terça-feira, 19 de junho de 2018

Do zelo da salvação das almas que devem ter os religiosos

Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentoristas
Recupera proximum tuum secundum virtutem tuam – “Assiste ao teu próximo segundo as tuas forças” (Eclo 29, 27)
Sumário. Quem ama muito o Senhor, não se contenta de ser só em amá-Lo; desejaria atrair todo o mundo ao seu amor. E que maior glória para o homem, que ser cooperador de Deus na grande obra da salvação das almas? Correspondamos, pois, à nossa sublime vocação, abrasando-nos sempre mais de santo zelo, dirijamos para este fim todos os nossos empenhos. Deste modo, à medida que socorrermos as almas do nosso próximo, asseguraremos a nossa própria salvação, e obteremos um lugar alto no paraíso.
I. Quem é chamado à Congregação do Santíssimo Redentor (a alguma ordem de vida ativa), nunca será verdadeiro seguidor de Jesus Cristo, e nunca será santo, se não cumprir o fim de sua vocação e não tiver o espírito do seu Instituto, que é o de salvar as almas, e as almas mais privadas de socorros espirituais, como são os pobres moradores do campo.
Foi este também o fim com que o Redentor veio ao mundo, pois declara “que o espírito do Senhor repousou sobre ele e que o consagrou com a sua unção para pregar o Evangelho aos pobres” (1). Em nenhuma outra coisa quis experimentar se São Pedro o amava, senão na sua dedicação à salvação das almas: Simon Ioannis, diligis me?… Pasce oves meas – simão, filho de João, amas-me?… Apascenta as minhas ovelhas” (2). Não lhe impôs, diz São Crisostomo, esmolas, penitências, orações ou coisas semelhantes, mas somente que procurasse salvar as suas ovelhas: Apascenta as minhas ovelhas. Jesus Cristo declarou que teria como feito a si mesmo todo o benefício que fosse feito ao mínimo dos nossos semelhantes: Amen dico vobis: Quamdiu fecistis uni ex his fratribus meis minimis, mihi fecistis – “Na verdade vos digo, que o que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes” (3).
Deve, portanto, qualquer membro da Congregação nutrir em supremo grau este zelo, este espírito de socorrer as almas. A este fim deve cada um dirigir todos os seus empenhos. E quando algum tempo os superiores o empregarem neste ministério, deve pôr nele todo o seu pensamento e toda a atenção. Já não se poderia considerar como verdadeiro membro da congregação aquele que não aceitasse com todo o afeto este emprego, quando imposto pela obediência, para tratar só de si mesmo, na vida de solidão e de retiro. – E que maior glória para o homem, que ser cooperador de Deus, como diz São Paulo, na grande obra da salvação das almas? Quem muito ama ao Senhor, não se contenta de ser só a amá-Lo. Quisera atrair todo o mundo ao seu amor dizendo com Davi: “Engrandecei o Senhor comigo, e exaltemos juntos o seu nome” (4). Portanto, como exorta Santo Agostinho todos os que amam a Deus: Si Deum amatis, omnes ad amorem eius rapite – “Se amais a Deus, atrai todos ao seu amor”.
II. Grande motivo para esperar a sua salvação eterna tem aquele que com verdadeiro zelo se emprega em salvar almas. Diz Santo Agostinho:
“Se salvaste uma alma, predestinaste ao mesmo tempo a tua”.
E o Espírito Santo promete (5): Cum effuderis esurienti animam tuam – “quando te tiveres empenhado pelo bem de um pobre”, et animam afflictam repleveris – “e o tiveres enchido da graça divina por meio do teu zelo”, – implebit splendoribus animam tuam, requiem dabit tibi Dominus – “o Senhor te encherá a alma de luz e de paz”. São Paulo punha a esperança da sua salvação eterna na salvação dos outros que ele procurava; pelo que diz aos seus discípulos de Tessalônica: Vos enim estis gloria nostra et gaudium – “Vós sois a nossa glória e alegria” (7).
Senhor meu Jesus Cristo, como posso agradecer-Vos dignamente, vendo-me por Vós chamado ao mesmo mistério que Vós exercitastes na terra, ao ministério de, com as minhas fracas forças, ajudar as almas a se salvarem? Como merecia eu esta honra e este prêmio, depois de VOs haver oefendido tão gravemente, e sido causa de que outros Vos ofendessem? Sim, meu Salvador, já que me chamais a ajudar-Vos nesta grande obra, quero servir-Vos com todas as minhas forças. Eis-me aqui a oferecer-Vos todos os meus trabalhos, e ainda o sangue e a vida para Vos obedecer. Não pretendo com isto satisfazer ao meu próprio gênio, ou receber a estima e os aplausos dos homens; outra coisa não pretendo senão ver-Vos amado de todos, como mereceis.
Bendigo a minha sorte e me dou por feliz, por me haverdes escolhido para tão sublime ofício, no qual desde já faço o sincero protesto de renunciar a todos os louvores dos homens e a todas as minhas satisfações, e de querer só a vossa glória. Seja vossa toda a honra e satisfação, e para mim sejam somente os incômodos, os desprezos e as amarguras. Aceitai, Senhor, esta oferta que Vos faz um miserável pecador, o qual Vos quer amar e ver-Vos também amado dos outros; dai-me forças para a executar. – Maria Santíssima, minha advogada, vós que tanto amais as almas , ajudai-me.
Referências:
(1) Lc 4, 18
(2) Jo 21, 17
(3) Mt 25, 40
(4) Sl 33, 2
(5) Is 58, 10
(6) 1 Ts 2, 20
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 100-102)

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