A PÉROLA PRECIOSA
Breves pensamentos sobre o Rosário meditado, para sacerdotes.
pelo
Padre Wendelin Meyer, O.F.M.
Tradução portuguesa por
Alberto Maria Kolb
5.º MISTÉRIO
A mulher do Evangelho dizia: «Alegrai-vos comigo, pois achei a moeda que estava perdida.» (S. Luc. 15-9). Por acaso Jesus não é mais do que ouro e prata? E Maria Santíssima achou o menino; Seu coração rejubilava, saltava de alegria, é certo, isso compreende-se facilmente. E a alma imortal do homem não é por acaso mais preciosa do que todos os tesouros deste mundo? O sacerdote acha esta alma, por tanto tempo perdida, no templo, no confessionário, no leito da morte, em habitações miseráveis, casebres e choupanas; então o olhar do sacerdote brilha. Aqui novamente se encontram a Mãe de Deus e o Ministro de Deus; a vida de um resplandece na existência do outro.
Maria Santíssima, porém, achou o menino Jesus: após dolorosa procura; — depois de três dias; — com o auxilio de S. José; — no templo; — como mudado.
Após dolorosa procura:
Sempre houve quem procurasse Jesus. Até Herodes mandou indagar a respeito do recém- nascido Messias; não o impeliu uma dor solícita, mas a inveja, a vingança e a sede de sangue. Podia fazer abstração da criança; mas seu trono lhe era mais caro do que o próprio Deus; Maria Santíssima, porém tinha saudades de Seu filho e O procurava com o coração amargurado. «Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de dor». Intimamente sentimos e certo sabemos que nunca, que jamais houve mãe que possuísse filho mais santo; e que nunca houve filho que possuísse mãe mais carinhosa. Ambos se conheceram e se perscrutaram intimamente, ambos se perderam. Isso era para Maria mais do que a perda da vida.
Cuidar das almas é conchegar a si as crianças, ir ao encalço de paroquianos que andam transviados, procurar homens que se enveredaram em caminhos escabrosos e se perderam. A tristeza pelas almas perdidas impele o sacerdote a procurá-las. Com as lágrimas nos olhos ele vê a miséria da inocência perdida, contempla tristonho o formoso lírio murchado; aí então faz penitência, ora, geme, padece por estas almas. Caminhos repletos de espinhos e cansaços o não aterrorizam desde que consiga converter o pobre filho transviado. Tremores o assaltam ao pensar que estas almas talvez se percam eternamente e que baldados são todos os seus esforços. Oh bem-aventurada angústia do coração sacerdotal, como és nobre! Oh feliz momento, em que pecadores endurecidos e ovelhas desgarradas voltam contritos aos braços de seu pastor!
Depois de três dias.
Na jornada após a partida, após a jornada de um dia, Maria Santíssima percebeu a perda de Seu grande tesouro. Mudo pairava o céu sobre o descanso noturno da caravana. A mãe angustiada procura junto dos parentes, mas inutilmente; procura junto dos amigos e conhecidos, mas sem fruto; ninguém dá notícia de Jesus, ninguém O descobre aí. Surge a manhã. Maria volta a Jerusalém, os muros e os caminhos não falam, nada dizem, nada revelam; os judeus não conhecem o menino. Novamente chega a tarde e depois sucede nova manhã com sua aurora encantadora. Enfim, no terceiro dia, mãe e filho se encontram, e ei-los frente a frente.
Passam dias inteiros até que o sacerdote encontre a ovelha desgarrada, a ovelha perdida. Os dias muita vez prolongam-se em semanas, meses, anos até... Quantas vezes nasce e entra o sol... e nada da ovelha! Apesar desses infortúnios, o sacerdote não desanima, sem descanso nem trégua segue ele a ovelha errante. Descanso despreocupado não conhece o pastor de almas; as horas que ele gasta em reconduzir ao bom caminho filhos e filhas espirituais emaranhados no erro, são as horas mais santas e mais felizes de toda sua vida.
Com o auxilio de São José:
O pai putativo de Jesus compartiu as dores e os trabalhos de Maria, a mãe sempre virgem.
A perda era também dele; por isso cogitava, se afligia, orava, procurava com Maria. Ambos prestam-se mutuamente auxílio e força; por isso seus trabalhos foram coroados com feliz êxito.
Quando dois ou três sacerdotes de comum acordo trabalham para o mesmo fim, Deus então habita no meio deles. Unidos a Deus conseguem muito. Deus conhece o caminho que conduz a um fim glorioso, pois Deus se diz «Caminho» — Ego sum via — eu sou o caminho.
O que dá a força ao trabalho de sacerdotes reunidos é o seu trabalho entremeado de orações e virtudes. E se sacerdotes e leigos trabalham conjuntamente segundo o mesmo plano, então floresce um belo e magnífico apostolado duplo: o pastor d’alma coadjuvado pelo apostolado leigo – Não parece isso com a pesca milagrosa, quando os Apóstolos lançaram as redes ao mar, sob a ordem do Divino Nazareno?
No templo.
O templo dos judeus em Jerusalém era a fonte da vida religiosa em Israel. Aí os aflitos pais, Maria e José, encontraram a «Fonte da vida e da santidade». A voz interior, a piedade e recolhimento, a santidade e majestade que reinavam no templo e nos pórticos, retinham o meditativo e recolhido menino. Onde resoavam os cânticos e louvores de seu Eterno Pai «Javé», aí estava também o filho. — Nesciebatis quia in his, quæ Patris mei sunt, oportet me esse? (S. Luc. 2 - 49).
Dominus in templo sancto suo. (Ps. 10-14).
Estupefatos e admirados, porém cheios de íntima alegria e grande júbilo, os pais descansam a vista naquele que acharam.
Por acaso não são também horas encantadoras aquelas em que o sacerdote acha e encontra subidamente almas transviadas e pecadores endurecidos no seu confessionário? Não goza ele então momentos deliciosos, quando vê estas almas, logo após o seu banho salutar na mesa eucarística, celebrarem as núpcias espirituais com o Divino Redentor? Estas são alegrias que o sacerdote experimenta no seu ministério, alegrias idênticas às alegrias de Maria e José. «...quia inveni drachmam, quam perdideram...» (S. Luc. 15-9.).
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