Não há idade na vida a que convenha mais a piedade, do que à mocidade, escreve Mgr. Dupanloup, não só porque a piedade brilha nas frontes jovenís com mais resplendor; não só por causa do encanto inexprimível com que ela embeleza todas as qualidades naturais da infância, mas sobretudo por esta simples e profunda razão: é que a piedade não é outra coisa, senão o amor de Deus, e não sei que haja coração neste mundo a que seja mais fácil inspirar este amor que ao coração das crianças. Tudo aí está ainda puro, generoso, ardente: tudo aí está feito, para este nobre e santo amor, e essa bem-aventurada chama de vida acende-se com uma facilidade maravilhosa.”
Mas se o coração da criança é um santuário onde o amor divino se compraz em estabelecer a sua morada, também a inocência da primeira idade da vida reclama esse amor celeste para aí encontrar a sua força e apoio. — «Efetivamemente, continua o ilustre bispo de Orleans, um homem já feito, pode vir a ser virtuoso, com uma religião sincera e sólida, posto que sem fervor; mas as crianças e os mancebos não o podem fazer, porque sem a piedade fervorosa, não têem nem bastante apoio, nem suficiente força para a sua virtude. Na sua idade, a fé não é ainda bastante profunda, nem a fidelidade bastante generosa, porque, como são corações tenros e fracos, caem facilmente, se a piedade os não sustentar.
Quem conhece, como eu, a fragilidade destas pequenas plantas, será também da mesma opinião. Sim, o sopro da graça eleva-as facilmente para o Céu, mas o sopro do vício, fá-las cair desamparadas sobre a terra. Quem lhes há de dar a força, para resistirem aos ataques do respeito humano, às influências dos maus exemplos e dos conselhos pérfidos, a todos os laços dum mundo corruptor e corrompido? Quem sustentará a sua fraqueza, sobre tantos declives e inclinações perigosas, e contra o mal que de toda a parte as cercará? Repito: se o temor e o amor de Deus, se a piedade corajosa lhes faltar, cairão infalivelmente. Despedaçar-se-ão os laços que os prendiam à virtude, e o sorriso da indiferença e do desdem, da impiedade e até do vício, será em breve visto sobre lábios frescamente tintos do sangue de seu Deus numa primeira comunhão.»
É preciso pois que o coração da mãe seja um foco que aqueça e abrase, com seus ardores, o coração da criança. Convém que esse pequeno ser, que começa a sorrir, e por conseqüência a compreender, não repouse nos braços maternos, sem ler nos olhares e nas feições de sua mãe alguma coisa de celeste que a faça elevar até ao amor de Deus.
Seria preciso que as palavras da mulher cristã fossem como um raio ardente que inflamasse a alma da criança com o fogo da caridade. Ó mãe, falai de Deus, dos Seus benefícios, das Suas perfeições infinitas a vosso filho e a vossa filha, logo desde o berço. Não entenderão a vossa linguagem, direis vós? Não importa. Deus vos entenderá e vos abençoará. Não gostaria um rei da terra de ver que as mulheres falavam das suas glórias aos filhos que elas embalam? Dir-lhes-eis muitas vezes: — «Meu filho, amas o teu pai e a tua mãe, porque te deram a vida, e porque te tratam com solicitude cheia de ternura; mas tens um Pai, no Céu, ao qual és incomparavelmente mais devedor do que aos pais da terra; é a Ele que deves a existência: foi Ele que te deu corpo, alma, pais, tudo o que és e tudo o que amas; sua benéfica mão é que te sustenta; o seu poder é que te conserva. Destina-te o Céu, onde te dará uma torrente de delícias, por toda a eternidade. São infinitas para contigo as suas bondades, sendo impossível contar o número e o valor dos seus benefícios. Seria, pois, uma ingratidão não amares de todo o teu coração Aquele a quem deves tudo. Já se viram animais ferozes a seguir por toda a parte e servir fielmente quem lhes prestou algum serviço, como aquele que arrancou o espinho que fazia sofrer um leão; seria pois mais insensível que esses animais, quem não servisse Aquele que nos encheu de tantos favores. Ah! meu filho, não possuirmos nós os corações de todos os homens, para os oferecermos a Deus, e nem assim poderíamos amá-lO como Ele merece!
«Amas também as pessoas e as coisas, em que notas qualidades que te agradam; de tudo quanto notaste de bom, de belo, de perfeito, nos homens, no Céu e na terra, nada te pode dar uma idéia das perfeições infinitas de Deus. A Sua beleza é infinitamente mais brilhante que a do sol e de todas as estrelas conjuntamente; a Sua bondade é incompreensível; o Seu poder é sem limites. Se, pois o nosso coração se apraz em amar o que é belo, o que é santo, o que é perfeito, como é que ele não amará Aquele que é a própria beleza, bondade e perfeição?
«Queres amar a Deus, querida alma? Sim, sem dúvida; foi para isso que Ele te criou. Pois bem, mostra-Lhe o teu amor, por meio de obras. Não só O não ofendas nunca pelo pecado, mas faze tudo quanto Ele te ordena; não vivas senão para Lhe agradar; ama a oração e tudo o que honra este bom Senhor.»
Depois destas lições ou doutras semelhantes, a mãe segundo a vontade de Deus fará sentir a seus filhos a desgraça dos que não amam o Senhor, e a felicidade de todos quantos O servem. Dir-lhes-á, com S. Paulo: — «A piedade é útil para tudo, tanto para nossa consolação neste mundo, como para nossa salvação eterna.» —«As crianças, diz ainda o bispo de Ordeans, imaginam de ordinário a piedade como uma coisa triste e sem atividade, isto é fazem dela uma idéia sombria; enquanto que a liberdade, o brinquedo e o desregramento se lhes afiguram muitíssimo mais agradáveis. Não há coisa pior. É preciso, pelo contrário, que se lhes mostre a religião com um rosto meigo e sedutor, sob as feições duma mãe terna que não pensa senão na ventura de seus filhos.»
«A piedade nada tem de austero, nem de afetado; é ela que dá os verdadeiros prazeres; só ela os sabe temperar, para os tornar puros e duradouros. Sabe misturar os brinquedos e os risos com as ocupações graves e sérias; prepara o prazer pelo trabalho, e descansa do trabalho pelo prazer. A piedade não se envergonha de parecer alegre, quando isso é necessário.»
Quando tratarmos da oração e dos sacramentos, falaremos dos exercícios mais próprios para conservar a piedade no coração das crianças.
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S
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