É preciso notar aqui que é um engano acreditar que o trabalho é nocivo à saúde do corpo, quando é certo que o exercício corporal ajuda muito a conservar a saúde.
Muitas vezes o que faz apresentar
escusas do trabalho, não é tanto o perigo da saúde, mas o peso e fadiga que o acompanham e que desejamos evitar. Ah! Quem lançar os olhos no Crucifixo,
não andará esquivando-se dos trabalhos. — Um dia, Sór Francisca do Santo Anjo, Carmelita, se lamentava de ter as mãos todas dilaceradas de tanto trabalhar, e Jesus Crucificado lhe respondeu: Francisca, olha as minhas mãos e depois lamenta-te.
Além disso, o trabalho é um remédio contra os enfados de solidão, e também contra as numerosas tentações que muitas vezes assaltam os solitários. — Sto. Antão abade achava-se um dia muito atormentado de pensamentos desonestos e ao mesmo tempo muito fatigado da solidão: não sabia o que fazer para se aliviar. Apareceu-lhe então um anjo, que o conduziu ao pequeno jardim que havia ali perto; e, tomando uma enxadinha, começou a lavrar a terra, e, em seguida, se pôs a orar. De novo, principiou a trabalhar e depois tornou a orar. Com isto, ensinou ao santo o modo como havia de conservar a solidão e ao mesmo tempo livrar-se das tentações, passando da oração ao trabalho, e do trabalho a oração. Não se deve trabalhar sempre, mas também não se pode orar sempre, sem se arriscar a perder a cabeça, e se tornar depois absolutamente inútil para todos os exercícios espirituais. — É por isso que Sta. Teresa, depois de sua morte, apareceu à Sór Paula Maria de Jesus e lhe recomendou que nunca abandonasse os exercícios corporais sob pretexto de fazer obras mais santas, assegurando-lhe que tais exercícios aproveitam muito para a salvação eterna.
De outra parte, os trabalhos manuais, quando se fazem sem paixão e sem inquietação, não impedem de fazer oração. — Sor Margarida da Cruz, arquiduquesa de Áustria e religiosa descalça de Sta. Clara, se dedicava aos ofícios mais trabalhosos do mosteiro, e dizia que, entre outros exercícios, o trabalho não é somente útil às monjas, mas também necessário, visto que não impede o coração de se elevar para Deus.
Narra-se que S. Bernardo, um dia vendo um monge que não deixava de orar enquanto trabalhava, disse-lhe: “Continua, meu irmão, a fazer sempre o que fazes agora, e alegra-te, porque, deste modo, quando morreres, serás livre do purgatório”. O mesmo santo seguia esta prática como refere o escritor de sua vida; pois, não descuidava dos trabalhos exteriores e ao mesmo tempo se recolhia todo em Deus.
Santo Afonso de Ligório no livro: A Verdadeira Esposa de Cristo.
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