Mons. de Ségur (*) | Tradução Sensus fidei: Nosso adorável mediador Jesus Cristo, querendo tributar a seu eterno Pai em todos os seus membros místicos, e em cada um deles em particular, as homenagens de uma religião perfeita e verdadeiramente digna d’Ele, une-se interiormente a todos os cristãos, e lhes dá o seu Coração. Sim, dá-nos este grande e inefável Coração, a fim de que por ele e com ele possamos cumprir com todos os deveres que temos para com Deus, e satisfazer todas as nossas obrigações para com a sua divina Majestade.
Cinco são os grandes deveres aos quais estamos obrigados para com Deus:
1º adorá-lo em suas infinitas grandezas;
2º dar-lhe graças pelos benefícios que temos recebido e recebemos continuamente de sua bondade;
3º satisfazer a sua santíssima justiça por nossos inumeráveis pecados e negligências;
4º amá-lo em troca de seu amor incompreensível;
5º enfim, rogar-lhe com humildade e confiança para obter de sua soberana liberalidade tudo o que necessitamos, tanto para a alma como para o corpo.
2º dar-lhe graças pelos benefícios que temos recebido e recebemos continuamente de sua bondade;
3º satisfazer a sua santíssima justiça por nossos inumeráveis pecados e negligências;
4º amá-lo em troca de seu amor incompreensível;
5º enfim, rogar-lhe com humildade e confiança para obter de sua soberana liberalidade tudo o que necessitamos, tanto para a alma como para o corpo.
Mas como cumprir com todos estes deveres de uma maneira digna de Deus? Isto não o podemos nós; pois somente o infinito é digno do infinito e o divino do divino. Embora quando tivéssemos à nossa disposição todos os entendimentos, todos os corações e todas as forças de todos os Anjos e de todos os homens, e os empregássemos em adorar, dar graças e amar ao Senhor, seria isto, todavia, ainda muito pouco, havida consideração para com a sua santidade e bondade infinitas.
Mas, vede aqui um meio, um meio verdadeiramente infinito para completar inteiramente todos estes deveres: este meio é o próprio Coração de Jesus, que se nos dá para que dele usemos como nosso próprio coração, para adorar a Deus tanto quanto é adorável, para amá-lo tanto quanto merece ser amado, e para cumprir com Ele todos os deveres da religião mais perfeita, de uma maneira inteiramente digna de sua Majestade suprema.
Graças eternas vos sejam dadas, oh, meu querido Salvador Jesus! Pelo dom infinitamente precioso de vosso Coração. Ajudai-me a bendizer-Vos os Anjos e a Rainha dos Anjos. Oh! Quão ricos somos! Que tesouros possuímos!
O Coração de Jesus feito nosso coração, faz-nos entrar na participação do amor eterno com que o Pai ama o Filho, e o Filho ama a seu Pai. O Pai nos ama como a Jesus;[1] e, por sua vez, Jesus nos ama com o mesmo amor que o une ao seu divino Pai.[2] E, assim em Vós, em vosso Coração, oh, Jesus, somos também nós consumados em um,[3] como Vós e vosso Pai sois consumados em um pelo amor e no amor, pelo Espírito Santo e no Espírito Santo. Oh, que abismos de divina ternura!
Além de tudo, encontro no Coração de meu Deus o meio de amar perfeitissimamente tudo o que devo amar fora de Deus, mas segundo Deus: desde logo e antes de tudo a Santíssima Virgem, a quem não posso amar dignamente senão com a ajuda do Coração de seu divino Filho; e depois a todos os meus irmãos do céu e da terra. Lemos nos Livros Sarados que os primeiros cristãos não tinham mais que “um só coração e uma só alma”;[4] e este coração único era o Coração de Jesus feito seu coração; era a reunião de seus corações santos, puros, penitentes, caritativos, mansos e humildes no Sagrado Coração de Jesus, que era assim seu único foco de amor e seu celeste lugar de reunião. Para eles era o que é o centro de uma esfera de onde convergem, para não formar mais do que um só ponto, todos os raios que da superfície vão juntar-se ao centro.
Eu também, pobre raio da grande esfera da Igreja, lanço-me até Vós, a Vós me entrego e em Vós quero permanecer sempre, Coração adorável e adorado de meu Deus! Em Vós encontro com que amar superabundantemente tudo o que devo amar, no céu e na terra, no tempo como na eternidade; em Vós estou seguro de amar santamente, de amar perfeitamente, e também de ser amado como devo ser amado, nem mais, nem menos.
Mas, que fazer para assim permanecer praticamente no Coração de Jesus? De que maneira, no que me concerne, meu pobre coração e esse Coração divino não formarão mais do que um só coração? Aplicar-me-ei a duas coisas: primeira, nas circunstâncias diversas de minha vida, de meus deveres, de minhas obras cotidianas, esforçar-me-ei em renunciar a mim mesmo, abneget semetipsum; em renunciar às inclinações não somente culpáveis, senão também baixas e antinaturais de meu próprio coração, que desde o pecado original está instintivamente desviado da verdade e do bem e inclinado ao mal. Segunda, terei grande cuidado de viver em união habitual e interior com Jesus, para deixar que seu Sagrado Coração viva, queira, ame, sofra e se dilate em meu coração, com meu coração, e, por assim dizer, em lugar do meu coração.
Oh, Coração todo amor de meu Salvador! Sejais de hoje até meu último suspiro o verdadeiro coração do meu coração, a alma da minha alma, o espírito do meu espírito, a vida da minha vida; o único motor de todas as minhas potências, de todos os meus pensamentos, palavras e ações.
Oh, Jesus, amor de meu coração! Eu não quero outro livro que o vosso Coração divino.
Notas
[1] Dilexisti eos sicut et me dilexisti. (Joan. XVII, 23.)
[2] Sicut dilexit me Pater, et ego dilexi vos. (Ibid. XV, 9.)
[3] Consummati in unum. {Ibid. XVII, 23.)
[4] Cor unum, et anima una. ( Act. IV, 32.)
(*) Monsenhor de Ségur. El Sagrado Corazon de Jesus. pp. 129-134. Casa Editorial de Manuel Galindo y Bezares. 1888.