Ntra. Sra del Refugio, Miguel Cabrera |
Condições para o amor de Maria aos pecadores
Maria garantiu a S. Brígida que é Mãe não só dos justos e inocentes, mas também dos pecadores que se querem emendar. Se, desejoso de emenda, recorre um pecador a esta Mãe de Misericórdia, oh! Como a encontra pronta para o abraçar e socorrer, ainda mais do que se fosse sua mãe corporal. Era justamente o que o Papa Gregório VII escrevia à princesa Matilde: Desiste da vontade de pecar e acharás Maria, eu o garanto, mais pronta em amar-te do que tua própria mãe.
Portanto, quem aspira a ser filho desta grande Mãe, é preciso que primeiro deixe o pecado, e depois será sem dúvida aceito por filho.
Lemos nos Livros Sagrados: Levantaram-se seus filhos e aclamaram-na ditosa (Pr 31, 28). Refletindo Ricardo sobre estas palavras, nota que nelas primeiro se diz levantaram-se, e depois filhos. E isso porque, diz ele, não pode ser filho de Maria quem não procura primeiro levantar-se da culpa em que está caído. Quem procede de modo contrário ao de Maria diz por seus atos que não quer ser seu filho, observa S. Pedro Crisólogo. Maria é humilde e ele quer ser soberbo? Maria pura, e ele desonesto? Maria cheia de amor, e ele cheio de ódio para com o próximo? Isto é sinal de que nem é nem deseja ser um filho desta santa Mãe. Os filhos de Maria, escreve Ricardo, imitam-lhe a pureza, a humildade, a mansidão, a misericórdia. Mas como ousará chamar-se filho de Maria quem tanto a desgosta com a sua má vida? Certo pecador disse um dia a Maria: Mostra que és minha Mãe! E a virgem lhe respondeu: Mostra que és meu filho! Um outro, invocando-a, chamava-lhe Mãe de Misericórdia. Mas ela lhe disse: Vós, os pecadores, quando quereis que vos ajude, me chamais Mãe de Misericórdia; e depois por vossos pecados não cessais de me fazer Mãe de misérias e de dores.
É amaldiçoado de Deus o que aflige sua mãe, diz o Espírito Santo (Eclo 3, 18). Sua mãe, isto é, Maria, comenta Ricardo. Deus amaldiçoa quem com sua má vida e ainda mais com sua obstinação aflige essa boa Mãe.
Digo com sua obstinação. Pois, quando o pecador, embora ainda em pecados, se esforça por abandoná-los e para isso procura o socorro de Maria, esta Mãe não deixará de o socorrer e de fazê-lo voltar à graça de Deus. Assim, um dia o ouvia S. Brígida da boca de Jesus Cristo, que, falando com sua Santíssima Mãe, lhe disse: Ajudas aquele que procura converter-se e a ninguém deixas retirar-se sem consolo. Enquanto, pois, o pecador está obstinado, Maria não pode amar. Mas se ele, achando-se nas cadeias de alguma paixão que o faz escravo do inferno, ao menos se encomendar à Virgem e lhe pedir, com perseverança e confiança, que o ajude a sair do pecado, sem dúvida esta boa Mãe lhe estenderá a sua poderosa mão, quebrará suas cadeias, conduzi-lo-á pelas veredas da salvação.
Afirmar que todas as obras feitas por quem está em pecado são pecados, é heresia já condenada pelo Concílio de Trento. Disse S. Bernardo que a oração na boca do pecador, ainda que não seja especiosa, porque lhe falta a companhia da caridade, contudo é útil e frutuosa para tirá-lo do pecado. Porque, como ensina S. Tomás, a oração do pecador na verdade não tem merecimento, mas é muito apta para impetrar a graça do perdão. Funda-se esta sua força não tanto no merecimento daquele que ora, mas na bondade divina e nos méritos e promessas de Jesus Cristo, que disse: Todo aquele que pede recebe (Lc 11, 10). O mesmo se deve dizer das preces dirigidas à Mãe de Deus. Se aqueles que oram, diz Eádmero, não merecem ser ouvidos, os merecimentos de Maria, a quem eles se encomendam, farão que o sejam. Exorta por isso S. Bernardo todo pecador a invocar a Santíssima Virgem e a ter confiança na sua intercessão. Pois, continua o santo, se o pecador desmerece ser atendido, os merecimentos de Maria, a quem ele se encomenda, lhe conseguem que seja ouvido.
*Grifos meus.
(Livro: Glórias de Maria - Santo Afonso Maria de Ligório)
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