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VI. ALMA DE FOGO
A luz ilumina. Mas a luz aquece também. Jesus gosta das almas luminosas, mas Jesus gosta mais ainda das almas de fogo, das almas abrasadas, das almas que aquecem e que incendeiam. E aborrece as almas tíbias, as almas frias. Por isso Ele confessou, claramente, que veio a esta terra trazer o fogo e quer que ele se alastre por entre as almas. E não seria, então, a alma gloriosa de Maria a primeira a abrasar-se?
Mas Jesus, apesar de ter abrasado as almas, sentiu frio, assim como sentiu fome, apesar de ter saciado as multidões. Lá estava, porém, a Mãe Divina, com sua alma de fogo, para O aquecer. E aqueceu o corpinho recém-nascido de Jesus lá no frio da estrebaria; aqueceu-O, depois, na fugida noturna para o Egito, e, durante toda a sua vida, quando ele vivia no meio da indiferença e do gelo das almas, que, sendo suas — como escreveu S. João — não O quiseram receber.
Mas Maria tinha outros filhos — a humanidade, que Jesus lhe entregou do cimo de sua cruz. E ela começou a abrasar as almas. Que se tornaram legiões no decorrer dos séculos. Basta estudar, com atenção, a vida dos santos, dos apóstolos, dos missionários, dos heróis cristãos, e para logo veremos como estas almas grandes, ao contato da alma gloriosa de Maria, se inflamavam totalmente. Como chamejava a alma do Serafim de Assis, principalmente nas capelas e igrejas consagradas à Mãe do céu! Que incêndio ateavam entre os ouvintes os sermões de Santo Antônio, quando ele falava de Maria! E não podia ser de outro modo.
“Deus, que é o próprio amor, o próprio fogo — escreveu Santo Afonso de Ligório — veio à terra para atear em todos os homens esta chama divina; mas a nenhum coração inflamou como o de sua Mãe, que, sendo completamente pura de afetos terrenos, estava perfeitamente disposta a arder neste fogo bem-aventurado. A alma de Maria tornou-se, pois, toda fogo e chamas... Quando Ela levava o Menino Jesus ao colo, bem se podia dizer que era um fogo levando outro fogo”. E São Tomás de Vilanova acrescenta que a alma de Maria era como aquela sarça, vista por Moisés, a qual ardia sem se consumir. S. Boaventura afirma que a Virgem nunca foi tentada pelo inferno, porque assim como de um grande fogo fogem as moscas, assim da alma de Maria, toda labaredas de caridade, fugiam os demônios, de modo que nem ousavam aproximar-se dela. E como é belo o pensamento de São Germano: “foi figura de Maria, o altar propiciatório, em que o fogo nunca se apagava, nem de noite, nem de dia”.
E a nossa alma? Que contraste desanimador! É o frio da sepultura. O gelo da indiferença para tudo o que é elevado e santo. Inflama-se, somente, ao fogo das paixões desordenadas: da cólera, da ira, da inveja... Quem nos dera abrasar-nos como um Grignion de Montfort! Como um Gabriel Maria, trapista, que do fogo da guerra de 70 se atirou no fogo do amor divino, guiado pela Virgem! Quem nos dera! Santo Afonso diz que é muito fácil: basta que nos aproximemos da alma de fogo de Maria!
SENHORA nossa — exclamemos com Santa Catarina de Sena — portadora do fogo do amor divino, abrasai com ele as nossas almas, livrando-as do fogo destruidor das paixões. Assim seja!
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Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
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