caminho que con­duz a um fim glorioso, pois Deus se diz «Ca­minho» — Ego sum via — eu sou o caminho.

O que dá a força ao trabalho de sacerdotes reunidos é o seu trabalho entremeado de orações e virtudes. E se sacerdotes e leigos traba­lham conjuntamente segundo o mesmo plano, então floresce um belo e magnífico apostolado duplo: o pastor d’alma coadjuvado pelo apos­tolado leigo – Não parece isso com a pesca milagrosa, quando os Apóstolos lançaram as redes ao mar, sob a ordem do Divino Nazareno?

No templo.

O templo dos judeus em Jerusalém era a fonte da vida religiosa em Israel. Aí os aflitos pais, Maria e José, encontraram a «Fonte da vida e da santidade». A voz interior, a piedade e recolhimento, a santidade e majestade que reinavam no templo e nos pórticos, retinham o meditativo e recolhido menino. Onde resoavam os cânticos e louvores de seu Eterno Pai «Javé», aí estava também o filho. — Nesciebatis quia in his, quæ Patris mei sunt, oportet me esse? (S. Luc. 2 - 49).

Dominus in templo sancto suo. (Ps. 10-14).

Estupefatos e admirados, porém cheios de íntima alegria e grande júbilo, os pais descansam a vista naquele que acharam.

Por acaso não são também horas encantadoras aquelas em que o sacerdote acha e encontra subidamente almas transviadas e pecadores endurecidos no seu confessionário? Não goza ele então momentos deliciosos, quando vê estas almas, logo após o seu banho salutar na mesa eucarística, celebrarem as núpcias espirituais com o Divino Redentor? Estas são ale­grias que o sacerdote experimenta no seu minis­tério, alegrias idênticas às alegrias de Maria e José. «...quia inveni drachmam, quam perdideram...» (S. Luc. 15-9.).

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