quinta-feira, 22 de junho de 2017

O Sagrado Coração de Jesus nos ama assim como seu Pai O ama

Santinho católico com representação do Sagrado Coração de Jesus, cerca de 1880. Xoleção Auguste Martin, Bibliotecas da Universidade de Dayton.

Monsenhor de Ségur (*) | Tradução Sensus fidei: No mesmo dia da instituição da Eucaristia estando ainda no Cenáculo, Nosso Senhor dirigiu a seus discípulos uma palavra admirável, saída como ardente chama do fundo de seu Coração: “Amo-vos: Ego dilexi vos”.[1] Paremos aqui um pouco, e meditemos bem esta palavra.
Oh, quão docemente soa nos lábios do soberano Senhor do universo, do Deus da eternidade! Quão boa e consoladora é para a alma verdadeiramente cristã! “Amo-vos”, disse Jesus.
Se um grande rei se dignasse entrar um dia na choça do último de seus vassalos para dizer-lhe: “Te amo, e venho aqui expressamente para dizer-te isso”, que gozo não sentiria aquele pobre homem!

Se um Anjo do céu ou um Santo, se a mesma Imaculada Virgem Maria, Rainha de todos os Santos, se dignasse aparecer de repente a algum pobre pecador, e dizer-lhe publicamente em presença de todos: “Te amo; tu és meu coração!” que pasmo, que transportes não experimentaria aquele pecador!
Pois bem, vede aqui infinitamente mais; vede o Rei dos reis, o Santo dos santos, o soberano Senhor do céu, baixar expressamente aqui embaixo para dizer a nós, pobres pecadores: “Amo-vos: Eu, Criador de todas as coisas; Eu, que governo todo o universo; Eu, que possuo todos os tesouros do céu e da terra; Eu, que faço o que quero, sem que ninguém possa resistir à minha vontade; Eu vos amo! Ego dilexi vos.
Que consolo, doce Redentor meu! Não houvera sido já demasiado dizer-nos: “Penso algumas vezes em vós: fixo meu olhar em vós uma vez ao ano; tenho alguns bons desígnios sobre vós?” Mas não: quereis assegurar-nos que nos amais, e que vosso divino Coração está cheio de ternura por nós; nós que nada somos; por nós, vermes da terra, criaturas ingratas que os temos crucificado, e que tantas vezes temos merecido o inferno!
Mas como nos ama o adorável Coração do Salvador? Escutai: Sicut dilexi me Pater;[2] amo-vos como me ama meu Pai; amo-vos tão de Coração, com o mesmo amor com que meu Pai ama a Mim.
E qual é esse amor com que Deus Pai ama seu Filho? É um amor que reúne quatro grandes qualidades; qualidades que se falam por conseguinte no amor que Jesus tem por nós.
É antes de tudo um amor infinito, ou seja, sem limites e sem medida: o amor incompreensível é inefável; amor tão grande como a essência mesma de Deus. Medi, se podeis, a extensão e grandeza do amor que Jesus tem por nós.
Em segundo lugar, o amor do Pai a seu Filho é eterno. A eternidade é a duração invariável, imutável; a duração perpétua, sem princípio nem fim. Oh, Jesus, Verbo eterno! Bem mereceis este amor, que compensa em tudo as defecções de vossas criaturas, já rebeldes, já simplesmente débeis, tíbias, inconstantes.
Pois bem, com esse mesmo amor eterno com que Jesus é amado de seu Pai, cabe-nos a dita de ser amados de Jesus; porque, é preciso não esquecer, continua sendo a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a Pessoa eterna do Unigênito de Deus. Jesus Cristo, pois, ama-nos com amor verdadeiramente eterno.
Não bastará a eternidade para devolver amor por amor, um amor sem fim por um amor eterno. E que fazemos nós no tempo? Amamos a Jesus Cristo? Ai! Quão ingratos somos perdendo este precioso tempo, semente da eternidade, em amar a terra e suas bagatelas!
Em terceiro lugar, o amor do Pai celestial a seu Filho é universal, isto é, que plenifica todos os corações do céu e da terra. Plenifica o céu; pois o Pai ama a Jesus com todos os Anjos e Bem-aventurados. Plenifica a terra; porque ama também a Jesus Cristo em união dos corações de todos os fiéis. Com efeito, que é no fundo esse divino amor do Pai ao Filho e do Filho ao Pai, senão o amor substancial e pessoal, o Espírito de amor, o Espírito Santo?
Com este mesmo amor me ama meu Salvador. Esse mesmo Espírito é o que a todos nos deu, e o que difunde esse amor em nossos corações.[3] Jesus me ama pelo coração e no coração da Santíssima Virgem, de São José, de cada um de seus Anjos e Santos. Que imensidão! Ama-me pelo coração e no coração de todos os membros de sua Igreja, começando pelo Papa, por meu Bispo, por todos os sacerdotes que amam e cuidam de minha alma, por todos meus benfeitores.
Mais ainda: por um efeito deste admirável e universal amor, proíbe a todos os homens, sob pena de pecado e de condenação, que danem a minha alma, meu corpo, minha reputação e meus bens; e além disso lhes manda que sejam verdadeiramente meus irmãos, amando-me como a eles mesmos. É possível levar mais longe a solicitude do amor?
Como disse Santo Agostinho, “o céu e a terra, e tudo o que contém, não cessam de dizer-me que devo amar a Deus”.[4] Deus amando-me em todas as partes; e eu, ingrato, ofendendo-o em todas” Ah! Não o permitas jamais, bondosíssimo Salvador, antes bem fazei vos ame e bendiga sempre.
Finalmente, o amor que o Pai tem ao Filho é essencial e total, ou seja, um amor de todo o seu ser. Este divino Pai ama seu Filho Jesus com tudo o que é, sendo todo amor para com Ele. O amor que Jesus Cristo se digna ter-nos é igualmente um amor essencial, um amor total, pois nos ama com tudo o que é e com tudo o que tem. Sua divindade, sua humanidade, sua alma, seu corpo, seu sangue, todos os seus pensamentos, palavras e ações; suas privações, humilhações e sofrimentos; sua vida e sua morte; seus méritos e sua glória; tudo nEle está empregado em amar-nos.
Mas, sobretudo, emprega em amar-nos seu Sagrado Coração, como o declarou a muitos Santos, em particular à Santa Brígida, cujas revelações gozam de grande crédito na Igreja, dizendo-lhe que na cruz aquele Coração adorável se abriu sobre a pressão da dor e do amor. “Meu Coração, disse-lhe Jesus, estava sumido em um oceano de sofrimentos. Vi minha Mãe e aqueles a quem eu amava sob o peso da aflição: meu coração se partiu sob a violência e o esforço de dor, e então foi quando minha alma se separou de meu corpo”.
Grande Deus! E por mim se cumpriram essas maravilhas; eu indigníssimo pecador, sou o objeto daquele excesso[5] de que falavam Moisés e Elias com Jesus glorificado no Tabor! Jesus me ama com o mesmo amor com que seu Pai lhe ama, amor infinito, eterno, universal, essencial!
Quando, pois, abrirei os olhos para não perder de vista o amor que meu Salvador tem por mim? Quando amarei com todo meu coração a este bom Jesus, que se digna amar-me tanto, e que para estar ainda mais seguro de obter meu coração, promete-me uma eternidade bem-aventurada, se consinto em devolver-lhe amor por amor? E como se isto não bastasse, ameaça-me com o fogo eterno do inferno se recuso a amá-lo.
Oh Jesus! A partir de hoje quero mais amar-vos como Vós me amais: totalmente, sem restrições, com todas as forças, com todo o meu coração. Tende piedade de minha fraqueza, que me faz desfalecer tão amiúdo neste meu querer, não obstante ser muito sincero.
Ajudai-me Vós, Virgem Santíssima, a ser e seguir constante, eternamente fiel a vosso divino Filho.
Notas
[1] Joan. XIII, 34; XV, 9,12.
[2] I Joan. XV.
[3] Charitas Dei difusa est in cordibus nostris per Spiritum Sanctum qui datus est nobis. (Rom. V, 5.)
[4] Coelum et terra, et omnia quae in eis sunt, non cessant mihi dicere ut amem Deum.
[5] Moyses et Elias… dicebant excessum ejus, quem complectururs erat in Jerusalem. (Luc. IX, 31.)
(*) Monsenhor de Ségur. El Sagrado Corazon de Jesus. pp. 112-117. Casa Editorial de Manuel Galindo y Bezares. 1888.

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