segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Preparação para comunhão - Santo Afonso Maria de Ligório


     A regra para comungar com mais ou menos freqüência não pertence a cada um estabelecê-la, mas ao diretor da sua consciência. Tudo o que deveis, pois, fazer é preparar-vos bem para que o vosso padre espiritual vos ache disposta para comungar freqüentemente. Ora, para isso são necessárias duas preparações, uma remata, e outra próxima. 

    A preparação remota consiste no desapego das criaturas. — Se um grande personagem houvesse de vir a vossa casa, diz Sto. Agostinho, e vós soubésseis que ele tem horror a certas coisas, não teríeis o cuidado de fazê-las desaparecer antes da sua chegada? Assim, quando quiserdes receber Jesus Cristo, deveis banir de vosso coração todos os afetos terrenos, pois sabeis que lhe desagradam. É necessário, pois, que aquele que deseja comungar com freqüência, purifique o seu coração de tudo o que é terreno. É o que o Senhor declarou um dia a Sta. Gertrudes, que lhe perguntava que preparação exigia dela : “Não quero de ti outra coisa, senão que venhas receber-me vazia de ti mesma”
      Para a preparação próxima, convém que, desde a noite precedente, aparelheis o vosso coração com atos de amor e de desejo. De manhã, ao despertar, lembrai-vos que ides receber Jesus Cristo, e logo, com um suspiro ardente, convidai o divino Esposo a vir prontamente à vossa alma. 
      Imediatamente antes de comungar, bem que tenhais feito oração, deveis reanimar em vós a fé, a humildade e o desejo. 
      Primeiramente a fé, considerando quem é aquele que ides receber dai a pouco. Se a fé não nolo assegurasse, quem jamais poderia crer que um Deus quisesse fazer-se alimento de uma criatura sua? Mas a Santa Igreja no-lo assegurou, com tantos concílios, e especialmente com o Tridentino, que Jesus Cristo, nosso Redentor está real e substancialmente na hóstia consagrada. — Foi realmente bela a resposta que S. Luiz, rei de França, deu a quem o convidava a ir ver, na sua capela, Jesus aparecendo, um dia, sob a forma de um menino no pão consagrado, nas mãos do sacerdote: “Vá ver aquele que não tem fé, disse o santo rei; quanto a mim, eu o creio mais firmemente do que se o visse com meus olhos”. E ficou onde estava. 

     Segundo, a humildade, considerando quem sois vós que ides receber um Deus na vossa boca e no vosso coração. — O que padre Paulo Segneri diz que o sentimento mais próprio de uma pessoa que comunga deve ser o espanto ao pensar: Como! um Deus vir a mim! um Deus vir a mim! — que diria um pobre pastorzinho, se visse chegar seu rei a sua choupana, para habitar com ele? — E vós que direis, vendo o Rei do céu entrar em vosso coração na comunhão? Dizei-lhe, ao menos, então, com verdadeira humildade: Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada. — A humildade juntai um ato de contrição e outro de esperança, com firme confiança de que Jesus, vindo ao vosso peito, vos enriquecerá de suas graças. 

      Terceiro o desejo. Este pão celeste exige que o recebamos com fome. Quem o recebe com maior desejo, obtém maiores graças. — S. Francisco de Sales dizia que só por amor se deve receber quem só por amor se nos dá. — Disse um dia o Senhor a Sta. Mechtilde: Quando houveres de comungar, deseja ter o maior amor que os santos me tiveram, porque em atenção a este teu desejo, eu então aceitarei o teu amor, como quererias que ele fosse. Para vos lembrardes destes atos antes de comungar, bastará que penseis quem vem, a quem vem e para que vem. Quem vem é um Deus de infinita majestade; vem a uma miserável pecadora; e vem para ser amado por vós. 

Santo Afonso Maria de Ligório - A Verdadeira Esposa de Cristo

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