sábado, 12 de outubro de 2019

A vida dos religiosos é mais semelhante à de Jesus Cristo



Quos praescivit, et praedestinavit conformes fieri imaginis Filii sui – “Os que conheceu na sua presciência, também predestinou para se fazerem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8, 29)
Sumário. Compenetremo-nos bem de que os religiosos, contanto que guardem suas Regras, são os homens mais felizes do mundo; porque mais do que os outros são imitadores da vida de Jesus Cristo. Os mundanos têm-nos por loucos, mas no vale de Josafá conhecerão terem sido eles os loucos, porque deixaram o caminho da verdade e assim condenaram-se para sempre. Demos graças ao Senhor pela escolha que fez de nós e sejamos fiéis à nossa vocação. Ai de nós, se tivéssemos a desgraça de a perder.
I. O Apóstolo diz que o Pai Eterno predestina ao reino dos céus só àqueles que têm uma vida conforme a do Verbo Incarnado: Os que conheceu na sua presciência, também predestinou para se fazerem conformes à imagem de seu Filho. Quanto devem, pois, estar contentes e certos do céu os religiosos, vendo que Deus os chamou a um estado de vida que entre todos é o mais conforme à vida de Jesus Cristo!
Jesus nesta terra quis viver pobre como simples aprendiz de operário, numa casa pobre, com vestidos pobres, com alimentos pobres: Propter vos egenus factus est, cum esset dives (1) – “Apesar de ser rico, ele se fez pobre por vós”. Demais, ele escolheu para si uma vida toda mortificada, apartada de todos os prazeres do mundo e sempre acompanhada de penas e tristezas, do nascimento até à morte, pelo que foi chamado pelos profetas o homem das dores: vir dolorum (2). Com isso fez ver a seus servos, qual deve ser a vida de quem o quer seguir, isto é, uma vida de abnegação e de sacrifício: Si quis vult venire post me, abneget semetipsum, tollat crucem suam, et sequatur me (3) – “Se alguém quiser vir atrás de mim, renuncie a si próprio, tome a sua cruz, e siga-me”.
Seguindo este exemplo e este convite de Jesus, os santos procuravam despojar-se de todos os bens terrenos e carregar-se de penas e de cruzes para assim seguirem seu amado Senhor. – Assim fez um São Bento, que, sendo filho dos senhores de Núrcia e parente do imperador Justiniano, renunciou às delícias e riquezas do mundo, e, jovem de 14 anos, foi viver numa gruta no monte Sublaco. Assim fez um São Francisco de Assis, que, entregando ao pai toda a porção da herança que lhe competia, até o próprio vestido, pobre e mortificado se consagrou todo a Jesus Cristo. Assim um São Francisco de Borgia, um São Luiz Gonzaga, que sendo, o primeiro duque de Gandia e o segundo príncipe de Castiglione, deixaram riquezas, vassalos, pátria, casa e parentes, e foram viver pobres num convento. E assim fizeram outros muito nobres e príncipes, mesmo de sangue real. Só na ordem beneditina se contam setenta e cinco imperadores, reis e rainhas que deixaram o mundo para viverem pobres, mortificados e esquecidos do mundo, em um pobre convento, e assim se tornarem mais semelhantes a Jesus Cristo.
II. Compenetremo-nos bem de que os religiosos, contanto que guardem as suas Regras, que os religiosos, e não os grandes do mundo, são os verdadeiros felizes, porque, mais do que quaisquer outros, são imitadores de Deus, como filhos prediletos (4). Os mundanos os têm por loucos, mas no vale de Josafá conhecerão terem sido eles os loucos. Vendo então os Santos em seus tronos, coroados por Deus, chorando e desesperados dirão: “São estes de quem nós algum tempo escarnecíamos. Nós, insensatos! Tínhamos a vida deles como uma loucura… Eis como são contados no número dos filhos de Deus e a sua sorte é entre os santos. De que nos aproveitou nosso orgulho?” (5)
Meu Mestre e Redentor Jesus, eis-me, portanto, no meio dos ditosos, que Vós chamastes para Vos seguirem. Senhor meu, graças Vos dou! Deixo tudo: desejaria ter mais que deixar para Vos seguir, meu Rei e meu Deus, que escolhestes para Vós uma vida tão pobre e tão cheia de privações por amor de mim e para me dar ânimo com o vosso exemplo. Caminhai adiante, Senhor, que eu Vos seguirei. Escolhei para mim a cruz que quiserdes e ajudai-me porque quero levá-la com constância e amor. – Pesa-me que no passado Vos abandonei para correr atrás de minhas satisfações e das vaidades do mundo; agora não quero mais abandonar-Vos. Prendei-me à vossa Cruz; e se, pela minha fraqueza, eu resistir alguma vez, atrai-me com as doces cadeias do vosso amor e não permitais que eu Vos deixe ainda.
Sim, meu Jesus, renuncio a todos os prazeres do mundo; o meu único prazer será seguir-Vos, amando e sofrendo tudo que for do vosso agrado. Assim espero achar-me um dia em vosso reino, ligado a Vós com o laço do amor eterno, com que, amando-Vos sem véu, não poderei mais temer ver-me solto e separado de Vós. Amo-Vos, meu Deus e meu tudo, e sempre Vos amarei. – Maria Santíssima, vós que, por terdes sido a mais semelhante a Jesus, sois agora a mais poderosa para alcançar as graças, protegei-me.
Referências:
(1) 2 Cor 8, 9
(2) Is 53, 3
(3) Mt 16, 24
(4) Ef 5, 1
(5) Sb 5, 3

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 275-277)

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