segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

10 coisas simples que padres e católicos leigos tradicionais podem fazer para ajudar a Deus e a Igreja


Para todos vocês maravilhosos sacerdotes tradicionais, aqui estão 10 coisas que, de nossa parte, podemos fazer para ajudar a Deus, a Sua Santa Igreja Católica e o mundo:




1) Oferecermos o Santo Sacrifício da Missa Tradicional com grande fé e devoção.
2) Pregarmos a verdade em nossas homilias mesmo quando somos perseguidos por isso.
3) Estarmos sempre disponíveis para a Santa Confissão. E quando ouvirmos confissão, gastemos tempo ajudando as pessoas a reconhecer a gravidade de seus pecados, (especialmente os seus pecados sexuais), conscientizá-las de como os trajes imodestos ofendem a Deus, a necessidade dos Sacramentos, da oração e que é fundamental colocar Deus em primeiro lugar em suas vidas.
4) Rezar o Breviário Latino.
5) Rezar o Santo Rosário, (todas as 15 dezenas).
6) Criar um blog.
7) Mostrar amor e preocupação para com todos os que entram em contato conosco durante o dia todo.
8) Viver o que nós acreditamos e pregarmos isso.
9) Deixar Deus ser o foco do nosso sacerdócio, (comecemos tirando a nós mesmos do caminho) para que Ele possa fazer a maior parte do trabalho.
10) Com humildade, façamos a nossa parte e, em seguida, deixemos a outra parte para Deus e os outros.
Cada um de nós deve fazer apenas o que Deus pede de nós. Para alguns de nós isso pode ser uma tarefa enorme. Para outros, pode ser apenas rezar para a Igreja e a conversão dos pecadores em uma cama de convalescença.

Aqui está uma lista de 10 coisas que você, como leigo, pode fazer.

1) Dê-se ao trabalho, faça o sacrifício e vá para a Santa Missa Tradicional.
2) Certifique-se de que você está vivendo uma vida de santidade, longe do pecado mortal. (Não há nenhuma desculpa para o pecado.)
3) Preocupe-se profundamente se com a sua própria alma eterna e tente salvar outras almas do inferno.
4) Reze diante do Santíssimo Sacramento a cada semana. (Melhor ainda se puder fazer isso todos os dias.)
5) Reze os 15 mistérios do Santo Rosário todos os dias pedindo a Maria a derrota de satanás e de todas as outras pessoas más que estão destruindo a Igreja Católica. Reze pela conversão dos pecadores.
6) De forma disciplinada, tire um tempo para realmente aprender/conhecer a sua fé católica tradicional.
7) Ensine as pessoas o Catecismo Católico tradicional. Temos um leigo tradicional fantástico que ensina catecismo para jovens e adultos. Ele exerce um efeito incrível em cada um dos seus alunos.
8) Fale a verdade católica com amor, mas também sem medo, mesmo quando os outros olhem para você de cima abaixo e o persigam.
9) Vista-se modesta e formalmente, mostrando sua verdadeira identidade católica tradicional. Você vai se surpreender com o respeito que receberá por vestir-se adequadamente.
10) Utilize a mídia, blogs, revistas, tudo o que puder para compartilhar sua fé católica tradicional. Mesmo que o seu blog salve apenas uma alma, valerá a pena todos os seus sacrifícios e o tempo que você empregar nele. Uma alma eterna vale mais do que toda a criação.


Assim, ditas todas essas coisas, façamos a nossa parte e deixemos o resto para que Deus faça a Sua parte. E, então, sigamos adiante, serenos, com fé e confiança em Deus todo poderoso que completará a Sua obra, a Seu tempo e à Sua maneira. Lembre-se, “nossa ajuda é feita em nome do Senhor, que fez o céu e a terra”.
Tradução Sensus fidei

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

São Vicente Ferrer — Quinze perfeições necessárias para a pessoa que serve a Deus na vida espiritual

Quinze perfeições são necessárias para a pessoa que serve a Deus na vida espiritual

“O Êxtase de São Vicente Ferrer”, óleo sobre tela. Murillo, Bartolomé Esteban, http://www.wikigallery.org/


Quinze perfeições são necessárias para a pessoa que serve a Deus na vida espiritual.

A primeira, a notícia clara e perfeita de seus defeitos e fraquezas.
A segunda, uma grande e ardente ira contra as más inclinações e contra os desejos e paixões que são repugnantes à razão.
A terceira, um grande temor pelas ofensas feitas até agora contra Deus, porque não estás seguro de teres dado bastante satisfação, ou teres haver feito as pazes com Deus.
A quarta, um grande temor e tremor de que por tua fragilidade possas cair outra vez em semelhantes ou maiores pecados.
A quinta, uma rigorosa disciplina e áspera correção para o domínio dos teus sentidos corporais e para submeteres todo o teu corpo ao serviço de Jesus Cristo.
A sexta, fortaleza e grande paciência nas tentações e adversidades.
A sétima, evitar virilmente, como a um demônio infernal, toda pessoa ou qualquer criatura que te empurre ou que te seja ocasião, não só para o pecado, mas para qualquer imperfeição da vida espiritual.
A oitava, levar em si a cruz de Cristo, que tem quatro braços: primeiro, a mortificação dos vícios; segundo, a renúncia dos bens temporais; terceiro, a renúncia às afeições carnais dos parentes; quarto, o desprezo a si mesmo, a abominação e o aniquilamento de si mesmo.
A nona, a doce e contínua recordação dos benefícios divinos que, até agora recebeste do Senhor Jesus Cristo.
A décima, permanecer dia e noite em oração.
A décima primeira, gostar e sentir continuamente as doçuras divinas.[1]
A décima segunda, um desejo grande e fervoroso para exaltar a nossa fé, isto é, que Jesus Cristo seja temido, amado e conhecido por todos.
A décima terceira, ter misericórdia e piedade para com o teu próximo em todas as suas necessidades, como quisera tivessem contigo.
A décima quarta, dar graças continuamente a Deus com todo o teu coração, e em tudo glorificar e louvar a Jesus Cristo.
A décima-quinta, depois de fazeres tudo isso, sente e dize: Senhor, meu Deus, Jesus Cristo, eu nada sou, nada posso, nada valho e vos sirvo muito mal, e em tudo sou um servo inútil.[2]
(*) “Tratado de la Vida Espiritual”, São Vicente Ferrer. Edição eletrônica.
Tradução Sensus fidei.
[1] Cf. Sal., 33, 9.
[2] Cf. Lc., 17, 10.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

“Sobre a Encarnação do Verbo”

Se o Verbo assumiu um corpo, foi para oferecê-lo em sacrifício em prol dos corpos semelhantes ao seu – o que também ensinam as Escrituras: “como os filhos participam da carne e do sangue, ele participou dessas mesmas coisas, a fim de destruir por sua morte o demônio, que tinha o império da morte”




Santo Atanásio (296-373): Esta grande obra realmente convinha sob todos os aspectos à bondade de Deus. Se um rei construiu uma casa ou vila, e esta, por negligência dos moradores vem a ser assaltada por ladrões, ele não a abandona; defende-a e protege-a como coisa própria, considerando, não o descaso dos locatários, mas o que lhe convém a si. Com maior razão, o Verbo divino do boníssimo Pai, vendo o gênero humano, sua criatura, desandar para a corrupção, não o abandonou; mas, pela oferta de seu próprio corpo, extinguiu a morte que se associara aos homens, por seu ensinamento corrigiu as negligências deles, por seu poder restaurou a raça humana. Disto podemos persuadir-nos consultando os teólogos enviados por Deus e lendo seus escritos, onde se tem que: “o amor de Cristo nos impele a este pensamento, o de que se um só morreu por todos, todos morreram; ora, ele morreu por todos, a fim de que não vivêssemos mais para nós, mas para aquele que por nós morreu e ressuscitou, nosso Senhor Jesus Cristo” (2Cor5,14-15). Lemos ainda: “nós vemos aquele que foi posto um pouco abaixo dos anjos, Jesus, coroado de glória e honra por causa dos sofrimentos de sua morte, a fim de que assim, pela graça de Deus, sua morte aproveite para todos os homens”. A seguir, a Escritura indica por que nenhum outro, senão o Verbo de Deus, se devia encarnar: “convinha que aquele, para quem tudo é e por quem tudo é, desejando levar um grande número de filhos à glória, aperfeiçoasse pelo sofrimento o autor da salvação deles” . Por aí se indica não caber a outro, mas ao Verbo de Deus, que tinha feito no princípio os homens, re erguê-los da corrupção que os atingira. Se o Verbo assumiu um corpo, foi para oferecê-lo em sacrifício em prol dos corpos semelhantes ao seu – o que também ensinam as Escrituras: “como os filhos participam da carne e do sangue, ele participou dessas mesmas coisas, a fim de destruir por sua morte o demônio, que tinha o império da morte”. Pois, pelo sacrifício de seu corpo, ele acabou com a lei que pesava sobre nós, renovou para nós o princípio da vida, dando-nos a esperança da ressurreição. Antes, foi por causa dos homens que a morte dominou sobre os homens; agora, pela encarnação do Verbo de Deus ela foi destruída, pois ressurgiu a vida, como diz o Apóstolo, portador de Cristo: “por um homem veio a morte, e por um homem a ressurreição dos mortos; da mesma forma que todos morrem em Adão, em Cristo todos serão vivificados” . Já não mais morremos como condenados, e sim como os que irão despertar; aguardamos a ressurreição universal, que a seu tempo nos mostrará o Senhor Deus, aquele que a criou e no-la concede. Eis a primeira razão da Encarnação do Salvador.

A RECRIAÇÃO DO HOMEM

Dado que os homens se tinham pervertido na irracionalidade e que a impostura dos falsos deuses propagava por toda parte sua sombra, eclipsando o conhecimento do verdadeiro Deus, que haveria de fazer o Senhor? Guardar silêncio frente à situação e deixar os homens iludidos, ignorando seu Deus? Mas então para que houvera criado o homem à sua imagem? Ocorria simplesmente tê-lo criado sem razão; ou, do contrário, não o deixar viver a vida dos irracionais. Para que lhes houvera também comunicado, desde o início, a noção de Deus, se agora não se mostravam dignos de a receber? Melhor fora não a ter conferido no princípio. Pois que glória advém para o Criador, se os homens, suas criaturas, não o adoram e até pensam ser feitos por algum outro? Tê-los-ia criado para outros?
Um rei, mesmo humano, não permite que suas cidades se entreguem a estranhos e se submetam a eles. Adverte os súditos, envia-lhes mensageiros e, se necessário, vai em pessoa tentar comovê-los: unicamente para evitar que sirvam a senhor alheio e se inutilize a obra sua. Com mais razão, Deus não se apiedaria da criatura a fim de evitar que errasse longe de si e fosse servir a fantasmas inexistentes? Tanto mais que tal erro seria causa de ruína para o ser que um dia participou da imagem de Deus!
Que haveria pois de fazer o Senhor, senão renovar o que era nos homens a divina imagem, a fim de por ela chegarem ao seu conhecimento? Mas como se realizaria isto de outro modo que não pela presença da própria Imagem de Deus, nosso Salvador Jesus Cristo?
Sim, a coisa não seria realizável jamais por homens, pois também foram criados segundo a imagem; nem por anjos, que não são em si mesmos imagens. Veio, pois, o próprio Verbo de Deus, Imagem do Pai, a fim de recriar o homem segundo a divina imagem; e se esta obra não se podia fazer sem destruição, sem a corrupção da morte, convinha que ele assumisse um corpo mortal, para nele destruir a morte e renovar os homens segundo a divina imagem. Com vistas a tal obra nenhum outro se credenciava mais que a própria imagem do Pai.
Se aos poucos se apagou uma efígie impressa na madeira, pelo acúmulo da pátina exterior, pode acontecer que sua renovação só se torne possível, ali no mesmo material, pela presença do modelo, cujos traços se desfiguraram. Não se irá recusar o material onde a figura fora antes impressa, mas se procurará compor nova imagem . Da mesma forma, o Filho santíssimo do Pai celeste, sendo a imagem do Pai, veio até nossa região, visando renovar o homem criado segundo seu modelo, visando remir os pecados daquele que estava perdido, a fim de reencontrá-lo; conforme as palavras da Escritura: “eu vim para encontrar e salvar o que estava perdido” . Assim, dirá também ele aos judeus: “se alguém não renascer, não poderá ver o reino de Deus” , aludindo, não a um renascimento a partir da mulher, como pensaram os judeus, mas ao renascimento que é a recriação da alma segundo a imagem divina.
Um bom mestre se interessa pelos alunos, procura descer, com ensinamentos mais simples, aos que não entendem as lições mais difíceis. Assim também faz o Verbo de Deus, conforme Paulo: “já que o mundo, com sua sabedoria, não chegou a conhecer a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura de sua mensagem”. Estando os homens desviados da contemplação divina e mergulhados em profundo abismo, com os olhos voltados para baixo, a procurarem Deus na criatura e nas coisas sensíveis, fabricando para si mesmos deuses, de homens mortais e de demônios, eis que o Verbo divino, “filantropo” e salvador, assume um corpo e vem viver como homem entre os homens, atrai a si a percepção dos sentidos — para que pudessem conhecer a verdade e chegar ao Pai os mesmos que situavam a Deus entre os seres corpóreos. Sendo homens e tudo pensando humanamente, eis que eles agora, onde quer que se deixassem levar pela percepção sensorial, encontravam o ensinamento da verdade. Em sua fascinação pelas coisas criadas, viam agora que elas confessavam o Cristo Senhor. Em sua admiração pelos homens — que os levava a deificá-los — viam agora as obras do Salvador e percebiam que só ele, entre os humanos, é filho de Deus, não havendo em parte alguma obras comparáveis às do Verbo divino. Tinham sido seduzidos pelos demônios, eis que agora os viam expulsos pelo Senhor; e também por isto reconheciam-no como a única Palavra divina, confessando não serem deuses os demônios. Tinham sido obcecados pelo pensamento nos mortos, a ponto de renderem culto aos heróis, divinizados pelos poetas; eis porém que agora viam a ressurreição do Salvador e reconheciam a precedente ilusão, passando a atestar que o único verdadeiro Senhor é o Verbo de Deus, dominador da morte.
Foi para a obtenção desse resultado que ele apareceu como homem, e morreu, e ressuscitou. Através de suas obras fez empalidecerem as obras de quaisquer outros homens, podendo assim todos atrair a seu verdadeiro Pai, consoante a palavra: “eu vim salvar e encontrar o que estava perdido”.
Uma vez que o espírito humano caíra no sensível, o Verbo se abaixou ao ponto de se tornar visível corporalmente para chamar a si os homens, atrair para si os sentidos deles: viam-no humano, mas autor de obras superiores às humanas, persuadiam-se de que era o próprio Deus, o Verbo e a Sabedoria do verdadeiro Deus. Confira-se o que diz Paulo: “enraizados e fundados na caridade, possais compreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade; conhecer enfim a caridade de Cristo, que ultrapassa todo conhecimento; a fim de vos tornardes cheios da plenitude de Deus”. O Verbo se manifesta em toda parte, em cima e em baixo, na profundidade e na extensão, na altitude da Criação e na humildade da Encarnação, na profundeza dos limbos, na largura do mundo: tudo está cheio do conhecimento de Deus. E por isto mesmo ele não ofereceu, desde o primeiro momento de seu advento, seu sacrifício por nós, entregando o corpo à morte e ressuscitando-o; assim se teria tornado logo invisível! Mostrou-se visível, permaneceu longo tempo corporalmente, realizando obras e sinais que o fizessem conhecido não só como um homem mas como o Verbo de Deus. Sob um e outro aspecto mostrava sua filantropia, na Encarnação: fazia desaparecer a morte e nos renovava, revelando ao mesmo tempo, pelas mesmas obras, sua invisibilidade, levando-nos ao reconhecimento de que é o Verbo do Pai, o chefe e rei do universo.
FONTE: 

GOMES, C. Folch. Antologia dos Santos Padres.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O Poço deleitoso

O poço da doutrina sagrada é recomendado por três razões: por sua grande autoridade, porque é dada pelo Espírito Santo; por sua doçura e suavidade: Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! (Sl.,118,103); por sua fertilidade e fecundidade, porque não somente se comunica ao sábio, mas também aos ignorantes


Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo (Jo 4,11)
Capela S. Pio X I. Pela altura ou profundidade do poço se entende a profundidade da Sagrada Escritura e da sabedoria divina: é grande sua profundidade: quem o poderá sondar? (Eccles.,7,25). A roldana com que se tira a água da sabedoria salvadora é a oração: Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não lança em rosto, e ser-lhe-á concedida (Tg.,1,51). O poço da doutrina sagrada é recomendado por três razões: por sua grande autoridade, porque é dada pelo Espírito Santo; por sua doçura e suavidade: Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! (Sl.,118,103); por sua fertilidade e fecundidade, porque não somente se comunica ao sábio, mas também aos ignorantes.
II. Propriedades da Sagrada Doutrina.
É Água corrente. Quando diz: a água que eu lhe der, virá a ser nele uma fonte de água (Jo.,4,14), mostra que sua doutrina é água viva pelo movimento da própria água. Por isso se diz que é fonte que corre: O ímpeto do rio alegra a cidade de Deus (SI.,5,5).
É Água ascendente. Um é o curso da água material, isto é, para baixo; e outro o da água espiritual, pois se dirige para cima. Por essa razão se diz: a água material não sacia a sede; mas a água que eu dou, não somente sacia a sede, mas que é viva, porque está unida à fonte. Por isso se diz: virá a ser nele uma fonte.
É Água que sobe até o céu. Virá a ser nele uma fonte de água que salte para a vida eterna (Jo.,4,14). Uma fonte que conduz à vida eterna pelas boas obras. Por isso diz: água que salte, ou seja, que faz saltar até à vida eterna, onde não há sede. E em outro lugar diz o mesmo Evangelista: O que crê em mim, como diz a Escritura (Is.,44,3; 55,1; Ez.,47) do seu seio correrão rios de água viva (ou seja, de bons desejos) (Jo.,VII,38). E o Profeta Davi: Realmente em Ti está a fonte da vida (SI., 35,10), o Espírito Santo, que é o espírito de vida.
MEDITACIONES. S. Tomás de Aqulno

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Misericórdias do Coração de Jesus no sacramento da Penitência

O Sacramento da Penitência é o triunfo do Sagrado Coração de Jesus. Nele aparece muito mais misericordioso ainda que no sacramento do Batismo; pois neste (ao menos no Batismo de crianças) a graça do perdão não apaga mais do que uma mancha da qual o pecador não é pessoalmente responsável; enquanto no da Penitência esta mesma graça se dilata ainda mais, e não conhece outros limites que os que lhe impõe a má vontade desses infelizes sem juízos chamados pecadores impenitentes.




Mons. de Ségur (*) | O sacramento da Penitência [Confissão ou Reconciliação] pode chamar-se maravilha do Coração de Jesus. Neste, mais do que nos outros Sacramentos, o Salvador abre a todos os homens esse divino Coração que tanto os têm amado. Neste Sacramento brilha de um modo especialíssimo a onipotência de sua misericórdia e bondade, todos os dias e em toda a terra, com prodígios de todo gênero.
Santa Margarida Maria via o Sagrado Coração com suas chamas, sua cruz e sua cora de espinhos, como em um trono resplandecente de glória. Não é este trono uma formosa figura do tribunal da Penitência, em que a glória de Deus não resplandece menos em milagres de misericórdia do que no Sacramento do altar em prodígios de amor e santidade? Qual é, com efeito, na terra a glória por excelência de Deus senão a conversão dos pobres pecadores, a ressurreição e a salvação das almas?
Desde o alto deste trono de compaixão e de paciência divinas, de inefáveis misericórdias e de perdão inextinguível, o Coração de Jesus, vivo e palpitante no coração de seus sacerdotes, arde de amor pelos pobres pecadores e devora avidamente seus pecados em suas divinas chamas. Dali irradia a esperança; ali derrama em torrentes o sangue da redenção.
O sangue de Jesus, o sangue do Coração de Jesus, é como a alma deste grande Sacramento. Este é um composto de celestial santidade que purifica, de ternura que alivia e consola, de compaixão que comove e abranda os corações, de ardores sagrados que abrasam, e enfim, e sobretudo, de amorosa caridade. Isto é a Confissão, essa Confissão que tanto espanta aos que não tem a dita de “crer no amor que Deus nos tem”.[1]
Um dia, depois de confessar-se, Santa Catarina de Sena escrevia estas palavras cheias de profundidade: “Eu fui ao Sangue de Cristo: Ivi ad sanguinem Christi.” Ir ao Sangue de Jesus não é ir ao seu Coração, ou seja, à fonte e ao foco de seu amor? E há homens, há cristãos que temem aproximar-se deste Sacramento! Oh Sangue divino, Sangue de amor e de infinita misericórdia! A vós venho, precisamente porque sou pecador. Por mim fluís; a mim aguardais, como o pai do filho pródigo aguardava seu pobre filho, Sim, irei a vós, oh Sangue purificador e santificante! Irei a vós com coração contrito e humilhado, mas cheio de confiança! Que gozo possuir este rico tesouro da Confissão! E com quanta verdade é a Esposa de Jesus Cristo esta misericordiosa Igreja católica, que possui o trono da misericórdia do Coração de Jesus!
Bem podemos dizer sem reparo que o sacramento da Penitência é o triunfo do Sagrado Coração de Jesus. Nele aparece muito mais misericordioso ainda que no sacramento do Batismo; pois neste (ao menos no Batismo de crianças) a graça do perdão não apaga mais do que uma mancha da qual o pecador não é pessoalmente responsável; enquanto no da Penitência esta mesma graça se dilata, estende-se ainda mais, e não conhece outros limites que os que lhe impõe a má vontade desses infelizes sem juízos chamados pecadores impenitentes. É de fé que na Confissão o sacerdote pode perdoar tudo, absolutamente tudo, sem exceção; e a Igreja quer que o sacerdote perdoe tudo, quando o pecador dá verdadeiros sinais de arrependimento. Oh, misericórdia do Salvador! Nem para isto oferecem obstáculo as recaídas, sempre que provenham da fragilidade humana; pois Jesus chama ao perdão os fracos como os fortes, os pobres como os ricos, a todos os que têm boa vontade. Depois do altar, que é o trono do santo amor, em nenhuma parte é maior nem mais admirável o sacerdote católico que no confessionário, trono da divina misericórdia.
As chamas com que ali arde o Sagrado Coração não só aniquilam nossos pecados, mas que além disso apagam as chamas eternas do inferno que por eles merecíamos; e ainda, se nossa contrição é perfeita, a Igreja nos ensina que as chamas do Coração misericordioso de Jesus apagam também o fogo do purgatório.
Com suas amorosas chamas o Coração de Jesus abrasa, dilata e derrete de uma vez o Coração do confessor, inundando-o de caridade e de doçura, e o coração do penitente, inundando-o de contrição, purificando-o até em seus menores esconderijos e inundando-o de felicidade e de alegria.
E tudo isto é o fruto da cruz e da coroa de espinhos; o fruto da Paixão de Jesus Cristo, cujos méritos infinitos nos são aplicados no sacramento da Penitência.
Dai-me, pois, meu bom Salvador, que ame como devo este maravilhoso Sacramento, e que a ele recorra frequentemente com vivíssimos desejos de aproveitar-me das santas efusões de vosso sangue. Fazei que me confesse sempre bem, que seja muito sincero na manifestação de meus pecados, muito leal com minha consciência, que dissolva o orgulho e os respeitos humanos, e que receba sempre a absolvição com as santas disposições que vosso Coração comunica aos corações fiéis, e que neles quer que resplandeçam.
Nota
[1] 1 Et nos cognovim us, et credidimus charitati, quam habet Deus in nobis. (I, Joan. IV, 16.)

(*) Monsenhor de Ségur. El Sagrado Corazon de Jesus. pp. 121-125 Casa Editorial de Manuel Galindo y Bezares. 1888.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Sto. Afonso Maria de Ligório dá exemplos da Escritura que mostram que os pecados de um homem são limitados e, em certo ponto, a misericórdia de Deus cessa para o homem e a Sua justiça começa


30moedas
Deus está pronto para curar aqueles que sinceramente desejam mudar suas vidas, mas não pode ter pena do pecador obstinado. O Senhor perdoa pecados, mas Ele não pode perdoar aqueles que estão determinados a ofendê-lo

Querendo ou não, a relativização do conceito de livre-arbítrio da criatura bem como a equivocada concepção de misericórdia e justiça de Deus — disseminados pelas falsas doutrinas da “espiritualidade planetária” neopagã e liberal vigente — sua nefasta influência acabou por contaminar muitos teólogos e peritos progressistas, arquitetos do Concílio Vaticano II. Por isso, em todo lugar se ouve uma estranha e inédita exaltação à misericórdia ilimitada de Deus e que a paciência de Deus não tem limites.
Mas não é isto o que ensina Nosso Senhor, nem o magistério bimilenar, conforme claramente podemos constatar no presente exemplo de pregação do grande Doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório. 
O Fundador dos Redentoristas, em seu sermão do primeiro domingo do Advento, adverte os fiéis de que o homem não deve abusar da misericórdia de Deus e imaginar que sempre haverá tempo para se arrepender e ser salvo. De fato, a misericórdia de Deus não tem limites, até o ponto em que esses limites são exigidos pela Sua sabedoria e justiça. A partir dessa premissa, meditemos nas seguintes e fundamentais advertências de Sto. Afonso Maria de Ligório sobre o verdadeiro conceito de Misericórdia e Justiça de Deus:
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No Evangelho deste dia, lemos que, depois de ter ido para o deserto, Nosso Senhor Jesus Cristo permitiu que o Diabo o colocasse sobre o pináculo do templo e lhe dissesse: “Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares o teu pé em alguma pedra (Sl 90,11s). ” Mas o Senhor respondeu que nas Sagradas Escrituras também está escrito:.. “Não tentarás o Senhor teu Deus”.
O pecador que se abandona numa vida de pecado sem que se esforce para resistir às tentações, ou sem, pelo menos, pedir a ajuda de Deus para vencê-las, e espera que o Senhor, um dia, o atraia a partir desse abismo, tenta Deus para que faça milagres, ou melhor, para que mostre a ele uma misericórdia extraordinária não estendida à maioria dos cristãos.
Como diz o Apóstolo, Deus “quer que todos os homens sejam salvos ” (I Tim 2: 4.), mas Ele também quer que todos nós desejemos trabalhar para a nossa própria salvação, pelo menos, adotando os meios de superar os nossos inimigos e de obedecê-lo quando Ele nos chama ao arrependimento.
Os pecadores ouvem os apelos de Deus, mas se esquecem desses apelos e continuam a ofendê-lo. Mas Deus não os esquece. Ele contabiliza as graças que nos dispensa, bem como os pecados que nós cometemos. Assim, quando o tempo que Ele fixou se completa, Deus nos priva de suas graças e começa a infligir o castigo.
Pretendo mostrar neste discurso que, quando os pecados alcançam um determinado número, Deus não mais perdoa. Preste atenção.

O número de pecados que Deus perdoará é fixo

1. São Basílio, São Jerônimo, São João Crisóstomo, Santo Agostinho e outros Padres ensinam, que, assim como Deus fixou para cada pessoa o número dos dias de sua vida, e os graus de saúde e talento que Ele lhes dará — de acordo com as palavras da Escritura: “Vós ordenastes todas as coisas na medida, número e peso” (Sb 11, 21) — assim também Ele determinou para cada um o número de pecados que Ele perdoaráE quando este número for concluído, Ele não perdoará mais.
2. “O Senhor me enviou para curar os contritos de coração” (Is 61, 1). Deus está pronto para curar aqueles que sinceramente desejam mudar suas vidasmas não pode ter pena do pecador obstinadoO Senhor perdoa pecados, mas Ele não pode perdoar aqueles que estão determinados a ofendê-lo.
Também não podemos exigir de Deus a razão pela qual Ele perdoa uma pessoa de uma centena de pecados, e a outros os arrebata dessa vida, enviando-os para o inferno, logo após três ou quatro pecados. Por Seu Profeta Amós, Deus disse: “Por causa de três transgressões de Damasco, e por quatro, não irei convertê-la” (1:3).
No entanto, devemos adorar os juízos de Deus, e dizer com o Apóstolo: “Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos!” (Rm 11, 33).
Aquele que recebe o perdão, diz Santo Agostinho, é perdoado pela pura misericórdia de Deus; e os que são castigados, são justamente punidos. Quantos Deus têm enviado para o inferno com a primeira ofensa?
São Gregório relata que uma criança de cinco anos, que havia chegado ao uso da razão, foi arrebatada pelo diabo e levada para o inferno por ter pronunciado uma blasfêmia.
A Santíssima Mãe de Deus revelou a uma grande serva de Deus, Benedita de Florença, que um rapaz de 12 anos, foi condenado após o seu primeiro pecado.
Outro menino de oito anos morreu depois de cometer seu primeiro pecado e se perdeu.
Você diz: “Eu sou jovem; há muitos que cometeram mais pecados do que eu”. Mas, por esse motivo, será Deus obrigado a esperar o seu arrependimento e sua obstinação em ofendê-lo?
No Evangelho de São Mateus (21, 19), lemos que o Salvador amaldiçoou uma figueira na primeira vez em que a viu sem frutos. “Que nenhum fruto cresça em ti doravante para sempre. E imediatamente a figueira secou.”
Você deve, então, tremer só de pensar em cometer um único pecado mortal, especialmente se você já tiver sido culpado de pecados mortais.

Quando a medida da culpa é completada, Deus castiga o pecador com Sua justiça

3. “A propósito de um pecado perdoado, não estejas sem temor, e não acrescentes pecado sobre pecado”.(Eclesiastes 05:05) Por isso — oh pecador! — Não diga: “Uma vez que Deus me perdoou outros pecados, Ele vai me perdoar este se eu cometê-lo.” Não diga isso, pois, se para o pecado que lhe foi perdoado você adiciona outro, você tem razão para temer, pois este novo pecado deve ser unido à sua ex-culpa, e, portanto, o número será completado, e você deve ser abandonado.
Eis como a Escritura se desenvolve essa verdade mais claramente em outro lugar: “Quanto às outras nações, o Senhor espera pacientemente, antes de puni-las, que tenham enchido a medida de suas iniquidades”. (2 Mac 6, 14)
Deus espera com paciência, até que certo número de pecados seja cometido, mas, quando a medida da culpa é completada, ele não mais espera, mas castiga o pecador. “Tu selaste como num saco os meus crimes, puseste um sinal sobre minhas iniquidades”. (Jó 14:17)
Os pecadores multiplicam seus pecados sem fazer-lhes conta, mas Deus contabiliza o número deles; então, quando a colheita está madura, ou seja, quando o número de pecados se completa, Ele pode vingar-se deles. “Tomai as foices, porque a colheita está madura”. (Joel 3:13)
4. Há muitos exemplos desses nas Escrituras. Falando dos hebreus, o Senhor em um só lugar diz: “Nenhum dos homens que viram a minha glória e os prodígios que fiz no Egito e no deserto, que me provocaram já dez vezes e não me ouviram, verá a terra que prometi com juramento aos seus pais. Nenhum daqueles que me desprezaram a verá”. (Num 14: 22-23)
Em outra passagem, Ele diz que conteve sua vingança contra os amorreus, porque o número de seus pecados não fora concluído: “Porque a iniquidade dos amorreus não chegou ainda ao seu cúmulo”. (Gen 15: 16)
Temos novamente o exemplo de Saul, que, depois de ter desobedecido a Deus uma segunda vez, foi abandonado. Ele suplicou a Samuel para interceder perante o Senhor em seu nome: “Agora, peço-te, perdoa o meu pecado, e volta comigo para que eu adore o Senhor”. (1 Sm 15:25) Mas, sabendo que Deus tinha abandonado Saul, Samuel respondeu: “Não voltarei contigo!, exclamou Samuel. Rejeitaste a palavra do Senhor, por isso o Senhor te rejeita, e não quer mais que sejas rei de Israel”, etc (15: 26) Saul, você abandonou Deus, e Ele o abandonou.
Nós temos outro exemplo em Baltazar que, depois de ter profanado os vasos do templo, viu uma mão escrevendo na parede, Juba, Thecel, Farés. Daniel foi chamado para expor o significado dessas palavras. Ao explicar a palavra Thecel, disse ao rei: “Pesado foste na balança, e foste achado em falta” (Dn 5:27) Por esta explicação, deu a entender ao rei que o peso de seus pecados na balança da justiça divina havia pendido desfavoravelmente para ele. “Na mesma noite Baltazar, o Rei caldeu, foi morto”. (Dn. 5:30)
Oh! Quantos pecadores têm encontrado o mesmo destino! Continuando a ofender a Deus até que seus pecados chegaram a certo número, eles têm sido feridos de morte e merecido o inferno! “Passam os seus dias na riqueza, e em um momento são lançados no Inferno”. ( Jó 21:13)
Tremam, irmãos, pois se vocês cometem outro pecado mortal, Deus deveria lançá-los no inferno.
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Alphonsus Liguori, Sermons for All the Sundays in the Year, London: James Duffy & Sons, 1882, pp. 113-115.

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