sábado, 29 de fevereiro de 2020

UMA REFLEXÃO SOBRE A OCIOSIDADE

“QUEM NÃO QUER TRABALHAR, É JUSTO QUE NÃO COMA”
Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est
Neste artigo do Revmo. Pe. Lethu, da FSSPX, falaremos sobre a “ociosidade”, coisa muito perigosa que abre a porta ao demônio e a inúmeros pecados. Aprendamos, então, como combatê-la para não nos tornar “irmãos moscas” como São Francisco de Assis chamava os ociosos.
Caro fiéis:
O mundo moderno realmente não me conhece, mas muito me ama, a tal ponto que me oferece gratuitamente técnicas que permitam me desenvolver para que as pessoas, sem perceberem, desperdicem seu tempo. O mundo moderno quase nunca fala de mim, mas bebe de minhas águas viciosas dia a dia. Comigo, as virtudes e as obras de misericórdia desaparecem da face da terra e os piores vícios se multiplicam todos os dias. O mundo moderno me quer unanimemente porque satisfaço o egoísmo de cada um. Pior ainda, a juventude moderna se casou comigo e me abraça tanto que não podem viver sem mim. Quem sou? Sou um pecado pouco conhecido, mas muito comum. A Sagrada Escritura me chama “a mãe de todos os vícios”. Eu sou a ociosidade!
Quem são os ociosos?
Se podem chamar ociosos:
  1. Aqueles que negligenciam sua salvação, vivendo como se não tivessem uma alma para salvar. Uma coisa é necessária: nossa salvação, e eles não se importam.
  2. Aqueles que seguem suas paixões deixando-se dominar por elas, como na parábola do filho pródigo (Lc 15, 11-32).
  3. Aqueles que se deixam devorar pelas coisas temporais, esquecendo os assuntos eternos.
  4. São ociosos aqueles que não fazem nada no dia, consumindo seu tempo em conversas inúteis, brincando, dormindo … chateando, navegando como internautas em águas turvas, pendurados no celular, divertindo-se ao invés de trabalhar … São Francisco de Assis chama os religiosos ociosos de “Irmãos Moscas”, porque a única coisa que fazem é irritar aqueles que trabalham. Como a mosca, eles têm uma vida sem obras, inútil, preguiçosa, indigna de um homem.
  5. Aqueles que fazem outra coisa ao invés do seu dever, seguindo seus caprichos; por exemplo, praticar ou assistir esportes antes das tarefas e/ou antes da convivência em família. Cuidado, se a Igreja condena a ociosidade, não condena os esportes e diversões saudáveis ​​e oportunas. Um dia, um estrangeiro que estava armado, com arco e flechas, surpreendeu a São João Apóstolo, evangelista e Bispo de Éfeso, brincando em um momento de descanso com uma perdiz domesticada. Ele a tinha em uma mão, e o pequeno animal ia subindo em suas costas, até empinar-se sobre sua cabeça. Este estrangeiro manifestou ao apóstolo a sua estranheza diante desse espetáculo e San Juan perguntou por que ele portava o arco desarmado? O estrangeiro respondeu: “Porque o arco sempre armado perde sua força“. E São João respondeu: “Assim também acontece com homens muito afetados em sua fadiga e cuidados; para que estas não destruam a força do espírito, devem buscar um passatempo honesto em diversões inocentes”. Muitas vezes, de fato, os passatempos são mais do que um prazer, são uma necessidade do espírito. É por isso que se diz: “Bem é relaxar, depois de trabalhar“.
  6. Aqueles que trabalham sem pureza de intenção, isto é, sem oferecer seu trabalho a Deus. Essas pessoas podem fazer boas e santas obras em si mesmas, mas buscam sua própria satisfação ou os louvores das criaturas, em vez de se referi-las a Deus.
Gravidade da ociosidade
A ociosidade é a violação de um preceito divino: “com o suor do seu rosto ganharás seu pão“, disse Deus diz a Adão depois do pecado original. E São Paulo ressalta: “ Nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão. E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão.” (2 Tes. 3, 8-15).
Permanecer ocioso é abrir a porta para ao demônio e todos os vícios. A água, quando corre, mantém sua nitidez, mas quando ela deixa de correr ela fica turva, prejudicial, fétida, pantanosa. Da mesma forma, quando Sansão luta contra os inimigos do seu povo, é invencível, mas quando ele dorme sobre os joelhos de uma mulher, perde sua força, suas virtudes e sua glória. Davi quando está encabeçando o exército é casto, doce e justo, mas ocioso em seu palácio torna-se impudico, injusto e cruel … “uma ocupação prudente – diz Jerônimo – é o escudo do coração“.
Permanecer ocioso é perder duas coisas que têm um preço infinito: o tempo e a graça. Sem o tempo e sem a graça, como conquistar o céu? Perdê-los em coisas inúteis é expor-se a perder a alma por toda a eternidade. O que o Senhor não sofreu em sua paixão por todo esse tempo desperdiçado? É por isso que Deus odeia tanto a ociosidade. “Quando penso em como usei o tempo“, diz San Francisco de Sales, “receio que Deus não me dê sua eternidade, porque ele só dá àqueles que usaram bem seu tempo“.
Remédios para ociosidade
  1. Olhemos sem cessar a Nosso Senhor. Depois de ter dado o exemplo, Nosso Senhor envia seus apóstolos ao trabalho. E nós, pecadores, permaneceríamos ociosos, confortavelmente?
  2. Mantenhamo-nos na presença de Deus colocando todo nosso coração no cumprimento de Sua Vontade. “Vontade de Deus, és meu paraíso“, exclamava Santa Teresa.
  3. Julguemo-nos e castiguemo-nos quando perdemos tempo e assim Deus não nos julgará. 
  4. Obriguemo-nos a obedecer regras, horários fixos, tanto quanto possível. Há uma hora católica para deitar-se. Há uma hora católica para levantar-se, para fazer as orações da manhã, para tomar café da manhã, para trabalhar, para comer, para fazer as tarefas, para jogar/brincar … para voltar do trabalho, para recitar o rosário em família, para jantar juntos e fazer o oração da noite juntos.
  5. O céu sofre violência e são os violentos que o ganham“, diz Nosso Senhor. Deixemo-nos então ser exigentes para com nós mesmos, antes de tudo encontrando a energia necessária na oração freqüente e nos sacramentos bem recebidos.
Que o demônio os encontre sempre ocupados“, diz São Jerônimo, “e assim não poderá vencê-los“.
Padre Donatien Lethu, FSSPX +

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

A FAMÍLIA COMO SANTUÁRIO E ESCOLA DE SANTIDADE

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est
Entre as mil maneiras apresentadas perante ao Verbo para aparecer em carne mortal entre nós e realizar a nossa Redenção, escolheu uma: ter uma Mãe, a quem fez Imaculada, e pela qual a quis desposada com um varão eminentemente justo, da altura de sua Mãe, para velar assim pela boa honra da Santíssima Virgem; assemelhando-se, deste modo, em tudo a nós, exceto no pecado.
Ou seja, o Verbo Encarnado quis levar uma vida em família e que essa vida em família fosse o começo da obra redentora. E isso por muitas razões, mas especialmente por duas, que gostaria de destacar hoje:
  1. Para nos mostrar a vida espiritual sob uma faceta conhecida e atraente: a vida em família;
  2. Para santificar o lar cristão em todos os seus aspectos, convertendo-o em fonte de santidade para os seus membros e mostrando-o como o princípio de todas as virtudes.
A vida espiritual assume o aspecto de uma vida familiar.
Deus quis calcar a vida sobrenatural sobre a vida natural, colocando assim semelhanças entre elas, de modo que não nos fosse completamente desconhecida, mas, pelo conhecimento que temos da vida natural, possamos intuir pelo menos um pouco o que é a vida sobrenatural. E assim, a vida sobrenatural como a vida natural, conta com:
  • Um nascimento, não mais da carne ou do sangue, mas de Deus, através do Batismo;
  • Uma virilidade e um fortalecimento: a Confirmação;
  • Uma alimentação adequada: a Sagrada Eucaristia;
  • Uma respiração: a oração;
  • Uma luz: a fé na palavra de Deus contida na Revelação;
  • Uma instrutora: a Santa Mãe Igreja;
  • Uma educação: as diretrizes da Igreja e seu Magistério, adaptadas às almas consagradas mediante suas Regras ou Estatutos;
  • Uma atividade própria: o exercício das virtudes sobrenaturais;
  • Uns Inimigos que a combatam incessantemente: a tripla concupiscência (inimigo interno), o mundo e o demônio (inimigos externos);
  • Umas enfermidades: as imperfeições, o pecado venial e a tibieza;
  • Um médico: o sacerdote, ministro de Jesus Cristo;
  • Alguns remédios: a virtude e a eficácia do Sangue de Jesus Cristo, aplicadas através da oração e dos Sacramentos;
  • Uma morte: o pecado mortal;
  • Uma ressurreição (que a vida natural não tem): a Penitência;
  • Uma lei de crescimento e propagação: “Crescei-vos e multiplicai-vos”. “Crescei-vos” é o dever da santificação pessoal; “Multiplicai-vos” é o dever do apostolado e da edificação mútua.
Mas todas essas semelhanças estão incluídas em uma maior, que abrange todas: a vida sobrenatural, como a vida natural, tem sua Família própria: família sobrenatural, na qual Deus é o Pai, Maria é a Mãe, Jesus Cristo o Filho primogênito, e os Anjos e os Santos os demais irmãos. E a partir desta família recebemos tudo o que foi mencionado anteriormente: o nascimento, o alimento, o fortalecimento, a luz, a respiração, a cura e tudo mais que seja necessário para atingir a plenitude da saúde e robustez espiritual.
Muito importante esta verdade: a criança adquire na família tudo o que lhe será necessário e proveitoso para o futuro. Nosso futuro, do ponto de vista sobrenatural, é a eternidade: portanto, tudo o que nos há de ser proveitoso ou necessário para a bem-aventurada eternidade pela qual Deus nos criou, deve ser adquirida nesta vida por meios de disposições filiais para com Deus, para com Maria, para com Jesus Cristo.
Conhecer a nosso Deus Pai, para amá-lo e obedecê-lo filialmente; conhecer nossa Mãe Maria, para reverenciá-la e imitá-la; conhecer nosso Irmão Maior, Jesus Cristo, para aprender com Ele a ser filhos muito amados do Pai; conheça nossos Irmãos Menores, os Santos, para ver como eles nos precederam nesta vida familiar: tal é o resumo de nosso trabalho de santificação, visto sob o aspecto positivo e atrativo de uma feliz e íntima vida em família. “Já não somos”, diz São Paulo, “para Deus estranhos ou recém-chegados, mas concidadãos dos Santos e familiares de Deus” (Ef 2,19).
Vida familiar, santificada em todos os seus aspectos pela família de Nazaré.
A família de Nazaré santifica:
  • Em José, o dever do pai, dando-nos o modelo de providência solícita, de bom governo, de amor e respeito pela esposa, de trabalho;
  • Em Maria, o dever da mãe, dando-nos o modelo de submissão afetuosa, de dedicação aos filhos, de santificação pelas simples tarefas do lar;
  • Em Jesus, o dever das crianças, dando-nos o modelo de submissão, de obediência, de assistência e socorro.
Em todos os três encontramos:
  • A santificação das cruzes familiares: dúvidas de São José, escassez de Belém, fuga para o Egito, perda do Menino Jesus no templo, etc.
  • A santificação pela observância da Lei de Deus: circuncisão, apresentação no templo, purificação de Maria …
  • A santificação pelo cumprimento do dever religioso: Jesus no templo aos 12 anos, acompanhando seus pais.
Deste modo, a vida familiar se torna, se vale a pena compará-la, o noviciado ou seminário das virtudes cristãs. Lá as crianças:
  • Aprendem a amar e praticar as virtudes;
  • Aprendem a evitar o pecado e a vencerem-se (a si mesmo): Nossa Senhora fazendo a seu Filho aquela doce reprovação: Filho, por que agiste assim conosco? (Os pais corrigem seus filhos quando e como é devido, ou seja, no momento apropriado, sem mostrar paixão ou raiva?) …
  • São protegidos contra os perigos do mundo: São José, protegendo a vida do Menino Jesus contra as insídias de Herodes; ou procurando-o perdido no templo (os pais protegem como devem a seus filhos, se preocupam por onde e com quem estão seus filhos?) …
  • São instruídos nas verdades da santa religião: os doutores de Jerusalém, perplexos pela prudência e a sabedoria das perguntas de Jesus, fruto em parte das instruções recebidas de José e Maria (os pais instruem seus filhos, ensinando-lhes a santa religião, o catecismo?) …
Conclusão
Que Jesus e Maria, depois de nos terem dado o exemplo final de vida doméstica, abençoem nossas famílias cristãs, para que produzam eminentes frutos de santidade, concretizados em filhos santos, que serão amanhã santos cristãos, santas cristãs e talvez possíveis vocações sacerdotais ou religiosas;
Que eles também nos dêem, com Deus e Maria, sentimentos inteiramente filiais em todas as nossas relações com eles (oração, abandono, resignação nas cruzes da vida, cumprimento de nosso dever de estado, arrependimento de nossas faltas, confiança) e nos conduzam assim um dia à grande família de Deus que é o céu e a herança prometida por Deus aos que são e vivem como filhos Seus muito amados.
Padre José María Mestre Roc
Revista Espanhola Tradición Católica, 248

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

SÃO JOSÉ: UMA VOCAÇÃO À VIRTUDE ESCONDIDA

Fonte: FSSPX/Distrito da Grã-Bretanha – Tradução: Dominus Est
São José, uma vocação oposta a dos apóstolos
Bossuet em seu primeiro panegírico do santo diz: “Dentre as diferentes vocações, noto duas nas Escrituras que parecem diretamente opostas: a primeira é a dos Apóstolos, a segunda a de São José.
  • Jesus foi revelado aos apóstolos para que eles pudessem anunciá-Lo por todo o mundo; Ele foi revelado a São José, para que permanecesse em silêncio e O mantivesse escondido.
  • Os Apóstolos são luzes para fazer o mundo ver Jesus; José é um véu para cobri-Lo; e sob esse misterioso véu estão escondidos de nós a virgindade de Maria e a grandeza do Salvador das almas
  • Aquele que torna os apóstolos gloriosos com a glória da pregação glorifica José pela humildade do silêncio”. A hora da manifestação do mistério da Encarnação ainda não chegara: deveria ser precedida pelos trinta anos de vida escondida.
São José, uma vocação superior a dos apóstolos
A vocação do silêncio e da obscuridade de São José ultrapassou a dos Apóstolos porque se aproximava mais da Encarnação redentora. Depois de Maria, José estava mais próximo do Autor da graça, e no silêncio de Belém, durante o exílio no Egito, e na pequena casa de Nazaré ele recebeu mais graças do que qualquer outro santo.
Dupla era a sua missão. Em relação a Maria, ele preservou sua virgindade contraindo com ela um casamento verdadeiro, mas totalmente sagrado. Maria encontraria ajuda e proteção em São José. Ele a amava com um amor puro e devotado, em Deus e por Deus.
No que diz respeito ao Verbo Encarnado, José vigiava, protegia e contribuía para a Sua educação humana. Ele é chamado Seu pai adotivo, mas o termo não expressa totalmente a misteriosa relação sobrenatural entre os dois. Os Apóstolos temiam o menor perigo, mas Deus lhes deu um novo coração e sua coragem tornou-se destemida… A mesma mão deu a José o coração de um pai e a Jesus o coração de um filho. É por isso que Jesus obedece e José não teme ordenar.
Como ele tem coragem de mandar em seu Criador? Porque o verdadeiro Pai de Jesus Cristo, o Deus que Lhe dá nascimento desde toda a eternidade, tendo escolhido José para ser o pai de Seu único Filho no tempo, infundiu dentro de seu peito algum raio ou alguma centelha de Seu infinito amor por Seu Filho; foi isso que mudou seu coração, foi isso que lhe deu o amor de um pai, e José, o homem justo que sente o coração do pai dentro dele, sente também que Deus deseja que ele use sua autoridade paterna, de modo que ele ousa comandar Aquele que ele sabe que é seu Mestre.
A vocação de São José para o escondimento é também nossa
Bossuet faz essa observação geral sobre as virtudes da vida escondida: “É uma debilidade comum dos homens entregarem-se inteiramente ao que está fora e negligenciar o que está dentro; trabalhar por meras aparências e negligenciar o que é sólido e duradouro; pensar frequentemente na impressão que causam e pouco no que eles deveriam ser.
É por isso que as virtudes mais altamente consideradas são aquelas que dizem respeito à conduta e direção das coisas. As virtudes escondidas, pelo contrário, que são praticadas longe da visão pública e sob o olhar de Deus, não são apenas negligenciadas, mas mal sequer se ouve falar delas.
E, ainda assim, este é o segredo da verdadeira virtude… um homem deve ser interiormente forjado em si mesmo antes de merecer ser posto entre outros; e se esta base estiver faltando, todas as outras virtudes, por mais brilhantes que sejam, serão meras exibições… não farão o homem de acordo com o coração de Deus. José buscou a Deus em simplicidade; José encontrou Deus em desapego; José desfrutou da companhia de Deus na obscuridade.”
Honremos São José
Honremos hoje a São José:
  • buscando a sua proteção – a mesma proteção que ele deu à sua esposa e ao Menino Jesus;
  • rezando para que a mesma centelha de infinito amor paternal por Jesus, no coração de José, estenda-se às nossas almas para também nos comandar;
  • e implorando pela graça, através das mãos de sua esposa, a Santíssima Virgem Maria, para que possamos crescer em virtude escondida neste mundo, a fim de cantar a glória de Deus e São José na próxima. Amém.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O JEJUM E A ABSTINÊNCIA



Com o intuito de fazer penitência por nossos pecados, de melhor nos dispor para a oração e de estar unidos aos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santa Igreja nos pede, nos tempos de penitência, que ofereçamos jejum e abstinência a Deus.
O Jejum:
Praticado desde toda a Antiguidade pelo povo eleito, como sinal de arrependi­mento, praticado por Nosso Senhor Jesus Cristo e por todos os santos, recomendado pela Santa Igreja como instrumento de santificação da alma, de controle do corpo e equilíbrio emocional, o jejum obrigatório foi sendo reduzido ao longo dos séculos.
Quando devemos jejuar por obrigação?
Na Quarta-feira de cinzas, abertura da Quaresma
Na Sexta-feira Santa, dia da morte de Nosso Senhor.
No entanto, todos os católicos devem ter a mortificação e o jejum presentes em suas vidas ao longo do ano, principalmente durante o Advento, a Quaresma e nas Quatro Têmporas, tendo sempre o espírito mortificado, fugindo do excesso de conforto e prazeres e, na medida do possível, oferecendo alguns sacrifícios a Deus, seja no comer, no beber, nas diversões (televisão principal­men­te), nos desconfortos que a vida oferece (calor, trabalho, etc.), sabendo suportar os outros, tendo paciência em tudo.
Assim sendo, mesmo não sendo obrigatório, continua sendo recomendado o jejum nas Quartas e Sextas da Quaresma e do Advento, guardando-se sempre o espírito pronto para as pequenas mortificações também nos demais dias.
Quem deve jejuar?
As pessoas maiores de 21 anos são obrigadas. Mas é evidente que os adolescentes podem muito bem oferecer esse sacrifício sem prejuízo para a saúde.
Quanto às crianças menores, mesmo alimentando-se bem, devem ser orientadas no sentido de oferecer pequenos sacrifícios, e acompanhar a frugalidade das refeições.
As pessoas doentes podem ser dispensadas (é sempre bom pedir a permissão ao padre)
As pessoas com mais de sessenta anos não têm obrigação de jejuar, mas podem fazê-lo se não houver perigo para a saúde.
Como jejuar nos dias de jejum obrigatório?
– Café da manhã mais simples que de hábito: uma xícara de café puro, um pedaço de pão, uma fruta.
– Almoço normal, mas sem carne (peixe pode), sem doces e sobremesas mais apetitosas, sem bebidas alcoólicas ou refrigerantes.
– No jantar, um copo de leite ou um prato de sopa, um pedaço de pão, uma fruta.
São inúmeras as passagens das Sagradas Escrituras referentes ao jejum. Eis algumas poucas referências:
II Reis XII,16
Tobias XII,8
Daniel I, 6-16
S. Mateus IV,1
S. Mateus VI, 17
S. Mateus XVII,20
Atos XIV,22
II Coríntios VI,5
A Abstinência de carne 
Dentro do mesmo espírito de mortificação, pede-nos a Santa Madre Igreja a mortificação de não comer carne às sextas-feiras, o ano todo, de modo a honrar e adorar a santa morte de Nosso Senhor. (ficam excluídas as sextas-feiras das grandes festas, segundo a orientação do padre).
A abstinência ainda é praticada e, diferente do jejum, começa desde a adolescência, a partir dos quatorze anos.
Nas sextas-feiras do ano, e mais ainda durante os tempos de penitência, saibamos oferecer esse pequeno sacrifício a Nosso Senhor. Se vamos a um restaurante, peçamos peixe (muitos restaurantes ainda hoje servem pratos de peixe nas sextas-feiras).
O Jejum eucarístico
O jejum eucarístico é o fato de se comungar sem nenhum alimento comum no estômago, em honra à Santíssima Eucaristia.
O espírito do jejum eucarístico  é de receber a Santa Comunhão como primeiro alimento do dia. Quando o Papa Pio XII modificou a disciplina do jejum eucarístico, devido à guerra, salientou que todos os que podiam deviam praticar esse jejum, chamado natural : só tomar alimento depois da comunhão. Quem assiste à Santa Missa cedo pode, muitas vezes, praticar esse jejum.
Apesar da lei eclesiástica em vigor determinar apenas uma hora antes da comunhão para o jejum eucarístico, todos os padres sérios pedem a seus fiéis que se esforçem para deixar três horas, visto que uma hora não chega a ser nem mesmo um sacrifício.
Caso as crianças ou pessoas debilitadas precisarem tomar algo antes da comunhão, com menos de três horas, procurem, ao menos, tomar apenas líquido, um copo de leite, por exemplo. Porém, tendo se alimentado com menos de uma hora antes da hora da comunhão, não se deve, de modo algum, se aproximar da Sagrada Mesa.
O jejum, a abstinência e o confessionário
Como o jejum e a abstinência fazem parte dos mandamentos da Igreja, devemos nos empenhar  para praticá-los por amor de Deus. Caso haja alguma negligência ou fraqueza da nossa vontade que nos leve a quebrar o santo jejum ou a abstinência, devemos nos arrepender por não termos obedecido ao que nos ordena nossa Santa Madre Igreja, confessando-nos por termos assim ofendido a Deus.
Nos casos de esquecimento, devemos substituir essa obra por outra equivalente, como fazer o jejum em outro dia, rezar um terço, etc.
É sempre bom lembrar que a água pura não quebra o jejum.
As pessoas inclinadas à mortificação e ao jejum  não devem nunca determinar um aumento de penitência sem o consentimento explícito do sacerdote responsável. O demônio usa muito o excesso de penitência corporal para enfraquecer a alma. Tudo fazer na obediência.
Fonte: Permanencia

O PECADO DA MURMURAÇÃO: QUÃO FÁCIL É FALAR E QUÃO DIFÍCIL É CALAR!

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est
A Murmuração é uma língua de víbora, que de um só golpe fere três pessoas (Rm 1,30): O murmurado, o que ouve e o murmurador, odiado por Deus (São Bernardo).

A) Aquele de quem se murmura

As Sagradas Escrituras e os Santos Padres frequentemente chamam a murmuração de homicídio, porque arrebata a vida social, mais estimável que a do corpo.

“Os pecados cometidos contra o próximo são medidos pelos danos que causam … O homem desfruta de um triplo bem, a saber: o da alma, o do corpo e a dos bens exteriores … Entre esses últimos, a fama supera muito as das riquezas, porque se opõe aos bens espirituais, pela qual se diz nos Provérbios (22,1): “O bom nome vale mais do que riquezas“. Portanto, a murmuração, embora seja um pecado menor que o homicídio e o adultério é, sem dúvidas, maior que o roubo” (São Tomás de Aquino).
Matéria grave é ferir a reputação de alguém, uma vez que é o maior bem do homem, e perde-la lhe impede trabalhar muitos bens que seriam capazes”, conforme o Eclesiástico (41,15): “Cuide do seu nome, que permanece mais que milhares de tesouros ” (São Tomás de Aquino).
O homem de juízo dá por bem empregado qualquer dispêndio destinado a recuperar sua boa reputação. Então aquele que o priva dela prejudica-o mais que roubando-lhe. Eis como o murmurador profissional é mal visto. Apesar disso, temos vergonha de ter cometido um roubo e não temos de haver murmurado vinte vezes.

B) O que ouve murmurar

1- Incita a pecar
“Vamos admitir que ninguém deu ouvidos aos detratores; certamente estes não se atreveriam… Logo, se alguns murmuram, deve-se culpar aqueles que lhes ouvem” (São Jerônimo).
“Se os murmuradores comprovaram que fugíamos deles mais do que aos censurados, eles perderiam o mau hábito” (São João Crisóstomo)
2 – Agrava nossos pecados 
“O demônio nos induz a este, de modo que, descuidando do que nos interessa, aumenta nosso reato, porque não consiste apenas no seu mal na conta que devemos dar aos nossos ditos, senão que os nossos pecados se agravam ao privarmos de todas as desculpas. Aquele que censura duramente o próximo se priva de toda vênia. Deus ditará a sentença atendendo não apenas às nossas falhas, mas à maneira como julgamos os outros. “Não julgueis e não sereis julgados” (Mt 7,1). Nosso pecado não aparecerá então como tem sido neste tempo, mas se somará uma grande e inevitável quantidade devido a nossos julgamentos” (São João Crisóstomo).
3 – Impede a perfeição
O primeiro passo para ela deve ser negar-se a ouvir a murmuração, porque não há nada que inquiete mais a alma e é entrada à ódios, dissensões, animosidades e dissipação do espírito, como ela (São Jerônimo)

C) Ao murmurador


Seu pecado é grande. Por três razões:

  1. Falta à Caridade
  2. Revela um fundo mal. Gozo em derrubar uma reputação.
  3. Normalmente denota hipocrisia. Desejo de justificar suas próprias falhas.
Pecado mortal ou venial? 
1.- Pode ser venial devido à paridade da matéria.
2.- Mas muitas vezes não são pequenas nem levianas (as coisas) como algumas pessoas acham que são (Pe. Alonso Rodríguez). “Não basta dizer que é uma palavra levada pelo vento (à toa), porque a murmuração voa, mas fere gravemente; passa rápido, mas queima atrozmente” (São Bernardo). 

Remédios e conselhos contra murmúrios

Fugir do maledicente
1.- “O prudente vê o perigo e se esconde” (Prov. 22)
2.- Não fugirias daquele que removeu o estrume? (São João Crisóstomo)
Repreender-lhe
1 –  “E aqueles que ouvem os maledicentes lhes aviso que tapem os ouvidos e imitando o profeta digam: “Reduzirei ao silêncio o que detrata em segredo seu vizinho “(Sl 100,5)..
2 – “Diga-lhe: Você tem alguém a quem louvar e exaltar? Te escuto e ouço. Mas, se você quer falar mal, fecho meus ouvidos, porque não estão acostumados a receber estrume e lama” (São João Crisóstomo).
Se o murmurador for superior
Mude a conversa ou mostre um semblante distraído ou triste.

 

O CURA DE ARS
“Ao julgar o próximo, devemos sempre levar em conta a sua fraqueza e sua capacidade de se arrepender. Normalmente, quase sempre, em seguida, é preciso corrigir nossos julgamentos sobre os outros, já que, uma vez examinados bem os fatos, nos vemos forçados a reconhecer que aquilo que foi dito era falso.  Geralmente nos acontece o que ocorreu com aqueles que julgaram a casta Susana fundando-se na delação de duas testemunhas falsas, sem dar-lhe tempo para se justificar (Dn 13,41), outros imitam a presunção e a maldade judeus, que declararam Jesus blasfemo (Mt 9, 3 ..) e endemoniado (Jo 7, 20, etc); outros, finalmente, se comportam como aquele fariseu que, sem se preocupar em investigar se Magdalena havia renunciado ou não às suas desordens, e embora a tenha visto em um estado de grande aflição acusando seus pecados e chorando-os aos pés de Jesus Cristo seu Salvador e Redentor, não deixou de considera-la como uma infame pecadora” (Lc 7, 39).

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

SÃO PIO X, SANTO PROVIDENCIAL DOS TEMPOS MODERNOS

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Quando Pio XII canonizou São Pio X, em 29 de maio de 1954, não deixou de chamar-lhe repetidamente, no discurso de canonização, “o santo dado pela Providência para a nossa época”, “o santo providencial do tempo presente”, “o santo providencial de nossos tempos”. E, de fato, na pessoa de São Pio X podemos ver, em ordem à Igreja, uma tríplice Providência de Deus:
  • A Providência pela qual o retira de uma humilde família de Riese, conduzindo-o por todos os graus e cargos da hierarquia, até estabelecê-lo no Sumo Pontificado.
  • A Providência pela qual a sua ação não se limita ao tempo de sua vida, mas que perdura nos tormentosos tempos posteriores.
  • A Providência pela qual o Supremo Magistério reconhece a ação providencial de José Sarto, de Pio X, e a confirma.
1 – Providência primeira
Podemos vê-la assinalada nas palavras do Introito da Festa de São Pio X: “Do meio do povo tirei o meu eleito; ungi-o com o meu óleo santo; a minha mão o sustentará, e o meu braço lhe dará firmeza”.
É admirável ver como Deus, de maneira suave, mas precisa, vai guiando a esse humilde filho de um oficial, que nem sequer tem com que pagar os estudos, por todos os graus da hierarquia: exemplar seminarista entre seus companheiros, depois vigário em Tombolo (9 anos), pároco de Salzano (9 anos), cônego de Treviso, diretor espiritual do seminário desta mesma diocese, chanceler secretário do bispo (8 anos), bispo de Mântua (9 anos), cardeal e patriarca de Veneza (9 anos). Uma longa preparação de 45 anos de sacerdócio, e de 19 anos de vida episcopal, dedicada às necessidades das almas, da formação sacerdotal, da Igreja, dos erros e perigos que a combatem, e dos melhores meios para promover a difusão e a defesa da fé e da Igreja.
Aos 68 anos o cardeal José Sarto chega ao Sumo Pontificado, em 1903; e nos recorda assim a outras figuras, como Moisés, chamado por Deus aos 80 anos, ou como nosso próprio fundador, Monsenhor Lefebvre, chamado à sua principal missão aos 65 anos: só então a Providência divina brilha com todo o seu esplendor: • que, tendo já prevista a eleição de José Sarto como sumo Pontífice, o fez passar por todas as etapas que mais lhe seriam úteis para cumprir seu pontificado com eficácia; • e que prepara seu instrumento, aperfeiçoando-o, para poder produzir depois, com grande eficácia e em muito pouco tempo, uma obra imensa.
2 – Providência segunda
Podemos vê-la no fato de que o Supremo Magistério, pela boca do Papa Pio XII, reconhece a missão providencial de São Pio X para a Igreja dos tempos modernos, afirmando que a Igreja há de continuar nas pegadas de Pio X, e confirmando tudo o que foi feito por Pio X.
“Em Pio X se revela o arcano da sábia e benigna Providência, que assiste à Igreja, e por meio dela o mundo em todas as épocas da história. Que significaria – a princípio, perguntaríamos – o nome de Pio X? Nos parece vê-lo agora claramente. Por sua pessoa e por sua obra, Deus quis preparar a Igreja para os novos e árduos deveres que os tormentosos tempos futuros lhe reservavam. Preparar a tempo uma Igreja concorde na doutrina, firme na disciplina, eficaz em seus pastores: um laicato generoso, um povo instruído, uma juventude santificada desde os primeiros anos, uma consciência cristã atenta aos problemas da vida social. Se hoje a Igreja de Deus, longe de retroceder frente as forças destruidoras dos valores espirituais, sofre, combate e, pela divina virtude, avança e redime, deve-se em grande parte à ação clarividente e à santidade de Pio X. Hoje aparece manifesto como todo seu pontificado foi sobrenaturalmente dirigido segundo um desígnio de amor e de redenção, para dispor os ânimos e afrontar nossas próprias lutas, e para assegurar nossas vitórias e as vitórias vindouras” (Pio XII, discurso de beatificação de Pio X, 3 de julho de 1951).
Assim, pois, o Supremo Magistério da Igreja, fazendo eco da então universal veneração a Pio X, não por alguma coação nem entre relutâncias, mas com todo o entusiasmo e iniciativa de Pio XII, em atos soleníssimos, quais são os da beatificação e canonização, proclama que São Pio X teve a missão de ancorar a Igreja para os tempos vindouros, que seriam tempestuosos, de modo que nesses momentos haverá que se referir a sua obra para assegurar a vitória da Igreja. Nada mais alentador que poder apoiar-se deste modo no Supremo Magistério, para levar a cabo, assegurados pela Roma eterna, a luta contra o pseudo-magistério conciliar, contra a Roma neomodernista.
3 – Providência terceira
Pode-se ver no Evangelho da festa de São Pio X, que nos recorda o tríplice ato de amor de São Pedro: “Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?… Apascenta meus cordeiros… apascenta minhas ovelhas… apascenta minha ovelhas”; pois a três atos principais de fidelidade resume Pio XII, no discurso de canonização, a ação providencial e a posterior missão de Pio X, retomando o já dito em discurso de beatificação: preparar a tempo uma Igreja • firme na disciplina, • concorde na doutrina, • eficaz e santa nos pastores.
1 – Firmeza na disciplina (primeiro “apascenta meus cordeiros”). São Pio X, para realizar seu programa de instaurar tudo em Cristo, de voltar e levar tudo à unidade em Cristo, deu-se conta de que o grande meio era a Igreja. A esta Igreja quis em concreto fazer mais apta e mais disposta para levar os homens a Cristo, mas não modificando-a em sua definição, em suas estruturas, em seu meios, mas renovando o corpo das leis eclesiásticas, para conferir assim o inteiro organismo da Igreja em funcionamento mais regular e maior segurança e agilidade de movimentos, segundo o que requeriam as condições do mundo moderno.
“São Pio X – prossegue Pio XII – é o santo providencial do tempo presente, em primeiro lugar, pelo código de direito canônico, que continuará sendo sua obra pessoal (embora não fosse promulgado, mas por seu sucessor) e o grande monumento de seu pontificado: nele a Igreja fica como ancorada em sua própria noção, em suas estruturas divinas e humanas, em seus meios de ação e de apostolado, em seus direitos.
Ao referir-nos, pois, nos tempos turbulentos atuais, ao direito codificado por São Pio X, estamos seguros de encontrar toda a sabedoria e a prudência da Igreja, tudo o que a tradição dos apóstolos, dos pontífices, dos concílios, puderam legislar de melhor em ordem a defender e propagar a santa Igreja de Deus”.
2 – Concórdia na doutrina (segundo “apascenta minhas ovelhas”). O segundo motivo pelo qual Pio XII denomina São Pio X “campeão invicto da Igreja” e “santo providencial de nossos tempos” é por sua segunda empresa: a defesa do tesouro inestimável da unidade da Igreja em seu fundamento íntimo: a fé. Na lucidez e firmeza (que não conheceu titubeio algum) com a qual Pio X dirigiu a luta vitoriosa contra os erros do modernismo, vê Pio XII a realização literal das palavras do Senhor a São Pedro: “Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu confirmas a teus irmãos” (Lc 22 32).
“Justo é – conclui Pio XII – que a Igreja invoque hoje a intercessão deste santo Papa, para que afaste dela outras batalhas semelhantes: Nós, de nossa parte, vemos como Pio XII entreviu com clareza a necessidade de exaltar a São Pio X nesta obra doutrinal, como entrevendo as lutas que estes mesmos erros refutados e condenados por São Pio X voltariam a apresentar à Igreja. Ao ensino, pois, e à fidelidade de São Pio X, podemos e devemos acudir – disse-nos o Supremo Magistério – para assegurar a vitória.
3 – Eficácia e santidade nos pastores (terceiro “apascenta minhas ovelhas”). São Pìo X, ensina-nos Pio XII, viveu sempre, como humilde pároco, como bispo, como Pontífice Supremo, orientado à busca da santidade sacerdotal. Pois bem, qual é a santidade que convém ao sacerdote, ao representante do sumo e eterno sacerdote, Jesus Cristo, senão a que está fundamentada na Santa Missa, na perpétua renovação do sacrifício da Cruz? Por isso, toda a vida de São Pio X – continua dizendo Pio XII – compreendia em viver o mistério da Sagrada Eucaristia.
“Na profunda visão que possuía da Igreja como sociedade, Pio X conheceu o poder que tem a Eucaristia para alimentar sua vida íntima e elevá-la acima de qualquer outra associação humana… Exemplo providencial para o dia de hoje, em que a sociedade terrena, com ânsia, busca uma solução sobre como voltar a dar uma alma! Que esse mundo retorne ao redor de seus altares… Apenas na Igreja, parece repetir o Sumo Pontífice, e pela Igreja na Eucaristia, que é “vida escondida com Cristo em Deus”, encontra-se o segredo e a fonte de renovação da vida social”.
E conclui Pio XII inculcando aos ministros do altar a grave responsabilidade que têm de profundamente viver do mistério eucarístico, de fazerem-se depois promotores e distribuidores da Eucaristia.
Conclusão
Dentro dessa terceira Providência parece incluir-se o que nosso venerado fundador, Monsenhor Marcel Lefebvre, nos dera como Patrono de Fraternidade a São Pio X. Com efeito, a nossa Congregação parece incumbir-lhe, nos tempos atuais, a tarefa de assegurar a continuidade da obra providencial de São Pio X, apoiando-nos em suas diretivas e fiados em juízo que sobre elas emitiu o Magistério Supremo da Igreja. De fato, e guardando sempre as devidas proporções, poderíamos estabelecer um notável paralelo entre São Pio X e Monsenhor Lefebvre:
  • Também a ele uma primeira Providência o exaltou dentre os seus, conduzindo-o progressivamente através de todos os cargos, desde humilde vigário para arcebispo, que mais tarde lhe seriam úteis para levar a cabo sua obra de defesa do sacerdócio e da Santa Missa.
  • Também ele, por uma admirável identificação de almas, impôs-nos o mesmo ideal, as mesmas metas que, no dizer do Papa Pio XII, foram as de São Pio X: santidade sacerdotal centrada e procedente da Santa Missa; defesa da fé católica, que esta Missa compendia; defesa dos direitos da Igreja, que por esta Missa se perpetua para santificar as almas.
  • Apenas faltaria a terceira Providência, pela qual a Igreja reconheça o providencial de sua pessoa e de sua obra; mas isso virá certamente, se Deus assim o julgar, e se for necessário para o bem da Igreja e das almas.
Enquanto isso, peçamos a nosso santo Patrono a graça de nos mantermos na fidelidade às diretrizes por ele legadas, e de imitar seus santos exemplos, para que alcancemos, por sua poderosa intercessão: • nossa santidade pessoal, • o fervor e fecundidade de nossa obra, • a salvação das almas que o Senhor nos confia, • e a recompensa eterna do céu.

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